domingo, 2 de julho de 2023

O que há por trás das aparições de Putin depois do motim do grupo Wagner

Onde está Vladimir Putin? Essa foi a grande pergunta da última segunda-feira - dois dias depois da insurreição do grupo de soldados mercenários Wagner, cuja tropa chegou a marchar rumo a Moscou.

Um porta-voz de Putin anunciou um acordo para acabar com o motim de Wagner na noite de sábado. Mas quando o próprio presidente iria comentar o polêmico acordo?

Esse acerto foi controverso porque os mercenários de Wagner se rebelaram, tomaram locais militares (com aparente facilidade) e então marcharam para Moscou; pilotos da força aérea russa foram mortos no motim.

No entanto, o Kremlin concordou em não processar os combatentes de Wagner ou seu líder, Yevgeny Prigozhin, em troca de acabar com o levante.

Na última semana, o presidente Putin fez uma série de aparições públicas incomuns - todas televisionadas - em uma aparente tentativa de estabilizar a situação do país e reafirmar sua autoridade.

·         Segunda-feira: Pronunciamento à nação

Na segunda-feira, Prigozhin enviou uma mensagem de áudio, publicada nas redes sociais, apresentando seu lado da história. Ele afirmou que seus homens se dirigiram a Moscou para "responsabilizar" os líderes que, segundo ele, são culpados por "erros" na guerra da Ucrânia.

Então, tarde da noite, o governo russo anunciou: "O presidente Putin se dirigirá à nação”. Neste momento, parecia que o líder do Kremlin estava tentando reagir.

Putin apareceu na TV depois das 22h, um horário incomum para seus pronunciamentos. As redes sociais fervilhavam com rumores de que o discurso seria sobre o “destino da Rússia". Apreensiva, a população ligou a TV para ouvir o presidente falar.

Rapidamente ficou claro que o discurso não iria decidir o destino do país. Não houve grandes anúncios. Mas o discurso de cinco minutos forneceu pistas de como o Kremlin iria transformar os acontecimentos dramáticos do fim de semana em seu benefício.

Putin pintou um quadro de uma Rússia que se uniu para derrotar a traição dos líderes de Wagner.

Ele tentou levar todos para o seu lado: agradeceu ao público, às autoridades, aos líderes religiosos, às forças armadas e aos serviços de segurança. Ele distinguiu os líderes do motim dos “lutadores e comandantes regulares de Wagner”, a quem ele elogiou como patriotas. Depois, Putin se apresentou como o homem que evitou um grande derramamento de sangue.

"Assim que esses eventos começaram a se desenrolar, de acordo com minhas instruções diretas, medidas foram tomadas para evitar derramamento de sangue”, disse.

·         Terça-feira: Na frente da tropa

Na manhã de terça-feira, Putin retomou sua agenda pública e parecia estar a todo vapor para tentar restaurar sua autoridade.

Muitas autoridades russas participaram de um evento organizado às pressas. Cerca de 2.500 soldados, guardas e oficiais de segurança compareceram à Praça da Catedral do Kremlin. Este era o local das procissões de coroação (e funeral) dos czares russos.

Com fanfarra presidencial como trilha sonora, Putin desceu os muitos degraus do Kremlin até a praça (tapete vermelho em todo o caminho, claro) e, tendo como pano de fundo as cúpulas em forma de cebola das catedrais do Kremlin, o presidente - e comandante-em-chefe - faz um discurso para suas tropas.

Mesmo antes de ele começar a falar, a imagem já dizia tudo. Está tudo em um só lugar: a Igreja Ortodoxa, o Kremlin, o presidente e o exército. Isso lembra o antigo slogan do Império Russo: "Pela fé, pelo czar e pela pátria".

Em outras palavras, a mensagem visual era sobre apresentar a Rússia como um país unido em torno de Vladimir Putin. Foi quase como se o governo quisesse que os russos pensassem que a Igreja, os militares e o presidente estão interligados, que são até mesmo parte de um todo.

Em seu breve discurso, o presidente Putin novamente afirmou que a sociedade russa se uniu após o motim de Wagner. E a maior parte de sua declaração foram elogios aos militares por "interromper uma guerra civil".

Houve um minuto de silêncio pelos pilotos da Força Aérea que foram mortos durante a rebelião. O presidente prestou suas homenagens, mas ainda não abordou a questão do por que os combatentes de Wagner não estão sendo processados ​​pelas mortes causadas pelo motim.

Fala encerrada. O hino nacional foi tocado e houve uma salva de tiros.

A intenção da mensagem era clara: o presidente não está apenas no comando. Com a ajuda do exército russo e do povo russo, ele havia acabado de conseguir uma grande vitória.

·         Quarta-feira: Perto do povo

Este é provavelmente o momento de Putin mais surpreendente da semana - talvez do ano. Isso porque o Putin que apareceu era muito diferente do habitual, em termos da proximidade com a multidão.

A razão oficial pela qual o presidente Putin estava visitando o Daguestão, república que faz parte da Federação Russa, era presidir uma reunião sobre turismo doméstico.

Mas não foi a reunião que dominou os noticiários mais tarde na TV russa, e sim as cenas que se seguiram.

O líder do Kremlin foi mostrado no meio de uma multidão de adoradores na cidade de Derbent.

Estamos acostumados a ver Vladimir Putin mantendo distância das pessoas, como naquelas ocasiões em que ele aparece sentado em uma ponta de uma longa mesa do Kremlin enquanto seus convidados ficam do outro lado, à distância.

Mas não nessa quarta-feira. No Daguestão, Putin apareceu beijando crianças, abraçando mulheres, apertando as mãos das pessoas e posando para fotos.

A TV estatal, obviamente, mostrou tudo isso.

"Gritos, guinchos, aplausos", exclamou o apresentador de um talk show popular no canal Russia-1. "Mesmo as estrelas do rock não recebem esse tipo de boas-vindas. O Ocidente está zombando de que, após o motim de Prigozhin, o presidente ficou enfraquecido. Isso prova o contrário."

O comportamento de Putin pareceu muito fora do comum. Por outro lado, nada mais parece normal na Rússia.

O presidente acabara de sobreviver a uma rebelião armada. Talvez sentisse a necessidade de demonstrar - ao país, à elite política e a si mesmo - que ainda tem simpatizantes por aí. Uma expressão "espontânea" de adoração pública caiu como uma luva ao projeto.

Por outro lado, essas imagens contrastam com o que aconteceu no fim de semana passado, depois que o acordo foi feito para acabar com o motim. Quando os combatentes de Wagner liderados por Prigozhin deixaram a cidade de Rostov na noite de sábado, eles foram aplaudidos nas ruas.

Vladimir Putin viu essas imagens? Ele sente a necessidade de ter seu próprio momento de "herói"?

Provavelmente nunca saberemos.

·         Quinta-feira: Aplausos de pé... e desenho

O presidente Putin participou de uma conferência de negócios sobre marcas russas em Moscou.

Não era exatamente outro momento de “estrela do rock”, como no dia anterior.

Ainda assim, Putin queria aproveitar qualquer oportunidade para tentar mostrar que está no comando, ativo, e que tem apoio popular.

Ele foi aplaudido ao entrar no salão. Depois, se sentou e ouviu um dos organizadores fazer o discurso de abertura.

"Vladimir Vladimirovich, junto com você e todo o país, nós também vivemos os acontecimentos de 24 de junho [o motim] com ansiedade", disse a organizadora, dirigindo-se a Putin. "Estamos todos com vocês e todos os apoiamos."

Os participantes então aplaudiram Vladimir Putin de pé.

No mesmo evento, outro vídeo um pouco mais bizarro foi transmitido: o presidente Putin estava desenhando em um quadro interativo.

O resultado era um rosto vermelho, animado, com três fios de cabelo. Uma foto curiosa de um líder que aprendeu a arte da sobrevivência política.

Filas de tropas leais, salvas de tiros, fãs gritando e aplausos. Com esse tipo de imagem, o líder do Kremlin está tentando mostrar que está de volta ao controle do país.

Ele deve estar se sentindo confiante.

Após o motim, testemunhamos um Putin turbinado nesta semana. Ele estava em todos os lugares, tentando parecer onipresente e sob controle. Era quase como se ele tivesse iniciado sua campanha para a reeleição (seu mandato presidencial termina no ano que vem, e ele pode se candidatar novamente).

Mas as imagens positivas não mudam o fato de que a rebelião pegou o Kremlin de surpresa. Foi uma ameaça. Os combatentes de Wagner estavam a caminho de Moscou quando o motim foi desfeito. Foi um desafio sem precedentes à autoridade de Putin.

E as consequências a longo prazo ainda não estão claras.

 

Ø  Parceiros do BRICS não veem sentido em discutir conflito na Ucrânia sem Moscou, diz diplomata russo

 

Os parceiros russos do BRICS entendem a inutilidade de discutir uma solução para o conflito russo-ucraniano sem a Rússia, afirmou à Sputnik Pavel Knyazev, embaixador para missões especiais do MRE russo e representante da Rússia no BRICS, comentando a cúpula realizada na Dinamarca para resolver a crise ucraniana.

Ele também destacou que essa iniciativa é uma tentativa de promover os ultimatos que Zelensky propõe e a linha que seus patronos estão promovendo no Ocidente.

"Todos, incluindo nossos parceiros do BRICS, entendem a inutilidade de tal discussão sobre a situação na Ucrânia ou de um acordo entre a Ucrânia e a Rússia sem a Rússia", disse Knyazev, na sexta-feira (30).

Recentemente, o embaixador afirmou que os países do BRICS devem desenvolver critérios e princípios claros de expansão antes da admissão de novos países.

"Entendemos que, em primeiro lugar, devem ser elaboradas as modalidades do processo de alargamento, incluindo os critérios para possíveis candidatos, os princípios e procedimentos, e só depois poderemos começar a considerar possíveis candidaturas específicas", disse Knyazev.

No domingo passado (25), o chefe do escritório de Vladimir Zelensky, Andrei Ermak, disse que a reunião em Copenhague teve a participação de conselheiros de segurança nacional e conselheiros políticos do Brasil, Reino Unido, Dinamarca, UE, Itália, Índia, Canadá, Alemanha, África do Sul, Arábia Saudita, EUA, Turquia, Ucrânia, França e Japão, acrescentando que o tema principal foi a discussão de um acordo para terminar as hostilidades na Ucrânia. As partes concordaram, disse ele, em continuar este formato de consultas.

 

Ø  Especialista: falando sobre sucesso no campo de batalha, Zelensky promove-se antes da cúpula da OTAN

 

O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, falando sobre o desejo de demonstrar resultados no campo de batalha antes da cúpula da OTAN em Vilnius, está se promovendo, disse o presidente da Academia de Problemas Geopolíticos, Leonid Ivashov, à Sputnik no sábado (1º).

Antes, Zelensky disse à RTVE espanhola que a Ucrânia quer "mostrar resultados" no campo de batalha antes da cúpula da OTAN em Vilnius. Mais tarde, em uma entrevista ao jornal espanhol Mundo, ele afirmou que a assistência dos parceiros da Ucrânia não era suficiente. Se Kiev tivesse a artilharia que ele pediu, os processos no campo de batalha seriam muito mais rápidos.

"Zelensky precisa se promover. Mostrar que ele não dorme, mas só pensa no bem-estar da Ucrânia, mas não é assim", disse Ivashov.

Ele acrescentou que, apesar da intenção de Zelensky de se juntar ao bloco político-militar, a Ucrânia não será aceita na OTAN porque não é necessária lá.

"OTAN tem seus próprios problemas e contradições. A Ucrânia será uma constante dor de cabeça política e econômica para os membros europeus da OTAN, um irritante nas relações da aliança com a Rússia e outros países", apontou o especialista.

Na opinião dele, a maioria dos países europeus é a favor do fim do conflito militar, "sentem o fardo da pressão americana, de seu tom de comando", e entendem que os EUA os mantêm para seu próprio benefício.

Concluindo, o especialista ressaltou que "o conflito atingiu fortemente as economias europeias e a União Europeia como um todo".

·         General dos EUA diz não estar surpreso com a lenta contraofensiva da Ucrânia

A Ucrânia lançou sua contraofensiva no início de junho, após vários adiamentos. O Ministério da Defesa da Rússia tem dito repetidamente que as tropas ucranianas estão tentando avançar nas direções sul de Donetsk, Artyomovsk (Bakhmut na denominação ucraniana) e Zaporozhie, mas sem sucesso.

O chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, disse na sexta-feira (30) que não acha surpreendente que a contraofensiva ucraniana esteja decorrendo mais devagar do que o previsto, tendo ele dito pessoalmente antes que ela seria muito longa e difícil.

"Que [a contraofensiva] esteja indo mais devagar do que as pessoas haviam previsto, não me surpreende nem um pouco", observou Milley durante um evento organizado pelo Clube Nacional de Imprensa. "O que eu disse foi que isso vai levar seis, oito, dez semanas. Vai ser muito difícil, vai ser muito longo, vai ser muito, muito sangrento e ninguém deve ter quaisquer ilusões sobre isso."

Milley também disse que, em sua opinião, o tempo não é particularmente favorável a nenhum dos lados do conflito, uma vez que este continua sendo muito dinâmico.

Abordando a questão da possibilidade de enviar o Sistema de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS) à Ucrânia, o general disse que não está ciente de qualquer decisão.

Na quinta-feira (29), um jornal norte-americano informou, citando autoridades, que os Estados Unidos estão perto de concordar em enviar o ATACMS para a Ucrânia.

 

Fonte: BBC News Brasil/Sputnik Brasil

 

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