segunda-feira, 31 de julho de 2023

Neurodiversidade: a importância da inclusão

Neurodiversidade é um conceito que desconstrói a ideia de que indivíduos com funcionamento neurocognitivo diverso sejam caracterizados como portadores de transtornos ou pessoas doentes. A abordagem sobre a neurodiversidade argumenta que as diversas condições neurológicas são resultado de variações normais no genoma humano.

O termo neurodiversidade foi cunhado no final dos anos 1990, quando a socióloga australiana Judy Singer, que também está no espectro do autismo, a usou para descrever condições como TDAH, transtorno do espectro autista e dislexia. A esperança e objetivo de Singer eram desviar o foco do discurso sobre as formas de pensar e aprender da rotineira ladainha de “déficits”, “distúrbios” e “deficiências”.

Rapidamente, o termo foi adotado por ativistas na comunidade autista e, logo depois, chegou a outras comunidades. Seus defensores têm aplicado o conceito para combater o estigma e promover a inclusão nas escolas e no local de trabalho.

Na verdade, o conceito de neurodiversidade desafia as visões prevalecentes das diferenças neurológicas como inerentemente patológicas, afirmando que tais diferenças devem ser reconhecidas e respeitadas como uma categoria social, em pé de igualdade com gênero, etnia, orientação sexual e outras características culturais e biopsicossociais que formam identidades dentro de uma determinada sociedade.

Para crianças com diferenças de aprendizado e raciocínio, por exemplo, a ideia de neurodiversidade tem benefícios reais. Ela pode ajudar as crianças (e os pais) a enquadrar seus desafios como diferenças, e não como déficits. Além disso, pode lançar luz sobre abordagens instrucionais que podem ajudar a destacar os pontos fortes específicos das crianças, auxiliando seus companheiros de escola (alunos e profissionais) a aceitarem as diferenças que acontecem no cérebro.

·         Neurodiversidade como movimento social

O Movimento de Neurodiversidade é um movimento social que busca direitos civis, igualdade, respeito e inclusão social plena para os neurodivergentes. Por exemplo, o Autism Rights Movement (ARM) é um movimento social dentro do movimento da neurodiversidade que incentiva as pessoas autistas, seus cuidadores e a sociedade a adotar uma posição amigável à neurodiversidade, aceitando o autismo como uma variação no funcionamento do cérebro, e não como um transtorno mental a ser curado. Ou seja, acreditar que cada pessoa é única, e não deve haver um padrão de funcionamento cognitivo.

Frequentemente, a neurodiversidade é considerada um movimento de justiça social que se concentra em celebrar a neurodiversidade junto com a biodiversidade e a diversidade cultural. O movimento pede às pessoas que não considerem uma condição neurológica diversa (“transtornos neurológicos”) como uma deficiência, mas como uma variação da mente humana. Além disso, acredita-se que as terapias e medicamentos para alterar ou monitorar o comportamento de um indivíduo são desnecessários e antiéticos.

·         O que é neurodivergente?

Neurodivergente é o indivíduo que possui uma configuração neurológica atípica – ou seja, diferente daquilo que a sociedade considera o padrão. Além dos autistas, enquadram-se na definição de neurodivergentes pessoas com dislexia,transtorno da coordenação motora ou dispraxia, transtorno de déficit de atenção, déficit de aprendizagem (que dificulta leitura e escrita) e até mesmo transtornos psicológicos, como o transtorno dissociativo de identidade.

Em suma, uma pessoa neurodivergente é definida como aquela cujo desenvolvimento e estado neurológico são atípicos e geralmente vistos como anormais ou extremos. O termo foi cunhado no movimento da neurodiversidade como um oposto para “neurotípico”, cujo significado veremos a seguir.

·         O que é neurotípico?

Neurotípico, neurotípica ou neurotipique são termos que se opõem a neurodivergente. Neurotípico significa ser “neurologicamente típico”, ou seja, dentro da faixa típica (média) da neurologia humana. Um indivíduo neurotípico é aquele que possui desenvolvimento neurológico considerado “normal” ou “padrão” pela sociedade.

·         O futuro da neurodiversidade

A declaração Autism Employment Gap, da National Autistic Society, descobriu que apenas 16% dos adultos no espectro autista estão trabalhando em tempo integral e 77% dos desempregados querem trabalhar.

O interesse no conceito relativamente novo de neurodiversidade criou positivamente um maior nível de consciência social sobre os pontos fortes e os desafios que as pessoas com diferenças neurológicas enfrentam. Os desenvolvimentos no local de trabalho são evidentes, criando uma força de trabalho mais diversificada e igualitária.

Em 2004, Thorkil Sonne fundou a empresa especializada em serviços de TI, Specialisterne. Motivado pelo diagnóstico de autismo em seu terceiro filho, o empresário desenvolveu diversos métodos para entrevistar, acomodar e descobrir habilidades neurodiversas. A partir disso, foi criada a Specialisterne Foundation, que auxilia outras empresas na contratação de pretendentes neurodivergentes. 

De acordo com a Comissão Europeia, existe uma escassez de 800 mil trabalhadores na área de TI na União Europeia. A contratação de pessoas neurodivergentes seria uma solução para esses casos, uma vez que a área de TI e suas tarefas correspondem às habilidades desses indivíduos.

O professor da Ivey Business School do Canadá, Rob Austin, estuda a inclusão de pessoas neurodivergentes em locais de trabalho e assegura que empresas estão se beneficiando com programas como a Specialisterne Foundation. Para ele, casos de  neurodivergência apresentam inovação em ambientes profissionais. Estes profissionais pensam diferentemente dos empregados neurotípicos, sugerindo ideias e perspectivas diferentes em soluções de problemas.

No entanto, ainda há espaço para uma maior compreensão, consciência e aceitação da neurodiversidade em nossa sociedade. O movimento enfatiza que o objetivo não deve ser “curar” pessoas cujo cérebro funciona de forma diferente. O objetivo é adotá-los como parte do mainstream. E isso significa fornecer o apoio necessário para que possam participar plenamente como membros da comunidade.

·         Como posso apoiar?

Pessoas neurodiversas ou neurodivergentes geralmente sofrem de problemas de saúde mental, incluindo depressão e estresse, e muitas vezes podem ser vítimas de bullying e marginalização social. Para evitar que isso aconteça em seu local de trabalho, escola ou universidade, certifique-se de contribuir para a construção de um ambiente de trabalho acolhedor e estimulante.

Você pode, por exemplo, participar de atividades do dia de conscientização, ou simplesmente dar o exemplo diário de respeito, igualdade e inclusão.

·         O aumento da neurodiversidade dentro das organizações pode aumentar a base de habilidades

Uma pesquisa da Cranfield University, no Reino Unido, revelou a importância de promover a inclusão e o respeito à neurodiversidade dentro das organizações. Estima-se que uma em cada sete pessoas no Reino Unido seja neurodivergente. No entanto, sua representatividade dentro do mercado de trabalho é pequena, em grande parte por causa do preconceito social.

Segundo o estudo, a ameaça do estereótipo vem antes da ocorrência real de um estereótipo e que o processo de descoberta começa antes que os indivíduos ingressem em uma organização. Na verdade, pessoas neurodiversas temem ingressar em uma organização com medo do preconceito – e, muitas vezes, hesitam em revelar sua condição.

Para os pesquisadores, em uma economia global tão competitiva, é surpreendente que mais empresas não estejam adotando as habilidades especializadas únicas que aqueles que divergem da “norma” podem trazer para uma organização.

Internacionalmente, o neurodivergente representa uma fonte inexplorada de habilidades únicas que podem ser uma grande vantagem para as organizações. No entanto, a pesquisa revela um paradoxo potencial em que uma organização não consegue identificar aquelas que trariam maior benefício para a força de trabalho se a pessoa neurodivergente dentro dessa força de trabalho estiver relutante em se revelar por causa do estigma dos estereótipos.

 

Fonte: eCyCle

 

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