Feminista, democrata, grupo “Mulheres do Brasil” chega aos 10 anos
gloriosos de existência
Elas não são contra os homens, mas a favor das
mulheres. Maior grupo político suprapartidário do país, o “Mulheres do Brasil”
completa 10 anos de atuação com mais de 119 mil participantes.
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São mulheres de diferentes profissões e classes
sociais, das mais diversas origens e segmentos, que agora celebram sua
trajetória de luta pela representatividade feminina na sociedade. Em dez anos
de atuação, o “Mulheres do Brasil” atinge a marca de mais de 119 mulheres
inscritas, hoje formando mais de 154 núcleos nacionais e internacionais, sendo
116 no Brasil e 19 no exterior. Os números impressionam, o entusiasmo é grande,
e os resultados provam as vitórias do caminho:
“O grupo se consagrou como referência importante
para o movimento feminista no país”, observa Alexandra Segantin, CEO do
“Mulheres do Brasil”. Presidido pela empresária Luiza Trajano, o movimento
suprapartidário foi fundado em 2013, com o objetivo de estimular a participação
das mulheres em todos os espaços de poder que envolvam a tomada de decisões no
país. Eles querem influenciar, e estão influenciando, as políticas públicas –
sem nunca tomar partido.
Nosso partido é o Brasil, assim anunciam em suas
premissas, que incluem a luta a favor dos direitos humanos, da igualdade
racial, da educação de qualidade para todo país, da liberdade de imprensa, de
um sistema público e eficiente de saúde – entre outros propósitos que talvez
expliquem o crescimento do número de voluntárias, que se multiplica todos os
dias, em núcleos hoje presentes em 22 países de todos os continentes.
Ao longo desses 10 anos de atuação, entre as
inúmeras ações significativas do grupo “Mulheres do Brasil” poderíamos
destacar, por exemplo, o Movimento Unidos pela Vacina, que facilitou a
logística de acesso das vacinas contra a covid-19, principalmente até estados
como Maranhão, Acre e Amapá; o Fundo Dona de Mim, programa de microcrédito para
empreendedoras invisibilizadas em comunidades, que já contemplou mais de 3 mil
mulheres; e o Programa Aceleradora de Carreiras, voltado para mulheres pardas e
pretas.
O grupo é contra todo tipo de discriminação,
inclusive contra os homens – nada contra eles, reafirmam, somos a favor das
mulheres. Nesse sentido, um dos propósitos fundamentais do “Mulheres do Brasil”
é a mobilização e a articulação para que haja políticas públicas e inclusivas.
“Desde o início lutamos pela igualdade de salários
entre os homens e mulheres”, comenta Alexandra Segantin, “conquista que
resultou na sanção pelo atual presidente do Projeto de Lei no 1.085, que
garante a igualdade salarial, e também pela recente aprovação na Câmara dos
Deputados das cotas para mulheres nos conselhos administrativos.
Celebrando os dez anos, que se completam no início
de outubro, o grupo “Mulheres do Brasil” realizará um programa ao vivo na
próxima segunda-feira, dia 25 de setembro, a ser transmitido pelo Globoplay e
no canal do youtube do grupo, a partir das 14.30. Apresentado por Luiza
Trajano, pela jornalista Maria Beltrão e convidados, o programa vai contar a
história desse movimento que vem transformando vidas femininas em todo mundo.
O
Futuro é ancestral, feminino e indígena
As árvores são nossas irmãs, os rios são nossos
pais, os nossos avós: tem floresta em pé no Brasil graças à luta dos povos
indígenas. Assim uma das mais jovens lideranças de nosso país, a ativista Txai
Surui, resume a ópera do século 21. Respeitemos esse saber ou nos calemos para
sempre, exauridos como o solo que teimamos em não preservar.
Se você ainda não ouviu falar da Txai: mais um
motivo para celebrar o dia de hoje. Coordenadora do Movimento da Juventude Indígena,
ativista do povo Paiter Suruí, na Amazônia, foi a primeira indígena a discursar
na abertura de uma conferência do clima, em novembro de 2021, na Escócia. Aos
24 anos, ela ganhou projeção ao falar com segurança e conhecimento de causa
sobre a necessidade urgente de frearmos as mudanças climáticas.
Aparentemente o mundo inteiro se preocupa com o
clima, o aquecimento global etc, mas são os indígenas, de fato, que melhor
escutam a voz dos rios. Como explica Judite Kari Guajajara, da comunidade
Guajajara, assessora jurídica da Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira, para as comunidades indígenas a relação com a terra é uma
relação de mãe:
– Você só retira dela aquilo que é suficiente para
sobreviver. Aquilo que não vai machucá-la nem degradá-la.
De suas próprias terras os povos originários têm
sido retirados, e assim cada vez mais machucados e degradados, porém guerreiros
– fizeram pressão internacional até que a ONU, em 1995, definiu a data de 9 de
agosto como dia internacional dos povos indígenas, em um esforço para garantir
condições de existência minimamente dignas aos indígenas de todo planeta.
Aqui no Brasil, segundo os dados divulgados pelo
IBGE na última segunda-feira, hoje existem 1,7 milhão de pessoas que se
identificam como indígenas – o que equivale a 0,8% da população total do país.
São pessoas que vivem em permanente estado de luta para garantir a demarcação
de seus territórios, enfrentando a invasão sistemática de suas terras há mais
de 500 anos, o deslocamento compulsório, doenças devastadoras devido ao garimpo
ilegal e prostituição.
O dia 9 de agosto expressa o reconhecimento
internacional em relação a esses povos, o apoio irrestrito à sua
autodeterminação, convocando a população a se solidarizar com a agenda de luta
dos indígenas. “É um daqueles dias para a gente lembrar que não é só um dia”,
observa Graciela Guarani, que há 37 anos nasceu na aldeia Jaguapiru, no Mato
Grosso do Sul, e hoje vive em Pernambuco, trabalhando como roteirista e
diretora de cinema.
Graciela é outro exemplo de mulher capaz de escutar
os rios, pois eles falam, como escreveu Ailton Krenak, o filósofo,
ambientalista e líder indígena: “sejamos água, em matéria e espírito, em nossa
movência e capacidade de mudar de rumo, ou estaremos perdidos”. Quando se deu
conta de que estava sem possibilidade de difundir sua arte na reserva do
município de Dourado – onde 20 mil indígenas vivem numa área de apenas 3.500
hectares, cercados pela monocultura –, Graciela foi para a Ilhéus, unir-se a
uma área de retomada com outros indígenas.
Primeira indígena a trabalhar como roteirista e
diretora numa produção da Globo, ela celebra o 9 de agosto como uma
oportunidade para expandir sua voz guarani-kayowá, e a de todas as etnias
indígenas, orgulhosa de sua ancestralidade:
– Somos a raiz mais antiga, rica e resistente da
cultura brasileira, somos o ontem, o hoje e o amanhã desta terra, esperança de
futuro para o planeta.
Um futuro ancestral porque já estava aqui,
enraizado em questões antigas que os indígenas dominam exemplarmente, como povo
que considera a terra, e toda a diversidade existente nela, como parte de sua
cosmologia. Daí também que o 9 de agosto se relaciona tão profundamente com o
amor, e com as mulheres que cuidam da memória da criação do mundo.
Quando se trata de natureza, o que é melhor do que
conversar com uma mulher indígena? Ninguém melhor do que ela para nos ensinar,
na prática, o que é desenvolvimento sustentável, com um profundo conhecimento
sobre a terra e sua capacidade de regeneração. Vamos ouvir e ler mulheres como
Judite Guajajara:
– Não estamos sós. Toda nossa construção, enquanto
mulheres, enquanto indígenas, é uma construção coletiva, que passa por nossas
mães, nossas avós. São elas as guardiães de sabedoria, pilares básicos de nossa
cultura, da nossa língua. São elas que estruturam nossa identidade ao longo do
tempo, e assim detêm papel extraordinário na formação de nosso ser.
Fonte: Por Isa Pessoa para IstoÉ
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