Hacker, plano de golpe, ditadura e Brilhante Ustra: as perguntas que
general Heleno não respondeu à CPMI
Ex-ministro do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), o general da
reserva Augusto
Heleno prestou depoimento à CPMI que
apura os atos de 8 de janeiro amparado
por um habeas corpus que garantiu a ele se manter em silêncio diante de
perguntas que o pudessem incriminar.
Heleno usou o direito de ficar calado ao ser
questionado sobre o plano de golpe, encontro com o hacker
Walter Delgatti, ditadura militar e sobre o coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi.
Todas as perguntas a que Heleno se recusou a
responder foram feitas por parlamentares da esquerda. O ex-ministro ficou
calado ao ser questionado pelo deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) se ele
havia participado da reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e comandantes
da Aeronáutica, Marinha e Exército para tratar da tentativa de um golpe de Estado,
conforme trecho da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens.
Pereira Junior também questionou se Heleno estava
na reunião em que Bolsonaro conversou com o hacker Walter Delgatti, que alega
ter se encontrado com o ex-presidente e integrantes do governo entre julho e
dezembro de 2022. “Eu vou me valer do direito de ficar em silêncio”, disse
Heleno.
A pergunta sobre o hacker também foi feita pelo
deputado Rogério Correia (PT-MG).
“Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro) diz
que o senhor estava lá, na reunião, que tomou café com o hacker. O senhor
estava também?”, indagou o parlamentar. Heleno permaneceu em silêncio e também
não respondeu quando o mesmo deputado perguntou porque o então ministro recebeu
no GSI pessoas que foram presas nos atos de 8 de janeiro.
A senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA) fez uma série
de perguntas sobre a ditadura militar. No período, Augusto Heleno, então um
capitão, foi ajudante de ordens do ministro do Exército, Sylvio Frota, no
governo do general Ernesto Geisel. Questionado se havia ocupado a função, o
general não respondeu.
“Isso não está no escopo da minha convocação aqui.”
Diante da insistência da senadora, Heleno retrucou: “Respondo se eu quiser, eu
tenho direito de ficar calado.”
Ana Paula Lobato perguntou se Heleno conhecia o
coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi, e se sabia
das “atividades dele como torturador de presos políticos.” Brilhante Ustra
comandou sessões de tortura contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e foi
homenageado por Bolsonaro na sessão que aprovou o processo de impeachment
contra a petista. “Vou ficar em silêncio”, insistiu Heleno.
Um dos principais auxiliares de Bolsonaro, o
general também silenciou quando foi questionado pelo deputado Duarte Junior (PSB-MA)
como se sentia sobre a derrota nas urnas. “O que que aconteceu no dia 8? Foi
terrorismo? Foi um ato terrorista? Foi um golpe?’”, questionou o deputado. “Eu
prefiro ficar calado”, disse Heleno.
A defesa de Heleno ingressou com um pedido no STF
para que ele não fosse obrigado a comparecer ao depoimento e, caso fosse
obrigado a ir, deveria ser tratado como investigado, e não como testemunha.
O ministro Cristiano Zanin, porém, determinou que o
general comparecesse ao depoimento na condição de testemunha e respondesse
sobre fatos que tem conhecimento. Todavia, Zanin assegurou a Heleno “a garantia
de não autoincriminação.”
Ø General Heleno nega que Bolsonaro tentou golpe e minimiza participação
de Cid em reuniões com militares
O general
Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na gestão de Jair Bolsonaro (PL), negou tentativa de golpe de
Estado por parte do ex-presidente, minimizou a participação do ex-ajudante de
ordens Mauro Cid nas reuniões com militares e disse que nunca discutiu assuntos
políticos com seus subordinados no GSI.
As declarações foram dadas em depoimento à CPMI do
8 de janeiro do Congresso Nacional nesta terça-feira (26).
Heleno disse que Bolsonaro “nunca se propôs” a uma
tentativa de golpe de Estado para permanecer no poder após as eleições do ano
passado. “O presidente [Bolsonaro] disse várias vezes que jogaria nas quatro
linhas e eu não tive intenção de fazê-lo sair das quatro linhas, não era minha
missão”, falou.
“Ele nunca se propôs a partir nesse caminho. Ele
tem a maneira dele de falar, mas jamais ele cogitou fazer isso”, acrescentou
Heleno.
Questionado sobre a existência de uma “minuta do
golpe” – documento que contaria com as etapas de um plano que possibilitaria ao
ex-presidente Jair Bolsonaro seguir no poder mesmo após ter perdido as eleições
–, o general
declarou: “Nunca nem ouvi falar.”
·
Participação de Cid em
reuniões com militares
Durante o depoimento, o general foi questionado
sobre a suposta reunião em novembro de 2022 na qual o ex-presidente Bolsonaro
teria discutido um plano de golpe de Estado com os comandantes do Exército,
Marinha e Aeronáutica. A informação seria parte da delação
premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid à Polícia Federal.
Heleno negou conhecimento desta reunião e
acrescentou: “O
tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Ele era ajudante de ordens do presidente da República. Não existe
essa figura do ajudante de ordens sentar em uma reunião dos comandantes de
Força e participar da reunião, isso é fantasia.”
“Estão apresentando trechos dessa delação e me
estranha muito porque a delação está ainda sigilosa, ninguém sabe o que o Cid
falou”, completou.
Pouco depois desta afirmação, o deputado federal
Rogério Correia (PT-MG) exibiu uma foto, disponível no Flickr oficial do Palácio do Planalto, que
mostra Heleno e Mauro Cid durante uma reunião de Bolsonaro com os comandantes
das Forças Armadas, em fevereiro de 2019.
“Ele está
ouvindo e está lá atrás do senhor. Ouvindo tudo. Mauro Cid ouvia tudo, está bem
claro. Mauro Cid é sim um delator importante na delação premiada. Não adianta
tentar tirar a imagem como se ele não participasse das reuniões e não soubesse
o que está acontecendo”, declarou
Correia enquanto mostrava a foto.
O general Heleno, então, justificou suas
afirmações: “Ele [Mauro Cid] não é surdo, lógico que ele está escutando. Mas
ele não participa. Ele não tem atuação nenhuma.”
“Nesta foto, Cid estava atrás esperando alguma necessidade
de Bolsonaro. Ele não dá palpite, isso não existe. Então o que eu estou dizendo
é perfeitamente lógico e viável. As pessoas aqui estão querendo me comprometer,
não vão conseguir”, acrescentou.
O presidente da CPMI do 8 de janeiro, deputado
Arthur Maia (União-BA), tomou a palavra para afirmar que não considera que o
general tenha faltado com a verdade: “Eu compreendi que o general disse
‘participava da reunião’ no sentido que sentava na mesa e tomava decisões. Veja
só os assessores que estão aqui nos acompanhando. Eles estão participando da
reunião e, ao mesmo tempo, não estão participando na mesma condição que nós
deputados”.
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Desentendimento com a
relatora
O general
também discutiu com a relatora da CPMI, senadora Eliziane
Gama (PSD-MA), após uma pergunta a possibilidade de que as urnas
eletrônicas tenham sido fraudadas nas eleições do ano passado.
Heleno respondeu: “Já tem o resultado das eleições,
já tem um novo presidente da República, pô, não posso dizer que foram
fraudadas.”
Em seguida, Eliziane replicou: “Então o senhor
mudou de ideia, né?”
O comentário irritou o general, que exclamou em
direção a seu advogado: “Ela fala as coisas que ela acha que está (sic) na
minha cabeça. Porr*, é para ficar puto, né, p*ta que pariu!”.
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Papel do GSI
Heleno também disse que o Gabinete de Segurança
Institucional, órgão do qual ele foi ministro, existe
para “manter o equilíbrio entre as instituições nacionais”.
“Jamais me
vali de reuniões ou palestras, ou conversas para tratar de assuntos eleitorais
ou político-partidários com meus subordinados no GSI”, declarou. “Deixei de ser ministro de Estado e não fiz mais contato com
funcionários do GSI ou do Palácio do Planalto.”
O general negou qualquer participação do GSI no dia
12 de dezembro, quando manifestantes tentaram invadir a sede da Polícia
Federal (PF) em Brasília após a prisão do cacique José Acácio Serere Xavante. E também
refutou a presença de funcionários do GSI na tentativa de se colocar um artefato explosivo no
Aeroporto de Brasília, em dezembro passado.
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“Não houve golpe”
O general Heleno também disse que
não houve tentativa de golpe de Estado no Brasil após ser questionado.
“Não houve golpe. Para caracterizar uma tentativa
de golpe em um país de 8,5 milhões de km² e mais de 200 milhões de habitantes é
preciso uma estrutura muito bem montada. É preciso haver uma direção, uma
cabeça muito preparada para conseguir fazer um golpe em plena era da
comunicação, em plena era da tecnologia, que dê certo”, disse.
Ø General Heleno: “É preciso uma cabeça muito bem preparada para fazer um
golpe”
O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional do ex-presidente Jair Bolsonaro, Augusto
Heleno, afirmou nesta terça-feira (26), em depoimento à
Comissão Parlamentar Misto de Inquérito (CPMI) do
8 de janeiro, que não houve tentativa de golpe de Estado no
Brasil.
Quando questionado pela relatora da CPMI, a
senadora Eliziane Gama (PSD-MA), o general Heleno defendeu que seria necessária
uma estrutura muito robusta para dar um golpe em um país de dimensões como as
do Brasil.
“Não houve golpe. Para caracterizar uma tentativa
de golpe em um país de 8,5 milhões de km² e mais de 200 milhões de habitantes é
preciso uma estrutura muito bem montada. É preciso haver uma direção, uma
cabeça muito preparada para conseguir fazer um golpe em plena era da
comunicação, em plena era da tecnologia, que dê certo”, disse general.
Augusto Heleno disse ainda que não teve acesso
aos relatórios
feitos pela Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), à época
controlada pela pasta chefiada por ele, que investigavam a possibilidade de
supostas vulnerabilidades das urnas eletrônicas nas semanas que antecederam a
live em que Jair
Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas.
Heleno também afirmou não saber se o ex-presidente
teve acesso ao relatório, que indicava que não havia registro de fraude nas
urnas.
“Não sei, não me lembro. Esse relatório, por exemplo,
não passou nas minhas mãos”, afirmou.
A existência dos relatórios foi atestada por
Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin, em depoimento à Polícia Federal.
O general Augusto Heleno afirmou ainda nunca ter
discutido assuntos políticos com seus subordinados.
“Jamais me vali de reuniões ou palestras, ou
conversas para tratar de assuntos eleitorais ou político-partidários com meus
subordinados no GSI”, declarou Augusto Heleno à Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro.
“Deixei de ser ministro de Estado e não fiz mais
contato com funcionários do GSI ou do Palácio do Planalto.”
O general negou qualquer participação do GSI no dia
12 de dezembro, quando manifestantes tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF) em
Brasília após a prisão do cacique José Acácio Serere Xavante.
Augusto Heleno também refutou a presença de
funcionários do GSI na tentativa de se colocar um artefato explosivo no
Aeroporto de Brasília, em dezembro passado. Três pessoas foram condenadas à
prisão pelo episódio.
Ø Não tem lógica não usar a Força Nacional para conter 8/1, diz Heleno
O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, afirmou à
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que não vê sentido na não utilização da Força Nacional para conter manifestantes em 8 de janeiro.
“Não tem lógica existir uma Força Nacional e não
ser utilizada nesses momentos, onde ela é talvez a instituição mais capaz de
resolver rapidamente o problema”, avaliou.
A declaração ocorreu em resposta a perguntas do
senador Sergio Moro (União-PR), durante sessão na tarde desta terça-feira (26/9).
A utilização da Força Nacional tem sido alvo de discussão no colegiado.
Enquanto a oposição responsabiliza o Ministério da
Justiça e Segurança Pública e o GSI pelo não acionamento da tropa, os
governistas afirmam que se tratava de uma atribuição do governador do Distrito
Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF).
Moro, durante a sessão, destacou circunstâncias do
governo de Jair Bolsonaro (PL) em que o GSI e o Ministério da Justiça acionaram
a Força Nacional para manter a integridade da Praça dos Três Poderes.
“É muito difícil que a Polícia Militar consiga
manter o clima de segurança na cidade, ainda mais cuidar dos prédios ali na
Esplanada [dos Ministérios]”, disse Heleno.
Depoimento à CPMI
O ex-ministro presta depoimento à CPMI na condição
de testemunha. Na noite de segunda (25/9), o ministro Cristiano Zanin, do
Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ao militar o direito de permanecer em
silêncio diante dos parlamentares.
O militar teve depoimento iniciado por volta das
10h10 desta terça. Ao chegar, Heleno foi aplaudido por diversos parlamentares
da oposição.
Heleno teceu comentários
sobre a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, à Polícia Federal, em que ele disse ter participado da tal reunião.
Segundo o general, ajudantes de ordens não participavam de encontros do tipo.
“Cid não participava de reuniões. Ele era ajudante de ordens. Isso é fantasia.”
Atuação assim que acionada
Em ofício enviado à CPMI do 8/1, em agosto deste
ano, a Força
Nacional afirmou que atuou “assim que demandada
pelos escalões superiores” para conter os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília
no início do ano.
Em resposta, a pasta comandada por Flávio Dino
compartilhou o relatório da operação da Força Nacional na Esplanada dos
Ministérios em 8 de janeiro. O documento aponta que, um dia antes dos ataques,
a Força Nacional acionou dois pelotões de choque.
No dia dos ataques, de acordo com o documento, um
efetivo de 214 homens, 24 viaturas e dois veículos aéreos não tripulados foram
acionados. “A Força Nacional prontamente atuou em apoio à Polícia Militar do
Distrito Federal, à Polícia Rodoviária Federal e à Polícia Legislativa, em
ações de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio”, consta no relatório.
Fonte: CNN Brasil/Metrópoles
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