Governistas criam alternativa para evitar desoneração bomba de
prefeituras
Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na
Câmara dos Deputados criaram um caminho alternativo para evitar estender
a desoneração da folha de pagamentos para os municípios. Os prefeitos vêm pressionando os deputados para aprovar o benefício,
cujo custo varia de R$ 7,2 bilhões a R$ 11 bilhões aos cofres do governo
federal.
O presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), avisou que pretende colocar a
proposta em votação no plenário da Casa na próxima terça-feira, 29.
A possibilidade de aprovar o projeto de interesse
dos prefeitos vem sendo usada, nas últimas semanas, como forma de pressão para
o governo Lula acelerar a reforma ministerial. O benefício aos prefeitos foi
incluído em projeto já aprovado no Senado, que prorroga a desoneração da folha
de salários de 17 setores.
O ritmo acelerado colocou em alerta a liderança do
governo na Câmara, que desde o início da semana vinha trabalhando em um plano
B. A ideia é propor aos prefeitos aumentar a receita dos municípios usando como
veículo o projeto de lei complementar 136/23, cuja relatoria foi entregue ao
líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PT-PR), na última terça-feira, 22. Nesta
semana, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), requisitou que o projeto
tramite em regime de urgência, o que levaria a votação diretamente para o
plenário da Casa.
O projeto trata do acordo feito pela União com os Estados para o
ressarcimento de perdas com a arrecadação do ICMS no ano passado, quando Jair
Bolsonaro patrocinou a redução temporária na arrecadação estadual em itens como
energia elétrica, comunicações e combustíveis. Quinze Estados recorreram à
Justiça alegando que a União interferiu na autonomia federativa e 11
deles obtiveram liminares favoráveis, inclusive
São Paulo.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs
então um acordo que envolve o pagamento de R$ 27 bilhões aos Estados como
ressarcimento, dos quais 25% devem ser repassados aos municípios.
A saída desenhada neste momento é incluir neste
projeto um repasse maior de recursos para os municípios, com o argumento de que
eles também perderam arrecadação durante a redução do ICMS.
“Eles também perderam arrecadação do ICMS
combustível. Podemos avaliar recompor outras perdas também, como a da tabela do
Imposto de Renda”, afirma Zeca Dirceu, referindo-se ao impacto provocado
pelo aumento da faixa de isenção do IR para R$
2.640, em vigor desde maio e chancelado pela Câmara na última semana.
O aumento da isenção provocou uma renúncia de
arrecadação do governo federal de cerca de R$ 3 bilhões neste ano. Essa receita
é repartida com os municípios por meio do FPM (Fundo de Participação dos
Municípios).
Zeca afirma, contudo, que não pretende alterar as
regras de divisão do FPM de forma permanente. Para ele, a ideia é fazer uma
recomposição temporária. “Até porque a arrecadação logo voltará a crescer”,
diz.
·
Inconstitucional
Um dos argumentos alegados por petistas para
convencer os prefeitos é o risco de a desoneração da folha das prefeituras ser
considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Isso porque,
na reforma da Previdência, passou a ser vedada qualquer tipo de nova renúncia
fiscal de contribuições usadas para bancar aposentadorias e pensões.
O alerta foi feito no Senado, pelo líder do
governo, Jaques Wagner (PT-BA), mas ignorado pelos parlamentares da Casa
ao aprovarem a medida. Na ocasião, os senadores aprovaram
que o programa de desoneração da folha de pagamentos para 17 setores seja
prorrogado até 2027. E também permitiram que municípios com até 142 mil
habitantes possam se beneficiar da desoneração da contribuição previdenciária
patronal dos atuais 20% para 8%. A equipe econômica é contrária às duas medidas, que juntas podem custar até
R$ 20 bilhões.
Quando o texto chegou à Câmara no início de julho,
os prefeitos foram avisados que um parecer da Secretaria-Geral da Mesa de 2020,
analisando a constitucionalidade da desoneração, concluiu que a instituição de novos benefícios ou
a sua majoração são proibidas por lei. Apenas casos de prorrogação de desonerações
já concedidas podem ser admitidas. O próprio Arthur Lira mencionou o problema
aos representantes municipais, segundo apurou o Estadão. O sinal foi
interpretado como um indicativo de que a proposta que beneficia os municípios
pode não ser votada.
Nesta semana, porém, eles ganharam o apoio do líder
do União Brasil, Elmar Nascimento (União-BA), que prometeu propor uma emenda estendendo o benefício a
todos os municípios, o que aumentaria ainda mais o custo para a União.
A proposta é espinhosa até para parlamentares
governistas porque, ainda que represente um impacto extra para o governo, é
difícil frear uma iniciativa que atenda a prefeitos a pouco mais de um ano das
eleições municipais.
A prorrogação da desoneração da folha tramita
atualmente na Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados,
onde recebeu o parecer favorável da relatora, a deputada Any Ortiz (Cidadania-RS)
no último dia 8.
Desde então, parlamentares da base governista têm
evitado que o texto seja apreciado, o que o levaria à votação em plenário. Mas
a pressão é também crescente entre os 17 setores econômicos beneficiados pela
desoneração e que desejam que ela seja prorrogada antes que expire, no fim
deste ano.
“Está muito claro que estão construindo uma
alternativa para não votar o benefício para as prefeituras”, disse ao Estadão o
presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski.
A CNM calcula um impacto de R$ 7,2 bilhões com a
proposta do deputado Elmar Nascimento. Ela replica projeto já apresentado pelo
senador petista, Jaques Wagner, que beneficia os municípios de acordo com o PIB
per capita. Aqueles municípios com menor PIB per capita teriam uma redução
maior da alíquota da Previdência para os seus servidores. A CNM suspeita que a
intenção é tirar a desoneração para os municípios do projeto.
“Estou preocupando com o que estão querendo fazer.
Ninguém consultou, o projeto é do nosso movimento. Ficamos sabendo disso pela
mídia”, reclamou Ziulkoski.
Durante a tramitação no Senado, Fernando Haddad
disse que a equipe econômica apresentaria uma proposta de emenda à Constituição
que resguardaria os setores econômicos hoje atendidos e resolveria de vez a
política de desoneração da folha, evitando novas corridas à prorrogação no
futuro. Mas a proposta ainda não foi apresentada.
Membro da comissão, o deputado Zé Neto (PT-BA)
afirma que a inclusão dos municípios na política de renúncia fiscal não tem
fonte de financiamento e que o melhor seria não misturar as duas coisas, sob
pena de punir os setores econômicos já atendidos pela medida.
“São situações diferentes, deveriam ser tratadas
separadamente. Incluir mais municípios vai aumentar o problema. Vai tirar o
dinheiro de onde para financiar isso?”, diz.
A relatora na comissão, a deputada Any Ortiz afirma
que Lira avisou a líderes da Câmara que ela deve seguir na relatoria durante a
tramitação do texto no plenário e que, apesar do primeiro aceno positivo ao
projeto, só agora será avaliada a constitucionalidade da inclusão das
prefeituras na desoneração.
“Entendo a situação das prefeituras e muitas estão
com dificuldades e problemas em suas finanças, mas temos que discutir melhor
como tratar essa questão para não impactar as empresas e os setores que já são
atendidos pela desoneração e só terão seu benefício prorrogado”, afirmou.
“Temos que achar uma solução que não prejudique o projeto”.
Ø MP para taxação dos fundos dos super-ricos deve ser enviada até
segunda, indica líder do governo
O líder do governo na Câmara dos Deputados, José
Guimarães (PT-CE), indicou que uma Medida Provisória (MP) será enviada ao
Congresso Nacional até segunda-feira (28) prevendo a taxação dos fundos
exclusivos de investimento — popularmente apelidados de "fundos dos
super-ricos".
A arrecadação proveniente da nova tributação será
usada para arcar com as despesas decorrentes da ampliação da faixa de isenção
do imposto de renda, que deve passar pela sanção do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) no início da semana. Afinal, com a nova regra, trabalhadores com
salários de até R$ 2.640 estão isentos da declaração.
"O governo vai encaminhar uma Medida
Provisória para identificar a fonte da despesa que está sendo gerada pela
redução da tabela do imposto de renda até segunda-feira, porque aí não tem
problema jurídico", afirmou José Guimarães em sessão no plenário na última
quarta-feira (23). "Essa Medida Provisória vai incluir os fundos fechados
do Brasil", concluiu.
Em relação à taxação de offshores, Guimarães citou
que o governo Lula não desistiu do assunto e irá pautá-lo no Congresso Nacional
por meio de um Projeto de Lei com urgência constitucional — significa que as
casas legislativas terão até 90 dias para deliberar sobre a matéria. "Os
offshores virá em um Projeto de Lei com urgência constitucional", insistiu
o líder.
·
Governo recua sobre taxação de offshores para
garantir aprovação da MP do novo salário mínimo
A Medida Provisória (MP) do reajuste do salário
mínimo e da ampliação da faixa de isenção do imposto de renda aprovada na
quarta-feira incluía inicialmente a taxação de offshores como estratégia para
garantir a recuperação da receita diante da nova despesa. Entretanto, não houve
consenso sobre a nova tributação na Câmara dos Deputados, e o presidente Arthur
Lira (PP-AL) negociou com o governo a retirada do tópico.
·
PL amplia para US$ 100 limite para isenção de
compras no exterior
O Projeto de Lei 3498/23 aumenta de US$ 50 para US$
100 o limite de isenção das compras internacionais e também reduz de 60% para
20% a alíquota de importação sobre essas compras.
No caso das remessas internacionais, será aplicado
regime tributário simplificado, com alíquota de 20% para as mercadorias de até
US$ 5.000.
O autor da proposta é o deputado Luiz Philippe de
Orleans e Bragança (PL-SP). Ele afirma que o limite atual, de US$ 50, está
defasado. “Esse mínimo é um dos mais baixos e defasados do mundo. Esse valor
foi estipulado por decreto em 1980 e, trazendo a valor corrigido, seria algo em
torno de US$ 185 neste ano”, disse.
Ele defendeu que a redução da alíquota de
importação vai alavancar a atividade econômica dos Correios e das empresas de
remessa expressa do Brasil. A perda de arrecadação, segundo ele, poderia ser
compensada com emendas à Lei Orçamentária Anual e reestimativa de Receita na
Lei de Diretrizes Orçamentárias.
>>> Tramitação
A proposta tramita em conjunto com o Projeto de Lei
1623/23 e será analisada em caráter conclusivo pelas comissões de
Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Ø Reforma tributária: Braga diz que Conselho Federativo será técnico e
irá delimitar atribuições
O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM),
afirmou neste sábado, 26, que vai delimitar as atribuições do Conselho
Federativo, a ser criado para gerir o novo IVA (Imposto sobre Valor Agregado),
na Proposta de Emenda Constitucional que altera a tributação sobre o consumo.
O texto da reforma aprovado na Câmara remete essa
regulamentação a uma lei complementar, a ser discutida após a aprovação da
espinha dorsal da reforma. Braga, contudo, afirmou que vai antecipar a discussão para esta etapa no Legislativo.
“As competências do Conselho Federativo estarão no
comando constitucional de forma clara, porque a questão federativa é uma
questão do pacto federativo e está na Constituição, e assim será preservado”,
disse. “Agora as questões técnicas, assim como ocorre no Simples Nacional,
serão exercidas pelo Conselho Federativo.”
O relator participou de um debate sobre a reforma
promovido pelo Grupo Esfera, no Guarujá.
A opinião de Braga vai de encontro ao que propôs o
Ministério da Fazenda na concepção da reforma, que queria evitar o assunto
neste momento, concentrando-se sobre os princípios da mudança tributária. Mas a
governança do conselho se transformou em um debate que divide os governadores,
temerosos de perder autonomia sobre a gestão das receitas estaduais.
O Conselho Federativo vai concentrar a arrecadação
de cinco tributos que incidem sobre o consumo — IPI, PIS e Cofins (federais) e
ICMS (estadual) e ISS (municipal) — e distribuir para os entes federados. A
centralização é importante para garantir que impostos recolhidos ao longo da
cadeia sejam ressarcidos para as empresas sem que um Estado tenha que arcar
mais com esse pagamento do que outros, o que poderia emperrar a devolução. A
não-cumulatividade é um dos pilares da atual reforma tributária.
Durante a tramitação na Câmara, o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), patrocinou uma modificação no texto para evitar que os Estados do Norte e Nordeste, mais
numerosos, controlassem as decisões do conselho.
Isso incomodou os políticos dessas regiões, como Braga, que viram na iniciativa
uma afronta ao equilíbrio federativo. Desde que a tramitação começou no Senado, o relator vem sinalizando
que fará alterações ao texto para preservar o que ele considera ser uma relação
equânime entre todos os Estados.
Neste sábado, Braga avançou ao indicar que, ao
delimitar que o conselho será meramente operacional, não há motivos para
disputas políticas pela sua governança.
“O Conselho Federativo será técnico, administrativo.
Não tem espaço político no Senado para que o conselho tenha outras funções.
Caso contrário, existem inúmeras emendas de senadores, inclusive com propostas
radicais de extinção do conselho, o que inviabilizaria a metodologia aprovada
na Câmara”, afirmou.
O relator afirmou ainda que esta é a principal
preocupação dos governadores e que será esclarecida em reunião marcada para a
próxima terça, 29, em Brasília, que deverá reunir os líderes regionais para
debater a reforma.
Aprovação às escuras
Durante sua fala no evento em Guarujá, Braga
reafirmou que a reforma não deverá elevar a carga tributária e que, para isso,
pretende incluir no texto da PEC um limite explícito. A ideia dele, segundo
adiantou, é que o Tribunal de Contas da União calcule qual é a carga tributária
recolhida pelos atuais cinco tributos e explicitar que o novo IVA não poderá
exceder este limite.
Segundo ele, o País não pode aprovar uma reforma
tributária às escuras, sem a perspectiva de qual será a alíquota para o
consumidor e o setor produtivo. Ele contou que, após receber o texto da Câmara,
procurou o Ministério da Fazenda para pedir estudos que indicassem as alíquotas
que seriam estabelecidas de acordo com o modelo aprovado pelos deputados.
Depois, foi ao TCU pedir o apoio e auxílio do ponto de vista técnico, a fim de
realizar uma análise dos estudos apresentados pela Fazenda.
Braga frisou que a Câmara deu um primeiro passo
importante, mas que o sistema brasileiro é bicameral. “A matéria ainda não foi
aprovada”, pontuou. “No Senado, irá sofrer um amplo debate.”
Fonte: Agencia Estado/Itatiaia/Agencia Câmara
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