Você
também tem culpa disto: Maioria dos deputados baianos votou a favor do marco
temporal
A maioria dos deputados federais eleitos pela Bahia
votou a favor do Projeto de Lei nº 490, o marco temporal, aprovado pela Câmara
dos Deputados na noite desta terça-feira, 30. A proposta define a demarcação
apenas de terras que já eram ocupadas por povos indígenas antes da promulgação
da Constituição Federal de 1988.
Do total de 39 parlamentares baianos, 20 votaram
sim, enquanto 12 rejeitaram o texto-base do marco temporal. Outros sete deputados
federais eleitos pela Bahia estiveram ausentes da votação.
Os integrantes da Federação Brasil da Esperança,
formada por PT, PCdoB e PV, votaram contra o projeto. Já o União Brasil esteve
do lado contrário, votando em peso pela aprovação do marco temporal.
O PDT-BA ficou dividido, com o deputado federal
Félix Mendonça Jr. — presidente da legenda no estado — votando a favor e Leo
Prates se posicionando de forma contrária ao projeto.
>>>> Confira abaixo a lista completa de
como votou cada representante da Bahia na Câmara dos Deputados:
• Sim
Adolfo Viana (PSDB)
Alex Santana (Republicanos)
Arthur Maia (União Brasil)
Capitão Alden (PL)
Charles Fernandes (PSD)
Diego Coronel (PSD)
Elmar Nascimento (União Brasil)
Félix Mendonça Jr. (PDT)
Gabriel Nunes (PSD)
José Rocha (União Brasil)
João Carlos Bacelar (PL)
Leur Lomanto Jr. (União Brasil)
Márcio Marinho (Republicanos)
Mário Negromonte Júnior (PP)
Neto Carletto (PP)
Otto Alencar Filho (PSD)
Paulo Azi (União Brasil)
Paulo Magalhães (PSD)
Roberta Roma (PL)
Rogéria Santos (Republicanos)
• Não
Alice Portugal (PCdoB)
Bacelar (PV)
Jorge Solla (PT)
Joseildo Ramos (PT)
Josias Gomes (PT)
Leo Prates (PDT)
Lídice da Mata (PSB)
Pastor Sargento Isidório (Avante)
Ricardo Maia (MDB)
Valmir Assunção (PT)
Waldenor Pereira (PT)
Zé Neto (PT)
• Ausentes
Antonio Brito (PSD)
Claudio Cajado (PP)
Dal Barreto (União Brasil)
Daniel Almeida (PCdoB)
Ivoneide Caetano (PT)
João Leão (PP)
Raimundo Costa (Podemos)
ídice
critica aprovação do marco temporal: “Dia de Tristeza”
A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) criticou
a aprovação do Projeto de Lei nº 490 de 2007, conhecido como marco temporal das
terras indígenas. O PL, que limita a demarcação de terras àquelas que já eram
ocupadas por indígenas antes da promulgação da Constituição de 1988, foi
aprovado na noite desta terça-feira, 30, pela Câmara dos Deputados.
"Nós tivemos hoje um dia de tristeza em ver a
Câmara votar por ampla maioria um marco temporal das terras indígenas. Ou seja,
que determina que elas só sejam reconhecidas, sem avanço na demarcação de novos
territórios”, lamentou Lídice.
Com 283 votos a favor e 155 votos contra na Câmara
dos Deputados, o marco temporal das terras indígenas segue agora para o Senado
Federal. Para Lídice, defender os povos originários é pensar o desenvolvimento
do Brasil com sustentabilidade ambiental.
"Eles são os povos originários do Brasil, os
verdadeiros brasileiros que lutaram para obter seu reconhecimento na Constituição
e hoje lutam para ter seus direitos
efetivos reconhecidos e não suprimidos”, avaliou a deputada.
Ministério
dos Povos Indígenas diz que marco temporal é "genocídio"
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) divulgou nota
nesta terça-feira, 30, em que classificou a aprovação do marco temporal pelos
deputados federais como um “genocídio legislado”. A Câmara dos Deputados
aprovou na noite de hoje o projeto de lei que estabelece o marco temporal para
demarcação de terras indígenas. O projeto segue agora para o Senado.
Pelo projeto aprovado, serão consideradas terras
tradicionais, passíveis de demarcação, as que foram ocupadas pelos povos
indígenas até 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Após
essa data, as áreas não poderão ser demarcadas.
“O PL 490
representa um genocídio legislado porque afeta diretamente povos indígenas
isolados, autorizando o acesso deliberado em territórios onde vivem povos que
ainda não tiveram nenhum contato com a sociedade, nem mesmo com outros povos
indígenas, cabendo ao Estado brasileiro atuar também pela proteção dos
territórios onde vivem estes povos”, diz a nota.
Nas redes sociais, a ministra Sonia Guajajara
afirmou que o PL é “um ataque grave aos povos indígenas e ao meio ambiente.
Seguimos lutando pela vida. Ainda no Senado, dialogaremos para evitar a
negociação de nossas vidas em troca de lucro e destruição. Não desistiremos!”.
O dia foi marcado por protestos de indígenas e
manifestações de diversas entidades contra o projeto.
Pela manhã, indígenas guarani, que vivem no Pico do
Jaraguá, em São Paulo, bloquearam a Rodovia dos Bandeirantes, na altura do km 20,
no sentido São Paulo, para protestar.
“Recuar, para nós, não é uma opção. Vamos resistir,
vamos nos posicionar e, se tentarem fazer reintegração de posse a qualquer
terra indígena, é necessário entender que vão precisar tirar nossa vida. O
território é o que nós somos. Se tiver que resistir, se tiver que lutar, se
tiver que tombar para que outros continuem erguidos na luta, vamos fazê-lo.
Recuar, para nós, não é opção. Independentemente de qualquer ameaça que se
coloque à nossa vida, são mais de 500 anos sob essa violência, são mais de 500
anos dessa ignorância e não vai ser nessa geração, na minha geração, que vamos
nos curvar”, disse Thiago Karai Djekupe, lideranças da terra indígena Jaraguá,
à Agência Brasil.
A Polícia Militar (PM) usou bombas de gás e jatos de
água contra os manifestantes.
O escritório da Organização das Nações Unidas (ONU)
para Direitos Humanos na América do Sul divulgou alerta cobrando das
autoridades brasileiras “medidas urgentes em prol dessas populações, conforme
as normas internacionais de direitos humanos”. Segundo o órgão, iniciativas
como essa, do Congresso Nacional, “arriscam a proteção dos povos indígenas no
país”..
A organização internacional Human Rights Watch
também manifestou grande preocupação com a votação do marco temporal. Em
comunicado, a organização disse que “o Congresso brasileiro deveria rejeitar um
projeto de lei que adota marco temporal arbitrário para o reconhecimento de
terras indígenas”.
Servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas
(Funai) realizaram, no início da tarde, uma vigília, em protesto.
• Lula
convoca reunião de emergência para discutir derrotas na Câmara
O placar desfavorável na votação do Marco Temporal
na Câmara, que foi a quinta derrota do Palácio do Planalto desde que Lula (PT)
assumiu a Presidência da República, em 1º de janeiro, provocou a necessidade de
uma reunião de urgência, convocada pelo chefe do Executivo Federal.
Lula, o líder do governo na Câmara, José Guimarães
(PT-CE), e os ministros da Casa Civil e das Relações Institucionais, Rui Costa
e Alexandre Padilha, conversaram sobre as derrotas do governo e sobre a Medida
Provisória que trata da reestruturação ministerial, na noite desta terça-feira,
30, segundo informações da Folha de S. Paulo.
Nesta quarta-feira, 31, o governo tentará mais uma
vez aprovar a Medida Provisória, que seria analisada nesta terça-feira, 30, mas
acabou adiada. O Palácio do Planalto tem até a noite de quinta-feira, 1º, para
aprovar a proposta no plenário da Câmara e em seguida no plenário do Senado.
Governo
aposta em Senado e STF para tentar frear marco temporal e pressão de ruralistas
Após ser derrotado na Câmara dos Deputados nesta
terça-feira (30), o governo do presidente Lula (PT) aposta no Senado e no STF
(Supremo Tribunal Federal) para tentar frear a aprovação da tese do marco
temporal para terras indígenas.
A expectativa é que o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), dê à pauta tramitação lenta, passando por comissões temáticas
e novas análises técnicas.
Assim, ele não seria apreciado antes do retorno do
julgamento do Supremo sobre o tema - marcado para o próximo dia 7 de junho.
Como mostrou a Folha, texto avançou na Câmara como
uma estratégia do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e da bancada
ruralista para se antecipar à apreciação do STF, uma vez que a tendência na
corte é que o marco seja derrubado.
A tese do marco temporal, defendida pela FPA (Frente
Parlamentar da Agropecuária), determina que as terras indígenas devem se
restringir à área ocupada pelos povos na data da promulgação da Constituição
Federal de 1988. O principal argumento a favor da medida é o de garantir
segurança júridica.
Os indígenas refutam a ideia e argumentam que, pela
Constituição, têm direito a seus territórios originais, não limitados por uma
determinada data.
Horas antes da votação na Câmara, a ministra dos
Povos Indígenas, Sonia Guajajara, se reuniu com Pacheco para debater o tema.
No encontro, o presidente do Senado afirmou que,
dentre outras coisas, analisará a constitucionalidade do projeto -ponto questionado
por parlamentares que se opõe ao texto- e garantiu que a tramitação passará por
comissões, à exemplo dos projetos do licenciamento ambiental e da regularização
fundiária.
A interlocutores, Pacheco tem dado como exemplo a
tramitação do projeto de lei dos defensivos agrícolas -apelidado por críticos
de PL do Veneno-, que libera o uso de novos agrotóxicos no país e foi enviado
recentemente à Comissão de Meio Ambiente da Casa, mesmo estando pronto para
votação no plenário.
A estratégia do governo, agora, é esperar que o
julgamento do caso seja mais rápido no Supremo. A votação está 1 a 1 e foi
suspensa após pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes.
"A ideia é repetir [a estratégia do PL dos
agrotóxicos]. Chamar todos [para debater]. Há o compromisso do presidente
Rodrigo Pacheco em relação à política ambiental. Ele sempre deixou muito claro
que todo trâmite ele vai levar em consideração", afirma a senadora
Eliziane Gama (PSD-MA).
"Vamos passar a fazer o debate à altura que
deve fazer. Passar nas várias comissões e tentar construir acordos. Agora, do
jeito que foi na Câmara eu tenho a segurança de te dizer que aqui no Senado não
será assim", completa a senadora, que é coordenadora da bancada
ambientalista do Senado.
Mesmo senadores da bancada ruralista esperam que a
tramitação na Casa seja mais lenta que na Câmara e admitem que, caso o texto
seja julgado inconstitucional pelo STF, o projeto de lei perde seu objeto e
pode cair.
O entendimento, no entanto, é que, ao demonstrar que
o projeto está caminhando no âmbito do Legislativo, ministros do Supremo se
sintam desconfortáveis em decidir sobre o tema.
"Aqui a Casa é um pouco diferente, a dinâmica.
Nós temos que ter um pouco mais de calma. O PL vai exigir bastante energia aqui
porque não é um tema que os senadores estão [familiarizados]", afirma a
senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro
(PL) e líder do PP no Senado.
"O lugar para essa discussão é aqui. Câmara e
Senado", completa a ex-ministra, reiterando que espera que os ministros do
Supremo deixem o tema ser decidido pelos parlamentares.
Tanto o projeto dos agrotóxicos quanto o marco
temporal são pautas que dividem o governo e opõem Sonia Guajajara e o ministro
da Agricultura, Carlos Fávaro, que apoia as duas pautas publicamente.
"Defendo a pacificação. Compreendo que os povos
indígenas precisam em alguns pontos de uma atenção especial, de um pedaço maior
de terra, mas isso não pode ser em detrimento de produtores que estão há
centenas de anos com propriedades tituladas. Então precisamos achar um bom
termo. Acredito que isso vai acontecer com moderação", afirmou Fávaro no
Senado nesta terça.
Fávaro esteve na Casa para debater também o projeto
dos agrotóxicos junto a Pacheco, Tereza Cristina e o líder do PT, Fabiano Contarato
(PT-ES) -que é relator da proposta na Comissão de Meio Ambiente.
Na Câmara, o acordo feito entre Lira e a FPA foi
que, tão logo o STF marcasse a data para a votação, o texto do marco temporal
seria pautado. Assim, a bancada ruralista espera pressionar o Judiciário a
deixar que o Legislativo decida dobre a tese.
Por isso, o projeto foi eleito como prioridade da
frente nas últimas semanas, após a vitória no relatório da medida provisória
dos ministérios -que desidratou as pastas de Marina Silva (Meio Ambiente) e
Sonia Guajajara (Povos Indígenas).
Na reunião de líderes da Câmara antes da votação,
Lira disse que retiraria o marco temporal da pauta caso o STF desmarcasse o
julgamento da próxima semana. Integrantes do governo Lula tentaram adiar a
votação, mas sem sucesso.
Por outro lado, integrantes do próprio Ministério
dos Povos Indígenas conversaram com o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de
Relações Institucionais) dizendo que não interessa à pasta que o STF retire o
julgamento da pauta. Por isso, pediram cautela à articulação política.
A proposta alternativa do governo era a criação de
um grupo entre o Palácio do Planalto, Congresso e Supremo. Líderes da bancada
ruralista acreditam que essa ideia até poderia funcionar para criar consenso na
disputa, mas desde que não adiasse a discussão do projeto no plenário.
Fonte: A Tarde/FolhaPress
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