Doações por Pix a Bolsonaro superam seu patrimônio
Os R$ 17,1 milhões arrecadados pelo ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) no Pix equivalem a oito vezes o que ele diz ter acumulado
em toda a vida, ao declarar os R$ 2,3 milhões em bens ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) na última eleição. A cifra seria ainda suficiente para pagar
cerca de 17 vezes as multas que levaram os apoiadores a fazer uma vaquinha para
ele, em junho.
A informação sobre a arrecadação milionária do
ex-presidente via Pix foi registrada em relatório do Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), que também apontou que esse valor foi movimentado
através de 769 mil transações feitas para a conta de Bolsonaro em seis meses de
janeiro a julho deste ano.
À imprensa, Bolsonaro limitou-se a dizer que já
arrecadou dinheiro o bastante para pagar todas as multas que sofreu em
processos judiciais e eventuais novas punições. Àquela época, dados da
Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo indicavam que ele precisaria
desembolsar R$ 1.062.416,65 em sete multas acumuladas em 2021 e 2022.
O valor daria para financiar 142 vezes a campanha
que elegeu Carlos Bolsonaro (PL) vereador do Rio de Janeiro em 2020, 24 vezes o
pleito de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Senado em 2018, e 21 vezes a candidatura
de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à Câmara dos Deputados no ano passado.
A campanha de doações para o ex-presidente começou
depois do julgamento do TSE que o deixou inelegível. Parlamentares do PL, sigla
de Bolsonaro, foram os que mais movimentaram a campanha.
No dia 24 de junho, os deputados federais Nikolas
Ferreira (PL-MG), Mário Frias (PL-SP), Gustavo Gayer (PL-GO), André Fernandes
(PL-CE) e o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG) publicaram nas suas redes
apelos pedindo aos seus correligionários que doassem quaisquer valores ao
ex-presidente.
O valor arrecadado pelo ex-presidente no Pix
pagaria três vezes as peças doadas pela Arábia Saudita. A Polícia Federal (PF)
avaliou as joias apreendidas pela Receita Federal com uma comitiva do governo
Bolsonaro no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em outubro de 2021 — caso
revelado pelo Estadão — em R$ 5,1 milhões.
Como mostrou o Estadão, Bolsonaro recebeu R$ 17,1
milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix
entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano.
O valor corresponde quase à totalidade do valor que
circulou nas contas de Bolsonaro em 2023: R$ 18.498.532. O relatório do Coaf
registra também R$ 3,6 mil repassados a Walderice Santos da Conceição, a Wal do
Açaí. A Procuradoria da República no Distrito Federal apontou Wal do Açaí como
‘funcionária fantasma’ de Bolsonaro por mais de 15 anos.
• Só de
juros, Pix para Bolsonaro renderiam R$ 170 mil por mês
Se aplicados em um fundo conservador do Banco do
Brasil, onde Bolsonaro tem conta, os R$ 17,2 milhões recebidos via Pix pelo
ex-presidente renderiam cerca de R$ 170 mil por mês.
Isso porque a rentabilidade mensal dos fundos de
investimento com “risco muito baixo” recomendados por gerentes do BB gira em
torno de 1%.
Como mostrou o jornal “O Globo”, Bolsonaro recebeu
R$ 17,2 milhões de janeiro a junho deste ano. Até a publicação desta nota, o ex-presidente
ainda não se manifestou sobre o assunto.
No último dia 20, a coluna mostrou que o compliance
do banco encerrou uma conta com dólares que Bolsonaro mantinha no BB Americas,
braço do Banco do Brasil nos Estados Unidos. Na ocasião, a instituição afirmou
ter “protocolos rígidos de acompanhamento das movimentações financeiras de seus
clientes”.
Transações
de Mauro Cid beiram o bizarro
Ao apontar movimentação “atípica” e “incompatível”
nas contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cid, o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf) destacou quatro pessoas que fizeram transações
com o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Uma delas é o
sargento Luis Marcos dos Reis, que era subordinado de Cid na Presidência e
também é investigado pela Polícia Federal (PF).
Sobre a movimentação financeira entre Cid e Reis, o
Coaf fez o seguinte registro: “Considerando a movimentação atípica sem
justificativa e as citações desabonadoras na mídia tanto do analisado como do
principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir em vício
do crime de lavagem de dinheiro ou com ela relacionar-se”.
O documento também chama atenção para transações de
Mauro Cid envolvendo um “caixeiro viajante”, um “ourives” — profissional
especializado em trabalhar com ouro e outros metais preciosos — e um tio da
mulher do militar. Nestes casos, no entanto, não se tem notícia de apurações
por parte da PF ou outras autoridades sobre os personagens citados.
No relatório, o Coaf destacou que encontrou nas contas
de Cid indícios de “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio,
atividade econômica ou a ocupação profissional e capacidade financeira do
cliente” e “transferências unilaterais que, pela habitualidade e valor ou
forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade”.
Ao analisar as transações financeiras de Cid, o
Coaf registrou que o militar movimentou R$ 3,2 milhões em sete meses — de 26 de
junho de 2022 a 25 de janeiro de 2023. Nesse período, ele registrou operações
de R$ 1,4 milhão em débitos e R$ 1,8 milhão em créditos. Militar da ativa, o
tenente-coronel recebe mensalmente uma remuneração de R$ 26.239.
Entre as operações destacadas pelo Coaf, está o
envio de remessas aos Estados Unidos no valor de R$ 367.374 em 12 de janeiro de
2023 — data em que Cid e Bolsonaro se encontravam naquele país. Os dois saíram
do Brasil no fim de 2022 e não acompanharam a transmissão do cargo para o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Considerando a movimentação elevada, o que poderia
indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio e demais
atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se
indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se”, diz trecho
do relatório.
Procurado, o advogado Bernardo Fenelon, que defende
Cid, afirmou que “todas as movimentações financeiras do tenente-coronel,
inclusive aquelas referentes a transferências internacionais, são lícitas e já
foram esclarecidas para a Polícia Federal”. O criminalista ainda pontuou que
“todas as manifestações defensivas são apenas realizadas nos autos do
processo”.
Mauro Cid está preso preventivamente em um batalhão
do Exército desde o dia 3 de maio, quando foi alvo de uma operação da PF que
investiga supostas fraudes no cartão de vacinação de Bolsonaro e de pessoas
ligadas a ele. Como ajudante de ordens, ele era responsável por cuidar das
contas pessoais do ex-presidente e seus familiar
Exposição
da movimentação de Cid surta bolsonarismo
O ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social
(Secom) da Presidência e advogado de Jair Bolsonaro (PL), Fabio Wajngarten,
criticou nesta quinta-feira (27/7) vazamentos de dados bancários após divulgação
de que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro
Cid, movimentou R$ 3,2 milhões entre julho de 2022 e janeiro de 2023. A
informação é do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), órgão que também mostrou que Bolsonaro teria recebido R$ 17,2 milhões
em transferências por Pix no início do ano.
“São
inadmissíveis os vazamentos de quebras de sigilos financeiros de investigados
no inquérito de 8/1 e ou de qualquer outra investigação sigilosa”, escreveu Wajngarten
em sua conta no Twitter. “Faz-se necessário identificar quem está entrando na
tal sala cofre para que as medidas judiciais sejam tomadas. Quem vazou será
criminalizado”, acrescentou.
Relatórios do Coaf mostram que Bolsonaro recebeu R$
17,2 milhões após divulgar uma chave Pix para angariar recursos e pagar multas
de mais de R$ 1 milhão com o estado de São Paulo por ter circulado sem máscara
durante a pandemia da covid-19. Já as transações feitas por Mauro Cid seriam
incompatíveis com seu patrimônio, e levantam a suspeita de “crime de lavagem de
dinheiro”, segundo o órgão.
<><> A desculpa da família de Cid para
movimentação suspeita
Relatório do Coaf enviado à CPMI do 8 de Janeiro
apontou que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair
Bolsonaro, enviou remessas que somam R$ 367,3 mil aos Estados Unidos em apenas
um dia.
Os valores, de acordo com o documento, teriam sido
enviados pelo militar no dia 12 de janeiro de 2023, quando tanto Mauro Cid
quanto o ex-presidente da República estavam em solo americano.
O montante, segundo o relatório, faz parte dos R$
3,2 milhões em movimentações bancárias feitas por Cid entre 26 de junho de 2022
e 25 de janeiro de 2023, consideradas “atípicas” pelo Coaf.
Em conversas reservadas, familiares do militar
informaram que os R$ 367,3 mil seriam oriundos das economias dele e custeariam
uma viagem em comemoração aos 15 anos de uma das filhas dele.
Parentes de Mauro Cid foram orientados a elaborar
uma nota à imprensa explicando a origem desses e dos outros recursos, o que não
tinha ocorrido até a publicação desta matéria.
Madeireira
encheu de dinheiro a conta de Mauro Cid
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, apontou indícios de
movimentação financeira “incompatível” feita por uma empresa madeireira
fornecedora de uma estatal e que realizou pagamentos a um ex-auxiliar do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com o documento do Coaf, obtido pelo
GLOBO, a Cedro Líbano Comércio de Madeira e Materiais de Construção, cujo
faturamento mensal é estimado em R$ 248.649, movimentou R$ 33,2 milhões entre
janeiro de 2020 e abril de 2023 — R$ 16,6 milhões em crédito e R$ 16,6 milhões
em débito.
Ao analisar essas transações, o órgão destacou que
“chama atenção a aparente incompatibilidade entre o porte/estrutura vis a vis e
o volume transacionado a crédito no período analisado, o que supostamente pode
demonstrar que o cliente esteja utilizando a conta para transacionar recursos
provenientes de atividades não declaradas”.
A Cedro Líbano, criada em 2008 e sediada em
Goiânia, recebeu do governo federal R$ 299 mil entre 2020 e 2022. Desse valor
total, R$ 188.000 foram pagos pela estatal Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
Em nota, a Codevasf informou que o montante se
referia à compra de “quatro plantadeiras e adubadeiras mecanizadas” para um
projeto no Amapá. Procurada, a madeireira não se pronunciou.
Outras operações envolvendo a Cedro Líbano chamaram
a atenção do Coaf. Uma delas foi uma série de repasses ao segundo-sargento Luis
Marcos dos Reis, que era supervisor da Ajudância de Ordens da Presidência e,
segundo o seu próprio currículo, “responsável pelo atendimento das demandas
pessoais” de Jair Bolsonaro. Reis era subordinado ao tenente-coronel Mauro Cid
e, assim como ele, está preso preventivamente no caso das supostas fraudes no
cartão de vacinação.
Essa transação entre a madeireira e o militar
entrou na mira da Polícia Federal durante uma investigação envolvendo movimentações
financeiras de cartões corporativos da Presidência da República, administrados
por Cid e seus auxiliares. Após quebrar o sigilo dos auxiliares de Bolsonaro,
investigadores descobriram que Reis recebeu recursos de uma fornecedora da
Codevasf — e passaram a apurar o caso.
“Identificou-se algumas transações entre as contas
da empresa Cedro do Líbano, ou pessoas vinculadas a ela direta ou indiretamente
com Luis Marcos do Reis, lotado à época dos fatos na Ajudância de Ordens da
Presidência da República”, diz um relatório da PF.
A defesa de Reis afirma que ainda não teve acesso
ao processo e que, portanto, não tem como comentar sobre as informações. O
advogado Bernardo Fenelon, que defende Cid, nega qualquer irregularidade e diz
que todas as transações foram esclarecidas para a Polícia Federal.
Cid
recebeu dinheiro de suspeitos de falsificar cartões de vacinas
Relatório do Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras) enviado à CPMI de 8 de janeiro, ao qual o UOL teve
acesso, revela que o tenente-coronel Mauro Cid realizou operações bancárias com
suspeitos de falsificar o cartão de vacina de Jair Bolsonaro.
São eles: o sargento Luis Marcos dos Reis; o
segurança Max Guilherme Machado de Moura e o médico Farley Vinicius de
Alcântara.
Reis e Moura seguem presos — os dois trabalhavam
diretamente com Bolsonaro.
Luis Marcos dos Reis depositou R$ 70 mil na conta
de Mauro Cid, aponta a quebra de sigilo que vai de 26 de julho de 2022 até 25
de janeiro deste ano. Ele é segundo-sargento do Exército e foi funcionário da
Ajudância de Ordens da Presidência, que era comandada por Cid.
Reis foi preso por suspeita de envolvimento na
falsificação nos certificados de vacinação de Bolsonaro, em operação realizada
pela Polícia Federal.
Reis realizou saques em dinheiro vivo. Ele é
investigado por pagar contas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Militar do Exército participou das invasões de 8 de
janeiro. A PF localizou diálogos do sargento narrando como foram os atos
golpistas.
Indícios do crime de lavagem de dinheiro.
“Considerando a movimentação atípica, sem clara justificativa e as citações
desabonadoras em mídia, tanto do analisado quanto do principal beneficiário,
comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem
de dinheiro, ou com ele relacionar-se”, diz o Coaf. O UOL busca contato com a
defesa do sargento.
Reis trabalhou diretamente com Bolsonaro e o
ajudante de ordens Mauro Cid desde o início do mandato até agosto de 2022,
quando foi transferido para o Ministério do Turismo.
• Relatório
do Coaf
Dividia com Mauro Cid a função de sombra na
proteção constante de Bolsonaro. Max Guilherme Machado de Moura trabalhou como
segurança do ex-presidente.
Ele estava na comitiva de funcionários que
acompanharam Bolsonaro na passagem dele pelos Estados Unidos.
Por 17 anos, foi sargento do Bope no Rio de
Janeiro. Moura assumiu a função de segurança do ex-presidente após esse período
no Batalhão de Operações Especiais.
Moura foi preso pela PF na operação que apura
suspeita de falsificação do cartão de vacina de Bolsonaro. O UOL tenta contato
com a defesa do ex-segurança de Bolsonaro.
Farley Vinicius teria fornecido o cartão de
vacinação em branco para a suposta falsificação. Na ocasião ele era médico em
Cabeceiras (GO).
Ele é sobrinho do sargente Luis Marcos e trabalhava
como plantonista no hospital da cidade.
O relatório do Coaf não detalha o valor da
transação bancária de Cid com Farley e com Moura. O UOL não conseguiu encontrar
o médico para comentar o caso.
Relatório do Coaf encontrou um montante de
transações incompatíveis com os rendimentos de Mauro Cid.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro movimentou R$
3,2 milhões num intervalo de seis meses, apesar de receber R$ 26 mil de salário
bruto. No resumo das transações financeiras, estão R$ 1,8 milhão em créditos e
R$ 1,4 milhão em débitos.
A defesa de Cid negou haver ilegalidade nas
transações financeiras e disse que não teve acesso ao documento. O advogado
Bernardo Fenelon disse que não explicaria as operações porque “todas as
manifestações defensivas são apenas realizadas nos autos do processo”.
Fonte: Agencia Estado/Metrópoles/o Globo/Correio
Braziliense/UOL
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