Deputadas de MG voltam a ser ameaçadas após
parlamentar questionar escolta nas redes sociais
As deputadas estaduais
Lohanna França (PV), Bella Gonçalves (PSOL) e Beatriz Cerqueira (PT) voltaram a
ser alvos de ameaças de estupro e de morte após o deputado Cristiano Caporezzo
(PL), colega das parlamentares na Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(ALMG), divulgar um vídeo nesta quarta-feira, 25, em que questiona a
necessidade de uso de escolta policial pelas deputadas e expõe imagens de Bella
em um compromisso pessoal. As parlamentares têm sido alvo de intimidação pelas
redes sociais e e-mails funcionais há pelo menos dois meses.
Para conter a ação
criminosa, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) e as policiais Civil e
Militar chegaram a cumprir mandados de busca e apreensão contra suspeitos de
ameaçar as deputadas em uma operação no fim de setembro.
Batizada de Operação
Di@na, a investigação teve início após as parlamentares receberem as primeiras
ameaças nos e-mails da ALMG, mas não foram suficientes para cessar os casos de
intimidação. Em uma das mensagens enviadas para Lohanna por e-mail, o autor
afirma que a parlamentar "promove a degeneração e a irresponsabilidade
feminina" e passa a apontar o que faria com a parlamentar. Ele diz que tem
o endereço dela e de seus parentes e que iria estuprá-la e depois matá-la.
No vídeo publicado nas
redes sociais nesta quarta, Caporezzo questiona a escolta da Polícia Militar
que acompanha Bella Gonçalves durante 24 horas por dia após o recebimento das
ameaças de morte e estupro. Um dos trechos do vídeo divulgado no X (antigo
Twitter) mostra a deputada Bella Gonçalves em um compromisso pessoal.
"Atacam o serviço da
Polícia Militar. Ela trata assim a população. Pra ela, ela quer escolta armada
da Polícia Militar. Está aqui no Código Penal Brasileiro: ameaçar alguém,
artigo 147, pena de detenção de 1 a 6 meses ou multa. Ou seja, a pessoa sequer
vai presa. Então, porque a psolista tem direito a uma escolta? Já fui ameaçado
de morte diversas vezes e eu não tenho escolta armada. Sou contra isso daí. Pra
encher a cara em buteco, está errado", afirma o deputado em um dos trechos
do vídeo divulgado nas redes sociais.
O deputado Caporezzo foi
procurado pelo Estadão, mas ainda não se pronunciou sobre o caso.
Após a publicação do
vídeo, as deputadas receberam novas ameaças de morte. Bella Gonçalves diz ainda
que Caporezzo foi até a Comissão de Direitos Humanos da Casa durante a tarde,
após a suspensão da sessão, para "intimidá-las".
"O vídeo do
Caporezzo é violência política contra a mulher. Tanto que foi repudiado por
todos os líderes da Assembleia Legislativa. Não só é violência política contra
a mulher, como recebemos uma outra ameaça de morte agora de tarde. Ele veio
aqui, (para) invadir e tumultuar a Comissão de Direitos Humanos em que a gente
estava repudiando a ação que ele teve enquanto parlamentar, colocou o telefone
na minha cara e na da deputada Beatriz Cerqueira, provocando tumulto na Casa.
Não vamos tolerar esse tipo de violência política", contou a deputada ao
Estadão.
Deputados da ALMG saíram
em defesa das parlamentares durante sessão na manhã desta quarta-feira. Antes
do início da votação de projetos que estavam na pauta, a sessão foi suspensa a
pedido do líder do Bloco Democracia e Luta, deputado Ulysses Gomes (PT), para a
discussão de medidas de proteção às vítimas.
"Elas têm sofrido
ameaças permanentes. E-mails, ameaças que têm inviabilizado o dia-a-dia na vida
particular e pessoal de cada uma delas e, obviamente, a atividade política. A
gente não tem visto o resultado concreto. Essas ameaças têm aumentado. Ontem,
várias depuradas receberam mais ameaças. Hoje pela manhã, mais e-mails com
ameaças de estupro coletivo, de perseguição à família. Ameaças que inviabilizam
não só a vida delas, mas preocupam a todos. Tem acontecido aqui na Casa
exploração desses casos no aspecto político. Alguns deputados pegam fatos e
exploram isso politicamente. Não podemos aceitar isso", afirmou Gomes ao
pedir a suspensão da sessão.
O presidente da ALMG,
deputado Tadeu Martins Leite (MDB), suspendeu a reunião e se comprometeu com as
deputadas a denunciar Caporezzo na Comissão de Ética para que sejam tomadas
medidas cabíveis.
Líder do governo Romeu
Zema (Novo) na Assembleia, o deputado João Magalhães (MDB) também lamentou as
ameaças e se solidarizou com a deputada.
"O governo está
empenhado, através da Secretaria de Segurança Pública, para ajudar a desvendar
quem são esses (que ameaçam)", disse.
·
Operação do MPMG e das
policias
O MPMG e as policiais
Civil e Militar do Estado passaram a monitorar em setembro grupos em redes
sociais e aplicativos de mensagem para localizar os suspeitos de ameaças contra
as deputadas. As autoridades identificaram a exposição indevida de dados
sigilosos de diversas autoridades, incitação à violência, à pedofilia e à
necrofilia, postagens de imagens de estupros, assassinatos e mutilações e muito
conteúdo de abuso e a exploração sexual infantil.
Fonte: Agencia Estado
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