segunda-feira, 26 de junho de 2023

Remédio pode frear a formação de bactérias resistentes a antibióticos

Cientistas estimam que, a partir de 2050, poderão ocorrer 10 milhões de mortes todos os anos em decorrência das superbactérias. Um estudo publicado, no ano passado, na revista Lancet indica que, aproximadamente, 1,3 milhão de pessoas morreram em 2019 em razão do mesmo problema. Na busca por soluções para amenizar a gravidade desse cenário, pesquisadores do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, descobriram uma droga capaz de retardar a resistência desses micro-organismos às drogas disponíveis. O trabalho, divulgado, ontem, na revista Science Advances, comprova que, em culturas de laboratório e modelos animais, o cloreto de dequalínio (DEQ) prolonga a eficácia dos antibióticos.

No ensaio liderado por Susan Rosenberg, os estudiosos buscaram medicamentos que pudessem impedir ou retardar o desenvolvimento de resistência da bactéria Escherichia coli a dois antibióticos quando exposta a um terceiro: o ciprofloxacina (cipro), que é o segundo mais prescrito nos Estados Unidos e também tem tido o efeito reduzido em razão de patógenos resistentes.

Segundo os autores, a resistência a antibióticos acontece, principalmente, em micro-organismos que desenvolvem novas mutações, e não pela aquisição de genes de outras bactérias. A abordagem testada fez com que o DEQ reduzisse a velocidade de formação de novas mutações na E.Coli, que, em humanos, é o principal responsável por infecções urinárias. "Conseguimos esse efeito de desaceleração da mutação em baixas concentrações de DEQ, o que é promissor para os pacientes", comemora, em nota, Yin Zhai, um dos autores.

Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, detalha como ocorre esse mecanismo de resistência. "Se há um uso de antibióticos em dosagens muito baixas ou por tempo alongado, as bactérias que são sensíveis morrem. Mas algumas são deixadas, e isso vai promover uma seleção. Ou seja, a bactéria que, inicialmente, é fraca diante um antibiótico vai morrer, aquela que é mais adaptada a viver e a combater aquele antibiótico vai se adaptar ainda mais e passar isso para outras gerações e se tornar mais forte."

•        Inédito

Segundo os autores, esse foi o primeiro artigo a mostrar que, em infecções animais tratadas com ciprofloxacina, a bactéria ativa um processo mutacional genético induzido por estresse. Em estudos anteriores, a mesma equipe detectou um "programa" mutacional que é ativado por respostas bacterianas ao estresse. Trata-se de programações genéticas que instruem as células a aumentar a produção de moléculas protetoras diante de fenômenos não esperados, como a baixa concentração de antibióticos — quando, por exemplo, o tratamento é finalizado ou interrompido.

No trabalho, a equipe avaliou 1.120 medicamentos aprovados para uso humano e com capacidade de diminuir a resposta bacteriana ao estresse. Além disso, o grupo quis observar drogas "furtivas", que não diminuíam a proliferação bacteriana, dando, assim, vantagem de crescimento a quaisquer bactérias mutantes que resistissem à substância que retardaria as mutações.

"Descobrimos que o DEQ preenchia ambos os requisitos. Administrado junto com o cipro, ele reduziu o desenvolvimento de mutações que conferem resistência a antibióticos tanto em culturas de laboratório quanto em modelos animais de infecção, e as bactérias não desenvolveram resistência ao DEQ", relata, em nota, Zhai. A equipe, agora, planeja avaliar os efeitos em ensaios clínicos, com humanos.

Na avaliação de Werciley Júnior, apenas o uso desse medicamento associado aos antibióticos não vai conseguir controlar o desenvolvimento de resistência. "Não adianta você só usar uma droga dessa forma. Você tem que combater o uso abusivo dos antibióticos associado à utilização dessa substância apresentada no estudo. Quando o tratamento é direcionado, pode-se potencializá-lo. Dessa forma, combatemos o quadro com o remédio correto e a dose correta", explica.

 

       Cientistas "descongelam" e transplantam rins de rato pela 1ª vez

 

Pela primeira vez na história, cientistas da Universidade de Minnesota Twin Cities, nos Estados Unidos, congelaram, "descongelaram" e transplantaram rins em um rato, restaurando a função renal do animal completamente. O resultado animou a equipe envolvida no estudo, pois pode ser uma estratégia de armazenamento a longo prazo de órgãos para transplante, com a possibilidade de aplicação em humanos. A técnica utilizada na pesquisa é a de criopreservação.

"Esta é a primeira vez que alguém publica um protocolo robusto para armazenamento a longo prazo, reaquecimento e transplante bem-sucedido de um órgão funcional preservado em um animal. Todas as nossas pesquisas ao longo de mais de uma década e de nossos colegas de campo mostraram que esse processo deveria funcionar, que poderia funcionar, mas agora mostramos que realmente funciona", explicou John Bischof, coautor sênior do estudo, em comunicado da universidade.

Nos Estados Unidos, cerca de 20% dos rins doados para transplante por ano não podem ser usados, porque esses órgãos não devem ser mantidos no gelo por mais de algumas horas. Técnicas criopreservação e resfriamento de órgãos já existem há um tempo, mas o principal desafio é reaquecê-los sem grandes danos. A equipe da Universidade de Minnesota Twin Cities desenvolveu um método de nanoaquecimento, que aqueceu o rim de maneira uniforme e também interna, não apenas na superfície.

"Seu método revolucionário usa nanopartículas de óxido de ferro dispersas em uma solução crioprotetora que é liberada através dos vasos sanguíneos do órgão. As nanopartículas de óxido de ferro atuam como minúsculos aquecedores em todo o órgão quando ativadas por meio de ondas eletromagnéticas não invasivas", pontua o comunicado da universidade.

No estudo, a equipe mostrou que o rim do rato pode ser armazenado criogenicamente por até 100 dias, reaquecidos, limpos de fluidos crioprotetores e nanopartículas e depois transplantados nos animais, que tiveram a função renal restaurada em 30 dias. "Durante as primeiras duas a três semanas, os rins não estavam em pleno funcionamento, mas em três semanas eles se recuperaram. Em um mês, eles estavam com rins totalmente funcionais, completamente indistinguíveis de transplantes de um órgão fresco", disse o pesquisador Erik Finger.

Os pesquisadores continuarão estudando as possibilidades de criopreservação e transplante. Eles pretendem estudar e testar rins de porco. "É importante ressaltar que, embora demonstrada no rim, essa abordagem pode um dia ser aplicada em órgãos transplantados e também permitir o armazenamento a longo prazo de órgãos e tecidos para pesquisas biomédicas e farmacológicas", afirma a equipe. O estudo foi publicado na revista Nature Communications

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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