quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Bepe Damasco: O repulsivo general Heleno e a formação dos militares

Não lembro de ter assistido durante as muitas CPIs que acompanhei pela TV um comportamento tão grosseiro e mal educado por parte de um depoente, como o protagonizado pelo general Augusto Heleno.

Não que esperasse uma postura civilizada por parte de um troglodita do calibre do general. Mas, ao responder com palavrões à inquirição feita pela relatora da CPI, senadora Eliziane Gama, ele revelou todo seu desprezo pelas instituições democráticas, além de flagrante misoginia.

Antes, já ameaçara processar um deputado e "mandá-lo para a cadeia" e, transpirando homofobia por todos os poros, insistiu em tratar como senhor a deputada trans Duda Salabert. Sem falar que acabou vendo ruir sua mentira sobre a desimportância do tenente-coronel Mauro Cid, com o vídeo apresentado pelo deputado Rogério Correia.

Quem dera, no entanto, que o general Heleno fosse exceção entre os oficiais generais, e no oficialato das três forças, em geral. Existem militares legalistas e profissionais. A desgraça para o país é que eles são minoritários. 

O endosso ao governo neofascista de Bolsonaro, no qual ocuparam mais de 3 mil cargos, e a participação de muitos deles na trama golpista que se seguiu à vitória de Lula, incluindo o apoio político e logístico à horda de fascistas que acamparam em frente aos quartéis e de lá saíram para tentar consumar o golpe, em 8 de janeiro, expõem de forma alarmante para o país a falta de compromisso democrático de boa parte dos fardados.

Não custa lembrar ainda que a tentativa de descredibilizar as urnas eletrônicas contou com forte apoio da caserna.

Se é verdade que a maioria dos comandantes se negou a aderir ao golpe proposto por Bolsonaro, também pairam dúvidas sobre a real motivação para a negativa. Não teria sido pelo "tabajarismo" gritante dos planos de Bolsonaro?

O fato é que, com mais verniz e sem exibir a carranca de fascista juramentado de um Heleno da vida, muitos militares de alta patente comungam das ideias totalitárias de Heleno, ainda que não as expressem publicamente.

É impossível não remeter a questão à raiz, ou seja, à grade curricular dos cursos de formação dos nossos militares.

Se isso não mudar, e o governo Lula deve ser cobrado para que atue com esse objetivo, a democracia seguirá vivendo sob constante ameaça dos que se acham "o poder moderador da República."

Em vez da anacrônica doutrina de segurança nacional, direitos humanos.

No lugar de antipetismo (versão moderna do anticomunismo), respeito à pluralidade política da sociedade.

Ao invés de politização e busca de inimigos internos, foco na missão constitucional de patrulhamento de fronteiras e segurança nacional.

Em vez de preconceitos de toda ordem, cátedras sobre a importância da diversidade, ensinamentos antirracistas e de combate ao machismo e à homofobia.

Se nos bancos escolares dos cursos militares os alunos tiverem acesso a esses conceitos iluministas, republicanos e civilizatórios, aí sim o Brasil poderá contar no futuro com forças armadas sintonizadas com os anseios da nação brasileira.

 

Ø  General Heleno, um dos retratos do desgoverno. Por André Barroso

 

Entre as pessoas que apoiam o Bolsonarismo, estão iletrados, raivosos, milicianos, fazendeiros desmatadores, neoliberais, fascistas e principalmente adoradores do golpe militar de 1964. Geralmente, esta última camada é composta por senhores de idade e aqueles mais novos que apoiam o AI-5 e intervenção militar. Esse saudosismo com a ditadura militar, que governou com mãos sujas de sangue, mostra que essa sombra não vai se acabar em 20 anos, mas se renova com líderes da extrema direita tal qual Bolsonaro, Trump, Giorgia Meloni, Adrzej Duda, Viktor Orbán, Jimmie Akesson e mais recentemente, Javier Milei.

Um desses filhotes da ditadura, da qual Brizola costumava bradar em debates,  foi do atual general Augusto Heleno. Durante a ditadura militar trabalhou como ajudante de ordens de Sylvio Frota, tal qual o atual Cid com Jair Bolsonaro. Sylvio Frota era da considerada linha dura do exército, apoiando a tortura e contra o Gal. Ernesto Geisel, que estava levando a abertura ao país com a do Brasil. Tentaram dar um golpe dentro do golpe militar. Acabou exonerado com Frota. Seu aprendizado foi no período mais negro da história. Não à toa que seu amigo Bolsonaro exalta a figura de Ustra como herói nacional. General Augusto Heleno liderou a operação "Punho de Ferro" no bairro de Cité Soleil em Porto Príncipe, no Haiti. Essa operação foi considerado por grupos de direitos humanos a um massacre demais de 70 inocentes entre mulheres e crianças, onde através da WikiLeaks foram descobertos que foram disparados 22 mil tiros.

A muito já se sabe com áudios, vídeos, laudos de testemunhas, de que o general que estava comungando efetivamente de estratégias para a todo custo impedir a posse de Lula. Tentaram com plano A e plano B, sem sucesso. Desta vez, todo conhecimento junto aos militares da ditadura militar não foi páreo frente à democracia. Todas as tentativas torpes conjuradas por ele, Bolsonaro, Cid e a cúpula militar, não foi para frente. Apesar de bolsonaristas, os chefes do Exército (a maior frente) e da aeronáutica serem contrários, lembrando que a aeronáutica, através do comandante tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Junior, teve em sua pasta o escândalo mais grave, foi do tráfego internacional de drogas, no avião presidencial. Apenas o comandante da marinha topou participar do golpe. Todos relataram que Bolsonaro se reuniu com eles fora da agenda pelo menos 10 vezes, para insistir no golpe.

A participação de Heleno na tentativa de golpe é grande. Considerando declarações de que não aceitaria a subida de Lula ao planalto, já temos diversas declarações pela imprensa e através de vídeos de apoiadores, onde sempre incitava em qualquer turba que houvesse um levante popular. Ele fez parte de um grupo de Whatsapp, o Notícias Brasil, de militares da ativa e da reserva no qual discutiam ações golpistas, para impedir a posse do presidente Lula. Hoje, tentou diminuir a importância de Mauro Cid em reuniões, assim como ele tenta se proteger se declarando um democrata. Mesmo seu histórico de vida dizer ao contrário. E mesmo não respondendo as perguntas mais difíceis e respondendo aos seus colegas de extrema direita, sendo transfóbico, sendo truculento em diversos momentos. 

Foi pego em contradição em algumas falas. E queria evitar esse constrangimento não comparecendo a CPI, mas graças ao ministro Cristiano Zanin, do STF, foi obrigado a depor. Os militares nesse momento estão preocupados com o que pode respingar de negativo com todas as provas demonstradas de participação direta no golpe de Estado. Desta vez, o general Heleno, que está na reserva, não escapa de ser apontado pela CPI como um dos mentores do oito de janeiro.

A história do Brasil é repleta de golpes de Estado condenáveis. Desta vez, a democracia dá uma prova de que ainda vale a pena acreditar em um futuro melhor. A história já me deixara para trás, só que desta vez, fascistas não passarão! 

 

Ø  Lula já constrói barricadas antigolpe. Por Eduardo Guimarães

 

Estudo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), a cargo da cientista política Lilian Sendretti, dá conta de que o Brasil registrou mais manifestações de extrema direita nos dois meses após a eleição do presidente Lula que nos quatro terríveis anos anteriores.

A ocorrência e a ferocidade dos agressores da normalidade institucional e democrática da Nação veio num crescendo entre 2018 e o 8 de janeiro de 2023. Foram registradas 1.666 manifestações entre novembro de 2022 e o dia 8 de janeiro deste ano. Entre 2018 e 2021, foram 1.548 ao todo. 

Enquanto isso, Insatisfação da base aliada no Senado -- Casa  em que o governo tem mais força --  ameaça votações de interesse governista. Primeiro sinal de alerta foi o placar na análise do PL do Carf, quando a matéria foi aprovada por 34 votos em vez dos 40 esperados

A situação na Câmara dos Deputados é incomparavelmente pior. A federação de Lula elegeu 80 deputados. Outros partidos da coligação de 10 legendas que apoiaram o presidente, somados com o PDT, obtiveram 59 vagas. 

Ou seja: a base de apoio direta de Lula eleita na Câmara em 2022 foi de míseros 138 deputados. Detalhe: a Câmara tem 513 cadeiras. 

Mais uma vez, o povo elegeu um governo de esquerda que não tem força nem para barrar um golpe parlamentar, à exemplo do que ocorreu com Dilma Rousseff. 

Lula tem condições melhores que Dilma para resistir. Político experiente, trata de atrair apoios dando aos opositores  participação em seu governo, mas ao custo de uma oposição de esquerda que começa a se formar porque esta acha que se tiver o miolo do filé vai continuar governando por quatro anos e aprovando tudo o que quiser... 

Dado o estado de tensão política do país, hoje, ainda mais com a ofensiva judicial contra a extrema-direita e a provável prisão do cabeça do 8 de janeiro, os reacionários estão radicalizados ao ponto de ebulição. Só cargos e verbas ainda impedem intentona golpista-parlamentar contra o governo. 

Com a parcela mais romântica e irrealista da esquerda viajando cada vez mais fundo na maionese e a reduzida base parlamentar acordada tentando atrair apoios para um projeto que já se mostra de grande futuro, se o atual governo não for derrubado ainda se poderá sonhar com a sobrevivência desse tão necessário projeto de Nação. 

Mas tudo isso é muito frágil. A mídia já se radicaliza e aproveita a ausência de neurônios do lado esquerdo para instigá-lo contra Lula. Todos os ataques feitos pela mão canhota do espectro político por nomeações para cargos vitais como o de PGR ou de ministro do Supremo ou contra alianças com a direita para acalmar seu ímpeto golpista, são incentivados pela mídia que explora a necessidade imperiosa de Lula fazer tais acordos. 

Sabedor de que a burrice de uns e a má-fé de outros tendem a se intensificar, Lula já apela à construção de uma barreira contra a ofensiva golpista que, no mínimo, seguramente pode sobrevir. Apela, então, ao único poder que pode conter um Legislativo infectado pelo. 

Lula está nomeando para o STF os seus mais confiáveis homens do mundo jurídico e na PGR escrutina o Ministério Público do Brasil em busca de alguém que pense com a própria cabeça e resista às pressões corporativas que permeiam tão poderosa e imprevisível instituição. Sabedor de que a burrice de uns e a má-fé de outros tendem a se intensificar, Lula já apela à construção de uma barreira contra a ofensiva golpista que, no mínimo, seguramente pode sobrevir. Apela, então, ao único poder que pode conter um Legislativo infectado pelo fascismo.

Terá que enfrentar a fúria da esquerda e da direita, que não hesitarão em sabotá-lo. Uns, por não entenderem a real situação política do governo federal; outros, por entenderem bem demais essa situação perigosa e que tanto ameaça àqueles que não mais podem esperar.

 

Fonte: Brasil 247

 

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