domingo, 30 de julho de 2023

Profetas da Faria Lima acumulam previsões furadas sobre economia no governo Lula

TEM CIRCULADO NAS REDES sociais uma entrevista de 2021 em que o então ministro da Economia, Paulo Guedes, afirma que o Brasil viraria uma “Argentina em seis meses e uma Venezuela em um ano e meio”, caso seu receituário ultraliberal não fosse seguido. No ano seguinte, haveria eleição e Guedes já começava a fustigar o terrorismo eleitoral para evitar uma vitória de Lula. Mas o petista venceu e, passados sete meses de governo, a previsão catastrófica do ex-ministro bolsonarista virou piada.

Até aqui, todos os indicadores econômicos do país têm melhorado com a substituição da dupla Jair Bolsonaro-Guedes por Lula-Fernando Haddad. O brasileiro tem percebido a diferença no supermercado. Até um pastor que organizava motociatas em defesa de Bolsonaro gravou vídeo atestando uma significativa diminuição nos preços. “Como fui tão trouxa em apoiar uns cretinos desses?”, perguntou o bolsominion arrependido depois de perceber que o pão Pullman caiu de R$ 12 para R$ 5. 

Mas não foram só Guedes e Bolsonaro que fizeram o povo de trouxa. Há uma legião de pregadores do mesmo receituário ultraliberal espalhados pelas redes sociais e que são consultados frequentemente pela imprensa como especialistas em economia. A maioria está ligada ao mercado financeiro e, na verdade, a única especialidade deles é lucrar e fazer panfletagem ultraliberal. 

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Em toda véspera de eleição presidencial, essa turma aparece para fazer terrorismo em favor de sua agenda. Em 2018, o mercado estava eufórico com a possível eleição de Bolsonaro. James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital, disse que a a vitória do extremista de direita faria com que o dólar caísse para menos de R$ 3. Já o economista Ricardo Amorim, um dos mais queridinhos da grande imprensa, afirmou categoricamente que uma vitória de Fernando Haddad faria o dólar chegar a R$ 5. O resto da história nós já sabemos: Bolsonaro ganhou e o dólar ultrapassou os R$ 5

Outro “Mãe Dinah” do mercado financeiro é Rafael Ferri, um influente investidor que ficou famoso pelas polêmicas e pela atuação nas redes sociais. Com mais de 230 mil seguidores só no Twitter, Ferri se destaca pelos conselhos de investimentos, pela idolatria a Paulo Guedes e pelas previsões furadas. Vejamos essa, feita dias após a eleição de Lula, quando Haddad aparecia no noticiário como o favorito para assumir o Ministério da Economia.

O tom catastrófico do faria limer é muito parecido com o daqueles doidinhos que ficam no centro da cidade gritando que “Jesus vai voltar” para se vingar dos pecadores. Nada, absolutamente nada, do que ele previu no tweet aconteceu. Pelo contrário, o que ele dizia que iria piorar, melhorou. O dólar caiu, a inflação está sob controle, a dívida está controlada e todos os prognósticos sérios apontam para o crescimento do PIB. 

Talvez tenhamos que esperar mais 72 horas para que as profecias do apocalipse econômico se cumpram. Mas, convenhamos, não há muito o que se esperar de um falso profeta que mandou fazer uma estátua de 2 metros do baixinho Paulo Guedes e a colocou na sede da sua empresa na Faria Lima.

Outra figurinha carimbada do mercado financeiro nas redes sociais é Eduardo Cavendish, que também tem se destacado por anunciar uma hecatombe econômica que nunca chega. 

Com apenas quatro dias de governo Lula, Cavendish decretou um fim trágico para o governo e recomendou aos seus seguidores que comprassem dólar. Naquele dia, o dólar equivalia a R$ 5,44. Hoje, está a R$ 4,73. Mesmo assim, como se nada tivesse acontecido, este pastor da Igreja Ultraliberal dos Últimos Dias grita quase que diariamente seu mantra na praça pública do Twitter: “Dolarizem, irmãos!”.

Navegando na direção oposta a todas as previsões alucinadas, o ministro petista aprovou um novo arcabouço fiscal e engatilhou uma reforma tributária — algo que Guedes tentou, mas não teve competência política para fazer. 

As agências de classificação de risco passaram a avaliar positivamente a economia brasileira. No mês passado, a Standard & Poor’s mudou sua avaliação de estável para positiva. Neste mês, a Fitch também elevou a avaliação, depois de passar os quatro anos de Guedes caracterizando o país como um destino negativo para investimentos. Em comunicado, a agência afirmou: “O upgrade do Brasil reflete uma performance macroeconômica e fiscal acima do esperado em meio aos sucessivos choques recentes”. 

Quando Lula criticou o presidente do Banco Central, faria limers e colunistões brasileiros alinhados a eles protagonizaram verdadeiros chiliques no debate público. A Fitch, porém, os deixou esperneando sozinhos: “As críticas explícitas de Lula ao BC não resultaram em tentativas de introduzir grandes mudanças no arcabouço das metas de inflação. As expectativas de inflação estão melhorando, depois de algumas tensões”. 

Essas agências fazem projeções que norteiam as ações futuras dos investidores. É um aceno ao mercado de que o desempenho econômico e fiscal do país está trilhando um caminho sólido. Ou seja, os profetas da Faria Lima estão sendo desmentidos pelas agências nas quais se fiam para direcionar seus investimentos. 

Qualquer analista econômico sério sabia que Lula e Haddad têm perfil pragmático e um histórico de responsabilidade fiscal. Nem Lula, nos seus primeiros mandatos, nem Haddad, na sua gestão da prefeitura paulistana, ficaram marcados por barbeiragens na economia, muito pelo contrário. A rápida recuperação da economia de Lula-Haddad depois do desastre Bolsonaro-Guedes, portanto, não deveria ser uma surpresa. 

Engana-se quem pensa que, depois de serem estapeados pela realidade dos fatos, os analistas alucinados do mercado fizeram mea culpa ou revisaram seus prognósticos. Não, nada disso. Eles seguem embriagados pela ideologia ultraliberal, fingindo que nada aconteceu e mantendo previsões catastróficas no horizonte. 

Engana-se também quem pensa que eles caíram em descrédito com a grande imprensa. Não, eles continuam sendo consultados como especialistas em economia, e seus rostos estão dia sim, dia não, nas telinhas da CNN e da GloboNews. Não importa que suas previsões tenham falhado miseravelmente. O importante é manter a propaganda ultraliberal no ar. 

 

Ø  Democracia? Tanto faz… Nada de novo sobre brasileiros indiferentes à política. Por Maria Hermínia Tavares

 

Com o sombrio título “A recessão democrática na América Latina”, o Latinobarómetro acaba de publicar seu informe de 2023. A cada ano, desde 1995, o instituto chileno, dirigido pela economista Marta Lagos, toma o pulso político da opinião pública em 18 países da região. A ideia é aferir as atitudes em relação à democracia, suas instituições e aos governos que dão ou deixam de dar vida a seus princípios e regras.

Trata-se de um acervo precioso que proporciona uma visão comparada de como evoluíram as percepções dos cidadãos de cada país nas três décadas do grande experimento democrático fora dos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental.

A pesquisa confirma esperadas variações por países. Mas, na média, aponta declínio do apreço pela democracia, em quaisquer circunstâncias; insatisfação com seu funcionamento no país do entrevistado; aumento da indiferença pela forma do regime. Também mostra a percepção de que os partidos funcionam mal, podendo ser dispensados sem grande prejuízo para o sistema.

Os resultados para o Brasil dão o que pensar. Depois de uma queda muito significativa do apoio à democracia, entre 2017 e 2020, a proporção daqueles que a consideram sempre melhor do que as alternativas voltou ao nível anterior. É relativamente baixo e estável — em torno dos 30%.

Também ficou do mesmo tamanho a minoria dos cerca de 15% que acham que uma ditadura, em certas circunstâncias, pode ser uma boa solução. O maior contingente continua formado pelos brasileiros para os quais dá tudo no mesmo. E não chegam a 1/3 os satisfeitos com a maneira como sistema opera no país. Sete em cada 10 acreditam que os partidos políticos deixam a desejar.

Nada de novo na existência de um número expressivo de brasileiros relativamente indiferentes quanto ao tipo de regime político, descontentes com seu funcionamento e descrentes dos partidos: repete-se com pouca variação ao longo das três décadas em que o Latinobarómetro faz essa medição.

Mudou para melhor no auge do otimismo com relação ao governo do PT, em 2010-2011, e despencou sob o governo Temer e o desastre que se lhe seguiu nas urnas de 2018. É notável que a disputa política renhida, a polarização ideológica e a agitação febril das redes dos tempos de Bolsonaro tenham mexido apenas circunstancialmente com aquelas atitudes básicas que parecem enraizadas nas mentes e corações dos brasileiros.

Como ontem, a democracia há de funcionar no país com poucos democratas convictos e muitos cidadãos indiferentes e desconfiados de suas instituições. Grande é, assim, a responsabilidade das lideranças.

 

Ø  Lula errou na forma de nomear Pochmann para o IBGE

 

O presidente Lula da Silva, sem dúvida alguma, errou politicamente ao impor  a ministra Simone Tebet a nomeação do economista Marcio Pochmann para a Presidência do IBGE, uma vez que não se preocupou em pelo menos antes do ato conversar com a ministra , já que o Instituto é um órgão vinculado ao Ministério do Planejamento. Ficou nítida uma hostilidade absolutamente desnecessária, mas que partiu, segundo o que está nos jornais, de uma pressão mais à esquerda do PT sobre a posição política de Simone Tebet.

Ela não passou recibo. Pelo contrário. Mas numa entrevista a Geralda Doca, O Globo desta sexta-feira, Simone Tebet minimizou o lado difícil da imposição e disse não se importar em ser a segunda voz nas decisões. Ela revela ter se reunido com o ministro Fernando Haddad para explicar que haverá a necessidade de um corte de R$ 2,6 bilhões no orçamento para 2024.

Essa importância é muito pequena, pois o orçamento deste ano é de R$ 5,6 trilhões e pela lei em vigor deverá ser reajustado de acordo com a inflação registrada nos últimos 12 meses. Logo, hoje, pode-se projetar um aumento de 3% sobre R$ 5,6 trilhões. Simone Tebet, pessoa de alto nível intelectual e de atuação prática, procurou suavizar o impacto, levando também em consideração  as fortes restrições que estão surgindo em relação a Marcio Pochmann que integrou o governo Dilma Rousseff.

As resistências a Pochmann estão focalizadas em reportagens de Cássia Almeida e Vinicius Neder, O Globo. As restrições incluem sobretudo sua posição favorável a um desconto maior de Imposto de Renda sobre as folhas de salário, tese que evidentemente  o coloca numa posição frontalmente contrária a dos trabalhadores e trabalhadoras do país.

Não sei porque Lula escolheu essa forma agressiva para impor Marcio Pochmann à ministra Simone Tebet. Foi um erro grave. Não havia a menor necessidade de impor uma nomeação quando bastava apenas reunir-se com a ministra e formular a indicação. O episódio dá margem a que se pense que a atuação de Tebet no Planejamento incomoda correntes do PT e sempre que isso acontece na administração pública, intrigas e versões de bastidores encontram formas de agir nas sombras. Há sempre insatisfeitos. A questão é não potencializar os rumores e agir clara e diretamente.

Tebet é uma presença forte e marcante no governo. Caso ela deixasse o cargo, Lula sofreria um rebate dos mais amplos e sensíveis para a sua posição junto à opinião pública.  Fica no ar a pergunta: por que, afinal de contas, Lula terá agido de forma tão impactante? O tema também foi focalizado em reportagem de Mariana Carneiro, edição de ontem de o Estado de S. Paulo.

 

Fonte: Por João Filho, em The Intercept/FolhaPres/Tribuna da Internet

 

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