quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Desafios na luta contra o câncer

Em 2022, foram registrados mais 66 mil casos de câncer de mama no país, segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Ministério da Saúde. Mesmo com taxas diferenciadas por região, a doença é a principal causa de mortalidade das mulheres no país e o segundo tipo mais frequente no mundo. Essa alta letalidade está relacionada, em boa parte, aos diagnósticos tardios. A doença é identificada em estágio avançado, o que dificulta ou torna impossível a cura.

Há 21 anos, o Brasil aderiu ao movimento mundial Outubro Rosa, lançado nos anos 1990, a fim de alertar as mulheres para a importância dos exames periódicos, sobretudo, os de mama, e, assim, detectar precocemente o câncer. A campanha recomenda ainda que as mulheres aprendam e façam o autoexame das mamas. Ao menor sinal de um nódulo, buscar o atendimento e os cuidados necessários.

A Sociedade Brasileira de Mastologia alerta, entretanto, que o autoexame não deve ser o único elemento para a busca de um especialista. A suspeita de um nódulo por meio do autoexame pode significar que ele esteja em estágio avançado. Portanto, a consulta periódica com especialistas e a realização dos exames recomendados é o meio mais segro e capaz de identificar precocemente a doença e receber o tratamento adequado.

Especialistas ressaltam que o diagnóstico precoce é o maior aliado contra o câncer. Mas isso nem sempre é possível para grande parte das mulheres. Aquelas de baixa renda e dependentes dos serviços da rede pública, enfrentam dificuldades de conseguir uma consulta e passar pelos testes necessários. Há também as que desistem depois de passar por experiências bem ruins. A falta de informação correta ainda é a grande adversária da saúde das mulheres, independentemente da condição socioeconômica. Como efeito colateral da desinformação, há mulheres que evitam um encontro como especialista por ter medo de um resultado positivo.

Os dados oficiais ou de instituições de classe são fartos para que as autoridades de saúde adotem as medidas necessárias para postergar a morte dos brasileiros. Falta estrutura na rede pública capaz de garantir atendimento adequado, oferecendo aos pacientes os meios indispensáveis ao enfrentamento do câncer de mama e de muitas outras doenças de alta letalidade. A sociedade, por sua vez, deve dar sua contribuição, que começa com a vacinação de adolescentes (meninos e meninas) contra o vírus HPV, responsável por uma margem expressiva dos cânceres do colo de útero e lesões pré-cancerosas.

A publicação Estimativa 2023 — Incidência de Câncer no Brasil, produzida pelo Inca, prevê 704 mil novos casos de câncer no país no triênio 2023-2025. É um número bem alto que impõe ao poder público — municipal, estadual e federal — a tomada de providências para que os brasileiros tenham a assistência adequada e plena no embate individual contra o câncer e outras moléstias igualmente graves.

 

       Levar um estilo de vida equilibrado faz parte da prevenção. Por Simone Dias

 

 Outubro é mundialmente conhecido como o mês de combate ao câncer de mama. Diversas campanhas, em todas as partes do mundo, trabalham o tema com o objetivo de levar informação relevante para a população. Pensando nisso, trago aqui uma contextualização e algumas sugestões de como a alimentação desempenha papel importante na prevenção do câncer de mama, embora não se caracterize eficácia absoluta. Reforço que a adoção de uma dieta equilibrada pode reduzir o risco de desenvolver câncer e melhorar a saúde geral do corpo, seja física ou mentalmente.

Explico sempre às minhas pacientes que uma das maneiras de a alimentação constituir uma aliada na prevenção do câncer de mama é o consumo de alimentos ricos em antioxidantes. Antioxidantes, como vitaminas C e E, presentes em frutas; selênio, presente em algumas castanhas; e beta-caroteno, fortemente presente em alimentos de tonalidade mais alaranjada como a cenoura, por exemplo, ajuda a proteger as células contra danos causados pelos radicais livres.

Além disso, uma dieta rica em fibras pode ajudar a reduzir o risco de câncer de mama, pois as fibras presentes em grãos integrais, frutas, legumes e feijões ajudam na eliminação de substâncias cancerígenas do corpo. Vegetais crus, como brócolis, couve-flor, repolho e couve também desempenham papel importante na prevenção, devido aos seus compostos, como o sulforafano, que tem propriedade anticancerígena já comprovada.

Mas há também um outro fator crucial quando o assunto é prevenção ao câncer, principalmente em mulheres: as doenças psicossomáticas. — "Mas Simone, não entendi". Explico. As doenças psicossomáticas são condições médicas nas quais os fatores psicológicos desempenham papel significativo no aparecimento, agravamento e manifestação dos sintomas físicos. Atualmente, com a quantidade de informações e estímulos que recebemos diariamente, ficou ainda mais comum o desenvolvimento de doenças como estresse, ansiedade e depressão. Esses e outros fatores emocionais podem afetar o sistema imunológico e o funcionamento do corpo, tornando-o mais suscetível a várias doenças, incluindo o câncer.

Por isso, para além da alimentação, é superimportante, na prevenção de qualquer doença estar atento, ao que se passa no corpo e na mente. Por exemplo, já se sabe que o álcool, presente em bebidas, pode ser convertido em acetaldeído, uma substância química que é conhecida por ser cancerígena. Mas isso não significa que é preciso restringir totalmente o consumo para estar imune ao câncer. O equilíbrio é a chave. Manter uma rotina saudável, com a prática de atividades físicas frequentes e alimentação o mais equilibrada possível, faz com que os momentos de descontração com uma taça de vinho com as amigas tornem-se mais do que um simples momento de lazer. Os excessos é que são prejudiciais.

Como tenho dito, a prevenção do câncer de mama envolve múltiplos fatores, incluindo os genéticos e os ambientais. Portanto, é importante adotar um estilo de vida saudável como parte de uma estratégia global de prevenção. Cuidar da alimentação, do psicológico e do físico são atitudes indispensáveis na prevenção. É fundamental consultar um médico regularmente para exames de rotina e triagem de câncer de mama, especialmente se você tiver fatores de risco adicionais.

 

       Câncer de mama: rede de apoio a mulheres precisa ser ampliada. Por Giovanna Jardim

 

Uma a cada dez mulheres que viver até os 80 anos será diagnosticada com câncer de mama nos próximos anos. Essa foi a frase que ouvi do médico oncologista quando eu mesma fui diagnosticada, há dez anos. Nos dias atuais, muito se fala em responsabilidade social, diversidade e inclusão e aumento da participação de mulheres em posições mais relevantes nos diversos setores da sociedade. É preciso chamar a atenção para a importância da saúde física e mental da mulher.

O câncer de mama tem causas multifatoriais, como características genéticas, alimentação e estilo de vida. Sobre esse último, ouço mulheres relatarem grandes desafios com jornadas triplas entre funções domésticas e profissionais, ansiedade e medo de adoecer e envelhecer. Não subestimo as dificuldades enfrentadas por homens no dia a dia, tampouco deixo de registrar que estão entre os que mais cometem suicídios e vale lembrar que também podem ser diagnosticados com câncer de mama, embora os casos sejam em menor escala que mulheres.

Quando penso em rede de apoio à saúde da mulher, penso em seres humanos conscientes da importância da prevenção e do direito ao tratamento adequado. Médicos, governos, empresas, líderes, gestores, familiares e amigos — todos devem estar envolvidos. O mês de outubro, denominado de “outubro rosa” é uma excelente oportunidade para que os setores públicos e privados intensifiquem campanhas de mobilização e conscientização para o diagnóstico precoce e agilidade no início do tratamento. Falo em “peer pressure” (do termo em inglês que significa agir por estímulo de outros stakeholders, em prol do benefício de uma causa). Refiro-me a iniciativas encorajadoras, coletivas e individuais para que mais mulheres se lembrem de realizar seus exames de mamografia, ultrassons, entre outros. A saúde pública também pode registrar melhorias no atendimento a pacientes. Muitas mulheres são tratadas e curadas diariamente pelo (Sistema Único de Saúde (SUS). Se detectado de forma precoce, o câncer de mama pode ultrapassar em 70% as chances de cura total.

Quem não tem uma amiga que diz que desde a covid-19 deixou de realizar seus exames preventivos porque a “correria está grande” e acabou adiando, ou, quem não teve uma conhecida, parente ou colega de trabalho, diagnosticada com câncer de mama, que confessou estar com medo de não conseguir conciliar o tratamento com a vida profissional e ainda cuidar da mãe idosa ou do filho pequeno e acabar perdendo a posição de liderança que tanto lutou para conquistar? Ou ainda, quem não tem uma esposa, namorada, colega ou funcionária que já identificou sintomas como nódulos, por exemplo, e está adiando a ida ao médico por medo do diagnóstico? É sobre essas mulheres que hoje quero dedicar esse artigo.

Por fim, quero fazer um chamado, que cada gestor ou líder de empresa privada ou instituição pública pense em iniciativas eficazes de conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce e estimule a ida das colaboradoras ao médico ou hospital neste mês. Não se trata de invadir a privacidade dessas mulheres e sim de cuidá-las e acolhê-las. Para cada leitor desse artigo, peço que se comunique com pelo menos duas mulheres, dentro de casa, na família, no trabalho ou comunidade e encoraje essa mulher a realizar o preventivo ou buscar ajuda. Como passei por um árduo processo, felizmente bem-sucedido, encorajo novas pacientes que estão no auge do tratamento, muitas vezes sofrendo de desânimo e falta de esperança, além dos efeitos colaterais e repito olhando nos olhos de cada uma delas: a cura é possível e você vai vencer.

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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