domingo, 25 de junho de 2023

UE e EUA montam reunião com países do Sul Global para pressionar 'neutralidade'; Brasil comparecerá

Em cúpula com nomes de peso como o norte-americano Jake Sullivan, Washington e o bloco europeu tentam cortejar países que ainda optam pela neutralidade diante do conflito Rússia-Ucrânia. A intenção também é discutir plano de paz ucraniano.

Em uma reunião que acontecerá neste final de semana na Dinamarca, altos funcionários dos Estados Unidos e da União Europeia se reunirão com diplomatas de vários países do Sul Global em um esforço para envolver as principais nações que permaneceram neutras diante da operação russa na Ucrânia.

Entre as autoridades, estarão o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, a chefe de gabinete da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e um alto funcionário ucraniano, segundo pessoas familiarizadas com o assunto citadas pela Bloomberg.

A mídia afirma que, embora a reunião não deva ter uma agenda formal, um dos principais objetivos do encontro será discutir a fórmula de paz de Vladimir Zelensky e o esforço do presidente ucraniano para realizar uma cúpula global sobre as propostas, conhecida como Cúpula da Paz.

Kiev tem pressionado para realizar uma reunião global sobre o plano de paz, mas os principais aliados relutam em definir uma data firme sem uma adesão mais ampla de outros países, afirma a mídia.

O Brasil já confirmou presença e será representado pelo principal assessor diplomático do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, segundo uma fonte que pediu para não ser identificada porque os planos são privados.

Já a China ainda não confirmou se comparecerá e a lista completa de participantes não foi finalizada, entretanto, África do Sul e Índia estão confirmados.

A reunião no país europeu seria uma extensão dos objetivos ucranianos no G7 realizado em maio no Japão, quando Zelensky decidiu ir à cúpula em uma tentativa de estabelecer diálogo com nações neutras ao conflito como Índia e Brasil.

Apesar presidente ucraniano ter se reunido com o líder indiano Narendra Modi, ainda assim, Nova Deli e outros países do BRICS não aderiram às sanções da UE e dos EUA contra Moscou. Alguns forneceram ao presidente Vladimir Putin níveis variados de apoio e permaneceram neutros.

Ainda no G7, houve um mal-estar grande entre Lula e o líder ucraniano, visto que a delegação brasileira esperou por Zelensky na hora marcada, mas ele não apareceu.

Depois, Zelensky disse que a reunião não ocorreu por "falta de interesse do Brasil". Entretanto, o Itamaraty lançou nota dizendo que ofereceu três horários diferentes a Kiev para o encontro, conforme noticiado.

A reunião na Dinamarca ocorre no momento em que a contraofensiva ucraniana teve um progresso inicial lento, como o próprio Zelensky verbalizou nesta semana.

•        Sul Global não adotará postura pró-ucraniana apesar da pressão dos EUA, acredita especialista

Os países do Sul Global agirão de acordo com seus próprios interesses e não serão inequivocamente pró-ucranianos, apesar da ativa pressão informacional dos EUA em relação à crise ucraniana, disse o especialista em relações internacionais Ivan Timofeev à Sputnik.

Anteriormente, o Financial Times citou fontes que afirmaram que o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, e a subsecretária de Estado dos EUA para Assuntos Políticos Victoria Nuland vão viajar para Copenhague em 24 e 25 de junho para uma reunião com representantes do Brasil, Índia, África do Sul e Turquia para discutir a situação na Ucrânia.

Não há informações de que a China participará da reunião de alto nível. Conforme observado pelo jornal, Kiev solicitou a reunião com países que não condenaram as ações da Rússia.

O especialista lembrou que, desde o início da operação especial, Washington tem comunicado ativamente com países que se distanciaram da avaliação americana do conflito ou não manifestaram posições pró-ucranianas.

"O objetivo desse evento é, por um lado, dar continuidade a esses esforços e, por outro lado, mostrar que os EUA têm seu próprio diálogo com o Sul Global e que não há contradição existencial entre eles. Dessa forma, eles querem minar uma das teses promovidas pela Rússia relacionada ao fato de que há uma mudança fundamental na ordem mundial, onde o Sul Global está se fortalecendo gradualmente", disse Timofeev.

Ele acredita que os Estados Unidos querem tomar a iniciativa nesta "batalha de narrativas" e provavelmente apresentar a tese de que respeitam a autonomia dos países não ocidentais e estão dispostos a cooperar com eles.

Os EUA presumem que é de seu interesse não ter um "não-Ocidente" consolidado, observou Timofeev, mas os próprios países do Sul Global seguirão seus próprios interesses em primeiro lugar, já que há pessoas pragmáticas nesses países que manterão uma política multivetorial.

Segundo ele, os países do Sul Global não vão rejeitar totalmente a cooperação com o Ocidente, mas as relações com a Rússia também são benéficas para eles.

"Ao se distanciarem do conflito ucraniano, não apoiando Kiev e, ao mesmo tempo, evitando qualquer apoio inequívoco à operação militar especial, eles deixam espaço de manobra e não se prendem a uma única posição. Portanto, é do interesse deles continuar com sua política, ou seja, defender um acordo pacífico, mas evitar uma clara associação com a posição de Kiev ou do Ocidente", enfatizou.

 

       Qual o objetivo dos EUA ao discutir contratos militares com a Índia? Especialista explica

 

O premiê da Índia está de visita aos EUA, onde é planejada a assinatura de contratos de armamentos entre os dois países. Um veterano do Exército indiano explicou qual poderá ser a natureza da iniciativa.

Durante a atual visita de Estado de Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia aos EUA, Nova Deli e Washington devem fechar acordos de defesa no valor de bilhões de dólares.

Em troca da transferência de tecnologia crítica de armamentos para Nova Deli, os americanos terão o grande mercado de defesa indiano para vender seus produtos, disse na quinta-feira (22) um veterano do Exército da Índia à Sputnik.

Nova Deli é o maior comprador de equipamentos de defesa do mundo, com uma participação global de 11%, "então os EUA terão um grande mercado de defesa para vender seus produtos", disse o major-general Shashi Asthana.

Na opinião de Asthana, que participou da guerra entre a Índia e o Paquistão em 1999, a longo prazo, Washington está tentando desalojar Moscou como maior fornecedor de equipamentos militares da Índia. Neste momento, os EUA ocupam o terceiro lugar, atrás da Rússia e da França, entre os principais fornecedores de armas e munições para a Índia.

Se todos os acordos que estão sendo negociados durante a visita de Estado forem assinados, os EUA destronarão o lugar da França, prevê o especialista. Ao mesmo tempo, ele acha que um dos objetivos dos norte-americanos é retirar a Rússia do primeiro lugar e se tornarem o maior exportador de armas para a Índia, mas que isso é difícil, "porque a maior parte do nosso equipamento é de fabricação russa e, em segundo lugar, a Índia está tentando se tornar autossuficiente".

"Estamos tentando reduzir a compra de armamentos de todo mundo, seja da América, da França ou da Rússia", sublinhou o oficial.

Além disso, explicou, durante a visita será discutida a transferência de tecnologia de plataformas vitais de defesa dos EUA para a Índia. Ele é de opinião que os EUA compartilharão uma quantidade razoável de tecnologia, mas haverá custos, pois qualquer transferência de equipamento militar sofre um custo acrescido quando há também transferência de tecnologia (ToT, na sigla em inglês).

"Nenhum país oferece 100% de transferência de tecnologia. Então, em geral, eles normalmente oferecem 80% de ToT, e talvez seja isso que os EUA estejam prometendo. Há alguns aspectos em que eles acham que a absorção tecnológica pode ser difícil. Portanto, sempre há uma parte da ToT que é de tecnologia sensível e que não é compartilhada", referiu o veterano.

Segundo ele, a natureza da ToT dependerá de cada equipamento militar individual.

 

       Novos acordos entre Alemanha-EUA farão de Washington o maior fornecedor de GNL para Berlim

 

A Alemanha assinou um segundo contrato com duração de duas décadas nesta semana para importar mais gás natural liquefeito dos EUA, enquanto o país europeu se distancia cada vez mais da energia russa.

Nesta semana, a Securing Energy For Europe (SEFE) – empresa nascida da nacionalização alemã da estatal russa Gazprom – comprará 2,25 milhões de toneladas anualmente durante 20 anos do gás super-resfriado da Venture Global LNG, uma desenvolvedora norte-americana de localizada no golfo do México.

Segundo Egbert Laege, executivo-chefe da SEFE, o negócio marca "outro passo importante em nossa missão de garantir energia para os clientes europeus" e "contribuirá para uma maior diversificação e sustentabilidade" dos suprimentos do continente.

Já o executivo-chefe da Venture Global, Mike Sabel, elogiou a "parceria estratégica" com a Alemanha, dizendo que sua empresa estava "honrada em apoiar um importante aliado dos EUA".

O acordo é o segundo de 20 anos da Alemanha com a Venture Global, após um de 2 milhões de toneladas por ano pela concessionária alemã EnBW. Os negócios assinados farão da empresa norte-americana a maior fornecedora de GNL do país europeu, de acordo com o The Financial Times.

As exportações do combustível dos EUA para a Europa dispararam no ano passado à medida que a crise energética se aprofundava e os preços do gás subiam, com embarques de mais de 40 milhões de toneladas aliviando a escassez de oferta.

O Estado alemão, que passou décadas construindo seu setor industrial com a parceria russa, foi especialmente exposto a perdas com a política de sanções da União Europeia e as misteriosas explosões no ano passado que demoliram partes do sistema de gasodutos Nord Stream da Rússia.

A mídia relembra que apenas algumas semanas após o começo da operação russa na Ucrânia, o presidente dos EUA, Joe Biden, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciaram um pacto estratégico sob o qual as empresas da UE procurariam garantir mais demanda por GNL estadunidense.

O jornal também acrecenta que os 48 estados dos EUA só começaram a produzir GNL em 2016, mas os projetos da costa do golfo em construção de empresas como Cheniere, Venture Global e ExxonMobil farão do país o maior exportador mundial de longe.

Os exportadores norte-americanos assinaram contratos para fornecimento futuro no valor de mais de 70 milhões de toneladas ao ano desde o início de 2021, de acordo com a S&P Global citada pelo Financial Times.

•        Reserva estratégica de petróleo dos EUA cai para mínimos de 1983, revelam dados

O Departamento de Energia dos EUA divulgou as informações sobre as reservas petrolíferas do país norte-americano, que sofreram um novo revés na última semana.

A reserva estratégica de petróleo dos EUA caiu em 1,7 milhão de barris, ou 0,5%, para 350 milhões de barris na semana até a última sexta-feira (16), informou uma análise semanal da Administração de Informações de Energia do Departamento de Energia do país norte-americana.

Ela caiu assim para o seu nível mais baixo desde a semana que terminou em 26 de agosto de 1983, quando a reserva estratégica era de 349 milhões de barris de petróleo, explica o relatório publicado na quinta-feira (22).

A reserva estratégica de petróleo dos EUA tem diminuído continuamente desde setembro de 2021. O número permaneceu inalterado entre janeiro e março deste ano e depois começou a cair novamente.

Em 2022 Joe Biden, presidente dos EUA, anunciou a liberação de um total de 180 milhões de barris de petróleo da reserva estratégica para reduzir os preços domésticos da gasolina. Ele foi criticado por oponentes políticos por, na opinião deles, esvaziar a reserva sem uma necessidade urgente.

Em 16 de maio de 2023 o Departamento de Energia dos EUA anunciou que compraria até três milhões de barris de petróleo para reabastecer a reserva estratégica do país. Ele observou que a agência pretende comprar petróleo "a um preço inferior ao seu preço médio de venda em 2022, de US$ 95 [R$ 455] por barril".

Posteriormente, em 13 de junho, a agência norte-americana Bloomberg citou fontes que afirmaram que os EUA pretendem comprar cerca de 12 milhões de barris no total para a reserva estratégica em 2023.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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