Milicianos ameaçam e cobram taxas de empresas de energia solar na
Região Metropolitana do Rio
Com alto índice de insolação, geografia plana e
disponibilidade de conexão com a rede, a Região Metropolitana do Rio, incluindo
cidades como Seropédica e Itaguaí, é bastante atraente para a implantação de
fazendas solares. O local se torna ainda mais sedutor para empresas do mercado
fotovoltaico porque o estado, além de ter uma tarifa de energia elétrica alta,
oferece incentivos fiscais para renováveis. Um componente típico do ecossistema
fluminense, entretanto, tem afastado as companhias dali: a presença da milícia.
O GLOBO ouviu funcionários de companhias do
segmento, que estiveram à frente de projetos de instalação de usinas, e os
relatos sobre a dinâmica das milícias na região são semelhantes. Em condição de
anonimato, eles contam que é inviável empreender ali sem pagar uma mensalidade
aos criminosos em troca da “segurança” no local. Além dessa cobrança, os
milicianos exigem a contratação de serviços de suas próprias empresas ou das
indicadas por eles — desde a alimentação dos encarregados da obra até máquinas
para terraplenagem e diárias de drone. A abordagem, em geral, começa de forma
mais sutil, passa pela intimidação com homens armados até chegar a ameaças e
crimes com crueldade.
O engenheiro Pedro (nome fictício), de 32 anos,
esteve à frente da implantação de uma fazenda em Seropédica em 2019. Os
problemas começaram logo na primeira etapa do projeto, durante a prospecção de
terrenos para arrendar e erguer a usina. Um analista fundiário terceirizado,
que circulava pelas fazendas em busca da área, recebeu uma mensagem pelo
WhatsApp questionando os motivos pelos quais estava ali. Em determinado trecho,
o emissário alertava: “Imagino que você seja de fora e não conheça os costumes
da região”.
— Se analisar friamente, não era nada muito
crítico, parecia uma preocupação de quem mora na zona rural. Naquele momento,
não levantei nenhuma bandeira, achei que era mais pelo jeito bronco desse
analista — conta Pedro, que então viajou para Seropédica para assumir a missão.
• Mensalidade
de R$ 15 mil
Doutor em sociologia e professor da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), José Cláudio Souza Alves conta que os
milicianos chegaram à região em meados de 2014. Alves mora em Seropédica há dez
anos e é um dos precursores nos estudos sobre o tema. Há 20 anos, seu livro
“Dos Barões ao extermínio” descortinou a origem das milícias na Baixada
Fluminense. Para ele, a milícia atual é a grande articuladora da estrutura
política daquelas cidades, participando de contratos, licitações e
financiamentos de terceirizados.
Nenhum pedido de propina foi aceito pela empresa,
uma multinacional com normas de governança corporativa, mas a obra avançou
mesmo assim porque o dono do terreno cobrou mais do que o negociado antes,
“provavelmente para arcar com essas despesas”, segundo Pedro. Quando a
empreiteira subcontratada deu início à construção, homens num tom relativamente
pacífico, mas com armas aparentes na cintura, chegaram ao canteiro para
comunicar que uma mensalidade de R$ 15 mil teria de ser paga, por se tratar de
“uma zona rural, perigosa”.
Bruno Paes Manso, doutor em Ciência Política e
autor do livro “A República das Milícias”, explica que o comportamento é
característico das milícias, que se valem do controle territorial para extrair
o máximo de receitas ilegais, com a conivência das autoridades e de grupos
políticos.
— Isso é feito no fio do bigode, na informalidade,
sem um contrato formal de segurança, mas uma extorsão. Eles cobram segurança
contra eles próprios. E dizem: “Você me paga para eu não te atrapalhar”. É um
tipo de chantagem. Além da cobrança por proteção, tem a lei do silêncio. Se
alguém denunciar, corre o risco de morrer nos territórios — afirma Manso.
• Até a
quentinha
Pedro conta que, na terceira semana após o começo
da obra, uma mulher contratada para fornecer as refeições dos encarregados
chegou “desesperada” ao canteiro. A milícia havia batido em sua porta e a
proibido de trabalhar. A alimentação, a partir daquele momento, deveria ser
fornecida por uma empresa indicada por eles. A construção seguiu assim, com
praticamente todos os serviços subcontratados de empresas de milicianos ou de
pessoas indicadas por eles, diz Pedro.
A obra acabou atrasando e, no primeiro mês que a
empreiteira não pagou a tal mensalidade, a usina foi invadida. As três mil
placas solares tiveram seus cabos de conexão cortados, um prejuízo de cerca de
R$ 1,8 milhão.
— Eles foram cirúrgicos, sabiam o que estavam
fazendo. Não dava para emendar. As placas não serviam para mais nada — explica
Pedro.
O último incidente ocorreu quando uma funcionária
da empresa foi até a obra para fazer imagens aéreas da usina já pronta. Ao
subir um drone, um carro em alta velocidade avançou pelo terreno. O condutor
ordenou que parasse e indicou quem deveria fazer as imagens. Na ocasião, a
empresa contratou uma equipe de segurança corporativa para acompanhar Pedro até
a fazenda solar. Ele se demitiu da companhia na sequência, principalmente pelo
estresse de trabalhar na região, e hoje está em outro grupo.
— É uma situação triste. A usina solar traz muito
investimento para onde chega, contrata mão de obra local, maquinário,
alimentação, hospedagem. Faria bastante diferença ali, que é uma região pobre.
Toda oportunidade para a população, os milicianos tiram — lamenta.
A empresa não registrou nenhuma dessas ameaças à
polícia.
Com
altas temperaturas, demanda por energia deve bater recorde para meses de
setembro
Em meio à onda de calor registrada no país, o
Operador Nacional do Sistema (ONS) estimou nesta semana que a demanda por
energia elétrica deve bater recorde para meses de setembro.
Além das altas temperaturas, que impulsionam por
exemplo o uso de ar condicionado, o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi,
avaliou que a aceleração da economia também tem influenciado a demanda por
energia em setembro.
A primavera começou na madrugada deste sábado (23),
e deve seguir a tendência de muito calor das últimas semanas. A previsão aponta
para novos recordes de temperatura neste primeiro fim de semana da nova
estação, o que tende a manter em alta a demanda por energia.
Apesar disso, a área técnica do Ministério de Minas
e Energia avaliou não ser necessário retomar em 2023 o horário de verão - que
está suspenso desde 2019. A avaliação é que a situação dos reservatórios e a
oferta de fontes renováveis são suficientes para garantir o fornecimento de
energia. A decisão final sobre uma eventual retomada, no entanto, não cabe à
pasta.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel) enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo o
retorno do horário de verão. Segundo a entidade, o horário de verão gera
impacto direto no faturamento dos bares e restaurantes, com alta estimada de
10% a 15%.
• Altas
temperaturas
Neste domingo (24), doze capitais devem ter
temperaturas acima de 35ºC, segundo dia da primavera no Brasil, segundo o
Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Em Cuiabá, a temperatura pode bater
42ºC. Já em Campo Grande e em Palmas, os termômetros podem marcar 39ºC.
A onda de calor atípico começou na segunda-feira
(17), últimos dias de inverno. O aumento da intensidade da onda de calor que
tem resultado em temperaturas acima da média para 11 estados e o Distrito
Federal fez o Inmet ampliar o alerta de "grande perigo".
De modo geral, um alerta vermelho, segundo o
instituto, é emitido quando é esperado um fenômeno meteorológico de
"intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrência de
grandes danos e acidentes, com riscos para a integridade física ou mesmo à vida
humana". O alerta é válido até as 18h de terça (26).
>>> Bloqueio atmosférico
Tecnicamente, os meteorologistas dizem que há um
"bloqueio atmosférico" em atuação: uma área de alta pressão no centro
do país que está ganhando força e que impede a entrada das massas de ar frio.
Mas bloqueios atmosféricos são comuns. O que faz o
atual virar motivo de preocupação são os fatores listados abaixo:
• El
Niño atípico: o fenômeno que está mais intenso neste ano: ele aquece as águas
do Oceano Pacífico e freia a atuação de frentes frias no Brasil; ele dá força
para o bloqueio atmosférico;
• Aquecimento
global: especialistas afirmam que a queima de combustíveis fósseis torna
eventos extremos (ciclones, enchentes e etc.) mais prováveis, e que ondas de
calor recentes na Europa teriam sido praticamente impossíveis sem as mudanças
climáticas;
• Setembro:
é naturalmente um mês de altas temperaturas no centro do Brasil devido à
combinação do final do período seco e ao aumento da radiação solar.
>>> Economia aquecida
Na semana passada, os economistas do mercado
financeiro elevaram a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
desse ano de 2,64% para 2,89%.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços
produzidos no país. O indicador serve para medir a evolução da economia.
A previsão de um crescimento maior da economia
acontece após o anúncio de que o PIB do segundo trimestre deste ano teve alta
de 0,9%, resultado que foi três vezes maior do que o esperado.
"As considerações do cenário econômico
recente, associadas às informações meteorológicas do período são fatores que
explicam o comportamento da carga durante o mês de setembro de 2023",
informou o ONS, em relatório.
• Rio
tem queda de energia
Uma ocorrência na rede de Furnas deixou vários
bairros do Rio de Janeiro sem energia elétrica no final da tarde deste sábado
(23).
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
confirmou que houve, às 17h24, um desligamento de todo o setor de 500 kV da
Subestação Grajaú. A ocorrência resultou na interrupção de 380 MW de carga,
afetando bairros da cidade do Rio de Janeiro.
Furnas explicou que houve uma contingência dupla
com desligamento das linhas de transmissão de 500 kV Adrianópolis-Grajaú e
Grajaú-Nova Iguaçu, afetando a Subestação Grajaú.
Às 18h09 a carga foi totalmente restabelecida e todos
os equipamentos estavam normalizados. O ONS afirmou que vai avaliar as causas
da ocorrência.
Por volta das 18h20, a Light avisou que a energia
tinha sido restabelecida, após autorização do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS).
O apresentador Edimilson Ávila registrava a falta
de luz em um ponto da Lagoa Rodrigo de Freitas no momento exato em que a
energia foi restabelecida. O vídeo mostra quando todas as luzes se acendem ao
mesmo tempo (ASSISTA ABAIXO).
>>> O que dizem os envolvidos
• Nota
de Furnas
“A Eletrobras informa que ontem (23/09), às 17h24,
houve uma contingência dupla com desligamento das linhas de transmissão de 500
kV Adrianópolis-Grajaú e Grajaú-Nova Iguaçu, afetando a Subestação Grajaú, da
Eletrobras Furnas. A normalização do sistema para o Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS) ocorreu às 17h45min e a empresa está apurando as causas
da ocorrência.
A subestação alimenta as regiões Norte, Sul e
Centro da cidade do Rio de Janeiro. A perda dupla levou à atuação de uma
proteção sistêmica, desligando duas linhas de transmissão de 138 kV
responsáveis pelo atendimento de parte da carga da cidade do Rio de Janeiro,
produzindo um corte de carga de cerca de 350 MW.”
• Nota
do ONS
“O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
confirma que houve, às 17h24, um desligamento de todo o setor de 500 kV da
Subestação Grajaú. A ocorrência resultou na interrupção de 380 MW de carga,
afetando bairros da cidade do Rio de Janeiro. Às 18h09 a carga foi totalmente
restabelecida e todos os equipamentos estavam normalizados. O ONS e o agente
irão avaliar as causas da ocorrência.”
Setor
de bares e restaurantes pede o retorno do horário de verão
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel) informou que enviou nesta sexta-feira (22) uma carta ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva pedindo o retorno do horário de verão, que está
suspenso por decreto desde 2019.
O documento também foi enviado ao vice-presidente e
ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e
ao ministro do Turismo, Celso Sabino.
• Horário
de Verão deve voltar?
Segundo a entidade, o horário de verão gera impacto
direto no faturamento dos bares e restaurantes, com alta estimada de 10% a 15%.
"No momento em que o setor ainda se recupera
dos prejuízos causados pela pandemia, a implementação da medida beneficiaria um
setor que gera renda direta para mais de 7 milhões de brasileiros e tem cerca
de 1,5 milhão de empreendimentos no país", acrescentou a Abrasel.
A Abrasel argumenta também que a medida
"movimentará a economia, principalmente no comércio e no turismo, uma vez
que os turistas tendem a aproveitar melhor os destinos, estendendo suas
atividades até mais tarde".
“O retorno
do horário de verão proporcionaria mais tempo de luz natural durante os dias, o
que favorece o consumo e a frequência de clientes nos estabelecimentos, além de
trazer mais movimento e segurança às cidades de um modo geral”, avaliou Paulo
Solmucci, presidente da Abrasel.
O horário de verão foi instituído pela primeira vez
em 1931, no governo de Getúlio Vargas. Mas só passou a ser adotado com
constância a partir de 1985.
A medida foi criada para aproveitar a iluminação
natural durante o verão, quando os dias são mais longos e as noites mais
curtas. Dessa forma, haveria economia de energia e redução do risco de apagões.
• Posição
do Ministério de Minas e Energia
Nesta semana, a área técnica do Ministério de Minas
e Energia avaliou não ser necessário retomar em 2023 o horário de verão. A
decisão final sobre uma eventual retomada, no entanto, não cabe à pasta.
A avaliação é que a situação dos reservatórios e a oferta
de fontes renováveis são suficientes para garantir o fornecimento de energia.
Além disso, entendem que o comportamento de consumo mudou ao longo do tempo,
tornando a medida menos eficaz.
De acordo com dados do Operador Nacional do Setor
Elétrico (ONS), os níveis dos reservatórios das hidrelétricas devem chegar ao
fim deste mês acima de 70% no Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
"É importante ressaltar que o período
tipicamente seco está próximo do seu encerramento, o que torna os resultados de
EAR [energia armazenada na forma de água nos reservatórios] mais
relevantes", informou o ONS, nesta semana.
• Suspensão
no governo Bolsonaro
Em 2019, no governo do então presidente Jair
Bolsonaro (PL), o horário de verão foi suspenso. A medida já era avaliada no
governo de Michel Temer (MDB ).
Na ocasião, o governo afirmou que o adiantamento
dos relógios em uma hora perdeu "razão de ser aplicado sob o ponto de
vista do setor elétrico", por conta de mudanças no padrão de consumo de
energia e de avanços tecnológicos, que alteraram o pico de consumo de energia.
A suspensão do horário de verão resistiu inclusive
à crise hídrica de 2021. Na época, o governo chegou a estudar a retomada da
política, solicitando um parecer do ONS.
Fonte: O Globo
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