Gabriel Brito: Os genocidas ainda mentem
Causou alvoroço no campo da saúde o embate entre participantes
do governo Bolsonaro na área da saúde e, de outro lado, médicos e sanitaristas
que se caracterizaram pelos consensos da comunidade científica durante a
pandemia. Desesperados em refutar suas responsabilidades criminosas no
morticínio da pandemia, a dupla Marcelo Queiroga e Rafael Parente publicou
artigo na revista Lancet para defender o governo de um homem
que colecionou declarações de desprezo pela gravidade do vírus e até debochou
de mortes e internações. Para além da realidade, na qual o Brasil apresentou
óbitos em escala desproporcional à sua participação na população global, ambos
reiteraram o caráter fanático e desonesto de sua militância ideológica, sempre,
é claro, a acusar os outros de suas próprias práticas. Sem relações entre fatos
e dados, o artigo se resume a repetir devaneios e a desgastada retórica
antipetista.
O escárnio é compreensível. Os indiciamentos da CPI
da pandemia seguem e, em algum momento, o Estado conduzirá processos contra os
80 indiciados pelo relatório final. Queiroga, ex-ministro que, como explicou Carla Domingues ao Outra Saúde,
fez de tudo para retardar a vacinação infantil, está entre eles. Seu périplo
midiático e institucional para livrar a cara é notório. Até lançou um livro
sobre a gestão oficial da pandemia, com as mais grosseiras falsificações e
distorções – o que somou mais um episódio de total falta de decoro de
associações médicas que permitiram seus nomes associados à má fé assassina de
Bolsonaro e companhia. A mesma Lancet publicou réplica de
outros ex-ministros e pesquisadores como José Gomes Temporão, Arthur Chioro e
Adriano Massuda, que facilmente desmontam as mentiras e fraudes que Queiroga e
Parente ajudaram a cometer. Foram corresponsáveis pelo pesado custo de 700 mil
mortes oficialmente contabilizadas por covid e mais de 400 mil outros óbitos
acima da curva demográfica, em razão da saturação e total despreparo do sistema
de saúde para lidar com a pressão gerada pela pandemia, como também explicado por este site.
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A realidade do negacionismo
bate à porta
Enquanto ex-membros do governo Bolsonaro tentam
enganar incautos, o Brasil segue a se deparar com dados concretos sobre o
desincentivo à vacinação, além da descoordenação do consagrado Programa
Nacional de Imunização, também afetado pela “racionalidade” neoliberal e sua
política de corte de gastos permanente. Organizada pela Sociedade Brasileira de
Imunizações (SBIm), a Jornada Nacional de Imunizações apresentou o dado de que
430 mil crianças brasileiras podem ser classificadas como “zero dose”. “Apesar
do nome, o conceito não significa necessariamente que essas crianças não
receberam nenhuma dose de vacina. A primeira dose da vacina DTP, contra
difteria, tétano e coqueluche, é tomada como referência para essa medição. Por
ser uma vacina de baixo custo, com décadas de uso, adotada em praticamente todo
o mundo e prescrita para o segundo mês de vida, os cientistas consideram que
uma criança que não teve acesso à dose 1 da DTP no primeiro ano de vida é uma
criança zero dose”, explica matéria da Agência Brasil. O evento da
SBIm é parte do esforço da Agenda de Imunizações 2030, que visa recuperar taxas
satisfatórias de cobertura vacinal. Segundo a OMS, 14 milhões de crianças pelo
mundo seriam “zero dose”. Vale lembrar que até poucos anos, o Brasil tinha
taxas quase universais de imunização.
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Onda de calor afeta saúde em
SP
Cenário de temperaturas recordes para o início de
primavera, a cidade de São Paulo observa as primeiras sequelas da onda de calor que acomete o Brasil. Em relação a 2022, já
há aumento de 100% no número de internações relacionadas ao mal estar gerado
pelo calor e 5 mortes. Na semana passada, o Ministério da Saúde soltou nota com recomendações básicas de
cuidados em saúde para os dias quentes pelos quais passamos. Neste domingo,
alguns voos programados para decolar ou aterrissar em Congonhas chegaram a
atrasar devido ao calor excessivo na pista, pois como explica a Associação das Empresas Aéreas, “em situações
de intenso calor, com a densidade do ar reduzida, o volume de oxigênio que
entra nos motores também diminui, o que impacta diretamente na potência,
portanto, e na performance de decolagem do avião. Quanto menor a densidade do
ar, mais velocidade será necessária para tirar o avião do solo”.
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Governo inclui tratamentos
para autismo no SUS
O Ministério da Saúde anunciou a inclusão de
tratamentos para Transtorno de Espectro Autista (TEA) na Política Nacional de
Saúde da Pessoa com Deficiência (PNSPD). Com investimentos iniciais de R$ 540
milhões, é a primeira vez que tal condição passa a fazer parte dos cuidados do
SUS, resultado da luta silenciosa de milhares de famílias que lidaram de forma
frequentemente solitária com o TEA entre seus parentes. Enquanto enfrentam
crescente rejeição de planos privados, dado os altos
custos e multidisciplinaridade de tratamentos de uma condição que não tem
marcadores biológicos para sua detecção, agora as famílias e pacientes obtêm
uma nova política pública para auxílio em sua qualidade de vida. O Ministério,
em seu site, explica como será a introdução de tal prática em sua
rede, que deverá oferecer cuidado multiprofissional no acompanhamento
terapêutico. “Nos locais especializados, o paciente passará por avaliação
biopsicossocial com equipe multiprofissional a fim de estabelecer o diagnóstico
funcional, além de identificar as potencialidades e necessidades do paciente,
de sua família e seu contexto de vida. Todos estes fatores servem de base para
a elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS). O PTS é desenvolvido por
meio do trabalho multiprofissional e interdisciplinar, com foco no planejamento
da reabilitação, definição de objetivos terapêuticos e a indicação do uso de
recursos e metodologias terapêuticas a serem adotadas.”
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Mais Estado:
diretor-presidente pede expansão da Anvisa
Em evento realizado pelo Jota, Antonio
Barra Torres reivindicou abertura de novas vagas para a Anvisa, para
aumentar sua capacidade de avaliação, inspeção e licenciamento de produtos
médicos, alimentares, químicos, entre outros. Em 2024, a OMS visitará o órgão
em inspeção que visa atestar o nível da agência de vigilância e, segundo Barra
Torres, o objetivo da autarquia é atingir o ponto 4, escala mais alta da
avaliação. “A agência abraça fortemente a causa da inspeção. Então, eu diria
que essa é a grande entrega que falta ser feita. E outra é aquela mais na base
de pirâmide: continuar o esforço para sensibilizar o governo de que precisamos
ter mais vagas [de concurso] autorizadas para o ano que vem, num fluxo anual”,
explicou. Apesar de manter a credibilidade, parece difícil ignorar a
interferência política na entidade nos últimos anos, usada pelo bolsonarismo
para tentar obstaculizar a importação de vacinas, enquanto liberava milhares de
agrotóxicos com notável rapidez.
Fonte: Outra Saúde
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