segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Barroso sem pressa e pressão da bancada evangélica: os próximos passos do julgamento do aborto no STF

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, votou, nesta sexta-feira (22), a favor da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez, mas um pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso travou o julgamento no plenário virtual e vai levá-lo ao plenário físico da Corte.

Ainda não há data para o julgamento no plenário do STF, e, segundo informou a analista de política da CNN Thais Arbex, o futuro presidente da Corte — Barroso — não tem pressa diante do tema, que deve permanecer engavetado por um tempo.

Conforme apurou a CNN, Barroso indicou internamente não ter previsão para pautar o tema. Segundo tem dito o ministro, depois que assumir o comando do Supremo, ele pretende analisar com calma o momento oportuno para levar o debate ao plenário físico.

Segundo integrantes do tribunal disseram à CNN, o pedido de destaque foi combinado entre Barroso e Weber.

De acordo com relatos, embora a ministra acredite que seja um assunto para o plenário físico — com sustentações orais e debate entre os ministros —, ela pautou no sistema virtual para poder votar antes de sua aposentadoria compulsória. A ministra tem de deixar o STF até o dia 2 de outubro, quando completa 75 anos.

•        Pressões sociais e políticas

A decisão de Barroso de levar ao plenário físico a análise do tema agradou a integrantes da bancada evangélica, que comemoraram o pedido do ministro.

De acordo com deputados ouvidos pela CNN, o entendimento é que as chances de barrar a descriminalização aumentam e, por isso, eles já planejam medidas para pressionar publicamente a Corte, como ações nas redes e manifestações de rua.

Eles ficaram sob alerta diante do voto da ministra Rosa Weber, que defendeu a retirada de punição às mulheres no caso de abortos realizados até a 12ª semana de gestação.

Os parlamentares evangélicos se opõem à realização do aborto em quaisquer circunstâncias e enxergam no julgamento uma forma de flexibilizar a prática.

Além disso, a oposição no Senado já reuniu quase 40 assinaturas para proposta de realização de um plebiscito sobre o aborto, segundo o senador Rogério Marinho (PL), líder do grupo na Casa.

Segundo Marinho, é preciso entender se o pensamento da sociedade mudou sobre o tema e se há clamor por modificações na legislação. “Caso a sociedade manifeste seu desejo por alterações, haverá então compromisso do Legislativo de agir”, diz.

Na visão de Marinho e de colegas da oposição, as prerrogativas dos congressistas estão sendo solapadas. “O Congresso está sendo atropelado”, diz.

É esperado que políticos progressistas e movimentos sociais também façam pressões nos magistrados pela aprovação da descriminalização.

A discussão pública sobre o aborto é, há anos, usada no campo eleitoral e deve mobilizar debates pelo país.

•        Mudança na votação

A mudança no ambiente decisório não afeta o voto de Weber. Em junho do ano passado, o Supremo decidiu que, caso haja pedido de destaque em processos com julgamento iniciado no ambiente virtual, os votos lançados por ministros que, posteriormente, deixarem o exercício do cargo, por aposentadoria ou outro motivo, serão válidos.

Interlocutores de Weber avaliam que a presidente do Supremo não queria abrir mão do voto em uma pauta importante para as mulheres.

A ministra fez questão de manter a ação no próprio gabinete quando assumiu a presidência do STF. Geralmente, o acervo de processos é repassado para o ministro que está sendo substituído no comando do tribunal.

•        Voto de Rosa Weber

A ministra defendeu que a mulher deve ter a prerrogativa de decidir se deseja interromper a gravidez, desde que o procedimento seja realizado dentro do primeiro trimestre de gestação.

“Não há falar em proteção do valor da vida humana sem igualmente considerar os direitos das mulheres e sua dignidade em estatura de direitos fundamentais e humanos”, escreveu.

Weber também afirmou que o poder público deve promover e proteger os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e adolescentes a partir da perspectiva da saúde pública.

O direito a um procedimento seguro, argumenta a ministra, tende a reduzir os índices de mortalidade materna.

Ela argumentou ainda que as mulheres estão sujeitas a falhas de métodos contraceptivos e, diante desse risco, precisam ter autonomia para decidir seu “projeto de vida”.

“A criminalização da conduta de interromper voluntariamente a gestação, sem restrição, não passa no teste da sub-regra da necessidade, por atingir de forma o núcleo dos direitos das mulheres à liberdade, à autodeterminação, à intimidade, à liberdade reprodutiva e à sua dignidade”, afirmou a ministra.

•        Bancada evangélica fala em ações para pressionar magistrados em julgamento sobre aborto

Integrantes da bancada evangélica comemoraram o pedido do ministro Luís Roberto Barroso para que o julgamento sobre o aborto ocorra no plenário presencial do Supremo Tribunal Federal (STF).

De acordo com deputados ouvidos pela CNN, o entendimento é que as chances de barrar a descriminalização aumentam. Por isso, eles já planejam medidas para pressionar publicamente a Corte, como ações nas redes e manifestações de rua.

Eles ficaram sob alerta diante do voto da ministra Rosa Weber, que, num voto bastante alentado, defendeu a retirada de punição às mulheres no caso de abortos realizados até a 12ª semana de gestação.

Os evangélicos se opõem à realização do aborto e enxergam no julgamento uma forma de flexibilizar a prática.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 39 mil mulheres morrem todos os anos e milhões são hospitalizadas por causa de abortos inseguros.

Os parlamentares evangélicos dizem que a saída do caso do plenário virtual era amplamente esperada pela bancada, que vinha tentando enviar recados aos ministros sobre a importância de o debate ser aprofundado no plenário físico.

Agora, com a garantia de que o julgamento será presencial, eles já antecipam uma série de ações para dar visibilidade ao caso e pressionar os magistrados. Além de movimentar as redes sociais, a bancada fala em mobilizar manifestações de rua para elevar o tom contra a descriminalização.

 

       Senado tem quase 40 assinaturas para proposta de plebiscito sobre aborto

 

A oposição no Senado já reuniu quase 40 assinaturas para proposta de realização de um plebiscito sobre o aborto, segundo o senador Rogério Marinho (PL), líder do grupo na Casa.

A iniciativa foi pensada como resposta ao julgamento sobre a descriminalização do aborto no Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo Marinho, é preciso entender se o pensamento da sociedade mudou sobre o tema e se há clamor por modificações na legislação. “Caso a sociedade manifeste seu desejo por alterações, haverá então compromisso do Legislativo de agir”, diz.

O parlamentar afirma, no entanto, que é importante o Congresso se posicionar diante do avanço do Supremo sobre temas que deveriam ser resolvidos no Legislativo.

Na visão de Marinho e de colegas da oposição, as prerrogativas dos congressistas estão sendo solapadas. “O Congresso está sendo atropelado”, diz.

O mínimo necessário para encaminhamento do tema são 27 assinaturas. Mas a meta é encaminhar a proposta de decreto legislativo na próxima semana com um número de apoio correspondente à maioria absoluta da Casa, ou seja, 41 votos.

Para valer, a proposta precisa ser aprovada pelo plenário do Senado e ainda receber aval da Câmara.

 

       Aborto é legalizado em 77 países mediante apenas solicitação; confira quais

 

Apesar de polêmica, a questão já é regulada em 77 países, segundo a ONG Centro para Direitos Reprodutivos.

Apesar da legalização, cada país estipula o limite gestacional, de até quando é possível solicitar a realização do procedimento. Em alguns lugares, chega a ser de 20 semanas (quase cinco meses), como o caso da Tailândia. Mas a maioria fica entre 10 e 14 semanas, cerca de dois a três meses.

Nessas localidades, vivem atualmente 35% das mulheres em idade reprodutiva (661 milhões) de todo o planeta. Assim, a ONG afirma que há uma tendência global pela liberação do aborto.

Além desses 77 países, é possível realizar o aborto, mas com restrições por questões sociais ou econômicas, em outros 12 nações.

Em outros 47, o aborto só é permitido para preservar a saúde da pessoa gestante.

Em 43 nações, o aborto só é permitido quando a gestão tem risco de morte.

E em outros 22 ele é totalmente proibido, mesmo quando há risco de morte.

>>>>> Saiba quais são os 77 países com regulação do aborto

# América do Norte

•        Canadá;

•        Groelândia.

*Os Estados Unidos e o México são os dois únicos países do mundo que possuem leis que variam significativamente de estado para estado. Em alguns deles, a pauta é liberada. Em outros, é proibida, sempre com regras diferentes entre si.

Como o mapa do Centro para Direitos Reprodutivos reflete apenas as leis em vigor, o México é tido como um lugar com diferentes quadros jurídicos, que passam a ser refletidos caso a caso nos estados.

# América Central

•        Cuba;

•        Belize.

# América do Sul

•        Colômbia;

•        Guiana;

•        Guiana Francesa;

•        Argentina;

•        Uruguai.

*No Chile, o aborto foi descriminalizado em 2021, garantindo que ninguém seja preso caso realize, mas a questão ainda não foi regulamentada.

Segundo o Centro para Direitos Reprodutivos, só há regulamentação para o procedimento no país em caso de estupro ou de diagnósticos de morte feral, e, por isso, classifica o país na categoria vermelha, a mesma do Brasil.

Após a categoria vermelha está apenas a categoria vermelho-escuro, onde a proibição do aborto é generalizada.

# África

•        África do Sul;

•        Moçambique;

•        Guiné Equatorial (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Benim;

•        Guiné-Bissau;

•        Tunísia.

# Europa

•        Islândia;

•        Irlanda;

•        Irlanda do Norte;

•        Dinamarca;

•        Holanda;

•        Alemanha;

•        Bélgica;

•        França;

•        Espanha (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Portugal (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Itália (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Grécia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Bulgária;

•        Macedônia do Norte (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Albânia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Kosovo (autorização/notificação dos pais é necessária e seletivo por sexo proibido);

•        Montenegro (autorização/notificação dos pais é necessária e seletivo por sexo proibido);

•        Sérvia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Bósnia e Herzegovina (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Croácia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Eslovênia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Romênia;

•        Ucrânia;

•        Bielorrúsia;

•        Lituânia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Letônia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Estônia;

•        Finlândia;

•        Noruega (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Suécia;

•        Áustria;

•        Suíça;

•        República Tcheca (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        República Eslovaca (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Chipre;

•        Moldávia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Hungria.

# Ásia

•        China (aborto seletivo por sexo proibido);

•        Nepal (aborto seletivo por sexo proibido);

•        Tailândia;

•        Vietnã;

•        Camboja (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Mongólia;

•        Quirguistão;

•        Cazaquistão;

•        Uzbequistão;

•        Turcomenistão (lei pouco clara);

•        Tadjiquistão;

•        Rússia;

•        Coreia do Norte (lei pouco clara);

•        Coreia do Sul;

•        Geórgia;

•        Azerbaijão;

•        Armênia (autorização/notificação dos pais é necessária);

•        Turquia (autorização/notificação do cônjuge e dos pais é necessária).

# Oceania

•        Austrália;

•        Nova Calendônia;

•        Nova Zelândia.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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