sexta-feira, 28 de julho de 2023

Inteligência artificial tem relação com a bioética?

A inteligência artificial, as IAs, tem relação com a bioética? Entendo que sim. O tão comentado comercial da Volkswagen com Maria Rita e Elis Regina me fez pensar sobre o tempo em que vivemos. 

Parece que vivemos em tempos estranhos. Tempos em que é preciso questionar os limites da vida e da morte. Isso porque a IA basicamente lança um dilema ético para nós: a morte poderá deixar de existir, já que é possível reviver vozes e imagens das pessoas que se foram. 

As pessoas notáveis que se tornaram imortais por sua biografia antes da IA agora podem ser tornadas imortais em razão de poderem ser revividas indiscriminadamente para realizar, inclusive, tarefas que jamais aceitariam se estivessem vivas (de corpo presente).

É possível que a partir de agora será preciso regulamentar ainda mais os processos de morte. Os processos de vida e morte já são regularizados há tempos. Desde que vivemos, como diz Foucault (filósofo francês), em um contexto social no qual é preciso manter as pessoas saudáveis para mantê-las produtivas. Nesse sentido, explica Foucault, sobretudo partir de fins do século XVIII, vida e morte são regulamentadas especialmente por normas médicas. É ao saber médico que nossos processos de viver e morrer prestam contas. É, aliás, o saber médico que define o momento da morte: quando o cérebro deixa de funcionar, entende-se que a morte dos demais órgãos é iminente. 

Todo esse entendimento, que aqui estamos resumindo consideravelmente, é também colocado em questão por outro filósofo contemporâneo: Giorgio Agamben. Ele questiona se, quando for possível realizarmos algo como um transplante de cérebros, a morte deixaria de existir, ou ao menos, tornaria-se menos frequente. Com esse questionamento, Agamben nos coloca diante de uma constatação que, em geral, causa perplexidade: não sabemos ainda precisar, efetivamente, o que é a morte. Conseguimos precisar o momento em que ocorre e isto é, por meio da medicina, definido pelo critério de morte cerebral, um fato que é, por ora, irreversível. Mas, de todo modo, esse é um critério que nós, em nossa limitada capacidade, definimos artificialmente. Não sabemos dizer o que é a morte. É também por isso que no campo subjetivo, é tão difícil e, por vezes, doloroso, pensar sobre morte e morrer. 

Um pensador como Heidegger nos faz pensar na morte como aquilo que dá sentido à vida: o ser humano é um ser para a morte, já que é o fato de sermos mortais que nos coloca diante da possibilidade de dar sentido singular à existência. Porém, por outro lado, Hannah Arendt, discípula de Heidegger, modifica esse entendimento. Arendt nos propõe que não é a morte que dá sentido à vida, são, pelo contrário, os nascimentos que trazem novas possibilidades ao mundo. São os nascimentos que trazem a possibilidade de mudanças e transformações, que serão verificadas sobretudo pelo legado que podemos deixar. São, para Arendt, os novos nascimentos que trazem a potencialidade de biografias que poderão ser notáveis, que cumprirão seu papel singular, transformador e nos deixarão um legado imortal, para a posteridade, para a História. 

Se considerarmos este breve panorama histórico-filosófico, vemos com clareza que a IA nos traz muitos dilemas éticos, e, sobretudo, dilemas bioéticos. 

É possível afirmar, e faço isso em meu livro Suicídio e medicalização da vida: reflexões a partir de Foucault, que os temas de bioética (morte, suicídio assistido, aborto, etc) nos colocam diante de uma pergunta fundamental: “a quem pertence a vida?”. E, nesse sentido, como dissemos no início, se a IA tem a capacidade de trazer de volta imagem e voz de pessoas que já partiram, cabe questionar: “a quem pertence a vida e a biografia dessas pessoas? Qual seria o impacto ético de fazê-las retornar para satisfazer aqueles que estão vivos, independentemente do quanto isso possa ser desrespeitoso com suas trajetórias?” 

Talvez estejamos no tempo no qual será preciso deixar por escrito: “não autorizo usar minha imagem, me reviver para nenhum fim, em nenhuma hipótese ou situação”. 

Além disso, precisamos pensar, desde já, na aguda questão dos limites da tecnologia e talvez precisemos pensar sobre incluir, nas diretivas antecipadas da vontade (o documento que expressa a vontade de forma antecipada, em relação aos cuidados e tratamentos para momentos em que a pessoa está incapacitada de se manifestar), a questão do que fazer e do que não fazer em caso de doença grave ou morte. 

Questões bioéticas nunca são simples ou simplificáveis. Trata-se sempre de buscar as perguntas certas e não meramente encerrar quaisquer discussões com convicções absolutas, certezas que encerram reflexões e discussões.  

A vida humana é complexa e o momento da morte, o pós-morte, a biografia, também são e precisam ser pensados para que possamos garantir o respeito e a dignidade. Para que possamos garantir, portanto, que as vidas e mortes humanas serão tratadas de forma ética, sem violação de biografias; essas que aqueles que se foram não podem mais defender. 

 

Ø  'Material biológico não humano' em óvni: o que disse militar nos EUA em depoimento no Congresso

 

O Congresso dos EUA realizou uma audiência pública sobre as alegações de que o governo está encobrindo seu conhecimento sobre óvnis (objetos voadores não identificados) — UFOs, na sigla em inglês.

Para o jornal "The Guardian", a audiência lembrou "cenas de um filme de ficção científica". Das três testemunhas presentes, as declarações de uma delas chamaram mais atenção: as de David Grusch, um ex-funcionário de inteligência dos EUA. Também segundo o Guardian, a audiência deixou "uma sensação geral de que existe um acobertamento em algum lugar do governo dos EUA".

Apesar da repercussão, o encontro acabou com mais dúvidas do que respostas e sem uma conclusão formada. Abaixo, entenda a audiência:

>>>> Onde e quando a audiência aconteceu?

No Capitólio, o centro legislativo dos Estados Unidos, que fica em Washington. A audiência aconteceu nesta quarta-feira (26).

>>>> O que foi discutido?

Três veteranos militares aposentados testemunharam alertando que avistamentos são um problema de segurança nacional e que o governo tem mantido segredo sobre eles.

>>>> Quem era as testemunhas que participaram?

Participaram três ex-oficiais militares. São eles:

  • David Grusch: ex-oficial de inteligência que, em junho, alegou que os EUA possuem veículos alienígenas "intactos e parcialmente intactos".
  • Ryan Graves: um piloto aposentado da Marinha que desde então fundou a Americans for Safe Aerospace (que em seu site diz ser uma organização de defesa de problemas para segurança aeroespacial e segurança nacional com foco em fenômenos anômalos não identificados).
  • David Fravor: um ex-comandante da Marinha que se lembra de ter visto um objeto estranho no céu durante uma missão de treinamento em 2004.

>>>> O que David Grusch disse?

Foi o depoimento de Grusch o que mais repercutiu. Segundo ele, o governo dos EUA conduziu um programa de "várias décadas" que coletou e tentou fazer uma espécie de engenharia reversa de "restos de acidentes envolvendo objetos não identificados".

Grusch, que falou sob juramento, também disse que enfrentou retaliação "muito brutal" como resultado de suas alegações sobre OVNIs — em junho deste ano, ele deu uma polêmica entrevista ao NewsNation intitulada "Não estamos sozinhos".

Na época, Grusch afirmou que uma força-tarefa de fenômenos aéreos não identificados que ele fazia parte teve acesso negado a um amplo programa de recuperação de falhas. "Estão recuperando veículos técnicos de origem não humana. Chame-os de espaçonaves, se quiser. Veículos de origem exótica não humana que pousaram ou caíram", disse ele na entrevista. Grusch também disse ao NewsNation que os EUA possuem "um bom número" desses veículos "não humanos".

David Grusch em audiência sobre OVNIs nos EUA em 23 de julho de 2023 — Foto: Elizabeth Frantz/Reuters

Já na audiência, Grusch se esquivou de responder a algumas perguntas alegando temer por sua segurança e também provocou risos dos presentes, como quando se desculpou por "desapontar metade de vocês" por não trazer "homenzinhos verdes ou discos voadores".

Grusch também disse ter conhecimento de "pessoas que foram prejudicadas ou feridas" durante os esforços do governo para ocultar informações sobre OVNIs.

Na audiência, ao ser perguntado pela deputada Nancy Mace se acreditava que o governo fez contato com "extraterrestres inteligentes", Grusch afirmou que não poderia discutir isso em público.

Na sequência, Mace perguntou, então, se o governo teria os corpos dos pilotos que pilotaram as naves não humanas identificadas pelo governo, lembrando declarações anteriores de Grusch. Ao que Grusch respondeu: "Como já afirmei publicamente em minha entrevista à NewsNation, materiais biológicos vieram com alguns destes restos".

Ao ser questionado se esses restos eram humanos ou não humanos, Grusch respondeu "não humanos". Ele alegou, entretanto, que esta foi a avaliação de pessoas com quem conversou. Depois, ao ser perguntado se isso foi documentado, respondeu que teria que falar sobre isso "em uma sala segura".

·         Quem é David Grusch?

David Grusch é ex-oficial de inteligência que, em junho, alegou que os EUA possuem veículos alienígenas "intactos e parcialmente intactos". Grusch liderou a análise de fenômenos anômalos inexplicados (UAP, na sigla em inglês) dentro de uma agência do Departamento de Defesa dos EUA até 2023.

"Eu vim de uma família operária em Pittsburgh e tinha dinheiro para a faculdade", disse Grusch ao NewsNation em junho. "Sempre admirei as pessoas de uniforme e sempre quis fazer parte de algo maior do que eu."

Grusch serviu 14 anos na Força Aérea, tendo passagens pelo Afeganistão e em outros lugares que não pode mencionar antes de voltar para Washington.

"E meu último cargo, que deixei em abril de 2023, coliderei o portfólio UAP da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial. Alguns dos mais altos funcionários do Departamento de Defesa e da comunidade de inteligência costumavam me chamar para aconselhá-los sobre algumas das metas mais difíceis que o país tinha", disse Grusch ao NewsNation.

 

Fonte: Por Flávia Andrade Almeida, para o Le Monde/g1

 

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