sábado, 8 de julho de 2023

Reforma Tributária: Bolsonaro e bolsonarismo perderam

Não confundam bolsonaristas, bolsonarismo e Bolsonaro. Cada um tem sua vida, ainda que o DNA seja comum. Conheço bolsonaristas que não militam no bolsonarismo, ou seja, gente que vota em Bolsonaro – e votaria outra vez -, mas não prega, por exemplo, golpe de Estado e nem receita cloroquina contra a Covid-19.

O bolsonarismo, por sua vez, representa um conjunto de valores extremistas e autocráticos, consubstanciados em ideologias de ordem religiosa, principalmente, e premissas falsas sobre política, “aprendidas” no grupo de WhatsApp da tia e pelas manchetes de blogs de extrema direita. Com ou sem Bolsonaro, o bolsonarismo veio para ficar.

Já Bolsonaro – o Jair – não passa de uma caricatura política de menor expressão (obviamente, não me refiro ao potencial eleitoral, que é gigantesco), um sujeito conhecida e reconhecidamente tosco, bruto, ignorante, beligerante e, o que é melhor para o tal “sistema”, totalmente manipulável – principalmente através do medo.

DIA HISTÓRICO

Ontem, 06 de junho, o Brasil assistiu a uma derrota acachapante do ex-verdugo do Planalto e seu séquito de idiotas. Contra tudo e contra todos, inclusive aliados, Bolsonaro e seus radicais postaram-se contra a Reforma Tributária, aprovada por estrondosos 382 votos a favor e apenas 118 votos contra na Câmara dos Deputados.

O ótimo é inimigo do bom, ou vice-versa, e essa Reforma, se está longe de ser uma maravilha, exceto para templos religiosos e outros grupos beneficiados, é a reforma possível e extremamente necessária para o momento. Por isso, ser contra, é sinal de burrice e sinônimo de nenhum apego pelo País – olha o bolsonarismo aí, gente!!

Reforma, aliás, desenhada no governo do próprio patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones de chocolate e muito dinheiro vivo. Ou seja, era para o “mito” abraçar a ideia e ainda sair dizendo: “é minha”. Mas aí Bolsonaro não seria Bolsonaro, não é mesmo? Assim “não causaria”, como diz a garotada.

Um oceano de ideias vazias e ideais recém-saídos das cavernas não sobrevive politicamente sem uma rinha para chamar de sua. Ao criticar a Reforma, recomendar voto contra e até se indispor publicamente contra seu maior aliado político, o governador de São Paulo Tarcísio Freitas, o devoto do tratamento precoce tenta manter-se ativo.

Bolsonaro, ontem, perdeu três vezes: perdeu a causa, perdeu parceiros e, principalmente, perdeu mais uma oportunidade de ficar calado, como fez um ano e meio durante a pandemia do novo coronavírus. Com um líder de oposição assim, Lula pode respirar tranquilo, e pretensos candidatos ao Planalto, mais ainda.

 

Ø  Crise na direita: Bolsonaro se isolou e é de extrema-direita, diz Marcos Pereira

 

O deputado federal Marcos Pereira, presidente nacional do Republicanos, fez duras críticas nesta quinta-feira, 6, ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por ter se posicionado contra a Reforma Tributária e se irritado com o posicionamento favorável de alguns dos seus aliados.

De acordo com o parlamentar, o comportamento de Bolsonaro estaria isolando-o na política brasileira e resultando em constantes derrotas.

“Os episódios de hoje (quinta-feira) não isolam Bolsonaro, porque ele já se isolou e vem se isolando pelo seu próprio comportamento. Entregou a eleição para o Lula por causa do comportamento dele. Vem se isolando quando começa a brigar com o Judiciário, quando lá no início do governo briga com o Parlamento, quando ele é contra a vacina”, disse Pereira ao jornal O Globo.

A fala do presidente nacional do Republicanos vem depois de um desentendimento entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em relação à Reforma Tributária.

Contrário ao projeto de reforma, Bolsonaro teria se irritado com Tarcísio, que decidiu declarar apoio à proposta, que estaria associada à gestão do líder político rival, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Devido a isso, Marcos Pereira também definiu o ex-presidente da República como um representante da “extrema-direita”, enquanto o Republicanos seria de “centro-direita”. Entre 2018 e 2022, porém, ambos foram aliados.

“Nós somos de centro-direita, e ele [Bolsonaro] é de extrema direita. Os extremos são duas faces da mesma moeda. Tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita fazem mal para a sociedade. O governador é de centro-direita, não é radical”, afirmou o presidente do Republicanos.

 

Ø  Bolsonaro sofre 1ª grande derrota na oposição ao medir forças com Lira e Tarcísio

 

A acachapante aprovação da reforma tributária na Câmara na noite desta quinta-feira (6) representou a primeira grande derrota de Jair Bolsonaro (PL) como líder da oposição, em um cenário em que mediu forças contra dois principais aliados quando presidente: Arthur Lira (PP-AL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O texto foi aprovado em dois turnos, sendo 382 votos a favor na primeira etapa de votação e 375 na segunda, incluindo 20 do próprio PL.

Desde que foi derrotado por Lula (PT) em outubro do ano passado, o ex-presidente passou por momentos de recolhimento e depressão durante a transição, partiu no final de dezembro para uma viagem aos EUA que durou 89 dias e, no último dia 30, acabou se tornando inelegível até 2030 por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em toda a sua carreira política, que se iniciou no final dos anos 80, como vereador no Rio de Janeiro, Bolsonaro sempre esteve alheio às grandes articulações partidárias, mesmo quando foi eleito presidente da República.

Sua vitória, em 2018, se deu pelo então nanico PSL, em um cenário de antipolítica e de direita que varreu os candidatos bancados pelos grandes partidos.

Bolsonaro logo rompeu com a sigla (hoje União Brasil, fruto da fusão com o DEM) e tentou montar sua própria, a Aliança pelo Brasil, mas o projeto acabou em fracasso.

Durante seu governo, o presidente também falhou na tentativa de montagem de uma base de apoio no Congresso formada pela articulação com as frentes parlamentares, não com os partidos.

Ele só conseguiu uma base de apoio sólida quando se aliou ao centrão de Lira, em 2020, e pavimentou o caminho que levaria o deputado à presidência da Câmara, em 2021.

Na discussão da atual reforma tributária, o ex-mandatário rechaçou inteiramente o texto e defendeu, ao menos, o adiamento para ampliar as discussões.

Mais ainda, Bolsonaro elegeu a pauta como prioritária no embate político com o governo Lula. Soltou duas notas públicas contra o texto, reuniu parlamentares e batalhou para que o partido se posicionasse contra o texto.

O primeiro comunicado chamava a proposta de "reforma do PT" e dizia que era um "verdadeiro soco no estômago dos mais pobres". No segundo, disse que Lula se reúne com o Foro de São Paulo e não pode apoiar o PT em nada.

"Nos roubar a liberdade e nos escravizar é sua meta. Do exposto, a todos aqueles que se elegeram com nossas bandeiras de 'Deus, Pátria, Família e Liberdade', peço que votem contra a PEC da Reforma Tributária", afirmou.

Na votação, os 20 deputados do PL que não seguiram a recomendação do ex-presidente vem, na maior parte, do Nordeste e integram o centrão, não o chamado "bolsonarismo raiz".

A pressão do ex-presidente, embora não tenha surtido o efeito de levar o PL em bloco contra a reforma, diminuiu o número que o próprio presidente do partido, Valdemar Costa Neto, avaliava que apoiaria a proposta: cerca de 30 parlamentares.

Apesar do resultado, aliados rechaçam a pecha de derrota: dizem que Bolsonaro se propôs a fazer oposição ao texto e se recolocar no cenário político, na semana seguinte à sua declaração de inelegibilidade, o que representaria um sinal de que ele não pretende abandonar a arena política.

Além disso, pontuam, a reforma foi encabeçada por Lira.

O presidente da Câmara chegou a dizer nesta quinta que mandou mensagem sobre o tema para Bolsonaro, mas disse não ter tido resposta até o final da tarde.

Fato é que a reforma tributária rachou a direita pela primeira vez desde que o ex-presidente deixou o Planalto, colocando, nesse caso, Bolsonaro e Tarcísio em campos opostos.

O governador de São Paulo tem sido frequentemente apontado como herdeiro do bolsonarismo, em decorrência da inelegibilidade do ex-presidente.

Tarcísio teve uma reunião com o ex-presidente na manhã de quinta para tentar convencê-lo a mudar de ideia e, segundo relatos, Bolsonaro ficou magoado com o aliado, embora tenha dito que entende o posicionamento do seu ex-ministro, por ser governador hoje.

O ponto alto da tensão ocorreu na reunião interna do partido, quando Tarcísio tentou "virar votos" e foi hostilizado, mal conseguindo falar no trecho gravado que acabou vindo a público.

Bolsonaro chegou a interromper o discurso de Tarcísio, quando seu ex-ministro defendia a participação da direita na reforma tributária, afirmando que "se o PL estiver unido, não aprova nada" nessa hora, ele recebeu aplausos de seus correligionários.

O ex-ministro e deputado federal Ricardo Salles (SP) chegou a dizer que Tarcísio não representaria a direita. Na mesma esteira, o governador acabou virando alvo da artilharia bolsonarista.

Apesar do estremecimento, Tarcísio e Bolsonaro chegaram a se falar de novo e a situação já estava mais tranquila, segundo disseram aliados na noite desta quinta.

Valdemar Costa Neto também procurou minimizar o atrito entre o governador e o ex-presidente. "O Bolsonaro gosta muito do Tarcísio, e o Tarcísio fez um favor para nós de ter ido para reunião que ele não tinha programado", disse à reportagem.

•        Não vamos ter dificuldade no Senado, diz Haddad sobre tributária

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 6ª feira (7.jul.2023) que o governo não terá “grandes dificuldades no Senado” para aprovar a reforma tributária. A proposta foi aprovada em 2º turno na Câmara dos Deputados na noite da última 5ª feira (6.jul.2023) com 375 votos a favor e 113 contra.

“Eles [senadores] estão se sentindo muito contemplados pelo trabalho que o Aguinaldo [Ribeiro, relator da proposta] fez. Ele já considerou a PEC 110 que já tava no Senado, fez um trabalho de mediação muito grande”. Haddad deu a declaração em fala a jornalistas na entrada do Ministério da Fazenda. 

Segundo o ministro, além das PECs 110 e 45, houve um “incremento substantivo de propostas que foram acolhidas”, o que lhe dá otimismo para a votação na Casa Alta.

Sobre o novo modelo de arrecadação proposto, Haddad disse que não haverá “briga federativa”. O texto propõe a unificação de impostos federais, estaduais e municipais.

“Quando se tem uma arrecadação centralizada, tudo é muito mais automático. Não se tem grandes deliberações, vai pagar no destino e pronto final, todo mundo vai receber automaticamente”, disse.

“Assim que resolver a regulamentação, entra em automatismo muito grande”, completou.

 

Ø  Com articulação de Tarcísio e derrota para Bolsonaro, bancada de SP vota 75% a favor da reforma tributária

 

A articulação direta do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pela reforma tributária ajudou a garantir o apoio de três em cada quatro deputados federais do Estado a favor da proposta, em seu batismo político nacional em posição que contrariou o seu mentor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Dos 70 deputados paulistas -- a maior unidade da federação em termos de representação na Câmara --, os parlamentares deram 53 votos a favor, 16 contra e houve apenas uma abstenção, da deputada Sâmia Bomfim (PSOL). Foram 75,71% dos votos possíveis favoráveis.

O apoio à reforma tributária na bancada paulista foi suprapartidário, englobando parlamentares dos mais diversos espectros políticos, passando por legendas de esquerda, como PSOL, PDT e PT, e de centro e direita, como PSD, MDB, PP, Republicanos e até PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O ex-presidente antagonizou com Tarcísio, que foi seu ministro dos Transportes e padrinho político no ano passado na corrida ao Palácio dos Bandeirantes.

Menos de uma semana após sofrer sua maior derrota na carreira política, ao ser considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro decidiu se envolver diretamente na reforma tributária, posicionando-se contra ela e tentando, sem sucesso, adiar sua votação na reta final. Amargou nova derrota que poderia ter evitado.

Tarcísio reuniu em jantar no Palácio dos Bandeirantes parte da bancada paulista no domingo passado e esteve em Brasília em reuniões com governadores, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deputados do seu partido, o Republicanos, e até mesmo com o PL, de Bolsonaro, defendendo a aprovação da proposta. Na quinta pela manhã, no encontro do PL, chegou a ser hostilizado e até chamado pelo ex-presidente de inexperiente politicamente.

Durante as articulações, o governador paulista -- que tem sido aventado como principal candidato para herdar o espólio eleitoral de Bolsonaro na sucessão presidencial de 2026 -- chegou a falar que o Estado toparia perder arrecadação no curto prazo desde que a reforma fosse aprovada pelo Congresso.

O empenho pessoal de Tarcísio foi reconhecido antes e depois da votação, quando recebeu uma série de desagravos e elogios, inclusive de Lira, com quem conversou várias vezes nos últimos dias, segundo fontes dos dois lados.

Em entrevista coletiva nesta sexta, Lira -- que apoiou Bolsonaro nas eleições passadas -- fez questão de relatar uma conversa telefônica com o ex-presidente na qual fez uma espécie de desagravo a Tarcísio, que se tornou alvo de ataques de bolsonaristas pelo apoio à reforma.

"Fiz a ele (Bolsonaro) uma observação de que o governador Tarcísio foi muito correto com o tratamento da PEC e que é um amigo que precisa, acima de tudo, ser preservado", destacou.

TIRIRICA, BOULOS E ROSÂNGELA MORO

Na lista dos deputados por São Paulo que votaram a favor da reforma, estão três integrantes do PL: o humorista Tiririca; Luiz Carlos Motta, presidente da Federação dos Comerciários do Estado de São Paulo (Fecomerciários); e Antonio Carlos Rodrigues, coordenador da bancada federal no Estado e que foi ministro dos Transportes na gestão Dilma Rousseff.

Rodrigues credita o apoio em peso da bancada paulista ao governador paulista.

"Foi exatamente isso, ele Tarcísio ficou aqui a semana inteira e ele é a favor do Estado de São Paulo. Além de político, ele é muito capaz e conhece mais do que ninguém a reforma", destacou.

Os outros 14 deputados do PL paulista foram contrários, entre eles o filho de Bolsonaro, Eduardo, e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.

Na bancada de São Paulo houve votos favoráveis à reforma de dois presidentes de partido, Baleia Rossi, do MDB, que foi o primeiro subscritor da PEC ainda em 2019, e Marcos Pereira, do Republicanos, legenda do governador do Estado.

Pereira disse que a aprovação da reforma foi resultado do conjunto de atuação de vários personagens, mas destacou que a atuação do Tarcísio foi muito importante.

"Ele está se consolidando como político habilidoso e sem ser extremista", afirmou, ao ser questionado sobre a atuação nacional do governador, que contrariou Bolsonaro.

O presidente do Republicanos, entretanto, não quis falar sobre se essa atuação de Tarcísio o credenciaria para concorrer ao Planalto em 2026. Disse que não se está pensando nisso. "Está muito longe", ressaltou.

Também apoiaram a reforma dois pré-candidatos a prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB).

Outros nomes notáveis que se manifestaram a favor foram o apresentador de TV Celso Russomano (Republicanos), Kim Kataguiri (União) e Rosângela Moro (União), mulher do senador e ex-juiz da operação Lava Jato, Sérgio Moro (União-PR), um adversário do governo Lula. Constou também Jonas Donizette (PSB), ex-prefeito de Campinas e ex-presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), entidade que chegou a divulgar campanha na TV contra a reforma.

 

Fonte:IstoÉ/A Tarde/FolhaPress

 

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