4 motivos que
explicam por que todos devem ganhar com a reforma tributária
Prestes a ser votada pela Câmara dos
Deputados,
a Proposta de Emenda à Constituição (Pec) da reforma tributária passa pelos
últimos ajustes e negociações entre parlamentares, governo federal, governadores, prefeitos e os setores
produtivos que serão afetados por ela.
Diferente
de muitas matérias que entram e saem com pressa do governo ou do Congresso, o
projeto atual da reforma tributária está em discussão há pelo menos cinco
anos, desde que a primeira proposta dela, a
Pec 45,
foi apresentada, em 2019.
Isso
significa que todos os envolvidos e interessados — economistas, políticos,
governantes, empresas e consumidores — tiveram tempo de conhecer, debater e
propor aperfeiçoamentos ao projeto.
Nesse
longo processo, mesmo em meio a pontos ainda
contestados,
foi construído um sólido consenso em torno de sua aprovação.
Veja,
a seguir, alguns dos pontos mais citados como benefícios que a reforma
tributária deverá trazer para as empresas, a economia e os consumidores:
·
Simplificação
A
atual reforma tributária mexe em uma parte dos impostos — aqueles aplicados
sobre o consumo, nas empresas — e não deve reduzir, nem aumentar a carga
tributária.
Seu
grande objetivo é simplificá-los, criando um imposto unificado que facilite a
mixórdia de tributos aplicados hoje sobre todos os bens e serviços do país.
É
o caso do PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS, muitos cobrados cumulativamente uns
sobre os outros, e, no caso do ICMS, que é estadual, e do ISS, municipal, com
milhares de legislações próprias conforme a cidade ou o estado.
A
ideia é reuni-los todos ou em parte em uma coisa só e se aproximar mais do modelo
internacional do chamado IVA — o Imposto sobre Valor Agregado —
adotado em diversos países para tributar os bens e serviços.
O
consenso é que isso deve tornar o recolhimento pelas empresas mais simples,
ágil e barato.
“O
departamento fiscal de uma empresa, no Brasil, hoje, chega a 20, 30 pessoas. Em
outros países são uma ou duas”, diz o advogado tributarista e economista
Eduardo Fleury, sócio da FCR Law e consultor do Banco Mundial para impostos.
“Simplificar
diminuiu a incerteza, o que significa menos gasto com jurídico, mais
eficiência, mais produtividade e mais negócios”, complementa Fleury, que é um
das dezenas de signatários de manifesto a
favor da aprovação da reforma divulgado nesta semana.
·
Mais eficiência e mais PIB
Essa
melhora na eficiência das empresas e seus ganhos de produtividade têm potencial
para gerar efeitos na economia como um todo.
Cálculos
feitos pelo economista-chefe da LCA Consultores e pesquisador da Fundação
Getulio Vargas (FGV) Braulio Borges estimaram que o país, ao fim de 15 anos,
pode crescer de 20% a 33% mais, com um imposto simples e unificado, do que se
mantiver sua malha tributária e seu ritmo de crescimento atual.
Isto
seria possível graças ao “efeito direto da reforma sobre o ambiente de
negócios, a redução de distorções alocativas e a redução do custo do
investimento”, segundo o relatório do estudo.
·
Transparência
Para
o consumidor, a grande mudança é a transparência.
Como
a cobrança no modelo de valor agregado, como é o IVA, é mais direta, o
contribuinte deve passar a saber exatamente o quanto há de imposto em cada
produto ou serviço.
É
como já acontece com o Imposto de Renda ou o IOF, por exemplo, em que todos
sabemos exatamente a alíquota e o valor aplicado sobre o salário ou o pagamento
feito.
Hoje,
a corrente dos tributos do consumo é muito confusa e difícil de rastrear, e o
resultado é que ninguém sabe exatamente qual é o total efetivo de impostos
embutido no preço final de produtos que compramos.
Os
impostos são vários (PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS, etc.), recolhidos por
diversos entes (União, Estados e municípios) e variam conforme o local, o setor
e o regime tributário da empresa.
Além
disso, da maneira como está desenhada hoje, boa parte das cobranças é
sobreposta, o que gera a chamada cumulatividade.
O
IVA acaba com essa cascata e faz com que a carga total seja sempre a mesma do
começo ao fim.
Especialistas
estimam que este novo IVA unificado deve ser de 25%, mas a alíquota não está
definida e será regulamentada depois da reforma, após estudos da Receita
Federal.
·
Produtos essenciais mais baratos
A
reforma tributária prevê um novo imposto único e que terá uma alíquota, no geral,
única, ou seja, será a mesma para a grande maioria dos produtos.
A
estimativa de especialistas é que ela deve ser de 25%, nível de cobrança que
manteria, mais ou menos, a mesma arrecadação de hoje com os impostos atuais
(PIS, Cofins, ICMS e ISS).
Hoje,
as alíquotas podem variar enormemente entre os tipos de produtos e serviços.
O
projeto prevê, porém, desconto nesse imposto para alguns itens essenciais
específicos. Estes poderão pagar 50% ou menos da alíquota geral (ou seja,
12,5%, para uma alíquota de 25%). São eles:
- serviços de
educação;
- serviços de
saúde, dispositivos médicos e medicamentos;
- serviços de
transporte público coletivo urbano, semiurbano ou metropolitano;
- produtos
agropecuários, pesqueiros, florestais e extrativistas vegetais in natura;
- insumos
agropecuários, alimentos e produtos de higiene da cesta básica
- atividades
artísticas e culturais nacionais.
A
cesta básica, por exemplo, que poderá pagar o imposto menor, pode ficar, pelo
menos, 1,7% mais barata do que custa hoje, de acordo com cálculos feitos por
Eduardo Fleury, da FCR Law.
Ø
Todos
setores vão se beneficiar em médio e longo prazos, diz Armínio Fraga
O
ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga disse, nesta
terça-feira (4), em entrevista à CNN,
que todos os setores vão se beneficiar em médio e longo prazos caso a reforma
tributária seja aprovada no Congresso Nacional.
“Essa
loucura de 27 legislações enormes vai acabar. A estrutura do próprio imposto
vai ser simplificada. Isso tem imensas vantagens. A maioria dos munícipios vai
se beneficiar, mas eles não estão representados lá na discussão. E, mais do que
tudo, no final das contas, todos os setores, se nós olharmos no horizonte de
tempo de médio e longo prazo, vão se beneficiar. Essa é, talvez, a principal
reforma que está disponível”, afirmou Armínio.
“O
Congresso tem feito reformas importantes, nós temos que dar o crédito. Reforma
trabalhista, reforma da previdência, o Marco Legal do Saneamento, que o próprio
Congresso defendeu contra ataques. E acho que está, mais uma vez, na hora do
Congresso pensar grande, com coragem, e tocar esse projeto. É um projeto muito
arrumado”, prosseguiu.
O
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), deve levar a matéria ao plenário da
Câmara ainda nesta semana. Parte dos governadores estaduais, dos prefeitos de
grandes municípios e de setores específicos da economia, no entanto, resistem
ao texto.
Armínio
Fraga e outros 66 economistas divulgaram um manifesto nesta terça-feira
defendendo da reforma tributária na Câmara.
“Precisamos
aprovar a reforma tributária da PEC 45 em 2023.
Agora, temos a melhor janela para aprovação das últimas décadas — com
alinhamento político entre o Congresso, Governo Federal, maioria dos Estados e
Municípios e do setor privado”, defende o texto.
“Esta
é a nossa oportunidade de deixar um legado de prosperidade, transparência e
mais justiça em nosso país”, completa.
Os
economistas afirmam “reconhecer que não existe reforma tributária ideal”, mas
reiteram “confiar que a reforma tributária terá um efeito muito positivo sobre
a produtividade e o crescimento do país, além de reduzir desigualdades sociais
e regionais”.
Também
assinam o documento ex-presidentes de bancos públicos e instituições
financeiras internacionais, ex-secretários estaduais e representantes de
entidades, além de acadêmicos e atores do mercado financeiro.
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Confira os signatários da carta:
- Affonso Celso
Pastore –
Economista e ex-presidente do Banco Central;
- Andrea Calabi –
Ex-secretário do Ministério de Planejamento e Orçamento. Também foi
Secretário do Tesouro Nacional, Presidente do IPEA, Presidente do Banco do
Brasil e do BNDES, Secretário do Planejamento e Secretário da Fazenda do
Estado de São Paulo;
- Armínio Fraga –
Economista, ex-presidente do Banco Central do Brasil;
- Aod Cunha –
Economista, ex-secretário da fazenda, professor do curso de pós graduação
em finanças da PUC/RS;
- Bento Antunes
de Andrade Maia –
Economista e pesquisador do CCIF. Possui doutorado na UNICAMP, mestrado na
UFRJ;
- Bráulio Borges –
Graduado e mestre em teoria econômica pela FEA USP, é economista sênior da
LCA desde 2004 e pesquisador associado do FGV IBRE;
- Breno Ferreira
Martins Vasconcelos – Advogado. Pesquisador do Núcleo de Estudos
Fiscais da FGV-SP e do Núcleo de Pesquisas em Tributação do Insper;
- Bruno Carazza –
Professor e analista político e econômico;
- Carlos Eduardo
Navarro –
Advogado e mestre em Direito. Professor de Direito Tributário da FGV
Direito SP e IBDT. Pesquisador do NEF/FGV. Ex-juiz do TIT/SP;
- Carlos Eduardo
Xavier –
Presidente do COMSEFAZ, Secretário da Fazenda do Rio Grande do Norte,
Auditor Fiscal do Tesouro Estadual do RN, Mestre em Engenharia da Produção
pela UFRN;
- Celso Rocha de
Barros –
Doutor em sociologia pela Universidade de Oxford e colunista da Folha de
São Paulo;
- Cristiane
Alkmin Junqueira Schmidt – Ex-Secretária da Economia de
Goiás (fazenda, planejamento e orçamento) e Vice-Presidente do Comsefaz
(Conselho
dos Secretários de Fazenda) em 2023; - Edmar Bacha –
Economista. Parte da equipe econômica que projetou e implementou o Plano
Real, foi presidente do BNDES e é sócio-fundador e diretor
do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Graças (IEPE/CdG); - Edson
Domingues –
Professor Titular do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG.
Coordenador do Núcleo de Estudos em Economia Ambiental e Aplicada (NEMEA);
- Eduardo Fleury –
advogado e economista, consultor do Banco Mundial (World Bank Group);
- Ernesto
Lozardo –
Professor de economia da EAESP-FGV e ex-presidente do IPEA. Eurico de
Santi – Professor e coordenador do NEF da FGV Direito SP e Diretor do
- CCiF;
- Fabio Barbosa –
Administrador e Executivo;
- Fabio
Giambiagi –
Economista, com graduação e mestrado pela UFRJ. Funcionário do BNDES desde
1984. Ex-membro do sta do BID e ex-assessor do Ministério de Planejamento.
Foi Superintendente de Planejamento do BNDES;
- Fernanda de
Negri –
Diretora e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), doutora em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
com pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT);
- Fersen
Lambranho –
Engenheiro, Chairman da GP Investments;
- Germano
Rigotto –
Ex-Governador do Rio Grande do Sul e Presidente do Instituto Reformar de
Estudos Políticos e Tributários;
- Guido Mantega –
Ex-Ministro do Planejamento, ex-Presidente do BNDES, e ex-ministro da
Fazenda e pesquisador da FGV-SP;
- Glauco Arbix –
Professor titular da USP, pesquisador do Observatório da Inovação, do
Instituto de Estudos Avançados e do Center for Artificial
Intelligence-USP-Fapesp-IBM;
- Guilherme
Cezar Coelho –
Fundador da Samambaia.org e Instituto República.org;
- Helcio Tokeshi –
Ex-Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo;
- Isaías Coelho –
Pesquisador do Núcleo de Estudos Fiscais da FGV Direito SP;
- João Amoêdo –
Engenheiro e administrador;
- João Fernando
de Oliveira –
Vice-Presidente da Academia Brasileira de Ciências e Professor Titular da
Escola de Engenharia de São Carlos-USP. Ex-Diretor Presidente do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, co-fundador e primeiro
Presidente da EMBRAPII;
- José Alfredo
Graça Lima –
Embaixador;
- Jorge Gerdau –
Empresário e presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil
Competitivo;
- José Roberto
Mendonça de Barros – Economista, ex-secretário de Política
Econômica do Ministério da Fazenda, e ex-secretário-executivo da Câmara de
Comércio Exterior da Presidência da República;
- Larissa Luzia
Longo –
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Tributação do Insper;
- Laura Carvalho –
Economista, professora do Departamento de Economia da FEA-USP e diretora
global de equidade da Open Society Foundations;
- Leonel Pessoa – Doutor
em Direito pela USP e professor da FGV Direito SP;
- Maílson da
Nóbrega –
Economista, ex-ministro da Fazenda no período 1988-1990. É colunista da
revista Veja e mantém um blog na Veja online;
- Manoel Pires –
Economista, professor da FGV e da UnB e coordenador do Observatório de
Política Fiscal da FGV/IBRE. Foi Secretário de Política Econômica do MF e
Chefe da Assessoria Econômica do MPOG;
- Márcio G. P.
Garcia –
Economista, professor da PUC-Rio;
- Marco Aurelio
Cardoso –
Economista do BNDES, Mestre pela UFRJ, ex-Secretário de Fazenda do Estado
do Rio Grande do Sul (2019-2022) e ex-Secretário de Fazenda do Município
do Rio de Janeiro (2012-2016);
- Marco Bonomo –
Professor do Insper. PhD em Economia pela Princeton University;
- Marcos Mendes – Doutor
em economia e pesquisador Associado do Insper;
- Maria Carolina
Gontijo –
Advogada tributária, professora e dona do perfil Duquesa de Tax nas redes
sociais;
- Maria Cristina
Pinotti –
Economista, sócia da A.C. Pastore & Associados. Trabalhou nos
departamentos econômicos do BIB-Unibanco, Divesp e MB Associados;
- Mayara Felix –
Pesquisadora de pós-doutorado em Yale Cowles. Professor Assistente de
Economia e Assuntos Globais na Universidade de Yale;
- Marta Arretche –
Cientista política, professora titular do Departamento de Ciência Política
da USP;
- Melina Rocha –
Consultora Internacional e Diretora de Cursos da York University – Canadá.
Doutorado pela Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris 3;
- Nelson Machado –
Diretor do Centro de Cidadania Fiscal. Ex-ministro da Previdência social;
- Octavio de
Barros –
Economista, vice-presidente da CCBF-Câmara de Comércio França Brasil e
membro do conselho de empresas e instituições;
- Otaviano
Canuto –
Ex-Vice-presidente e diretor-executivo no Banco Mundial, diretor-executivo
no FMI e vice-presidente no BID;
- Pablo Moreira –
auditor-Fiscal da Receita Federal, Membro da Equipe Tax-Gap/RFB,
ex-Gerente de Estudos (GEST2/COEST/CETAD/RFB);
- Paulo Ribeiro –
Economista, coordenador e Professor do Insper;
- Pedro
Cavalcanti Gomes Ferreira – Economista, professor da
EPGE-FGV;
- Pedro Passos –
Empresário;
- Renata dos
Santos –
Economista, secretária de Estado da Fazenda de Alagoas. Já atuou em cargos
na Fazenda do Rio de Janeiro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e na
Eletrobras;
- Ricardo
Varsano –
Consultor de política tributária, ex-Economista Sênior do FMI e ex-diretor
de pesquisa do Ipea;
- Roberto Freire –
Advogado, político, constituinte na ANC – 1988 presidente do Cidadania 23
e ex-senador por Pernambuco;
- Roberto Rocha –
Ex-senador, deputado federal e estadual pelo estado do Maranhão. Foi
relator da PEC 110 no Senado;
- Rozane
Siqueira –
Professora titular do departamento de economia da UFPE, PhD em economia
pela University College London (UCL). Foi coordenadora de estudos
fiscais na SPE/MF;
- Ruy Ribeiro –
Economista e professor do Insper;
- Samuel Pessoa – Pesquisador
associado do FGV IBRE e chefe da pesquisa econômica do JBFO. Mestre em
física pela USP e doutor em economia pela FEA USP. Colunista da Folha de
SP;
- Sandra Rios – Senior
Fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e diretora
do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (CINDES);
- Sergio Fausto –
Diretor-executivo da Fundação FHC, membro do conselho de sócios do Cebrap,
assessor dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento (1996-2002);
- Sérgio Gobetti –
Pesquisador do IPEA, ex-Secretário Adjunto de Política Fiscal e Tributária
da SPE/Ministério da Fazenda e Doutor em Economia pela Universidade de
Brasília (UNB);
- Thomas Conti – doutor
em economia, professor do Insper e do Instituto de Direito Público
(IDP-SP);
- Valdir Moysés
Simão –
ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e Controladoria;
- Vanessa Rahal
Canado –
Doutora em direito pela PUC-SP. Ex-diretora do Centro de Cidadania Fiscal
(CCiF) e ex-assessora especial do Ministro da Economia para assuntos
relacionados à reforma tributária;
- Vitor Pereira –
professor do MPAM/Enap, doutor em economia pela PUC-Rio, especialista em
economia da educação, consultor e ex-diretor de avaliação da SAGI-MDS.
Fonte:
CNN Brasil
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