sexta-feira, 29 de setembro de 2023

CPMI minimiza bomba em aeroporto e cancela sessão para ouvir condenado

A secretaria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas cqncelou na manhã desta quinta-feira (28) a sessão que ouviria, a partir das 9h, o bolsonarista Alan Diego dos Santos, preso no final do ano passado por participar do atentado à bomba em um caminhão tanque estacionado próximo ao aeroporto de Brasília.

Santos foi condenado a cinco anos de prisão pelo planejamento do atentado e já disse, na CPI da Câmara do Distrito Federal, que Jair Bolsonaro o fez acreditar em uma "fraude nas urnas".

Em nota divulgada pela Agência Senado, o cancelamento se deu por falta de quórum e "tendo sido também levado em consideração para o cancelamento o fato de a tentativa de explosão de uma bomba colocada em um caminhão-tanque de querosene no aeroporto de Brasília já ter sido tratado em outras oitivas".

O cancelamento se dá um dia após a Fórum revelar detalhe assustador sobre o caso dos terroristas bolsonaristas que tentaram explodir caminhão-tanque no aeroporto. Na sessão de terça-feira (26), a CPMI ouviu o general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI, que foi aplaudido por bolsonaristas e teve diversos chiliques durante a oitiva.

Servidor da Polícia Federal que atuava no Palácio do Planalto no conturbado período da transição governamental, e que revelou com exclusividade à Fórum o envolvimento do GSI na desordem golpista que tomou o Brasil naquele momento, conta que a bomba no aeroporto pode ter sido apenas um de vários artefatos que iriam ser explidos pelos golpistas.

“É certo que havia outros artefatos explosivos espalhados que seriam detonados. O próprio depoimento do George Washington, e as investigações da PCDF, além daquilo que chegou à PF até agora, mostraram isso, assim como no relato do outro condenado que foi preso, que aponta para o fato de que haveria uma sequência a ser executada de acordo com um plano estipulado, debatido e construído, lá dentro do acampamento do QG do Exército, do chamado Forte Apache, aqui em Brasília. É um fato essa ideia de sequenciar os atentados com base nesse plano gestado na frente dos quartéis”, diz o servidor que estava no Palácio do Planalto naquele período.

Para ele, quanto mais se avança sobre esses condenados, assim como sobre outros personagens especificamente deste caso, mais a investigação se aproxima do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), comandado à época pelo general Augusto Heleno, o homem mais fiel e próximo de Jair Bolsonaro (PL).

“O curioso nessa investigação é quanto mais a gente puxa o fio, mais a gente vai descobrindo outras pessoas envolvidas nisso... Foram pegos esses três indivíduos inicialmente, que são a pontinha dessa operação, mas por trás disso, e eu venho salientando isso, dentro do acampamento, havia a utilização de agentes de inteligência, e se presume que do GSI, naturalmente, que não só monitoravam em termos de inteligência, e é claro que falo no sentido de inteligência para eles, do próprio GSI, mas que faziam esse trabalho ininterrupto de informação e de dissonância, agitando e dizendo ‘ah, não pode deixar esse governo do Lula assumir’, ‘ah, tá na hora de agir’... A bomba foi só uma parte da operação desse pessoal lá dentro, e de fato eram muito mais bombas, não era só aquela do caminhão... Não à toa elas estavam numeradas”, acrescentou o PF.

Além da oitiva do terrorista, a CPMI votaria na sessão desta quinta novos requerimentos. Relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), defende a convocação dos últimos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na gestão do então presidente Jair Bolsonaro. O presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), condicionou a votação de novos requerimentos propostos pelos governistas à apreciação de um pedido de convocação feito pela minoria.

       CPMI DO 8 DE JANEIRO: Oposição teria pedido cancelamento de sessão por medo de "golpe"

Minoria na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de janeiro, parlamentares da oposição pediram o cancelamento da sessão marcada para esta quinta-feira (28/9). De acordo com membros do colegiado ouvidos pelo Correio, o motivo para o pedido foi a votação dos requerimentos, prevista para esta manhã.

O presidente da Comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), está viajando e, por isso, o senador Cid Gomes (PDT-CE), que faz parte da ala governista, presidiria os trabalhos de hoje. Com Maia fora, os parlamentares da oposição temiam sair prejudicados e decidiram por pedir o cancelamento, para evitar um “golpe” em relação às convocações e quebras de sigilo que poderiam ser aprovadas.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, os deputados e senadores da oposição começaram a ligar, em peso, para Maia ainda na noite de ontem. Eles alegaram que poderiam ser retirados os requerimentos propostos por eles, como o da convocação de um representante da Força Nacional, e, com isso, resultar na aprovação de pedidos somente da base governista. A votação desses requerimentos estava prevista para terça-feira (26), mas foi adiada para esta quinta. Apesar de não ter entrado na pauta, a expectativa era de que eles fossem colocados para apreciação nesta manhã.

•        Impasse

Maia tem enfrentado o impasse entre os governistas e a oposição dentro do Comissão. Nas últimas semanas, o deputado fez declarações afirmando que estava trabalhando em um acordo entre as alas e que colocaria requerimentos para votação somente se houvesse um acordo. Nessa busca por um meio termo, o presidente do colegiado afirma que pretende estabelecer um equilíbrio, já que a oposição é minoria dentro da CPMI e, sem um acordo, não conseguiriam aprovar algum requerimento.

O presidente do colegiado defende a convocação da Força Nacional, que também é alvo dos parlamentares bolsonaristas. Por outro lado, governistas, como o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), deu declarações afirmando não ver necessidade nessa oitiva. Parlamentares da base do governo, ouvidos pelo Correio no início da semana, chegaram a citar que um dos motivos para evitar esse depoimento seria para “blindar” Flávio Dino, apesar de não ter algo concreto que comprometa o ministro da Justiça nesse contexto do uso da Força Nacional no dia 8 de janeiro.

Com a pressão, o presidente da Comissão decidiu atender aos pedidos e determinou o cancelamento. Ainda não há uma confirmação se Alan Diego dos Santos Rodrigues será chamado novamente. O blogueiro foi condenado por tentar explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília nas vésperas do natal de 2022 e convocado para depor nesta sessão. De acordo com Maia, em nota oficial, o assunto da bomba no aeroporto “já foi esclarecido”.

 

       Bomba numerada que não explodiu em Brasília pode ter sido uma entre muitas

 

Era 24 dezembro, véspera de Natal, e o Brasil ainda acordava e ia dormir assustado com as ameaças golpistas que não paravam de brotar e que pareciam ter tomado forma pouco mais de uma semana antes, no fim da tarde do dia 12, quando uma horda de extremistas tentou literalmente incendiar Brasília e invadir a sede da Polícia Federal, numa ação que tentava impedir a diplomação do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na data mais importante do cristianismo, os terroristas que se dizem cristãos tentariam o mais ousado e horrendo plano: explodir o aeroporto Juscelino Kubitschek, na capital da República.

A história, passados nove meses, é bem conhecida. George Washington de Oliveira Sousa, Alan Diego dos Santos Rodrigues e Wellington Macedo de Souza, o trio aloprado de bolsonaristas, viu sua funesta ação ir pelo cano depois que o motorista de um caminhão-tanque carregado com 60 mil litros de querosene de aviação notou uma caixa, onde estava uma bomba com detonador remoto, presa ao veículo. Ele largou a carreta numa área segura da rodovia por onde trafegava, se afastou e acionou a polícia, que chegou rapidamente.

O inapagável capítulo de horror da História do Brasil volta à tona nesta quinta-feira (28) porque um dos condenados pelo plano criminoso, Alan Diego, comparecerá à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, no Congresso Nacional, para prestar depoimento aos deputados e senadores que examinam os intentos golpistas que quase liquidaram a democracia brasileira.

Embora a investigação desse crime tenha sido conduzida e concluída pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que apresentou o inquérito ao Ministério Público, tendo já levando à condenação de George Washington e Alan Diego pela Justiça, enquanto Wellington Macedo seguia foragido, um servidor da Polícia Federal que atuava no Palácio do Planalto no conturbado período da transição governamental, e que revelou com exclusividade à Fórum o envolvimento do GSI na desordem golpista que tomou o Brasil naquele momento, conta agora um detalhe que pouca gente conhece sobre o episódio da tentativa de mandar pelos ares o aeródromo de Brasília lotado de passageiros.

Nas fotos que circularam na imprensa mundial da caixa de papelão largada na via pública, onde uma bomba com um detonador eletrônico repousava, aguardando um técnico do esquadrão antibombas da PF chegar paramentado, como nos filmes de Hollywood, ou na vida real cotidiana de Israel, um adesivo transparente, com um papel branco por baixo, mostra o número “01”.

Mas por que diabos uma bomba levada por três terroristas num carro, para ser colocada num caminhão que explodiria um aeroporto na véspera de Natal, teria uma numeração com dois algarismos a identificando? A resposta é simples e o agente da PF ouvido pela Fórum é direto: ocorreriam outros atentados naquele 24 de dezembro.

“É certo que havia outros artefatos explosivos espalhados que seriam detonados. O próprio depoimento do George Washington, e as investigações da PCDF, além daquilo que chegou à PF até agora, mostraram isso, assim como no relato do outro condenado que foi preso, que aponta para o fato de que haveria uma sequência a ser executada de acordo com um plano estipulado, debatido e construído, lá dentro do acampamento do QG do Exército, do chamado Forte Apache, aqui em Brasília. É um fato essa ideia de sequenciar os atentados com base nesse plano gestado na frente dos quartéis”, diz o servidor que estava no Palácio do Planalto naquele período.

Para ele, quanto mais se avança sobre esses condenados, assim como sobre outros personagens especificamente deste caso, mais a investigação se aproxima do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), comandado à época pelo general Augusto Heleno, o homem mais fiel e próximo de Jair Bolsonaro (PL).

“O curioso nessa investigação é quanto mais a gente puxa o fio, mais a gente vai descobrindo outras pessoas envolvidas nisso... Foram pegos esses três indivíduos inicialmente, que são a pontinha dessa operação, mas por trás disso, e eu venho salientando isso, dentro do acampamento, havia a utilização de agentes de inteligência, e se presume que do GSI, naturalmente, que não só monitoravam em termos de inteligência, e é claro que falo no sentido de inteligência para eles, do próprio GSI, mas que faziam esse trabalho ininterrupto de informação e de dissonância, agitando e dizendo ‘ah, não pode deixar esse governo do Lula assumir’, ‘ah, tá na hora de agir’... A bomba foi só uma parte da operação desse pessoal lá dentro, e de fato eram muito mais bombas, não era só aquela do caminhão... Não à toa elas estavam numeradas”, acrescentou o PF.

A fonte da Fórum pondera que, de fato, os agentes do GSI não executaram pessoalmente as ações envolvendo as bombas numeradas, mas ela lembra que seria impossível um nível de sofisticação como aquele encontrado nos explosivos, sem contar nos insumos utilizados nas engenhocas mortais, sem a ajuda direta de profissionais habituados com esse universo, que é, por lógica, militar.

“É evidente pelo que temos até agora que eles não precisaram botar a mão na massa, mas qualquer um sabe que para montar um artefato daquele você precisa do conhecimento de um especialista, isso é inevitável... Como chegou explosivo lá dentro, como chegou espoleta, detonador remoto, tudo... Quem sabe fazer uma bomba profissional daquela? Essa bomba numerada, e da forma como foi numerada, indica um sequenciamento dos atos de terrorismo e o que corrobora isso são os depoimentos desses detidos até agora, que estão justamente nessa linha... Era provavelmente uma sequência que envolvia a explosão do caminhão-tanque no aeroporto, a explosão de torres de transmissão de alta-tensão, da explosão da plataforma superior da rodoviária, enfim... Mas logo no primeiro ataque isso foi frustrado prematuramente, fazendo com que essas ações fossem abortadas”, concluiu o servidor da Polícia Federal.

 

       Golpistas tinham muitas bombas e iam fazer ataque em série para ativar GLO e implantar ditadura

 

Não foi apenas “um trio de aloucados” tentando explodir uma bomba em um aeroporto na véspera de Natal. Aquilo fazia parte de uma ação orquestrada que poderia ter levado o Brasil a uma ditadura. Sem exageros. Com exclusividade à Fórum, o servidor da Polícia Federal lotado no Palácio do Planalto que revelou em dezembro passado o envolvimento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) comandado pelo general Heleno na desordem golpista que literalmente incendiou Brasília após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições conta agora um detalhe que pouca gente conhece sobre o atentado no aeroporto de Brasília: os golpistas tinham muitas bombas e iam fazer ataques em série para ativar uma Garantia da Lei e da Ordem (a famigerada GLO) a fim de implantar uma ditadura no Brasil.

 

Fonte: Fórum/Correio Braziliense

 

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