domingo, 9 de julho de 2023

Em 3 pontos, por que Trump se mantém como favorito dos republicanos à Presidência dos EUA

Pense um pouco na enrascada em que se meteu Kevin McCarthy, o presidente republicano da Câmara dos Representantes, que fez uma confusão ao falar sobre o ex-presidente americano Donald Trump.

Na semana passada, McCarthy causou uma tempestade política quando disse em uma entrevista na televisão que não sabia se Trump era o candidato republicano mais forte para a eleição presidencial de 2024. No dia seguinte, McCarthy voltou atrás e afirmou ao Breitbart News que "Trump está mais forte hoje do que em 2016".

A fala do republicano foi branda, mas a reação dos apoiadores de Trump foi estridente. "McCarthy pisou na bola", declarou Bryan Lanza, um ex-funcionário do governo Trump que ainda é próximo do ex-presidente. "[McCarthy] não pode se dar ao luxo de ser visto como leniente em relação a Trump ou vai perder seu cargo de presidente."

McCarthy não é o único a ter dúvidas em relação a Trump. Muitos na liderança do partido temem que Trump ganhe a disputa interna pela candidatura — mas depois perca a eleição presidencial. Esses críticos acham que Trump tem muitos pontos fracos e adorariam ver uma alternativa — alguém que pudesse ser popular entre os eleitores indecisos dos EUA.

No momento, porém, essa alternativa parece não existir. De fato, a rápida operação para abafar as declarações de McCarthy nos diz muito sobre o controle que Trump exerce sobre seu partido.

Apesar de ter sido indiciado duas vezes, assolado por escândalos e investigações legais em andamento, e esteja enfrentando vários rivais políticos, Trump ainda é o grande favorito para conquistar a candidatura de seu partido à presidência. Uma pesquisa da rede NBC News mostra que na semana passada ele tinha 51% de apoio entre os eleitores republicanos, contra 46% em abril.

Entenda a seguir, em três pontos, o que está acontecendo.

·         1. Os problemas de Trump na Justiça estão ajudando, e não prejudicando sua candidatura (por enquanto)

Donald Trump foi considerado responsável por agressão sexual e foi acusado sob a Lei de Espionagem por manter documentos confidenciais depois de deixar a Casa Branca. Ele também está enfrentando acusações em Nova York por supostos pagamentos feitos a uma estrela pornô durante sua campanha presidencial de 2016.

Nada disso jamais havia acontecido com um ex-presidente. E ele pode ainda vir a ser indiciado por tentar fraudar a eleição no Estado da Geórgia e por seu papel na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. São muitos os problemas legais.

Mas quanto mais indiciamentos ele enfrenta, mais Trump consegue convencer seus partidários de que está sendo vítima de uma vingança política.

"As acusações o ajudaram junto à base de eleitores e o ajudaram na arrecadação de fundos", diz Michael Steele, ex-presidente do Comitê Nacional Republicano e agora um opositor de Trump.

"E quando sair o indiciamento do caso da Geórgia, seus números nas pesquisas vão subir novamente", acrescenta.

Mas em uma campanha para eleições gerais — fora do processo das primárias americanas — esse sentimento pode mudar, e os eleitores indecisos podem decidir que não querem apoiar alguém acusado de cometer crimes.

·         2. Os demais candidatos estão dividindo os votos daqueles que são contra Trump

Atualmente, mais de uma dúzia de republicanos estão concorrendo à presidência.

Alguns se apresentam como sendo o "substituto de Trump", outros como "anti-Trump", enquanto uma parte tenta simplesmente ignorá-lo.

As pesquisas sugerem que cerca de metade dos eleitores republicanos não são totalmente apaixonados pelo ex-presidente, mas por enquanto eles estão dividindo sua lealdade igualmente entre todos os outros candidatos.

Dividir para conquistar foi uma estratégia bem-sucedida de Trump em 2016 — e parece estar funcionando novamente.

Mas e Ron DeSantis, governador da Flórida, que deveria ser o grande adversário de Trump?

Até agora, seus números estão caindo, e não subindo. Não é nenhum segredo nos círculos republicanos que DeSantis tem sido visto como um candidato fraco: quanto mais as pessoas o veem na disputa, menos elas gostam dele.

"Nenhum dos outros candidatos importa", conclui Steele.

Para ele, só um ato divino tira de Trump a indicação republicana para a Casa Branca.

·         3. A disputa tem mais a ver com luta do que com conservadorismo

Os dias da campanha otimista de Ronald Reagan — anunciando que havia uma "nova manhã nos Estados Unidos" — acabaram. O Partido Republicano de hoje está procurando alguém que possa lutar por ele em questões culturais, como aborto e direitos de pessoas transgênero, e que não tenha medo de enfrentar nem sequer o establishment republicano.

Não há lutador melhor do que Donald Trump, o homem que enfrentou (e venceu) fisicamente outro bilionário em uma luta livre em 2007. Nenhum candidato chama a atenção e desperta a raiva da multidão como Trump.

É bom lembrar que, nessa mesma fase da campanha eleitoral de 2016, Trump tinha apenas 6% dos votos entre os republicanos. Mas comício após comício, debate após debate, ele foi derrotando seus oponentes. Ele fez isso atacando-os duramente (com palavras que, às vezes, parecem socos) e dizendo aos eleitores que estava tão furioso quanto eles com a situação do país.

Os candidatos rivais continuam esperando que os eleitores das primárias se cansem de todo o caos em torno de Trump ou que seus problemas na Justiça o derrubem nas pesquisas.

Mas isso não preocupa a base de Trump.

"Ninguém está batendo Trump", diz Lanza, ex-funcionário de Trump, confiante.

"Presumo que todos que ainda estão concorrendo estão fazendo um teste para um cargo no gabinete [na Casa Branca de Trump]."

 

Ø  Os 3 tipos de reações de republicanos a acusações contra Trump

 

A maioria dos republicanos reagiu à mais recente acusação contra Donald Trump saindo em defesa do ex-presidente e condenando o processo judicial. Mas se você analisar mais a fundo, a linguagem que eles usam para defendê-lo é reveladora.

Às vezes, se diz, por conta das profundas divisões políticas, que os Estados Unidos são dois países que compartilham o mesmo território. A mesma coisa poderia ser dita sobre o Partido Republicano — são vários partidos que compartilham a mesma marca política.

As acusações criminais contra Donald Trump sob a Lei de Espionagem, por manusear documentos confidenciais após deixar a Casa Branca, tornaram essas divisões dentro do partido particularmente acentuadas.

A seguir, está uma análise rápida do que as várias divisões estão falando sobre o indiciamento do ex-presidente — e o que está motivando suas respostas.

·         Os rivais de Trump

Este é o grupo que está mais sob escrutínio, e o grupo que tem mais a perder — os republicanos que estão concorrendo contra Trump pela indicação do partido para disputar a Casa Branca em 2024.

São as pessoas que querem se distinguir do ex-presidente, sem afastar seus apoiadores.

Eles parecem contornar o dilema concentrando sua defesa na sugestão de que a lei não está sendo aplicada de maneira justa, já que Joe Biden, quando era vice-presidente, também pegou documentos confidenciais ao deixar o cargo. O atual presidente ainda está sendo investigado, mas uma diferença fundamental é que ele devolveu os arquivos.

A reação do governador da Flórida, Ron DeSantis, o atual concorrente mais próximo de Trump, representa essa abordagem. Ele pareceu defender Trump quando afirmou que houve uma "aplicação desigual da lei".

Outro pré-candidato à presidência, o senador Tim Scott, da Carolina do Sul, disse que as acusações eram exemplo de "um sistema de justiça em que a balança tem dois pesos e duas medidas".

O ex-vice-presidente Mike Pence, que está concorrendo contra seu antigo chefe, afirmou em uma convenção republicana no fim de semana que ninguém está acima da lei. Em seguida, falou sobre anos de suposta politização no Departamento de Justiça e o fracasso em processar Hillary Clinton.

A situação é fluida, no entanto, e cada um dos aspirantes à corrida presidencial de 2024 vai recalcular regularmente suas estratégias à medida que os eventos se desenrolam.

Foi o que aconteceu com a ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, por exemplo. Ela inicialmente divulgou uma declaração que soava muito semelhante a seus colegas candidatos presidenciais. "Não é assim que a justiça deve ser feita em nosso país", ela tuitou.

Na tarde de segunda-feira (12/06), durante uma aparição na Fox News, ela mudou de tom, criticando o ex-presidente de forma muito mais direta.

O ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, quer forçar os republicanos a fazer um acerto de contas com Trump. "Os fatos apresentados aqui são contundentes em termos da conduta de Donald Trump, e é isso que nós, como partido, devemos observar", ele disse. Asa Hutchinson, ex-governador do Arkansas, pediu que Trump desistisse da corrida presidencial de 2024.

Mas pode ser que o candidato mais improvável, o empresário Vivek Ramaswamy, esteja mais em contato com a base do partido: ele reforçou sua defesa, dizendo que perdoaria Trump se eleito.

·         Verdadeiros trumpistas

E a maior e mais barulhenta das divisões republicanas, o grupo que apoia o ex-presidente, independentemente das acusações feitas contra ele? Na verdade, quanto mais acusações Trump enfrenta, mais eles respondem a isso argumento que se trata de um esforço conjunto e coordenado para desacreditá-lo.

Eles dizem que as acusações relacionadas aos documentos confidenciais são uma tentativa do presidente Biden de se livrar de um oponente político no período eleitoral. As primeiras pesquisas sugerem que esta acusação não persuadiu nenhum dos verdadeiros trumpistas a deixar de apoiá-lo.

"É inadmissível que um presidente indicie o principal candidato que se opõe a ele", disse o líder da maioria na Câmara, Kevin McCarthy. Ele sabe que foi um procurador especial independente quem apresentou as acusações contra Trump, mas precisa manter o apoio dessa facção conservadora de extrema direita, liderada por Jim Jordan.

Esses apoiadores de Trump não querem nem sequer se envolver nos detalhes do processo legal contra ele.

A retórica de alguns membros do Congresso foi mais inflamatória. Depois que os detalhes da acusação foram divulgados na sexta-feira, o deputado Andy Biggs, do Arizona, tuitou: "Chegamos agora a uma fase de guerra. Olho por olho."

·         Os nunca (e os não mais) trumpistas

Trump perdeu esses republicanos há muito tempo — eles às vezes ainda ficam do lado dele em raros momentos em que engolem sua desaprovação porque gostam das políticas dele: este não é um desses momentos.

Bill Barr, ex-procurador-geral de Trump, disse à Fox News neste fim de semana que ficou chocado com o grau de sensibilidade dos documentos e com a quantidade.

"Se metade disso for verdade, ele está frito", afirmou. "E essa ideia de apresentar Trump como uma vítima aqui, vítima de uma caça às bruxas, é ridícula."

O senador republicano Mitt Romney disse que as acusações, se comprovadas, são consistentes com outras vezes em que o ex-presidente trabalhou contra o interesse nacional.

"Trump arrumou essas acusações não apenas pegando documentos confidenciais, mas também se recusando a simplesmente devolvê-los quando teve inúmeras oportunidades de fazer isso."

Mas não espere ouvir muitos deles se manifestando contra o ex-presidente, especialmente aqueles que ainda ocupam cargos políticos. É um grupo bastante solitário.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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