A Covid está de volta. Quem tem mais chances de pegar de novo?
Um novo estudo apresenta dados que apoiam uma das
principais suposições sobre a propagação da covid: a intensidade da exposição
ao vírus é importante e as vacinas e infecções anteriores só conseguem ajudar
até certo ponto – mas ajudam.
A pesquisa, liderada por cientistas da Escola de
Saúde Pública de Yale e publicada na Nature Communications, também reforça a
noção comum de que as máscaras e a filtragem do ar podem aumentar a proteção
proporcionada pelas vacinas e diminuir o risco de se contrair o vírus. Qualquer
pessoa que esteja observando o retorno dos casos de covid em sua comunidade
deve levar isso a sério: as infecções não são inevitáveis, e as ferramentas que
temos usado para nos proteger não são apenas intuitivas – e certamente não
deveriam ser controversas. São cada vez mais apoiadas por evidências.
Embora os dados do mundo real tenham proporcionado
aos cientistas uma noção razoável da capacidade de as vacinas protegerem contra
os piores resultados do vírus da covid, tem sido difícil compreender sua
eficácia na prevenção da transmissão.
Uma equipe de pesquisadores encontrou uma forma
inteligente de tentar mostrar que as vacinas são “vazadas” – isto é, conseguem
proteger contra a transmissão, mas só até certo nível de exposição ao vírus.
Eles analisaram infecções nas prisões de Connecticut (EUA).
Está
na hora de voltarmos a usar máscara? Veja o que dizem especialistas
Com novas subvariantes em circulação, os casos de
covid-19 voltaram a subir no Brasil. Especialistas ouvidos pelo Estadão
comentam que, com a queda nas testagens, o número exato é encoberto de
incertezas, mas avaliação é de que esse recrudescimento está longe da magnitude
da onda causada pela cepa original da Ômicron em 2022.
Não é preciso "alarde", dizem, mas o
cenário requer cuidados. O principal deles é atualizar a vacinação contra
doença. O hábito de usar máscaras em locais fechados e de aglomeração deve ser
retomado por quem faz parte dos grupos de risco e por aqueles que convivem com
esses indivíduos. A baixa taxa de imunização de crianças acende alerta dos
médicos e também do Ministério da Saúde, que fazem apelo para que pais e
responsáveis vacinem os pequenos.
"Identificamos um aumento ainda pequeno. Pelos
nossos dados, é de 6%", disse a epidemiologista Ethel Maciel, secretária
da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, ao Estadão.
A informação se refere às duas primeiras semanas de agosto. "Mas,
provavelmente, pelo que a gente está vendo nos outros países, a curva (de
casos) vai crescer."
A secretária frisa a necessidade de a população
atualizar a vacinação frente a uma maior circulação do vírus. Outra orientação
é de que principalmente imunodeprimidos e pessoas com 65 anos ou mais retomem o
uso de máscara em locais fechados, de aglomeração e com pouca circulação de ar.
"É uma medida de prevenção efetiva já comprovada cientificamente",
afirmou.
• Aumento
de casos
Segundo a infectologista Raquel Stucchi, da
Unicamp, o aumento de casos já era esperado, considerando as novas subvariantes
em circulação e o cenário no Hemisfério Norte, a exemplo dos Estados Unidos e
do Reino Unido. Por lá, a EG.5, chamada popularmente de Eris, "filha"
da Ômicron, já é dominante. Até o momento, o Ministério da Saúde foi informado
de quatro casos da nova variante no País. Dois em São Paulo, um no Distrito
Federal e um no Rio de Janeiro.
"Diante do número de casos neste momento no
Brasil, precisamos lembrar do início da pandemia: quando subia o número de
infecções, existia o risco de aumentar as taxas de internações cerca de dez
dias depois. Estados Unidos e Europa já têm observado essa situação",
alerta Raquel.
A taxa de positividade (razão entre testes feitos e
resultados positivos) para covid-19 praticamente dobrou entre julho e agosto,
passando de 7% para 15,3%, de acordo com Instituto Todos pela Saúde (ITpS). As
análises foram feitas baseadas em dados de 1.196.275 diagnósticos moleculares
realizados entre 14 de agosto de 2022 e 19 de agosto de 2023 pelos laboratórios
Dasa, DB Molecular, Fleury, Hospital Israelita Albert Einstein, Hilab, HLAGyn e
Sabin.
O número real do atual aumento de casos, porém, é
incerto. "Testamos pouco, e os autotestes não são notificados", diz
Raquel. "Esse aumento detectado é, com certeza, muito abaixo do que
realmente está acontecendo."
Outra limitação da análise da ITpS reside no fato
de que as informações se referem a testes da rede privada. Nesse sentido, os
especialistas apontam que há "defasagem" dos dados públicos e
reclamam da demora do Ministério da Saúde em divulgar os boletins
epidemiológicos da covid.
Ao Estadão, Ethel explicou que há um
"atraso" nos dados da pasta de cerca de duas semanas devido ao tempo
que leva para municípios e Estados realizarem a notificação. Ela, porém,
destaca que não há defasagem. "Nosso atraso é bem pequeno."
Os especialistas também reclamam da falta de
vigilância genômica Segundo eles, o real estado de circulação da EG.5 no País,
por exemplo, é desconhecido e provavelmente temos mais infecções causadas por
ela. Ethel diz que a Saúde identificou a necessidade de fortalecer a rede de
vigilância genômica do País e isso será feito já a partir deste ano, com
recursos do Novo PAC.
• Apelo
pela vacinação
Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da
Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), repete orientação feita em nota
técnica da entidade divulgada há duas semanas. "Monitoramento com
moderação", fala. O documento já adiantava que havia "possibilidade
de uma nova onda de casos ocorrendo nas próximas semanas, com baixo potencial
de casos graves, baseado no cenário epidemiológico nos países onde ela já
circula".
A principal medida para se proteger, diz Barbosa, é
a vacinação. Conforme a nota da SBI, "todas as pessoas com 6 meses de
idade ou mais devem ter pelo menos três doses de vacina". Embora não
impeça a infecção leve, a vacina ajuda a evitar casos graves, hospitalização e
morte. Raquel Stucchi acrescenta a importância de aumentar o número de
brasileiros com a injeção atualizada (bivalente).
Nesse sentido, há especial preocupação dos
especialistas com as crianças. "A cobertura vacinal nas crianças não chega
a 30%. Temos uma população infantil muito suscetível à doença", alerta o
infectologista Marcelo Otsuka, vice-presidente do Departamento de Infectologia
da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Ethel também frisa que isso se deve principalmente
a uma forte onda de desinformação. A secretária destaca que a pasta busca
combatê-la com campanhas e também por meio ações de
"microplanejamento" com Estados e municípios dentro da Campanha de
Multivacinação. Equipes do ministério percorrem o Brasil para ajustar as
estratégias de vacinação com gestores e lideranças locais - a medida vale para
vários tipos de imunizantes. O aporte para a campanha foi de mais de R$ 150
milhões.
"A vacina ofertada pelo Sistema Único de Saúde
é segura e protege as nossas crianças contra a gravidade dessa doença",
diz Ethel. "E a gravidade não é só a internação. Temos a covid longa, que
são sintomas persistentes que podem diminuir a qualidade de vida da criança.
Podemos evitar isso com a vacina "
• Devemos
voltar a usar máscara?
Em relação ao uso de máscaras, os especialistas não
acham que seja a hora de retomar a obrigatoriedade. A proteção facial,
orientam, deve ser usada por pessoas de grupos de risco e por quem convive com
elas quando esses indivíduos estiverem em espaços fechados, mal ventilados e
com aglomeração.
O grupo de risco é formado por: imunossuprimidos,
diabéticos, pacientes em tratamento de câncer, quem tem doença renal ou
pulmonar grave e idosos.
Qualquer pessoa com sintoma respiratório (tosse,
coriza, etc) deve usar máscara. Além disso, é essencial realizar o teste para
determinar se é um quadro de covid. Em caso positivo, deve-se cumprir o período
de isolamento.
Otsuka alerta para o cuidado com bebês com menos de
6 meses, para os quais ainda não há vacina disponível. O médico pede para
evitar o contato entre eles e pessoas com sintomas respiratórios Além disso,
orienta que gestantes busquem a imunização completa anticovid.
Para pessoas com 65 anos ou mais e imunossuprimidos
com teste positivo, há tratamento antiviral disponível do Sistema Único de
Saúde (SUS). O medicamento Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) precisa ser
administrado dentro dos cinco primeiros dias de sintomas, o que indica a
importância da celeridade em buscar a testagem.
• Monitoramento
constante
Ao Estadão, Ethel conta que a pasta retomou os
comitês técnicos assessores (CTA), inclusive um para discutir a covid-19, e que
também há esforço de investir em pesquisas para uma melhor compreensão da
doença e como ela opera no Brasil. Uma dessas pesquisas busca mapear os efeitos
da covid longa no Brasil.
"A covid é uma doença nova e estamos
aprendendo (mais sobre ela) A gente não sabe um monte de coisas. Nós não
sabemos qual é o impacto que isso vai ter na vida de alguém que se infectou
agora É um vírus que causa muita inflamação, problema de coagulação, e não
sabemos qual será o impacto daqui a 10, 15 anos", alerta a secretária.
• São
Paulo
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que,
em agosto, até o dia 30, 1.323 casos de covid foram registrados na capital
paulista. Em julho e junho foram notificadas, respectivamente, 924 e 1.308
infecções. Os números mensais estão bem distantes do que foi visto em meses
como fevereiro e março, quando os registros ultrapassavam 30 mil.
A SMS diz ter criado estratégias para ampliar a
cobertura vacinal na cidade. "A pasta segue monitorando o cenário
epidemiológico de doenças respiratórias e incentiva os munícipes a seguir as
orientações do uso da etiqueta da respiratória (cobrir a boca com a parte
interna do braço quando for tossir ou espirrar) e da higienização adequada das
mãos", disse, em nota.
Já a Secretaria de Estado da Saúde (SES) afirmou,
em nota, que mantém o monitoramento constante do cenário epidemiológico em todo
o território estadual e reforça a importância da vacinação contra a covid-19,
em especial as doses de reforço. Assim como a SMS, a SES reforça que "as
medidas já conhecidas pela população seguem fundamentais para combater o
coronavírus", e cita a higienização das mãos e a etiqueta respiratória.
Fonte: The Washington Post/Correio
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