quarta-feira, 5 de julho de 2023

Evangélicos aliados de Bolsonaro citam chapa Tarcísio-Michelle para 2026

Com o predileto Jair Bolsonaro (PL) julgado inelegível até 2030 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), aliados evangélicos começam a esboçar alternativas para a próxima eleição presidencial.

Sem mover grandes esforços para defender Bolsonaro às vésperas do julgamento, a maioria vota por manter relações amistosas com o presidente Lula (PT), possível candidato à reeleição. Mas, na "hora do vamos ver", dizem, não vai rolar repetir a parceria vista entre várias igrejas e os primeiros governos do PT.

Uma dobradinha citada por muitos inclui o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) na cabeça de chapa e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, hoje presidente do PL Mulher, como sua vice.

Mas outros arranjos não são descartados.

Os dois últimos pleitos, de apoio maciço a Bolsonaro, dificultaram a marcha à ré eleitoral vista no passado, segundo cinco líderes evangélicos com quem a reportagem conversou, todos de expressão nacional.

Se antes pastores mostravam maior desembaraço fisiológico para aderir ao governante da vez, estivesse ele à direita (melhor ainda) ou à esquerda (dá para superar), é mais complicado agora justificar um endosso a nomes progressistas.

Redes sociais aumentaram a cobrança por coerência ideológica —não dá mais para passar uma campanha repetindo que tal adversário é inimigo da fé evangélica e achar que seus seguidores não vão lembrar se você aparecer abraçado com ele na eleição seguinte.

E, se tem uma coisa que a internet sabe, é fazer barulho.

A escalada das guerras culturais, que polarizam a sociedade em torno de temas como aborto e direitos LGBTQIA+, é outro empecilho. Esses rachas morais se fortaleceram nos ciclos eleitorais recentes e contagiaram os templos evangélicos, de maioria conservadora.

Há bônus e ônus, na ótica dessa cúpula cristã que respaldou o bolsonarismo, em ter o ex-presidente fora do páreo.

Por um lado, Bolsonaro tem altos índices de rejeição, e tudo pode piorar se ele for preso por conta de uma das inúmeras ações que ele enfrenta na Justiça.

Oficialmente, eles adotam o discurso do mártir —a ideia de que a inelegibilidade e uma eventual prisão o tornariam um injustiçado aos olhos do eleitorado, sentimento dominante entre entusiastas do PT após Lula ser encarcerado.

Nos bastidores, contudo, gostam do quadro sem o ex-presidente na linha de frente, ativo apenas como um poderoso cabo eleitoral.

Mas os mesmos líderes apontam, com certo saudosismo, que Bolsonaro foi o primeiro a realmente lhes abrir a porta do Palácio do Planalto. Outros presidentes até fizeram alguns acenos ao segmento, os petistas Lula e Dilma Rousseff inclusos, mas nada comparável ao político do PL.

Ele é o que o sociólogo da religião Paul Freston definiu como "um candidato híbrido ideal, talvez o primeiro presidente pancristão, reunindo as vantagens eleitorais da identidade evangélica, mas evitando as desvantagens".

Um autodeclarado católico, que se casou com a fiel Michelle sob a bênção do pastor Silas Malafaia, topou ser batizado em 2016 no simbólico rio Jordão e se aproximou de quase todos os pastores de quilate no meio.

Trata-se de uma trupe no controle de igrejas que somam alguns milhões de fiéis. Embora não representem o grosso dos evangélicos brasileiros, espalhado por uma rede pulverizada de pequenos templos, servem de bússola para líderes menores. Foi assim que o bolsonarismo se alastrou pelas igrejas.

Bolsonaro pode não ser evangélico, mas incorporou como ninguém os anseios dessas lideranças religiosas.

"Sua capacidade de mobilização ainda não sofreu nenhum baque", aposta o apóstolo César Augusto, à frente da Igreja Fonte da Vida e frequentador de comitivas pastorais no Planalto bolsonarista. "Ele vai ser o grande divisor de águas. Quem ele apoiar, boa parcela do povo evangélico vai seguir."

Michelle, "por ser evangélica e se posicionar", tem simpatia no segmento, "e isso é incontestável", diz. Até dá para ladear com alguém de fora dessa fé, como o católico Tarcísio. Mas Augusto admite não saber se o governador "vai ter disposição de abraçar os princípios evangélicos como Bolsonaro fez".

Mas a esposa de Jair, uma neófita em eleições, não teria estofo político para almejar o maior cargo majoritário do país já de primeira, afirmam outros pastores. Daí a opção de colocá-la na vice.

Outra hipótese é Michelle concorrer ao Senado, e o posto de número dois ir para outra mulher, a ex-ministra e hoje senadora Tereza Cristina (PP-MS).

De quebra, seria uma forma de garantir o tempo de TV do PP na propaganda eleitoral, diz o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da bancada evangélica.

"E talvez seja interessante incentivar no primeiro turno a candidatura do [governador mineiro Romeu] Zema, Ronaldo Caiado [governador de Goiás] e mais alguém do MDB."

A estratégia por trás de múltiplas candidaturas à direita: unir forças para bater em Lula e aumentar sua rejeição, em especial no Nordeste.

O entrave para Tarcísio, segundo Sóstenes, seria se ele decidir não trocar o Republicanos pelo PL. "Ele terá que ser [o número de chapa] 22."

O bispo Robson Rodovalho, da igreja Sara Nossa Terra, concorda que Tarcísio "tem sintonia conosco". O pastor Silas Malafaia também cita o governador que serviu na Esplanada bolsonarista, assim como Michelle. "Claro que pode ser, por que não ela?"

A unção do ex-presidente, que em entrevista à Folha de S.Paulo disse ter uma "bala de prata" para 2026, será determinante, na opinião desses pastores. De resto, sobra alguma resignação de que o próximo presidenciável defendido por eles nas igrejas não empolgará tanto quanto o "mito" Bolsonaro.

Só Michelle seria capaz dessa façanha, mas sua viabilidade eleitoral para o posto máximo da República é desacreditada.

Nas palavras de um pastor, que prefere manter esta fala anônima: vai ser como nos tempos tucanos de Geraldo Alckmin, atual vice de Lula, mas com histórico de rusgas com o PT. Evangélicos até simpatizavam sua fervorosa catolicidade. Mas ele era no máximo aliado, não um amigo que os colocava em primeiro plano. A vida vai seguir, mas Bolsonaro vai deixar saudades.

•        Michelle Bolsonaro volta a atacar de “pastora”

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro marcou presença em um culto evangélico pela primeira vez desde outubro, após a derrota eleitoral de seu marido, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. A visita aconteceu na igreja ADTAG durante o evento conhecido como Sexta-Feira ADTAG, voltado para o público jovem.

No mesmo dia, o culto contou com a ministração da renomada cantora e pastora Eyshila Santos. Em um momento especial, Michelle Bolsonaro foi convidada a compartilhar uma palavra com os jovens presentes.

O Instagram da igreja destacou a presença de Michelle com a publicação de um vídeo do seu momento de ministração. A legenda da publicação enfatizava a honra de receber a ex-primeira-dama e o compromisso com a intercessão e oração: “Recebemos em nosso culto @sextaferaadtag a visita da nossa amada irmã @michellebolsonaro, e declaramos ao Senhor a honra e a Glória que só Ele merece. Estamos juntos, em intercessão e oração por nossa nação, sua vida e de sua família @michellebolsonaro.”

 

       Analistas não enxergam sucessor de Bolsonaro

 

A antropóloga Isabela Kalil e o cientista político Claudio Couto avaliaram hoje em participação no UOL Debate que ainda não há substituto claro para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030. Bolsonaro ainda é figura importante, mas inelegibilidade o fragiliza, concordaram os especialistas. “Bolsonaro se enfraquece do ponto de vista institucional, mas não quer dizer que enfraquece do ponto de vista social”, disse Kalil.

Para ela, não há atualmente alguém que possa substituir o ex-presidente. “Não vejo nenhuma figura que consegue fazer o que ele fez, de unir campos antagônicos”, disse. “Não consigo ver no curto prazo uma figura que consiga aglutinar”.

Couto avalia que Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e membros da família Bolsonaro são possíveis candidatos. Para ele, se o campo conservador decidir por um candidato mais moderado, os governadores de Minas Gerais e São Paulo podem ser opções. Caso a preferência seja pela continuidade do bolsonarismo, ele aposta em um dos filhos do ex-presidente, como Eduardo. “Sempre foi visto como o verdadeiro herdeiro, provável sucessor, que se assemelha em agressividade, contundência, radicalismo ideológico”, afirmou. Para Kalil, nome da extema-direita será o de uma mulher. “O futuro da extrema-direita é a candidatura de uma mulher, deve ter uma roupagem diferente”, disse. “A Michelle [Bolsonaro] tem chance de ser uma candidata forte. Couto avaliou que o presidente Lula acertou ao não comemorar inelegibilidade de adversário. “Não ajudou a levantar a bola. Ao não dar muita importância, ele vai bem”, declarou.

 

       Despertar de seguidores assusta Bolsonaro

 

Dê-se Bolsonaro por feliz se não for preso, tantos são os processos que responde no Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral e, em breve, no Tribunal de Contas da União. E dê-se por feliz porque seu atual partido, o PL, ainda está disposto a pagar os advogados que o defendem. Será assim por muito tempo?

A ver. A ver também se ficará em apenas oito anos o período de inelegibilidade de Bolsonaro. Nesta segunda-feira (3), ele disse que “não morreu ainda”, que está na UTI e que “não é justo alguém querer dividir” seu espólio eleitoral acumulado em mais de 30 anos de vida pública. A divisão é inevitável.

O Tribunal de Contas da União deverá abrir um novo processo contra Bolsonaro a partir da decisão do Tribunal Superior Eleitoral que considerou ter havido abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na reunião com embaixadores, ocorrida em 2022, em que Bolsonaro desacreditou as urnas eletrônicas.

A Lei da Ficha Limpa determina que gestores públicos que tiverem as contas reprovadas por irregularidade que configure ato doloso de improbidade ficam os oito anos seguintes da decisão impedidos de disputar eleições. Se condenado nesse caso, Bolsonaro ganhará mais alguns aninhos de inelegibilidade. E assim por diante.

Outro dia, Bolsonaro afirmou que será salvo porque guarda uma “bala de prata”. Perguntado, ontem, sobre qual seria a bala, respondeu que não vê ninguém com conhecimento suficiente do país para substitui-lo como candidato a presidente em 2026. É o que ele pensa, mas não o que pensam os outros.

Citou os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG) como nomes que carecem de condições para substituí-lo. Sobre Zema, comentou:

“Eu não vou dar conselho para o Zema, mas quem queimar largada agora vai levar tiro de bazuca no lombo. Então vai com calma. Tem tempo ainda. 2026 passa por 2024”.

Como não deixa passar uma oportunidade de mentir, Bolsonaro garantiu que não foi seu pessoal “que fez o quebra-quebra” em 8 de janeiro último na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em mais uma tentativa fracassada de golpe. Foi pessoal de quem? Seus devotos fiéis sugerem que foram “infiltrados de esquerda”.

Ou seja: embora ninguém de esquerda tenha sido preso em meio à baderna: embora ninguém de esquerda tenha sido preso quando o Exército permitiu a prisão dos baderneiros acampados à porta do seu QG; e embora à esquerda não interessasse derrubar um governo de esquerda, o golpe de 8 de janeiro foi de esquerda.

Dá para acreditar? Bolsonaro não espera que a maioria dos brasileiros acredite. Basta que seus seguidores, em número decrescente, acreditem. E que, pelo menos, continuem acreditando até que aconteça um milagre capaz de reabilitá-lo a tempo de voltar a disputar eleições – em 2026, 2030 ou 2034, quem sabe?

O fim de linha chegou para Bolsonaro, só ele finge que não vê. Político sem perspectiva real de poder, pouco ou nada vale. E, de novo: agradeça a Deus e dê-se por feliz se não acabar preso.

 

Fonte: FolhaPress/UOL/Metrópoles/O Fuxico

 

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