Pessoas que vivem nas ruas de São Paulo não conseguem água e sofrem com
calor extremo
A onda de calor excepcional no Brasil fará a cidade
de São Paulo bater recordes de temperaturas com os termômetros passando dos
37ºC neste fim de semana, segundo alertas da MetSul Meteorologia. Entre os
grupos mais vulneráveis aos efeitos do calor extremo estão 53 mil pessoas que
vivem nas ruas da capital paulista, segundo dados do CadÚnico.
A Agência Pública foi às ruas do centro da cidade
para conversar com as pessoas que vivem nas ruas e acompanhar a efetividade das
ações da prefeitura para minimizar os impactos do calor, como a distribuição de
água, alimentos e atendimento médico.
Ao meio-dia desta sexta-feira (22), os termômetros
marcavam 35ºC. Na região da Praça da República, centro de São Paulo, sentado na
sombra das árvores, estava Paulo Rogério. Em dias quentes como esse, ele diz
que tem dificuldade conseguir beber água.
“Em lugares perto da avenida muita gente pede, você
vai lá e fecham a cara para você”, conta.
Do outro lado da praça, havia uma tenda da operação
da prefeitura, que distribuiu frutas, água e chá gelado para pessoas em
situação de rua, em frente a uma das saídas do metrô. Lá, um grupo de
pessoas tentava se refrescar
aproveitando a ventilação da estação. Entre eles estavam Nicolas Miquéias, 24,
e Robson Santos, 40. Nicolas diz que gosta do calor, mas está sofrendo com as
altas temperaturas. Por fazer reciclagem, ele precisa andar grandes distâncias
sob o sol forte. “Falaram que vai chegar a 40ºC. Se não tomar água é
complicado”.
Já Robson contou que chegou cedo ao local, mas os
funcionários da prefeitura não quiseram lhe dar água antes das 10 horas da
manhã. “Mas eles estavam bebendo água. Eles podem, eles tem lar, aí a sede tem
que esperar, quem está em situação de rua. Isso é o cúmulo”.
A falta de albergues abertos durante o dia, quando
o calor está forte, além da dificuldade para acessar os quartos, também é um
desafio. “Durante o dia me viro como posso, embaixo de árvore ou de uma
marquise. No último que eu estava, o despertar era às 7 horas da manhã e o
quarto só abria depois das 16 horas. Mesmo fixo, só pode acessar o quarto
depois das 16 horas da tarde, faça chuva ou faça sol”, diz Robson.
Fabiano José tem 44 anos e é natural de Itapevi,
cidade da grande São Paulo. Ele conta que esteve durante 10 anos no Piauí, mas
atualmente vive nas ruas do centro paulistano, nas imediações da Praça Marechal
Deodoro, próximo ao viaduto do Minhocão, onde as pessoas se aglomeram em
barracas e camas improvisadas.
Para Fabiano, a maior dificuldade é conseguir água.
“É difícil, tinha água aqui no posto e cortaram, não sei porque. Nos bares
ninguém dá, só no albergue. Você chega na porta do bar pedindo água e mandam
sair fora”, conta.“A gente fica agoniado, a cabeça dói, no frio é ruim, mas o
calor tá demais. Da tontura, dor de barriga…é sofrimento, a verdade é essa”,
diz.
Naquele dia, Fabiano tinha conseguido uma garrafa
de água, frutas e um copo de chá gelado. O kit é distribuído pela prefeitura
através da Operação Altas Temperaturas. A ação foi iniciada na última
quarta-feira, dia 20, com tendas espalhadas em pontos estratégicos da cidade.
Para enfrentar os próximos dias, Fabiano pensa ir
para Santos, no litoral paulista. “Lá pelo menos tem banho toda hora na praia,
aqui a gente toma uma vez por noite no albergue. Banho é bom, sem banho o cara
fica fraco”, diz.
Termômetro registra recorde de temperaturaKit
distribuído pela prefeitura tinha fruta, água e chá gelado
Rosemeire Alves , 42 anos, vive nas ruas do centro
há cinco anos. Ela diz que nunca passou por um período tão quente. “Fico
agoniada, tenho pressão alta, faço acompanhamento na Sé. Para quem tem pressão
alta [esse calor] é difícil”, conta. Entre os efeitos que um hipertenso pode
ter em dias de alta temperatura estão tontura e fraqueza. Na tenda em que
Rosemeire estava, funcionários disseram que atenderam um idoso com esses
sintomas.
Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e
Desenvolvimento Social (SMADS), a Operação Altas Temperaturas está sendo feita
pela primeira vez na cidade e devem realizar ações até o dia 31 de março de
2024, sempre que a temperatura ou sensação térmica atingir 32ºC ou mais.
A secretaria diz que nos dois primeiros dias de
atendimento, as dez tendas somadas fizeram 14.781 atendimentos e distribuíram
29.762 itens, sendo 13.481 garrafas de água de 500ml, 2.611 copos de chá
gelado, 5.138 frutas e 8.476 bonés.
Fonte: Por Matheus Santino, da Agencia Pública
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