PF
ainda prepara pedido de cooperação internacional no caso Mauro Cid
A Polícia Federal (PF) ainda não enviou o pedido de
cooperação internacional para os Estados Unidos na investigação de potenciais
crimes cometidos por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Investigadores querem mapear o rastro do dinheiro
que Cid trouxe do exterior. Em sua casa em Brasília, foram encontrados US$ 35
mil.
Como mostrou o repórter Arthur Guimarães, a família
de Cid fez aquisições milionárias nos Estados Unidos nos últimos anos. O
patrimônio imobiliário também está na mira da PF.
A PF está terminando de fazer a perícia nas
comunicações de Cid e deve enviar um pedido de cooperação internacional depois,
quando estiver mais claro quais informações deverão ser demandadas do
Departamento de Justiça (DOJ) norte-americano.
• Mensagens
de Cid mostram reunião secreta de Bolsonaro com vice-PGR Lindôra
Uma das reuniões secretas que o ex-presidente Jair Bolsonaro
teve com a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, ocorreu em um
dos momentos mais letais da pandemia do coronavírus, em 26 de março de 2021. O
registro está nas mensagens do celular do tenente-coronel Mauro Cid, analisadas
pela Polícia Federal (PF).
O ex-presidente tinha o hábito de se encontrar fora
da agenda com Lindôra Araújo desde 2020, como mostrou a coluna, após o deputado
federal Alberto Fraga, na época amigo de Bolsonaro, apresentar os dois.
Bolsonaro chegou a prometer, num desses encontros, nomear Lindôra para a PGR,
mesmo sendo ela a pessoa designada na época pelo procurador-geral, Augusto
Aras, a analisar pedidos de investigação criminal contra o então presidente.
Atualmente, a vice-PGR é responsável por acompanhar
o inquérito que investiga Cid. Ao longo do ano passado, ela se manifestou
diversas vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a anulação das provas
obtidas com a quebra de sigilo telemático do ex-ajudante de ordens.
Na ocasião, Cid pediu a um outro ajudante de ordens
de Bolsonaro para buscar Lindôra em seu apartamento e a levar ao Palácio do
Planalto.
O assessor, identificado como tenente Alencar,
perguntou então se deveria “levar ela para sala de espera do Gab PR ou deixar
na região do mezanino”. A resposta está em um áudio a que a coluna não teve
acesso.
Às 9h19, Alencar informou que outro ajudante de
ordens, Chagas, estava chegando ao Palácio do Planalto com Lindôra.
Na época da reunião, Bolsonaro estava sob pressão,
com um número recorde de pedidos de investigação contra ele pendentes na PGR.
A coluna questionou Lindôra Araújo sobre o motivo do
encontro e por que ele permaneceu secreto, mas não teve resposta.
A vice-PGR já se manifestou diversas vezes de forma
favorável a Jair Bolsonaro. Em novembro do ano passado, ela pediu ao STF o
arquivamento de três pedidos para investigar o ex-presidente.
Já neste ano, ela opinou contra a busca e apreensão
na residência de Michelle e Jair Bolsonaro no caso das carteiras de vacinação
falsas, argumentando que o ex-presidente não necessariamente sabia da fraude
cometida em seu nome.
• Mensagens
mostram Cid orientando transações em dinheiro vivo para pagar despesas de
Michelle e parentes
Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram o
tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro,
orientando que despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de parentes
fossem pagas em dinheiro vivo.
As mensagens mostram ainda Mauro Cid indicando às
assessoras que depositassem valores em uma conta bancária de Michelle.
A comunicação entre os funcionários da Ajudância de
Ordens da Presidência da República – que atendia Jair Bolsonaro e Michelle –
mostra que os pagamentos dessas despesas eram feitos sempre da mesma forma: em
dinheiro vivo e de forma fracionada.
Essa prática, segundo a Polícia Federal, dificulta a
identificação de quem enviou o dinheiro.
• Indícios
de desvio
No relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF
diz ver indícios de desvio de dinheiro público, em valor ainda a ser apurado.
Em 2022, o ministro do STF Alexandre de Moraes
autorizou a quebra do sigilo fiscal e telemático de sete pessoas para verificar
possíveis irregularidades nessas transações.
A apuração começou em 2021, após a quebra de sigilo
de mensagens de Mauro Cid. O tenente-coronel é investigado no inquérito sobre o
vazamento de dados sigilosos – de uma investigação não concluída do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) – com o objetivo de atacar o sistema eleitoral.
Mauro Cid Barbosa foi preso no início deste mês por
suspeita de falsificar o comprovante de vacinação dele, de familiares, de
Bolsonaro e da filha do ex-presidente.
Os indícios para essa investigação surgiram também
da quebra de sigilo das mensagens do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
• O que
dizem as mensagens
As conversas obtidas pela Polícia Federal a partir
da quebra de sigilos incluem recibos de depósitos financeiros, enviados por
ajudantes de ordens da Presidência em um grupo de aplicativo de mensagens.
Nesse grupo, os funcionários que atendiam Bolsonaro e
Michelle pediam a quitação de despesas da então primeira-dama e de parentes
dela – e enviavam, em seguida, os comprovantes de pagamento.
Em uma dessas mensagens, a assessora Giselle da
Silva pede que Mauro Cid fizesse pagamentos mensais a Rosimary Cardoso Cordeiro
– amiga de Michelle Bolsonaro.
A Polícia Federal identificou seis depósitos do tipo
para Rosimary, entre fevereiro e maio de 2021. Os valores somam R$ 10.133,06.
<<< A PF encontrou, ainda:
• seis
comprovantes de depósitos feitos por Mauro Cid diretamente para Michelle entre
março e maio de 2021, com valor total de R$ 8,6 mil;
• mais
seis depósitos entre março e maio de 2021, totalizando R$ 8.520, para Maria
Helena Braga, que é casada com um tio de Michelle.
A troca de mensagens entre ajudantes de ordens da
Presidência da República incluiu ainda o boleto de uma despesa médica dessa tia
da ex-primeira-dama no valor de R$ 950,27.
Segundo a PF, esse documento gerou um
"alerta" de Mauro Cid no Grupo.
"Mauro Cid encaminha orientação do Exmo. Sr.
Presidente da República, no sentido de o pagamento do boleto GRU [Guia de
Recolhimento da União] ser feito em dinheiro para 'evitar interpretações
equivocadas'", indica o relatório policial.
Já em setembro de 2021, uma assessora de Michelle
Bolsonaro envia no mesmo grupo de mensagens um outro boleto de plano de saúde.
Desta vez, referente a Yuri Daniel Ferreira Lima, irmão de Michelle, no valor
R$ 585.
Em seguida, Mauro Cid envia, também no grupo, o
comprovante de pagamento.
No relatório obtido pela TV Globo, a Polícia Federal
afirma que fica "evidenciado" que os recursos "saíram da conta
pessoal do Exmo. Sr. Presidente da República Jair Bolsonaro".
No fim do mês, a assessora encaminha um novo boleto
do plano de saúde de Yuri Daniel para Mauro Cid. E diz que o pagamento foi
solicitado por Michelle.
Desta vez, no entanto, Mauro Cid responde com uma
mensagem de áudio. O conteúdo da fala consta do documento da PF:
"Não tem como mandar esse tipo de boleto.
Quando for assim, me manda só o pedido do dinheiro e vocês pagam por aí, porque
isso não é gasto do presidente. Nem da dona Michelle! É, deve ser de um
terceiro que ela está pagando aí, a conta desse terceiro aí!", diz Cid no
áudio transcrito.
A assessora pergunta, então, se poderia buscar o
dinheiro em espécie. Mauro Cid concorda.
• PF vê
desvio de dinheiro público
No relatório, a Polícia Federal afirma ao STF que as
transações descritas e solicitadas nesse grupo de mensagem indicam desvio de
dinheiro público para atender despesas da Presidência da República.
"No período compreendido no ano de 2021, em
Brasília, por diversas vezes, Mauro Cesar Cid, na condição de ajudante de
Ordens da Presidência da República, pessoalmente ou por intermédio de
servidores da Ajudância de Ordens, e outras pessoas não identificadas
(supridos), desviou e/ou concorreu para desviar dinheiro público oriundo de
suprimento de fundos do Governo Federal, em valor total ainda a ser apurado,
destinado originalmente ao atendimento de despesas da República", diz o
relatório.
A PF diz, ainda, que esses valores eram depositados
"de forma fragmentada, com uso de envelopes sem identificação de
depositante, em caixas eletrônicos, bem como utilizando o dinheiro para
pagamento direto de despesas privadas".
• PF
apura origem dos recursos
A Polícia Federal investiga a origem dos recursos
usados pelos ajudantes de ordem da Presidência da República para bancar esses
depósitos e pagamentos.
Ainda em 2022, Alexandre de Moraes autorizou novas
quebras de sigilo. Na decisão, o ministro também diz ver "fortes
indícios" de desvio de dinheiro público da presidência.
·
Bia Kicis, general Ramos, Jorge Seif: os alvos da
chacota de Cid
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens
de Jair Bolsonaro preso pela Polícia Federal (PF) suspeito de fraudar dados de
vacinas, debochava de aliados do ex-presidente no WhatsApp durante o governo.
Entre os alvos de Cid nas conversas interceptadas pela PF estavam parlamentares
bolsonaristas e um general com assento no Planalto.
Em mensagens enviadas a Célio Faria, que era chefe
de gabinete da Presidência e se tornaria ministro da Secretaria-Geral, Cid
ironizou um evento organizado por Bia Kicis. A deputada do partido de Bolsonaro
promovia o Fórum da Rota da Fruticultura em setembro de 2021.
“Evento vazio. Parece que só tem cem pessoas.
Hahahahahaha. Sempre assim… Todo evento torto morre torto… Pr [presidente]
disse que só vai se encher”, escreveu Cid para Faria, após enviar uma foto do
evento.
Em julho de 2021, o ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro também criticou Jorge Seif, ex-secretário da Pesca e atual senador, e
Gilson Machado, ex-ministro do Turismo. Em um bate-papo sobre a agenda do
ex-presidente, Cid disse ao colega de Planalto: “Ainda bem que Seif e Gilson
sumiram nesta semana”.
Dois meses depois, Cid contou a Faria, rindo, que
havia avisado a Bolsonaro que Seif gostaria de falar com ele, e que Bolsonaro
respondeu com um xingamento. Cid também enviou uma publicação do Twitter de
Seif e alfinetou: “Não vou falar nada…”. O ex-chefe de gabinete de Bolsonaro
respondeu com um emoji de enjoo.
Enquanto defendia o governo Bolsonaro na CPI da
Covid, em setembro de 2021, o senador Luiz Carlos Heinze também entrou na roda.
O ex-chefe de gabinete da Presidência informou a Cid que o senador iria ao
Planalto “dar pitaco” no discurso de Bolsonaro à Assembleia-Geral das Nações
Unidas. “Já falei que o discurso está fechado, mas ele insiste em dar pitaco.
Queria, de qualquer maneira, falar com alguém aí. Que fique registrado”,
escreveu Faria. Cid respondeu: “O presidente já está puto”.
Cid também atacou o general Luiz Eduardo Ramos,
ex-ministro da Secretaria-Geral e da Casa Civil.
Ramos planejava motociata, em Goiânia, em agosto de
2021. Para Cid, o ato era “furada total”. Faria respondeu que a ideia daria
“merda”. Dias depois, Cid enviou reportagem sobre o alto gasto com motociatas e
escreveu: “Eu avisei…”.
Ø Cid volta a dizer que Bolsonaro pediu recuperação de joias sauditas
O tenente-coronel Mauro Cid prestou na tarde desta
5ª feira (1º.mai.2023) depoimento, em condição de testemunha, à CGU
(Controladoria Geral da União) sobre o caso envolvendo o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) e as joias dadas pelo governo da Arábia
Saudita a ele e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Em seu depoimento,
Cid afirmou que o ex-chefe do Executivo queria reaver as peças retidas
pela Receita Federal. A informação foi divulgada pelo portal de
notícias g1.
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid repetiu o que já havia dito à PF (Polícia
Federal), em 22 de maio. De acordo com ele, o ex-presidente teria o informado
em dezembro de 2022 sobre o presente dado pelos sauditas e pedido para que
checasse se era possível ou não regularizar o conjunto de joias.
Cid declarou que houve um pedido de Bolsonaro para
que as joias fossem recuperadas, e não uma ordem. Depois, o tenente-coronel
disse ter procurado o secretário especial da Receita Federal, Júlio César
Vieira Gomes, que confirmou a existência do pacote retido e que já havia uma
solicitação de liberação das peças em nome do então ministro de Minas e
Energia, Bento Albuquerque, em novembro de 2021.
Segundo o ex-ajudante de ordens, Gomes teria o
orientado sobre como fazer o documento para retirar o presente na instituição
–as tratativas se deram, em maior parte, pela rede social WhatsApp.
O tenente-coronel já prestou depoimento para a PF em
4 outras ocasiões: duas pela fraude nos cartões de vacinação e duas
pelas joias. O depoimento desta 5ª feira (1º.jun) consolida a 3ª vez em que Cid
é ouvido no inquérito que investiga a tentativa do governo Bolsonaro de entrar
com joias sauditas no Brasil sem declará-las à Receita Federal.
O Poder360 procurou a CGU e as defesas de
Cid e do ex-presidente Bolsonaro para se posicionarem sobre o depoimento, mas
não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto
para manifestação.
Ajudantes
de ordens controlavam moedas de nióbio de Bolsonaro
Além da predileção por dinheiro vivo para fazer
depósitos, o ex-presidente Jair Bolsonaro adotava outro meio financeiro pouco
usual: um estoque de moedas de nióbio usadas por seus ajudantes de ordens.
As mensagens do ex-ajudante de ordens Mauro Cid,
analisadas pela Polícia Federal (PF), mostram que o grupo da ajudância de
ordens era usado para controlar um inventário dessas moedas, cujo valor é
desconhecido.
O ajudante de ordens Osmar Crivelatti fez uma dessas
atualizações em 25 de fevereiro de 2021. “Inventário das moedas do PR: 16
amarelas, 20 prata e 21 azuis”. Dois minutos depois, o coronel Cid responde
apenas “OK”.
Em 18 de março do mesmo ano, vem outra contagem,
dessa vez feita pelo tenente Alencar. “Saldo das moedas de nióbio: Restando 16
amarelas, 19 pratas e 19 azuis”. O destino da moeda de prata e das duas azuis
faltantes é desconhecido, assim como seu valor.
O saldo diminui ainda mais em 9 de junho. “Moedas
nióbio restantes: 16 azuis, 16 pratas e 13 amarelas”, diz novamente Alencar.
Bolsonaro exibiu algumas vezes essas moedas como um
símbolo nacionalista. Em setembro de 2020, apareceu ganhando uma moeda de
nióbio de presente de Bento Albuquerque, seu ministro de Minas e Energia.
Em junho de 2019, o então presidente mostrou uma
moeda de nióbio em uma live. Durante a campanha de 2018, Bolsonaro costumava
exaltar a extração de nióbio como uma atividade em que o Brasil teria
potencial.
É difícil avaliar o valor das moedas, já que isso
depende da quantidade de nióbio e das características delas. Há moedas
comemorativas de nióbio que custavam até R$ 3 mil no Mercado Livre; outras
custam menos de R$ 1 mil.
Tampouco há qualquer explicação sobre a origem dos
bens que permita saber se tratam de presentes ou de patrimônio pessoal do
ex-presidente.
A coluna questionou a assessoria do ex-presidente
sobre o valor dessas moedas, sua origem e para que eram utilizadas, mas não
obteve resposta até o momento.
Fonte: Metrópoles/g1/Poder 360
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