Homem-bomba teve financiamento bolsonarista
O empresário bolsonarista George Washington de
Oliveira, condenado por armar um atentado a bomba em um caminhão-tanque perto
do aeroporto de Brasília, movimentou R$ 747 mil no ano passado, valor
incompatível com seu patrimônio. As informações foram enviadas pelo Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à CPMI do 8 de Janeiro no mês
passado.
O relatório do Coaf identificou movimentações
financeiras de Oliveira em três bancos. No primeiro, movimentou R$ 167 mil de
março a dezembro; no segundo, R$ 365 mil de junho a dezembro; no último, R$ 215
mil de junho a dezembro.
Para um dos bancos, a renda mensal estimada do
bolsonarista era R$ 1,1 mil. Outra instituição financeira declarou que presumiu
que Oliveira tinha uma renda de R$ 4 mil por mês. Por isso, a intensa
movimentação em suas contas chamou a atenção do órgão que combate lavagem de
dinheiro.
“Não podemos desconsiderar que os valores de gastos
em cartão de crédito não condizem com a capacidade financeira declarada”,
afirmou o relatório, que também registrou “movimentação de recursos
incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e
capacidade financeira” e “gastos atípicos”.
O empresário tentou explodir um caminhão de
combustível em Brasília em 24 de dezembro do ano passado, a uma semana da posse
de Lula. Em maio deste ano, Oliveira foi condenado a nove anos e quatro meses
de prisão pelo atentado. Até agora, ele prestou depoimento à CPMI do 8 de Janeiro,
no Congresso Nacional, e na CPI do mesmo tema na Câmara Legislativa do DF.
Como a coluna mostrou, um relatório da Polícia
Civil encaminhado aos parlamentares afirmou que George Washington acessou, pelo
menos, 14 vídeos no YouTube que ensinavam a fazer explosivos. Os vídeos tinham
títulos didáticos, a exemplo de “Como explodir uma bomba de dinamite” e “Como
fazer um detonador”.
<><> Relator da CPI do MST defendeu
golpe militar
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) decidiu
acionar a Corregedoria da Câmara após o deputado Ricardo Salles (PL-SP)
defender o golpe de 1964, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Câmara que investiga a ação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST).
“O golpe de 1964 impôs uma ditadura que perseguiu,
torturou e assassinou opositores. Ela, inclusive, fechou o Parlamento do qual
Salles hoje é membro. A Câmara não é palco para apologia aos horrores da
ditadura e o deputado deve responder por isso”, disse Sâmia à Coluna.
O PT também estuda uma reação a Salles, mas ainda
não decidiu se vai representá-lo na Corregedoria ou no Conselho de Ética.
Ex-ministro do Meio Ambiente no governo Jair
Bolsonaro, Salles, que é relator da CPI, afirmou ontem que o golpe militar foi
uma “boa medida” e “parou o avanço do movimento comunista”. As falas geraram
revolta em parlamentares da base do governo Lula, presentes à sessão do
colegiado.
Salles defendeu o golpe de 1964 durante o
depoimento do general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI). O deputado perguntou se o militar considerava o golpe de
1964 uma revolução, como parte das Forças Armadas. G.Dias evitou responder e
disse que o tema não era pertinente à CPI do MST.
Após os elogios de Salles ao golpe de 1964, Sâmia
chamou o deputado de “covarde” e “golpista”. Os dois colecionam bate-bocas na
CPI do MST. O bolsonarista já chegou a dizer que a deputada “explora a pobreza”
para se eleger.
Como mostrou a Coluna, durante o recesso, Sâmia
protocolou representações no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados pedindo
a cassação de e do deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS).
<><> Bolsonaristas querem derrubar Dino
por não entregar imagens
Senadores e deputados da oposição vão apresentar
notícia-crime contra Flávio Dino à Procuradoria-Geral da República nesta
quarta-feira (2/8). No documento, os parlamentares argumentarão que o ministro
da Justiça incorreu nos crimes de prevaricação, desobediência e abuso de
autoridade ao negar, à CPMI do 8 de Janeiro, imagens internas da sede do ministério.
A oposição acredita que vídeos das câmeras de
segurança do Ministério da Justiça e Segurança Pública teriam potencial de
revelar suposta omissão de Dino no 8 de Janeiro. Após a recusa do ministro, o
presidente da CPMI, deputado Arthur Maia, deu 48 horas para Dino conceder as
imagens. Caso contrário, a comissão acionará o STF para obrigá-lo a fornecer o
material.
Flávio Dino usou uma rede social para se manifestar
sobre o assunto. Segundo ele, a oposição busca inventar fatos.
“Tentaram fraudar a eleição de 2022 para ficar no
poder. Ainda assim, perderam. Tentaram dar um golpe de Estado. Perderam
novamente. (…) Não adianta ficar inventando ‘fatos’ para encobrir tais
verdades.”
A notícia-crime chegará às mãos do PGR Augusto
Aras. Ele deverá distribuí-la a Lindôra Araújo, que concentra os processos
criminais de políticos com foro privilegiado, ou a Carlos Frederico, que está à
frente das investigações sobre o 8 de Janeiro.
Bolsonaristas
sabotaram 22 torres de energia
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
informou à CPI dos Atos Golpistas que registrou 54 casos de desligamento
automático de linhas de transmissão decorrentes de ataques desde o início de
2020. Deste total, 22 foram reportados após a eleição de Lula – o equivalente a
40% dos eventos.
Segundo o ONS, os dados referem-se apenas às
situações em que ocorreram “desligamentos de linhas de transmissão na Rede
Básica de Operação do Sistema Interligado Nacional (SIN), cuja motivação
apresentada pelas empresas concessionárias de transmissão foi de ataques às
instalações de transmissão”.
O principal alvo nesse período foi a Eletronorte,
que contabilizou cinco casos entre 24 de dezembro e 8 de maio. Chesf e Norte
Brasil tiveram três cada.
No documento encaminhado à CPI, o ONS expõe como
modos de ataque a retirada de parafusos e peças, ações de vandalismo, atos de
sabotagem e até choque intencional de máquina agrícola.
A entidade destacou ainda que eventual processo
administrativo é instaurado junto à Aneel. Afirmou também que não é responsável
pela apuração das informações alegadas pelos agentes proprietários dos ativos
de transmissão.
Invasores
do Planalto produziram provas contra si
Quatro pessoas que invadiram o Congresso Nacional
no dia 8 de janeiro acessaram a rede wi-fi da Câmara dos Deputados. Para
conseguir a conexão da internet gratuita, eles precisam cadastrar o nome e o
CPF no sistema. Com isso, acabaram produzindo prova contra eles mesmos.
As informações constam de um ofício sigiloso
enviado pela Câmara dos Deputados à CPI do 8 de Janeiro, que retomou as
atividades nesta terça-feira. A Polícia Legislativa abriu o procedimento n.
237581 para levantar “os logs de tentativa de conexão e conexões efetuadas à
rede sem fio” no dia dos ataques e, assim, identificar os invasores.
Dois deles, uma mulher de Contagem (MG) e um homem
de Teresina (PI), já foram detidos e estão hoje sob monitoramento de
tornozeleira eletrônica. Os nomes das outras duas pessoas não constam na lista
de presos suspeitos dos atos de 8 de janeiro divulgada pela Secretaria de
Administração Penitenciária do Distrito Federal.
“É necessário que se faça um pré-cadastro
informando sobretudo dados como CPF, nome e telefone. Analisando estes logs,
verificou-se que efetivamente foram realizadas quatro conexões de pessoas não
autorizadas a acessar a Casa no dia 8 de janeiro de 2023 com a rede sem fio”,
diz o ofício da Câmara, ao qual O GLOBO teve acesso. As provas também foram
compartilhadas com a Polícia Federal.
Além desses indícios, a PF está identificando os
invasores por meio das imagens das câmeras de segurança e da análise de
material genético deixado por eles. A perícia é feita em garrafas, bitucas de
cigarro, pedaços de roupa que foram encontrados no Palácio do Planalto,
Congresso e Supremo Tribunal Federal — e agora se transformaram em provas na
mão dos investigadores.
Ex-chefe
da Abin será indiciado pela CPMI
O depoimento do ex-diretor-adjunto da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha produziu um raro
consenso entre parlamentares da oposição e da base aliada do governo Lula.
Os dois lados concordam que o fato de ele ter
confirmado na CPI que adulterou um relatório de inteligência enviado ao
Congresso, a mando do general Gonçalves Dias, tornou inevitável o indiciamento
do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no relatório final da
comissão.
Entre integrantes da CPI do 8 de Janeiro ouvidos
pela equipe da coluna impera a leitura de que Gonçalves Dias foi abandonado
pelo próprio governo Lula e “jogado às feras”, sem que ninguém se mostre disposto
a fazer esforço para salvá-lo.
Ainda não há um veredicto sobre qual será a
imputação ao ex-ministro de Lula, mas uma das possibilidades em avaliação nos
bastidores é a de enquadrar Gonçalves Dias em um dos crimes previstos contra o
Estado democrático de direito.
No depoimento à CPI nesta terça-feira (1), Cunha
confirmou que, a mando de GDias, retirou de um relatório da Abin sobre o 8 de
Janeiro os registros de que o general foi informado por mensagens enviadas para
seu celular dos crescentes riscos de tumulto e de invasão de prédios públicos.
Tanto o campo governista quanto a oposição avaliam
que o depoimento do ex-diretor-adjunto da Abin tornou ainda mais “grave” a
situação de Gonçalves Dias – que acabou demitido do governo Lula assim que
vieram à tona imagens do circuito interno do Palácio do Planalto mostrando o
general perambulando e interagindo normalmente com os extremistas na hora da
invasão.
“As acusações do Saulo Cunha são gravíssimas e
mostram que o general agiu de má-fé, dando uma ordem ilegal de remover
informações do relatório. Houve sabotagens por todos os lados”, disse um
integrante da comissão ouvido sob reserva.
Na reportagem publicada em maio, mostramos que a
Abin enviou dois documentos diferentes sobre os mesmos alertas de risco para o
8 de janeiro à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência
(CCAI).
O primeiro, entregue no dia 20 de janeiro e
assinado por Moura da Cunha, não trazia os onze alertas que o ministro recebeu
no próprio telefone celular entre 6 e 8 de janeiro sobre a movimentação dos
golpistas.
Os alertas só apareceram na segunda versão do mesmo
documento, enviada pela Abin à mesma comissão em 8 de maio passado – quando
Gonçalves Dias já havia deixado a agência, que estava então sob o controle da
Casa Civil e com o GSI já sob o comando de outro general, Marco Antonio Amaro
dos Santos.
A primeira versão do documento foi enviada ao
Congresso por requisição da própria CCAI,. Já a segunda foi entregue por ordem
do ministro Alexandre de Moraes, em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral
da República (PGR).
Durante o depoimento, Saulo Cunha deixou claro aos
parlamentares que “obedeceu à ordem” de Gonçalves Dias ao manipular as
informações do relatório, ainda que tenha refutado o termo “adulteração” para
definir sua atuação no episódio:
– Fiz o primeiro (relatório) em uma planilha que
continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e continha também os
alertas encaminhados por mim pessoalmente, pelo meu telefone, para o
ministro-chefe do GSI. Entreguei essa planilha ao ministro, e ele determinou
que fosse retirado o nome dele dali porque ele não era o destinatário oficial
daquelas mensagens. Que ali fossem mantidas apenas as mensagens encaminhadas
para os grupos de WhatsApp. Ele determinou que fosse feito, e eu obedeci a
ordem, afirmou.
Coube à senadora governista Eliziane Gama (PSD-MA),
relatora da CPI, chamar as coisas pelo devido nome e demonstrando que não
haverá boia de salvação para o ex-ministro de Lula:
– O senhor está dizendo que adulterou a pedido de
GDias. Atendeu a uma ordem absurda dele, atendeu ao pedido de uma ilegalidade.
Retirou um dado e não apresentou no relatório apresentado à CCAI (Comissão
Mista de Controle das Atividades de Inteligência, a CCAI). Há uma
responsabilidade compartilhada por ter atendido a uma ordem absurda. Que fique
isso claro.
Sargento
do Exército cantou hino com golpistas
O inquérito policial militar aberto sobre a atuação
das tropas do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro apontou “indícios de
transgressão disciplinar” na conduta de um sargento que cantou o hino nacional com
os invasores.
O terceiro sargento Júlio Cesar Fidelis Gomes foi
gravado ao lado de vândalos no Salão Nobre do palácio quando parte do grupo já
estava detido. Em determinado momento da gravação, o militar faz um sinal com
as mãos sugerindo que os invasores entoassem o hino mais alto.
O sargento afirmou em depoimento que cantou o hino
por ordem do comandante do pelotão, o segundo tenente Bill Clinton Barros Alves
da Silva, junto “com todos os militares da fileira de escudos”.
O militar argumentou que os golpistas começaram a
se “desesperar” quando a Polícia Militar do Distrito Federal lançou gás
lacrimogêneo na rampa do palácio. Disse ainda que a ideia era ganhar a
confiança do grupo para controlar a situação.
Ele afirmou que, com o hino, “os invasores começaram
a se emocionar e a se acalmar”, e que “foi quando a PM-DF [Polícia Militar do
Distrito Federal] iniciou as prisões”.
O inquérito concluiu que “não se acercam de
indícios de crime, sobretudo em razão de tratar-se de conduta adotada com o
intuito de controlar os invasores e ganhar a confiança dos mesmos”.
“Todavia, há indícios de possível cometimento de
transgressão disciplinar, quanto ao militar se portar de maneira inconveniente
ou sem compostura”, diz trecho do documento.
A conclusão consta no inquérito, aberto em 11 de
janeiro para averiguar a atuação da tropa do Comando Militar do Planalto no dia
8 de janeiro. O Exército também abriu, em 31 de janeiro, um procedimento
disciplinar específico sobre o caso.
O documento é resultado de uma investigação conduzida
pelos próprios militares para avaliar se há indícios de crime militar e quais
os possíveis responsáveis. A apuração foi feita pelo coronel Roberto Jullian da
Silva Graça, hoje chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto.
O relatório sigiloso, obtido pela Folha, apontou
“indícios de responsabilidade” da Secretaria de Segurança e Coordenação
Presidencial do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e livrou as tropas
de culpa. O documento foi finalizado em 2 de março e recebeu uma complementação
no dia 14 daquele mês.
A conclusão é colocada de forma genérica, sem
mencionar o nome dos responsáveis. O chefe da secretaria em 8 de janeiro,
general Carlos Feitosa Rodrigues, nem sequer foi ouvido durante a apuração.
O inquérito também poupou o Exército sobre o
acampamento montado após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em
frente ao quartel-general em Brasília —onde os vândalos que depredaram as sedes
dos três Poderes ficaram por mais de dois meses.
O governo do Distrito Federal afirma ter tentado
desmontar o acampamento no ano passado, mas foi barrado pelo Exército. Como
mostrou a Folha, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) alertou inclusive
sobre a presença de militares radicais no local em 27 de dezembro.
O depoimento do sargento que cantou o hino foi
reforçado pelo relato do comandante do batalhão. O segundo-tenente Bill Clinton
Silva disse que a ordem veio do major Paim, do Batalhão da Guarda Presidencial,
“dentro da ‘ideia inicial’ de negociar com os manifestantes”.
“Perguntado se concordou com a ordem recebida pelo
major Paim, respondeu que no calor da emoção não pensou se era certo ou errado,
por não se tratar de ordem absurda, mas apenas cumpriu a ordem. A ordem estava
dentro da ideia inicial de negociar com os manifestantes.”
Imagens do circuito interno de câmeras do Palácio
do Planalto durante a invasão mostraram a passividade dos militares, além do
baixo número de homens no local, além da falta de comando.
Procurado, o Exército afirmou que o inquérito foi
enviado ao Ministério Público Militar “para que fossem tomadas as providências
julgadas cabíveis”.
“Cabe salientar que o Exército Brasileiro não se
pronuncia acerca de procedimentos investigativos ou judiciais conduzidos por
outros órgãos. Esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do
Exército Brasileiro com as demais instituições da República”, disse em nota.
O documento também foi entregue ao ministro
Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em fevereiro, ele
decidiu que os militares envolvidos no dia 8 de janeiro serão processados e
julgados pela própria Corte.
O ministro determinou ainda que a Polícia Federal
abrisse um inquérito para investigar os militares das Forças Armadas e da
Polícia Militar do Distrito Federal. A PF, portanto, pode chegar a conclusão
diferente da apontada no inquérito militar.
Após a reportagem da Folha, a presidente nacional
do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que “o negacionismo
vestiu farda para encobrir suas próprias responsabilidades”.
Fonte: O Globo/Agencia Estado/Metrópoles/FolhaPress
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