domingo, 2 de julho de 2023

Sergio Medeiros: Lula e a sensação de pertencimento da bondade

Entretanto, fica ai o alerta, não foi através da racionalidade, do livre convencimento que Lula rompeu o veto a sua pessoa,  a base foi algo mais singelo, foi a empatia, o amor, a sensação de pertencimento da bondade existente nestas comunidades pobres e desvalidas.

Uma breve contextualização.

O texto se propõe a tecer considerações sobre o que restou das estruturas sociais e políticas do nosso país, depois da fragmentação do poder e da destruição do Estado, levada a cabo por Sérgio Moro e sua República de Curitiba e que desaguou na barbárie bolsonarista (um breve rascunho de ideias a serem lidas, consideradas, desconsideradas, reformuladas, deixadas de lado…mas que tem que serem discutidas).

Em outro texto falei sobre a fragmentação do poder e a destruição do Estado, isso em 2018, 2019.*

Agora estamos nesse espaço de tempo superveniente, onde o vácuo criado pela ausência organizada do poder, tal  como era entendido, instituições, universidades, sindicatos, igrejas, partidos políticos e outras instituições civis, os quais, alijados de sua justificação enquanto poder,  passaram a ficar em segundo plano, num compartimento social quase descartável, passíveis de serem objeto de manipulação ou apropriação, sendo, de qualquer modo, destacáveis e destacados da realidade social massiva desde então posta.

Todo este segmento,a  dita sociedade civil organizada,  foi substituído, retirado de seus nichos de poder – entendido como o lugar de onde a sociedade ouve e recolhe seus subsídios para a vida social.

Este movimento de substituição de referências,   foi efetivado através da massiva utilização das redes sociais, onde foi forjada “a teoria do homem simples”.

A nova forma de visão de mundo foi rapidamente disseminada pela onipresente comunicação diária das grandes redes sociais, sendo que, de forma mais expressa,  via utilização massiva do whatsapp, meio de acesso ao público ao qual se destinavam as boas novas, no caso,  a setores de concentração expressiva da população, escolhidos em razão da forma de agregação, ou seja, em razão da fé, ou da obediência hierárquica sob o peso da autoridade.

Assim, os setores escolhidos, por excelência massivos, e por seu núcleo central se basear na fé ou na hierarquia, o que os tornava  permeáveis a nova doutrinação, além de contarem com lideranças  passíveis de cooptação e com sede de poder, estes setores, de onde se irradiariam,  foram  as igrejas evangélicas e os núcleos de caráter militar.

A nova teoria, que deu azo à inúmeras primaveras ao redor do mundo, tem sua base no advento de um novo participante da sociedade  – deu-se “a criação do homem simples”, o qual estava desconectado destes nichos de poder em que repousava a sociedade, dita civil.

Em breves termos, este novo espaço seria o lugar onde a pessoa comum reconstrói sua necessidade coletiva de grupo, o que é feito por intermédio de apelos genéricos e de fácil compreensão… mensagens simples e de circulação imemorial, ao qual o inconsciente coletivo não teria dificuldade em se abrigar, por sua intemporalidade e, exatamente por isso, por seu intrínseco conservadorismo.

Deste modo, os slogans adotados,  honra, pátria , família, preconceitos, esforço, sobrevivência, fé, prosperidade, Deus a serviço do homem e alvo de promessas e cobranças

Em outros termos,  basicamente fé e fanatismo em termos antropológicos, e tudo isso numa sequência virtuosa com a recompensa ao final –  se fizerem isso, acontecerá isso…-,  mas, como na fé espiritual … dizem que tudo acontecerá no futuro, tudo muito simples,  fé, tradição e fanatização,  eis a velha receita do novo rei… no caso, a rede social do whats,  do grupo whatsapp.

Assim, a antiga discussão racional e metódica, não alcança esta redoma da dita “simplicidade” pois, quaisquer argumentos “mais complexos” fazem parte da falsidade do mundo e são repelidos como mentiras, são simplesmente mentiras, se eu não entendo, são mentiras,  se a minha verdade simples se contrapõe a elas, são mentiras.

Com o tempo e, em razão de sua conformação, com base em ideias conservadoras, na manipulação da fé e na construção de um modelo alternativo e fechado, este espaço se entronizou como o local onde a extrema-direita fez sua trincheira.

Pois bem, neste ponto, antes de abordarmos o referido fenômeno, por essencial  e por ser uma análise social e política por excelência,  faço um parenteses, para realçar um fato, ainda não estudado em toda sua amplitude, quase uma constatação, não tão simples,  mas, ainda um fato que teve o potencial de alterar todo um cenário hostil para a esquerda  para o espectro de poder anterior.

O fato, é que, mesmo neste novo caldo de cultura,  o atual Presidente Luís Inácio Lula da Silva,  conseguiu atingir parte deste grupamento social, o mais pauperizado,  mas, eis aqui a diferenciação, Lula fez isso usando o sentimento, o sentimento de solidariedade, de compartilhamento de experiências comuns… como a fome e a luta contra a fome, como a luta diária pela sobrevivência, como o amor aos filhos… nestes espaços, Lula é puro sentimento, e, nisso ele furou a bolha.

Entretanto, fica ai o alerta, não foi através da racionalidade, do livre convencimento que Lula rompeu o veto a sua pessoa,  a base foi algo mais singelo, foi a empatia, o amor, a sensação de pertencimento da bondade existente nestas comunidades pobres e desvalidas.

Feito estes breves reparos continuo a análise social ora proposta.

Ressalto que estes agrupamentos – que, em tese,  podem ser mais facilmente alienados e cooptados pelo relato do homem simples –  não sente, nem usa, como método,  a razão convencional expressa por intermédio da sociedade civil e por seus porta-vozes-, pois seu viver cotidiano,  significa muitas vezes apenas existência em termos mais estritos e restritos e que, ainda que  a vida coletiva seja exaltada, nesses casos, a integração a grupos se constitui no fator primordial de união para a sobrevivência comum.

De outro lado, voltando a questão do poder e de seu retorno a seus antigos atores e protagonistas, ouso lamentar e dizer que a questão não se resume ao “fortalecimento das instituições” pois estas, em seu sentido social foram destituídas de seu alcance coletivo, foram isoladas do contexto mais amplo que as ligava intrinsecamente ao tecido social onde desenvolviam suas atividades, agora são apenas estruturas sociais que não mais encontram sua justificação direta na sociedade em que encontram inseridas. Em outros termos,  a luta pelas ONGs, pelas Universidades, pelos Movimentos Identitários, precisa ser reconstruída, mas  isso em outras bases, a serem criadas, e que sejam necessariamente centradas em uma visão de Estado, sob pena de não mais romperem seu alcance social ora restrito.

Por isso,muitas vezes,  parece que estamos lutando contra moinhos de vento, como quixotes.

É  que, concretamente, estamos repetindo lições antigas, não mais passíveis de confrontar a realidade, para entendê-la e modificá-la…

Nesse vácuo, em relação a uma grande parcela da população, as Instituições de Estado são nada ou quase nada, aliás,  são tudo o que se quer superado, e nesse meio, grassa a idéia de que  o estado e sua complexidade é mais um  obstáculo, que as instituições são  “coisas postas” como preexistentes e fatores de dominação, e aí são negadas e deixam de ter poder na vida destas pessoas como coisas sem valor prático.

Isto porque o “novo conhecimento”, que se baseia na relação lógica , não do desconhecimento,  mas do conhecimento primário e fechado, dito simples, e que  foi criado para enganar os incautos.

Nesta conformação de ideias, a negação não é o obstáculo principal, ela é, sim, um fato a mais, pois a “simplicidade” passou a preencher os espaços não lógicos ou ignorados, afastando-os da discussão.

Portanto, não tem como substituir tal discurso por intermédio da racionalidade, pois, neste contexto, ela  é tudo o que os separa da crença e da fé, sendo esta,  em si mesma, por sua incapacidade de alcançá-la, a gênese de sua inconformidade e sua alienação. 

Esta postura crente e de negação à razão exógena  é, em seu viver, tudo o que os diferencia e fortalece.

Por isso, a frase aparentemente despretensiosa ” a minha ignorância vale tanto quanto os teus diplomas”, esconde o orgulho pela sua trajetória, a qual não pode ser desmerecida em relação a qualquer outro,  mas, por outro lado, ao fazê-lo comete o mesmo pecado, tenta minimizar o conhecimento do outro, ficando deste modo, definidos e bem separados os espaços de cada um.

Frise-se, a discussão ou sua conciliação, deveria ser,  o meu conhecimento e minha sabedoria, valem tanto quanto o teu conhecimento e teus diplomas, pois o que está em discussão é nossa existência humana, e, neste ponto, somos todos iguais, postas as desigualdades.

Para finalizar, fica a pergunta, afinal que linguagem nova é esta.

Mas, afinal, sempre foi a nova linguagem, a nova comunicação, as novas heresias, as pulsões, os preconceitos, as ambições… sempre são os mesmos… a linguagem é que foi mudada para abarcar os ingênuos e os simplesmente crentes e sensíveis ao “novo” ao fanatizável novo.

 

Ø  Lula 3.0 avança na saúde, economia, educação e diplomacia

 

O cientista político Guilherme Casarões afirmou que, em seu terceiro mandato como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está conseguindo bons avanços em áreas estratégicas para o governo nos seis primeiros meses de governo.

Durante participação no programa Análise da Notícia, ele destacou avanços dentro e fora do Brasil. A agenda econômica tem avançado a um ritmo um pouquinho mais acelerado do que a gente esperava. Há elementos mostrando que em áreas como saúde, educação, direitos humanos e meio ambiente a coisa está caminhando com alguma convicção, o que me parece muito bom. Também não posso deixar de mencionar o elemento internacional, é inquestionável a projeção internacional do Brasil.

·         Economia mostra rápidos sinais de recuperação

Contrariando algumas projeções, há indicadores positivos que podem ser vistos no dia a dia como a baixa do dólar e uma expectativa de retomada econômica que mostram que dificilmente o Brasil passará por um derrocada da economia nos próximos anos do governo Lula.

·         Políticas Públicas se desenvolveram

Em comparação ao governo anterior, o Brasil voltou a fazer políticas públicas em áreas que especialistas não esperavam que fossem resgatadas tão rapidamente. Nos primeiros seis primeiros meses de governo, além de articular uma agenda governamental, Lula também conseguiu reconstruir muita coisa que ficou de lado nos últimos anos.

·         Diplomacia presidencial

Apesar de dedicar muito tempo para viagens internacionais, Lula está reconstruindo a imagem do Brasil no exterior. É inquestionável o papel da diplomacia presidencial para a configuração do novo governo, para a projeção internacional do Brasil e para a retomada de agendas que só fazem sentido quando unidas com a dimensão internacional.

·         Relação com Congresso é ponto de preocupação

Apesar de avanços do governo em diversas áreas, a relação do governo com o Congresso tem potencial para dar errado e se tornar um problema. Era sabido que a relação seria conturbada, mas a presença de Arthur Lira (PP-AL), presidente mais forte que a Câmara dos Deputados já teve, dificulta ainda mais essa relação.

·         Comunicação do governo pode, e precisa melhorar

A comunicação governamental ainda está patinando, tanto na maneira como divulga suas ações, quanto na maneira como Lula se posiciona diante de determinadas questões, inclusive com alguns erros no plano internacional que dificultaram o trânsito de Lula em alguns círculos importantes.

O governo está preso a uma fórmula de comunicação do século 20 e a equipe de comunicação ainda não entrou de cabeça na era digital.

·         Centrão quer Ministério da Saúde

A conta da conturbada relação com o Congresso ainda não chegou, e o centrão quer o controle do ministério da Saúde. Para Casarões isso, inclusive, pode acontecer em breve. O risco da chegada dessa conta é que políticas públicas da área da saúde caiam em “mãos erradas” e, para evitar isso, o governo precisa aprimorar sua capacidade de organizar a agenda de modo que isso reduza custos na relação com o Congresso.

·         Foro de São Paulo em Brasília foi um tiro no pé

A realização do evento pode trazer um desgaste desnecessário devido à imagem que se criou em grupos bolsonaristas de que o Foro é uma reunião das FARCs e de narcoterroristas.

Essa reunião tem pouco ganho para o governo, mas um potencial destrutivo muito grande, podendo gerar alguma dor de cabeça, ainda que passageira, para o governo.

·         Bolsonaro inelegível, mas não preso, pode ser bom para a extrema direita

A inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) pode ser boa para a extrema-direita, uma vez que o ex-presidente vai canalizar todo o seu esforço para fazer campanhas para prefeitos e vereadores ao redor do Brasil, sem se preocupar com a própria. Bolsonaro é uma das poucas pessoas que têm tamanho para ser cabo eleitoral em todo o país e poderá atrair muitos votos.

 

Ø  Lira e Alcolumbre dominam 47 funções que controlam R$ 15 bilhões em verbas federais

 

Os dois nomes mais poderosos do Centrão mantêm uma rede de aliados em postos estratégicos de ministérios, superintendências e até de tribunais regionais eleitorais. Apesar da cobiça do grupo por mais espaço no governo Lula, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) já contam com ao menos 47 controladores da máquina pública. Metade delas em funções que influenciam a destinação de aprooximadamente R$ 15 bilhões em verbas federais.

Na transição do governo de Jair Bolsonaro (PL) para a gestão petista, Lira e Alcolumbre mantiveram o controle sobre esses cargos, segundo levantamento feito pelo Estadão. São postos-chave pelos quais escoam verbas do Orçamento federal e também as finanças de seus respectivos partidos nos Estados. E o domínio dos diretórios regionais lhes garante poder sobre o rateio dos fundos partidário e eleitoral e os diferencia de outros parlamentares.

Durante o governo Bolsonaro, os dois parlamentares tinham poder para direcionar bilhões dos cofres públicos.

Com o fim do orçamento secreto e a transferência de R$ 9,8 bilhões do mecanismo para o balanço dos ministérios, o Centrão perdeu o controle direto do dinheiro e passou a exigir mais espaço na Esplanada. Com orçamento de R$ 189 bilhões, o Ministério da Saúde é a meta de Lira.

O senador do Amapá saiu na frente do colega do Centrão e conseguiu emplacar dois ministros na transição, o que lhe garantiu mais influência nas verbas do orçamento desde o começo do governo Lula.

Com isso, a rede de aliados de Alcolumbre vai da cúpula do poder em Brasília até gestores de órgãos federais e de prefeituras no Estado que serão responsáveis pela contratação de empresas e realização dos serviços.

Alcolumbre apadrinhou, por exemplo, a escolha do ex-governador do Amapá Waldez Góes para o comando do Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta com orçamento de R$ 11,2 bilhões.

O senador também conseguiu acomodar outro aliado como número 2 da pasta. Valder Ribeiro de Moura, que havia sido diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) com Bolsonaro, tornou-se secretário-executivo do ministério.

 

Fonte: Jornal GGN/UOL/Agencia Estado

 

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