sexta-feira, 1 de setembro de 2023

"Seria mais duro do que fui na repressão", diz Gonçalves Dias à CPMI do 8 de janeiro

Em depoimento para CPMI do 8 de janeiro, o general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI, disse que teria adotado uma postura mais enérgica no enfrentamento dos atos golpistas que culminaram nos ataques ao Planalto, em Brasília. No entanto, ele ressaltou que executou de maneira efetiva o seu papel de liderança.

A comissão ouve nesta quinta-feira, 31, o depoimento do general.  "Tendo conhecimento agora da sequencia dos fatos que nos levaram até as agressões de vândalos e também na ineficiência dos agentes que atuavam na execução do Plano Escudo, seria mais duro que fui na repressão. Faria diferente, embora tenha plena certeza de que enviei todos os esforços que estavam ao meu alcance", afirmou o militar.

Em outro trecho do depoimento, o ex-ministro declarou que a culpa dos atos foi da falta de ações da Polícia Militar do Distrito Federal.

Dias também afirmou que sua prioridade no 8 de janeiro era prender os manifestantes, mas sem que houvesse feridos ou mortos. Ele disse que não deu ordens específicas aos oficiais que estavam no Palácio do Planalto. "Fiz tudo que estava ao meu alcance", completou.

·         "Não adiantava sair batendo nas pessoas", diz G. Dias, que culpa PM e "informações divergentes"

Em depoimento à CPMI dos Atos Golpistas nesta quinta-feira (31), o general Gonçalves Dias, o G.Dias, afirmou que não poderia "sair batendo nas pessoas" sobre as imagens que mostram que ele encontrou golpistas apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) na antessala da Presidência, no terceiro andar do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro.

"Fui treinado a minha vida toda para em momentos de crise, gerenciar as crises. A senhora não gerencia uma crise tacando fogo e jogando gasolina. Se gerencia a crise conversando e retirando as pessoas. No início não dava para fazer as prisões, tínhamos que evacuar o máximo possível para que não houve depredações e mortos e feridos", afirmou o militar, que foi exonerado do cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula após a divulgação das imagens.

"Não adiantava sair batendo nas pessoas. As prisões foram feitas quando chegaram os reforços, no segundo andar. Todas essas imagens elas são verdadeiras. E elas foram distribuídas para vários órgãos que estavam com processo em andamento", emendou G.Dias.

O ex-ministro ainda afirmou que, ao entrar em uma sala de reunião da presidência, quase entrou em luta corporal com um bolsonarista "visivelmente drogado".

"A sala contígua é uma sala de reunião do presidente da República. Como ela estava aberta eu entrei, porque no fundo escutei vozes. E tinham três pessoas, uma senhora de idade, uma moça jovem e um rapaz visivelmente, aparentemente, drogado que quis entrar em luta corporal comigo. Eu os tirei, passei pela porta de vidro e indiquei a saída", disse.

>>> PM e "informações divergentes"

G.Dias afirmou ainda que "fiz tudo que estava ao meu alcance" diante de uma situação que "jamais esperei na minha vida encontrar". 

"No Palácio foram presos 182 invasores, a partir de minhas determinações. (...) Fiz tudo que estava em meu alcance, essa história que sempre quis contar", afirmou.

O militar ainda afirmou que recebeu informações divergentes que o conduziram a uma má avaliação dos fatos.

"Essas informações divergentes foram passadas por contatos diretos meus com o senhor Saulo Cunha (que comandava a Agência Brasileira de Inteligência na época), a coronel Cintia, da Polícia Militar do Distrito Federal, e o general Penteado, meu secretário-executivo. Essas informações divergentes me foram passadas na manhã do dia 8 de janeiro", disse. 

Segundo ele, a culpa dos atos foi da falta de ações da Polícia Militar do Distrito Federal.

"O consórcio de ações e inações das forças policiais que não foram eficazes no cumprimento de atividades previstas no PAI [Protocolo de Ações Integradas, elaborado pela área de segurança do governo do Distrito Federal] levou àqueles eventos".

·         Na CPI, GDias diz que ações da PMDF “não foram eficazes” no dia 8/1

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8/1 no Congresso Nacional está ouvindo, nesta quinta-feira (31/8), o general Gonçalves Dias, conhecido como GDias. O militar era chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República na época dos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília. Em suas primeiras declarações, ele afirmou que os policiais militares do DF “não foram eficazes” nas ações.

“Naquele dia foram cometidas agressões impensáveis à democracia brasileira”, apontou GDias. “Foi um ataque inimaginável para todos nós que somos democratas”, continuou.

Segundo ele, todos os “esforços e ações” que estavam ao alcance dele para “mitigar sangue” foram feitos. Mas houve “inações da PMDF, que não foram eficazes no cumprimento das atividades sob sua responsabilidade previstas no protocolo levou àqueles eventos”, analisou o militar.

 “Informações divergentes me foram passadas por contatos diretos meus, Saulo Cunha e general Penteado. Essas informações divergentes me foram passadas na manhã do dia 8 e culminaram na minha decisão de ir pessoalmente ver como estava a situação”, contou GDias.

A oitiva de GDias começou às 9h desta quinta. O depoimento era desejado pela oposição no colegiado, que busca maneiras de associar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos atos golpistas. Essa é uma das poucas vitórias de oposicionistas na comissão, já que a maioria dos depoimentos têm afetado negativamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.

Investigações apontam que o general teria sido alertado sobre o risco de invasões antes dos ataques. Além disso, ele está na mira da oposição por ter pedido a retirada do próprio nome de um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O documento seria enviado à Comissão das Atividades de Inteligência do Congresso.

Na última semana, André Callegari, advogado que lidera a defesa, afirmou que GDias “responderá e esclarecerá os fatos relativos ao dia 8/1, desde que dentro dos limites do seu conhecimento, e que não fiquem fora do objeto da CPMI.” A defesa também recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). E o ministro Cristiano Zanin autorizou, nessa quarta-feira (30/8), que GDias fique em silêncio durante seu depoimento.

A decisão de Zanin, no entanto, restringe a proteção dada ao militar apenas “no que tange ao indispensável para o exercício do direito constitucional, já que não é obrigado a se autoincriminar e produzir provas contra si próprio”.

“Por conseguinte, o paciente não está dispensado de responder a indagações objetivas e que não tenham relação com esse conteúdo, pois, quanto às demais formulações não inseridas na proteção constitucional, todos possuem a obrigação de não faltar com a verdade”, esclarece.

>> Câmeras de segurança captaram GDias

Gonçalves Dias apareceu em imagens divulgadas pela emissora CNN durante a invasão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Palácio do Planalto, em 8 de janeiro. O militar foi anunciado pelo por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em dezembro de 2022, para chefiar a pasta. Ele deixou o posto em 19 de abril.

O Gabinete de Segurança Institucional é um dos órgãos que compõem a Presidência da República, responsável pela assistência direta e imediata ao presidente em assuntos militares e de segurança.

>> Peça-chave

O depoimento de GDias é muito aguardado pelos parlamentares de oposição que o enxergam como peça-chave para esclarecer as providências adotadas e de que forma o governo federal conduziu as investigações.

A convocação do militar foi objeto de aproximadamente 100 requerimentos. No início dos trabalhos, a CPMI chegou a rejeitar o depoimento do ex-ministro, mas, em junho, um acordo viabilizou a aprovação dos pedidos.

GDias já havia prestado depoimento à CPI da Câmara Legislativa do DF, que também investiga os ataques antidemocráticos, ele negou ter sido conivente com os golpistas que invadiram o Palácio do Planalto. O general também negou ter adulterado relatórios da Abin que foram enviados ao Congresso Nacional, ao Ministério Público Federal e ao Ministério Público Militar. A oitiva ocorreu em 22 de junho.

·         GDias sobre relatório da Abin: “Não mandei ninguém adulterar nada”

general Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, afirmou, nesta quinta-feira (31/8), que “nunca mandou ninguém adulterar” relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre os atos golpistas do 8 de Janeiro.

Conhecido como GDias, o militar presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8/1 no Congresso Nacional. Em sua fala inicial, o militar negou acusações de que tenha pedido para retirar seu nome de um relatório produzido pela Abin e enviado em ofício ao Senado Federal.

A tese de que GDias teria pedido a alteração do documento foi levada à CPMI pelo ex-diretor adjunto da Abin Saulo Moura Cunha, em depoimento no início de agosto. GDias se defendeu das acusações.

 “No dia 20 de janeiro de 2023, enviei para a CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Intelifência) as respostas de um ofício que me foi encaminhado pelo órgão. Era ofício de perguntas abertas e que pronta e cordialmente respondi por mim a partir do relatório feito pela Abin”, explicou. Veja:

>> “Imagens distorcidas”

Ele continuou o discurso afirmando que as imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto, que o flagraram no local em meio aos atos golpistas do 8 de Janeiro, foram distorcidas e editadas.

“A CCAI recebeu as respostas no dia 20 [de janeiro], e no dia 19 de abril, mesmo dia em que levaram ao ar na emissora CNN imagens editadas e distorcidas das câmeras de segurança do terceiro andar do palácio, o que estava nas repostas passou a alimentar novas versões um pouco delirantes e criadas para distorcer o fato e as ordens do evento. Não mandei ninguém adulterar nada”, disse.

O ex-ministro foi interrompido por parlamentares da oposição, que fizeram burburinhos no plenário. O advogado de GDias pediu, então, que o militar fosse respeitado. Arthur Maia (União-BA), presidente da CPMI, pediu silêncio e ameaçou expulsar deputados e senadores que atrapalhassem o depoimento. GDias, então, continuou a falar.

“Repito: não mandei ninguém adulterar documento nem tirar meu nome dos relatórios. Tão somente determinei ao senhor Saulo que organizasse as informações que seriam enviadas à CCAI dentro de uma lógica única. Os alertas de segurança haviam sido passados por um grupo de WhatsApp, constituídos de órgãos públicos, e não com o meu nome”, concluiu.

 

Ø  GDias mentiu 11 vezes em depoimento à Polícia Federal, segundo Paulo Capelli

 

 À frente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula no 8 de Janeiro, Gonçalves Dias (GDias) mentiu onze vezes em depoimento à Polícia Federal. Tentando se livrar da culpa pela invasão ao Palácio do Planalto, tentou induzir os investigadores a erro. A análise da oitiva não deixa dúvidas: GDias é um mentiroso contumaz.

A mentira mais descarada é que não sabia de protestos radicais previstos para o dia 8. Como a coluna mostrou, o próprio GDias enviou à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em 6 de janeiro, uma convocação em “grupos patriotas” para o fechamento dos Três Poderes.

GDias também mentiu ao dizer que não tinha conhecimento se a Abin monitorava o acampamento em frente ao QG do Exército na véspera das invasões. Havia monitoramento. E GDias recebia atualizações constantes em seu celular pessoal.

Mentiu ao alegar não ter ordenado monitoramento das manifestações. Ele próprio enviou ao diretor da Abin, Saulo Moura, mensagens sobre o risco das manifestações. Saulo, por sua vez, disse que prosseguiria com os relatórios.

GDias mentiu ao dizer não ter recebido relatório sobre o aumento de fluxo de ônibus em Brasília. Um relatório exatamente com essas informações foi enviado ao então GSI na manhã de 7 de janeiro.

Mentiu ao afirmar que só teve conhecimento dos alertas enviados pela Abin quando elas foram enviadas ao Senado. Como já mostrado, GDias recebeu os relatórios e pediu à Abin excluísse seu nome da lista de autoridades avisadas.

GDias mentiu ao dizer que nessas mensagens não havia informações relevantes. Já no dia 6 de janeiro, dois dias antes das invasões, a Abin ressaltava o risco de manifestantes armados e “ações violentas contra edifícios públicos e autoridades” nos Três Poderes.

Mentiu ao afirmar que “recebeu vários relatórios da Abin, mas nenhum sobre manifestações”. Praticamente todos os relatórios que recebia da agência eram sobre manifestações.

>> O celular de GDias

GDias mentiu ao alegar que, para proteger o Palácio do Planalto, acionou o Plano Escudo, protocolo de defesa do edifício adotado em situações de risco. Como mostrou a coluna, o plano foi ignorado pelo GSI. A ordem para acioná-lo foi dada apenas após a invasão, o que o tornou inexequível.

Mentiu ao dizer não saber se os informes da Abin levavam em conta dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). No dia sete de janeiro, o relatório enviado pela agência ao celular de GDias informava:

“Conforme a ANTT, houve aumento do número de fretamentos de ônibus com destino a Brasília para este final de semana. Há um total de 105 ônibus, com cerca de 3.900 passageiros”.

Mentiu, por fim, ao dizer que “o acompanhamento dos movimentos são de atribuição do Ministério da Justiça, da Defesa e da Secretaria de Segurança Pública”. Subordinada ao GSI, a Abin tem como função principal investigar ameaças ao Estado Democrático de Direito e à soberania nacional.

Todas as mentiras ditas por GDias à Polícia Federal, em abril, são facilmente comprováveis.

No depoimento desta quinta-feira (31/8) na CPMI do 8 de Janeiro, a oposição questionará se GDias mentiu em mais um ponto específico. Quando disse à PF que “não recebeu orientações ou ordens de superiores militares ou agentes políticos para tolerar esses grupos de manifestantes”.

Diante desse contexto, uma comissão parlamentar que se leve a sério, com o intuito de investigar todos os lados, não pode deixar de requerer acesso às informações contidas no celular de GDias. Já se sabe que o que ele diz não se escreve.

Se o celular do ex-diretor da Abin foi importante para elucidar parte do que aconteceu no 8 de Janeiro, imagine o do ex-GSI. A decisão de pautar a requisição do celular de GDias cabe ao presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia.

 

Fonte: Redação Terra/Fórum/Metrópoles

 

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