Abin de Bolsonaro não vigiava apenas celulares, mostra investigação
As apreensões feitas na operação para apurar a
conduta de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em suposto
rastreamento de celulares estão revelando um outro esquema clandestino de
espionagem.
As investigações da Polícia Federal sobre o esquema
de espionagem ilegal realizada pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostram que a arapongagem
clandestina ia muito além dos celulares rastreados por meio de um aplicativo
espião adquirido pelo órgão. As apreensões feitas na última semana com ordem
judicial também apontaram uma outra forma agir dos agentes ligados ao antigo
ocupante do Palácio do Planalto que tentou se perpetuar no poder como um
ditador.
Os investigadores encontraram no material recolhido
- e sob análise - outros dispositivos invasivos, que estavam sendo utilizados
para invasão em massa de computadores, de acordo com apuração do jornalista
César Tralli, da TV Globo e GloboNews.
Segundo o jornalista César Tralli, da GloboNews, os
federais descobriram que os homens da Abin também invadiam em massa
computadores de adversários políticos e de autoridades que não se alinharam a
Bolsonaro. A infiltração nesses dispositivos seria feita usando uma espécie de
vírus, que poderia ser instalado nas máquinas por meio de mensagens de e-mail
fraudulentas, contatos via serviço de mensagens ou pen-drives.
De acordo com as informações reportadas por Tralli,
no Edição das 18h, o spyware teria a capacidade de extrair qualquer dado dos
computadores infectados pelos agentes da Abin, que a partir daí conseguiriam
ver absolutamente tudo naquele dispositivo. A ação era de natureza integramente
ilegal e feita sem qualquer amparo na legislação vigente.
A ferramenta de invasão por meio de um malware
(software que causa danos) acessa todo o conteúdo dos computadores, segundo
fontes. A intrusão clandestina pode se dar via disparo de um e-mail, por uma
mensagem de texto, por WhatsApp web, por exemplo, e por acesso físico ao
computador (pen drive), alvo de espionagem.
A vítima infectada não sabe que a invasão ocorreu.
E imediatamente todo conteúdo do computador passa a ser acessado pelos espiões.
Nesta nova fase da investigação, a Polícia Federal
pretende descobrir quantos foram os computadores infectados pelo spyware
clandestino da Abin e, sobretudo, chegar às autoridades e personalidades
bisbilhotados pelo aparato de arapongagem do ex-presidente de extrema direita.
Investigadores se aprofundam na descoberta de agora
para decifrar melhor quantos computadores foram infectados e espionados. E quem
foram os alvos.
As informações em relação a isso seguem sob sigilo
para não atrapalhar os desdobramentos das apurações sobre estes sistemas
ilegais de espionagem feitos por servidores e ex-servidores da Abin.
Na semana passada, operação da Polícia Federal
trouxe à tona um suposto esquema criminoso de rastreamento de celulares
conduzido pela Abin. Mais de 33 mil acessos foram feitos sobre a localização de
aparelhos de ministros do STF, auxiliares, funcionários da corte, servidores
públicos, jornalistas, políticos e policiais, dentro outros.
Ao todo, a PF cumpriu na operação 25 mandados de
busca e apreensão e dois de prisão preventiva nos estados de São Paulo, Santa
Catarina, Paraná e Goiás e no Distrito Federal. A agência disse que colaborou
com a Polícia Federal e que a operação é retaliação.
A empresa fornecedora deste sistema foi alvo de
busca e apreensão. Porém, de acordo com fontes, a nova descoberta, que envolve
esquemas de invasão de computadores, não é da mesma empresa que vende o
rastreamento de geolocalização de aparelhos de telefone, o que levará a PF a ir
atrás também da ponta fornecedora das ferramentas de intrusão de computadores.
• Espionagem
na Abin: invasão em massa de
computadores
A Polícia Federal descobriu que dispositivos
invasivos eram utilizados por servidores da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) para invasão em massa de computadores, de acordo com apuração da TV
Globo.
Segundo informações divulgadas nesta quinta-feira
(25) pelo canal televisivo, a ferramenta de invasão por meio de um malware era
utilizada para acessar conteúdo de computadores via disparo de um e-mail, por
mensagem de texto, por WhatsApp Web e por acesso físico ao computador.
A investigação agora busca descobrir quantos
computadores foram infectados, espionados e quem são os alvos. Ainda segundo a
reportagem, as informações seguem sob sigilo para não atrapalhar os
desdobramentos das apurações.
A descoberta ocorreu depois que a Polícia Federal
realizou buscas e apreensões de materiais na sede da Abin e em domicílios de
servidores, na última sexta-feira (20), para apurar suspeita de rastreamento
ilegal de celulares por servidores do órgão.
Nesta terça-feira (24) a Abin exonerou seu
secretário de Planejamento e Gestão, Maurício Fortunato Pinto, e mais dois
servidores, que já haviam sido afastados na operação de sexta-feira passada.
De acordo com a PF, um software de monitoramento
(FirstMile) foi utilizado ilegalmente milhares de vezes para monitorar
jornalistas, ministros e opositores do antigo governo federal, por meio do GPS
dos celulares das vítimas. A ferramenta, produzida por uma empresa israelense,
foi usada nos três primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro. A Abin reitera
que a ferramenta deixou de ser utilizada em maio de 2021.
O diretor do órgão durante esse período era
Alexandre Ramagem, que atualmente é membro do mesmo partido político que
Bolsonaro, o PL. A revelação do uso inadequado do programa espião veio à tona
em março, por meio do jornal O Globo, o que levou à abertura de uma
investigação na Diretoria de Inteligência da Polícia Federal.
Abin
se queixa à Casa Civil de operação da PF contra agência
O diretor-geral da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, queixou-se à Casa Civil da conduta
da Polícia Federal na operação da semana passada contra a agência.
Corrêa pontuou que a agência vinha colaborando com
a PF e questionou a apreensão de documentos não relacionados ao First Mile,
software de monitoramento por geolocalização que pode ter sido usado
ilegalmente na Abin durante a gestão do hoje deputado Alexandre Ramagem. A
polícia negou que isso tenha ocorrido e disse que a reclamação da Abin é pela
razão oposta: na verdade, a agência não teria colaborado minimamente com a
operação.
O diretor da Abin expôs à Casa Civil que já havia
até se reunido com a cúpula da PF e se comprometido a repassar informações da
correição interna da agência sobre o caso, para colaborar com o inquérito da
polícia.
• Planalto
tenta mitigar guerra entre Abin e PF
Ministros do Palácio do Planalto vêm atuando, nos
bastidores, para mitigar a guerra velada entre as atuais cúpulas da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal.
A disputa se intensificou na semana passada, após a
PF realizar operação contra servidores da Abin para investigar o uso de um
sistema de espionagem ilegal de celulares por meio de geolocalização.
A operação cumpriu mandados de prisão e de busca e
apreensão contra integrantes da agência. Um dos alvos das buscas foi a própria
sede da Abin, em Brasília, o que irritou muito a cúpula do órgão.
Depois da operação, integrantes da Casa Civil,
pasta à qual a Abin está subordinada, detectaram nova investida da atual cúpula
da PF para tentar derrubar integrantes da direção da agência.
Abin
diz que PF apreendeu dados que põem em risco agentes e fontes
Integrantes da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) afirmam que a Polícia Federal apreendeu na operação da última
sexta-feira (20/10) uma série de dados que colocaria em risco a segurança de
fontes da agência e agentes que estão em missões no Brasil e no exterior, e que
não teriam relação com a investigação do possível monitoramento ilegal que
possa ter sido feito na agência. Fontes da Polícia Federal ouvidas pela coluna
rebatem essa informação e dizem que a Abin tergiversa por supostamente não ter
colaborado com a investigação.
Entre os dados que teriam sido indevidamente
apreendidos pela PF está a relação de informantes do órgão, bem como dados de
operações em andamento. Um levantamento feito pela agência mostrou que, de 36
documentos apreendidos, 19 não tinham relação com o First Mile, software usado
para monitoramento de geolocalização.
Segundo integrantes da Abin ouvidos pela coluna,
até dados de fontes ligadas a grupos terroristas teriam sido apreendidas pela
PF.
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Uma planilha de Excel com dados de FHs (fontes
humanas) foi apreendida, e também documentos de um monitoramento de
radicalização de CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador).
A tensão entre PF e Abin se agravou nas últimas
semanas também em virtude da possível recriação do Ministério da Segurança
Pública.
O atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando
Corrêa, é apontado como um nome ouvido pelo presidente na área e, mesmo que não
seja cotado para se tornar ministro, poderia influenciar na escolha do nome. A
PF ficaria subordinada ao novo ministro, o que, na visão de agentes da Abin,
incomodaria a atual cúpula da polícia.
O mistério
dos celulares impenetráveis. Por Moisés Mendes
O advogado Frederick Wassef, que trabalha para
Bolsonaro, teve quatro celulares apreendidos pela Polícia Federal no dia 17 de
agosto deste ano, quando jantava numa churrascaria em São Paulo.
É público que os conteúdos dos celulares foram
acessados pela Polícia Federal, que passa agora a analisar o que encontrou.
Já o empresário Luciano Hang teve dois celulares
apreendidos pela mesma PF em 23 de agosto do ano passado. Até hoje os celulares
não foram abertos pelos peritos a serviço da PF, ou não se tem nenhuma
informação a respeito.
Nos dois casos, as senhas não foram cedidas pelos
investigados. O advogado está em inquérito por causa da venda e recompra das
joias das arábias de Bolsonaro, e o empresário por participação em grupo de
tios do zap em conversas consideradas golpistas.
Mas os celulares de um, apreendido há dois meses,
foram devassados pelos peritos, e os celulares do outro continuam
impenetráveis.
Em decisão de 18 de agosto último, o ministro Alexandre
de Moraes decidiu prorrogar o inquérito contra Hang, que se autoproclama véio
da Havan em vídeos e propagandas, e deu o motivo.
A prorrogação era por 60 dias, para que a PF
continuasse tentando abrir os celulares. O prazo já venceu na semana passada e
nada mais se fala no assunto.
Na decisão, o ministro anota que os dois celulares
a serem periciados são da Apple, um modelo A2638 (iPhone 13 Pro) e o outro
modelo A2633 (iPhone 13). E nada mais se sabe.
O Globo informou que os conteúdos dos celulares de
Wassef serão repassados ao advogado dele para averiguação, até porque ele
também é advogado.
Há preocupação em separar informações que possam
ser consideradas confidenciais, da relação dele com seus clientes, porque assim
manda a lei.
Só que Wassef não é apenas advogado de Bolsonaro, é
investigado por ter feito a recompra do famoso relógio Rolex que Bolsonaro não
poderia ter vendido. Por isso ele teve os aparelhos apreendidos.
O cliente de Wassef era o ‘dono’, ou se achava o
dono do relógio, e também está sob investigação. Como separar aqui as conversas
de advogado com cliente, se os dois são figuras suspeitas nos mesmos atos
criminosos?
Mas o que importa mesmo é que temos agora a
informação de que os celulares de Wassef estão com conteúdos já em poder da PF.
E que nada temos de informação sobre os conteúdos dos celulares do véio da
Havan.
É de fazer pensar. Quatro celulares apreendidos há
pouco tempo já tiveram seus compartimentos desvendados. E dois celulares
apreendidos há mais de um ano continuam fechados como cofres indevassáveis.
É ruim para todos os envolvidos nas investigações.
Por que só os celulares de Hang não permitem acesso? Por que ficaram um ano com
a PF, sem que nada se divulgasse a respeito das investigações, até ficarmos
sabendo em agosto que não foram abertos?
Por que a grande imprensa abandonou essa pauta,
quando a todo momento trata do assunto, como o Globo tratou agora dos celulares
de Wassef e trata dos aparelhos de Mauro Cid, Anderson Torres e Silvinei
Vasques?
Alguém deve ter essas informações. Mas, em nome da
transparência e de tratamentos equânimes, todos os brasileiros têm o direito de
saber que mistério envolve os celulares do véio da Havan.
Fonte: Fórum/g1/Metrópoles/Sputnik Brasil/Brasil
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