domingo, 27 de agosto de 2023

As digitais de um criminoso mascarado em documento de militares

Está muito difícil blindar os militares contra a acusação de golpismo. É uma tarefa à qual se propõem o ministro José Múcio Monteiro Filho, da Defesa, e o general Tomás Paiva, comandante do Exército. Tarefa ingrata, que a cada dia se torna mais ingrata.

O ministro bateu em muitas portas na última quarta-feira à caça dos nomes dos militares que se reuniram no ano passado com o hacker Walter Delgatti a mando de Jair Bolsonaro. Esteve na Polícia Federal, Ministério da Justiça e CPMI do Golpe.

Não conseguiu o que queria. Na semana anterior, e pela mesma razão, Monteiro Filho procurou o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Está nas mãos fechadas de Moraes o inquérito que apura as agressões à democracia.

Moraes é amigo de Monteiro Filho, e mais ainda amigo do general Tomás Paiva. Em São Paulo, por motivos de segurança, Moraes faz ginástica numa academia militar. Ontem, Moraes participou em Brasília da cerimônia que marcou o Dia do Soldado.

Monteiro Filho e Tomás Paiva saíram dos encontros com Moraes de mãos vazias. De Moraes, do ministro Flávio Dino, da Justiça, e do delegado Andrei Passos Rodrigues, Diretor-Geral da Polícia Federal, ouviram que o processo corre em segredo de Justiça.

Daí porque os nomes dos militares suspeitos de ações golpistas não podem ser fornecidos a ninguém. Por ora, estão sendo apenas investigados. Alguns, mais tarde, poderão passar à condição de denunciados. E os inocentes, por óbvio, não serão mencionados.

Compreensível. Mas isso não deveria impedir que militares que se julgam inocentes, mas que foram citados publicamente em alguma ocasião, sintam-se impelidos a proclamar sua inocência. Por que ouvirem calados falsas acusações que mancham suas carreiras?

O general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa no governo Bolsonaro, poderia responder a uma das perguntas que não quer calar: é verdade que o hacker reuniu-se no ministério com técnicos militares para discutir a vulnerabilidade das urnas eletrônicas?

Não foi uma nem duas vezes que Delgatti disse ter ido ao ministério – foram cinco vezes. E que todas as vezes entrou no ministério pela porta dos fundos, e de máscara. A novidade, agora, é que entrou mascarado a pedido de militares. Será possível?

Bolsonaro já reconheceu que se reuniu com Delgatti no Palácio da Alvorada, e que a seu pedido, o hacker reuniu-se com militares no Ministério da Defesa. Delgatti era processado por vários crimes, e na semana passada foi condenado a 20 anos de prisão.

O que o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, tem a dizer a respeito? Delgatti diz que se encontrou com ele e com servidores da área de tecnologia do ministério:

“Eles [os servidores] iam ao Tribunal Superior Eleitoral e me repassavam o que viam, porque não tinham acesso à internet, não podiam levar uma parte do código. Eles acabavam decorando um pedaço do código e me repassando.”

O hacker orientava os servidores com acesso ao tribunal, e suas orientações foram incluídas no relatório do Ministério da Defesa que questionou a confiabilidade das urnas. As digitais de um criminoso em documento oficial do Ministério da Defesa!

Quem cala diante de uma coisa dessas, consente. Com a palavra, portanto, o general Paulo Sérgio Nogueira. Não ocorre ao ministro da Defesa e ao Comandante do Exército procurarem Nogueira para saber se Delgatti diz a verdade ou mente?

 

Ø  Delgatti usou máscara a mando de militares para entrar em ministério

 

O hacker Walter Delgatti Neto entrou de máscara no Ministério da Defesa, para que não fosse reconhecido. A ação se deu, segundo o advogado do hacker Ariovaldo Moreira, a pedido de militares. As informações foram publicadas pelo G1 e confirmadas pelo Metrópoles.

Segundo o hacker, nos encontros, discutia-se a possibilidade de que Delgatti inspecionasse o código-fonte da urna eletrônica, para verificar se era possível invadir o sistema.

À CPI do 8 de Janeiro, no Congresso Nacional, Delgatti afirmou que esteve no ministério cinco vezes em 2022. Nessas oportunidades, ele se encontrou com o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira e com servidores da área da tecnologia.

“Eles [servidores do Ministério da Defesa] iam até o TSE e me repassavam o que eles viam, porque eles não tinham acesso à internet, eles não podiam levar uma parte do código. Eles acabavam decorando um pedaço do código e me repassando. E, nisso, eu dei orientações”, afirmou à comissão na última semana.

Essas orientações, segundo o hacker, foram incluídas no relatório do Ministério da Defesa que questiona a confiabilidade das urnas. Esse documento foi entregue ao Tribunal Superior Eleitoral.

“Eu apenas não digitei, mas fui eu quem o fez, porque tudo que consta nele foi orientado por mim”, disse Delgatti na CPI.

·         Bolsonaro e Zambelli

Delgatti disse à comissão que teve conversas no ministério em 2022. O depoente também afirmou que a orientação para que ele fosse à Defesa partiu do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lá, diz, tratou de um relatório elaborado pela pasta para lançar dúvidas sobre as urnas eletrônicas.

O hacker teve contato com o ex-presidente por intermédio da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

·         Hacker Delgatti diz que Cid viu reunião entre ele e Bolsonaro

Na semana passada, Walter Delgatti, conhecido como hacker do "Vaza Jato", prestou depoimento à Polícia Federal, trazendo à tona informações sobre um encontro entre ele e Jair Bolsonaro (PL-RJ). Delgatti alegou que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, testemunhou um encontro entre ele e o ex-presidente no Palácio do Alvorada em agosto de 2022.

De acordo com o depoimento de Delgatti, o encontro entre ele e Bolsonaro teria sido realizado para discutir a possibilidade de invasão das urnas eletrônicas. O hacker afirmou que foi Carla Zambelli (PL-SP), deputada federal, quem o levou ao Palácio do Alvorada para se reunir com o capitão da reserva.

Delgatti relatou que Mauro Cid já estava presente ao lado de Bolsonaro quando ele chegou acompanhado por Zambelli. O ex-presidente estava no momento do encontro durante o café da manhã.

Durante a conversa, Cid teria ouvido detalhes sobre a suposta invasão das urnas eletrônicas e o hacker mencionou que, após o encontro, seguiu para o Ministério da Defesa.

O depoimento também revelou que Delgatti realizou cinco visitas ao Ministério da Defesa com o objetivo de desacreditar as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral.

 

Ø  PF interroga Cid sobre elo do militar com plano de hacker Delgatti

 

O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, depõe na Polícia Federal (PF), em Brasília, nesta sexta-feira (25/8), em inquérito que apura as ações do hacker Walter Delgatti Neto contra o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A PF quer saber se Mauro Cid participou ou tem informações do encontro e conversas entre a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nos contatos, teria sido discutido um plano para invadir o sistema do CNJ e também para contestar a efetividade do sistema eleitoral brasileiro.

O militar está preso, suspeito de envolvimento em um esquema de fraude nos cartões de vacinação de familiares e do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Walter Delgatti, conhecido como “hacker da Vaza Jato”, está preso desde o dia 2 de agosto por invasão a sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Cid também é investigado pela PF no caso das joias recebidas por Bolsonaro e, supostamente, vendidas de forma ilegal para enriquecimento do próprio ex-presidente.

Até hoje, no entanto, não se sabia do elo entre o ex-ajudante de ordens e o suposto plano de golpe ligado a Delgatti.

 

Ø  O que começou a contar o celular do tenente-coronel Mauro Cid

 

Sabe por que demorou mais de 6 horas, ontem, o novo depoimento prestado à Polícia Federal pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem do ex-presidente Bolsonaro?

Porque no celular apreendido de Cid foram achados indícios de que militares da ativa financiaram atos antidemocráticos e uma tentativa de um golpe após as eleições do ano passado.

Foi também por isso que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu Cid de se comunicar com Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Na análise parcial dos dados armazenados no celular de Cid, descobriu-se mensagens em que militares da ativa incentivaram a continuidade das manifestações antidemocráticas.

Segundo relatório da Polícia Federal entregue a Moraes, Cid “compilou estudos que tratam da atuação das Forças Armadas para Garantia dos Poderes Constitucionais e GLO”.

Há fortes indícios de que houve desvio de bens de alto valor patrimonial ofertados por autoridades estrangeiras a Bolsonaro ou a agentes públicos a serviço dele.

 

Ø  Aliados pedem Pix para Michelle por medo de bloqueio a Bolsonaro

 

Aliados e apoiadores da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro iniciaram nesta sexta-feira (25) uma campanha de arrecadação de recursos através do sistema Pix, plataforma de pagamentos instantâneos do Banco Central. A iniciativa foi lançada nas redes sociais, com o objetivo de reunir fundos para a esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).

A campanha ganhou destaque após especulações de que os R$ 17 milhões recebidos via Pix por Bolsonaro poderiam ser bloqueados. Deputados federais próximos a Michelle, como Amalia Barros e Mário Frias, demonstraram preocupação quanto ao possível bloqueio desses recursos e pediram doações para a ex-primeira-dama.

Além dos deputados, assessores diretos de Michelle também estão engajados na divulgação da campanha, compartilhando os detalhes do Pix da presidente do PL Mulher em redes sociais e através de mensagens no aplicativo de mensagens WhatsApp.

É importante ressaltar que as investigações em andamento não têm como foco bloquear os recursos doados a Jair Bolsonaro. O presidente está atualmente fazendo um tratamento de saúde.

A família Bolsonaro está mobilizando esforços para arrecadar mais dinheiro, contando com o apoio de seus aliados e simpatizantes.

Opositores de esquerda criticam a mobilização e acusam o ex-presidente de “explorar” seus apoiadores, alegando que Bolsonaro e sua família possuem altos salários e conseguem se manter sem as doações.

 

Ø  Mesmo com investigações sobre a ladroagem, Bolsonaro mantém popularidade

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está conseguindo manter seu capital político mesmo com as investigações do caso das joias, de que é alvo. Pesquisa AtlasIntel feita para a CNN Brasil e divulgada neste sábado (26.ago.2023) indica que 40% dos eleitores votariam no ex-chefe do executivo se a eleição fosse agora. Ainda assim, Bolsonaro está atrás do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O levantamento foi feito de 23 a 24 de agosto com 1.232 respondentes. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.

O instituto perguntou em quem o entrevistado votaria se a eleição presidencial fosse no domingo (27.ago) e tivesse Lula e Bolsonaro entre os candidatos. Eis as respostas:

Em um eventual 2º turno entre Lula e Bolsonaro, o cenário é o seguinte:

  • Votariam em Lula 51,2% dos entrevistados;
  • Votariam em Bolsonaro 41,5% dos entrevistados.

Segundo a pesquisa, 46,2% dos entrevistados disseram que o apoio de Lula e de Bolsonaro é relevante para definir em quem votaria. O percentual é maior entre os eleitores do ex-presidente: 50,2% declararam ser muito importante. Entre os que votaram no atual chefe do Executivo em 2022, 44,3% responderam ser muito importante o apoio de Lula.

O instituto avaliou a imagem dos políticos entre os eleitores nacionalmente. Lula tem uma imagem positiva para 52% dos entrevistados. É seguido de: Tarcísio de Freitas (46%), Simone Tebet (44%), Bolsonaro (43%), Fernando Haddad (43%), Marina Silva (39%) e Flávio Dino (37%).

CASO DAS JOIAS

A Justiça investiga a suposta venda ilegal de presentes de delegações estrangeiras ao governo Bolsonaro.

A PF (Polícia Federal) deflagrou em 11 de agosto a operação Lucas 12:2. Foram alvos de buscas autorizadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes:

  • Mauro Cid – ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • Mauro Cesar Lourena Cid – general da reserva e pai de Cid;
  • Osmar Crivelatti – braço direito de Cid;
  • Frederick Wassef – ex-advogado da família Bolsonaro.

Os agentes investigam se houve tentativa de vender presentes entregues a Bolsonaro por delegações estrangeiras. Segundo a PF, relógios, joias e esculturas foram negociados nos Estados Unidos –veja aqui as fotos dos itens e leia neste link a íntegra do relatório da PF. O suposto esquema seria comandado por Cid e Crivelatti.

Na 5ª feira (24.ago), a defesa de Bolsonaro entregou os extratos bancários do ex-presidente ao STF (Supremo Tribunal Federal), atendendo a pedido do ministro Alexandre de Moraes, que determinou a quebra de sigilo bancário do ex-chefe do Executivo e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O objetivo da quebra, segundo a PF, é identificar se Bolsonaro foi beneficiado com o dinheiro da venda, por integrantes de seu governo, dos presentes.

Segundo os advogados, a apresentação dos dados bancários foi feita de forma espontânea, “afastando a necessidade de se movimentar a máquina pública para apurar os dados bancários em questão”.

 

Fonte: Metrópoles/iG/Poder 360

 

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