sexta-feira, 30 de junho de 2023

Grupo Wagner: Navio Fantasma ou Cavalgada das Valquírias?

Nos últimos tempos, vemos uma enxurrada de manifestações vindas dos países interessados em derrotar a Rússia tentando influenciar na nossa tomada de decisão. Em quem devemos confiar? Já definir que Putin está enfraquecido e apostar todas as fichas que teremos uma derrota do país vermelho ou entender quais rumos o país deve tomar? Afinal são terroristas sanguinários, heróis libertários ou milicianos de Putin? Provavelmente aqueles que têm posicionamento político definido, tomam partido imediatamente, mas devemos pontuar melhor para tentar especular com mais segurança. 

O grupo Wagner, mercenários paramilitares, é criado em 2014, no momento em que a Rússia anexa a Criméia, uma região que era da Ucrânia. Foi criada por Dimity Utkin, coronel das Forças Especiais das Rússia, e apaixonado por Hitler que também admirava o compositor antissemita Richard Wagner. Uns parênteses é relembrar o famoso vídeo do ex-secretário de cultura de Bolsonaro, Ricardo Alvim, que imitou a apresentação do nazista Goebbels, tendo Wagner ao fundo. Pois bem, Yevgeny Prighozin, um industrial de São Petesburgo, amigo de Putin, é a real conexão entre o Ministério da Defesa e o grupo Wagner. Prighozin é famoso por suas conexões de fábrica de fakenews pelo mundo, levando políticos com Trump e Bolsonaro ao poder. 

Lembrando da publicação de 2018, COMO AS DEMOCRACIAS MORREM, do professor Steven Levitsky, estudioso sobre sistemas políticos da América Latina com Daniel Ziblatt, especialista de sistemas políticos do leste europeu. Esses dois conjuntos de sistemas democráticos que estão vivendo essa dura realidade de pressão de crise institucional, identificam a partir das eleições passadas, a ascensão de figuras como líderes que querem corroer a democracia como nos Estados Unidos e Brasil.

O grupo Wagner é tal qual vários filmes de Hollywood sobre mercenários, que entram em guerras civis pelo mundo em troca de dinheiro, como Líbia, Sudão, Síria e Ucrânia. É perfeito para atuar, sem que culpem o país interessado na guerra, seja qual for o país. A relação não oficial com diversos países é clara, em troca de recursos naturais dos países atacados. Eles fazem o trabalho sujo. Nos últimos meses, na guerra da Ucrânia, diversos atritos foram acontecendo até que o Ministério da Defesa russo ordenou que todas as forças na Ucrânia ficassem subordinadas ao Ministério da Defesa russo, incluindo os chechenos, e o Wagner.  Apenas a Chechênia aceitou. O Grupo Wagner não.

Questões a serem pontuadas. Toda indignação partida dos Estados Unidos e colocando toda comunicação internacional para esse tema acontece quando o Pentágono apresenta um erro contábil de US$ 6,2 bilhões. Uma cortina de fumaça para que esse rombo não seja identificado e comentado. 

O Grupo Wagner atua para quem pagar mais. Eles trabalham com ex militares  Russos e detentos que querem o perdão presidencial. Mas são essencialmente mercenários e estão nesse momento aceitando pagamento do ocidente para esse motim, para enfraquecer Putin. E por esse motivo, a Casa Branca teve que soltar um comunicado dizendo que não tinha nada a ver com a operação, ou seja, podem ter.

Com a recente rebelião e ataque do Grupo Wagner ao avião que matou Tenente Coronel Artem Milovanov, Majors Gennady Belyakin, Alexander Sviridov. Os Capitães Viktor Popov Artem Sharoglazov, Igor Volochilov. Os Tenente Nikita Golubev, Sargentos Alexey Skrykov, Viktor Podrepny e o Sr. Praporshchik Sergey Starushok; e é possível que esteja tendo um pequeno levante a Rússia.

Devemos ter as nossas convicções para melhor poder despreza-las depois.

 

Ø  O que aconteceu na Rússia? Por Marcelo Zero

 

As mídias ocidentais e brasileiras ficaram praticamente em êxtase com a fracassada rebelião promovida por Prigozhin, chefe do grupo mercenário Wagner, que presta serviços às forças armadas russas.

Alguns “analistas” chegaram a prever que tal rebelião era o “começo do fim” do “ditador” Putin, já que a insurreição demostrava as grandes “fraturas” existentes nas forças armadas, no governo e na sociedade russa.  

Entretanto, a rebelião teve vida extremamente curta, com Putin retomando rapidamente o controle da situação, o que parece ter frustrado as açodadas análises dos “especialistas”.

Evidentemente, uma rebelião desse tipo, ainda que limitada e de curtíssima duração, não é boa para imagem da Rússia e de seu governo, envolvido numa guerra complexa, que resulta em perigos para todo o mundo.  

Mas não creio que haja elementos concretos para sustentar que a rebelião demonstra fraturas políticas expressivas e extensas na Rússia.

Comecemos pela motivação. Prigozhin afirmou que insurreição fora ocasionada, em última instância, por um ataque do exército russo contra elementos do Grupo Wagner. Além disso, Prigozhin vinha reclamando há meses sobre uma suposta falta de armamentos mais pesados para o seu grupo. Também discordava em como a campanha vinha sendo conduzida. Enfim, reclamava autonomia, mais armamentos e, quem sabe, mais dinheiro. Quanto ao suposto ataque contra seu grupo, a análise das imagens divulgadas demonstrou que a uma acusação é de difícil sustentação, embora não possa ser descartada, a priori.  

Mas o que parece que estava realmente incomodando Prigozhin era a exigência das forças russas de que os militares do Grupo Wagner firmassem contratos com o exército russo, submetendo-se diretamente à cadeia de comando das forças armadas oficiais.  

Tal exigência retiraria parte significativa da autoridade do chefete sobre o grupo e, possivelmente, também parte de seu lucro, pois o pagamento seria feito diretamente aos militares que firmassem os contratos.  

Ademais, Prigozhin tinha interesses na exploração de minas de sal e de carvão na Ucrânia. Como os “contractors” norte-americanos, queria participar decididamente dos espólios da guerra. Afinal, é um mercenário.  

A rebelião não parece ter envolvido todo o grupo Wagner. Na realidade, as movimentações da rebelião envolveram, no máximo, cerca de 12 mil homens, menos da metade dos efetivos que o Grupo Wagner diz controlar (25 mil homens).

Do ponto de vista militar, a insurreição não tinha a menor chance de representar uma ameaça real às forças russas oficiais, que dispõem de aproximadamente 1 milhão de homes.  A não ser, é claro, que tivessem apoio concreto nos exércitos russos. Não tiveram.  

Os elementos do Grupo Wagner deslocaram-se sozinhos e não foram apoiados, na prática, por nenhuma tropa.

A Força Aérea russa poderia, se quisesse, ter dizimado todo o grupo, em poucas operações. Porém, não houve embate algum.

E não houve porque um enfrentamento ao Grupo Wagner só teria piorado a situação. Num cenário de guerra, um embate entre russos seria o pior cenário possível. Preferiu-se uma negociação rápida. Na realidade, nenhuma das partes queria uma guerra fraticida, em um momento tão delicado como esse.

Além de não ter tido apoio efetivo nos exércitos russos, a insurreição também não teve apoio de relevo entre a maior parte da população, que viu com preocupação a curta rebelião.

 É bem verdade que o Grupo Wagner tem alguma popularidade na Rússia. Apesar de mercenários, são vistos como combatentes ferozes, que fazem bem seu trabalho. A vitória em Bakhmut, conseguida após batalhas sangrentas, demonstrou sua competência no cenário de guerra.

Essa competência é contraposta, por alguns, na Rússia, à “inoperância” de alguns generais, que não estariam conduzindo o conflito com a mesma agressividade e empenho. Na realidade, a insurreição nutriu-se também dessa relativa insatisfação com o alto comando russo.  

Contudo, a insurreição, como o próprio Prigozhin faz questão de assinalar de forma reiterada, não foi contra Putin.  

Conforme o Instituto Levada Center, independente, a popularidade de Putin continua elevada, e cerca de 80% da população russa aprovam sua administração. Embora sempre se possa especular sobre tais pesquisas, não há indícios concretos, até agora, que sugiram um desgaste expressivo da imagem e da autoridade de Putin.

Numa situação de guerra, a tendência natural é que a população apoie o governante de plantão. Evidentemente, isso poderá mudar com o tempo, caso a guerra não se resolva e a população comece a ficar saturada com os sacrifícios que o conflito impõe. Mas isso também se aplica à Ucrânia e à Europa.  

Com respeito ao cenário de guerra, a tão famosa contraofensiva da Ucrânia, feita com apoio decidido da Otan, até agora não produziu resultados concretos e significativos. As forças ucranianas, sem muita artilharia pesada e sem uma força aérea efetiva, não estão conseguindo superar as primeiras linhas de defesa russas, consolidando, assim, uma situação de impasse militar.  

Independentemente das análises, há uma grande lição a se tirar da insurreição do Grupo Wagner. Cenários de guerra são sempre muito voláteis e imprevisíveis. E há situações que podem escapar do controle, ainda que seja por períodos curtos. A rebelião do Grupo Wagner, mesmo que contida rapidamente, poderia ter tido consequências potencialmente desastrosas. Caso tivesse tido algum apoio nas forças oficiais, tal grupo poderia ter tido acesso a armas destruição em massa, até mesmo, em última instância, armas nucleares.

Por isso mesmo, os esforços pela paz têm de ser redobrados. Quanto mais esse conflito dure, maior a probabilidade de um descontrole muito perigoso, que exporia o mundo a uma guerra de grandes proporções.

Lula e o Papa têm razão.

 

       Pepe Escobar: Quando o relâmpago da História cai, o melhor é ir direto ao ponto logo de partida

 

Quando o relâmpago da História cai, o melhor é ir direto ao ponto logo de partida.

Lá vamos nós.

Após os extraordinários acontecimentos que tiveram lugar na Rússia no decorrer de seu Dia Mais Longo, o Presidente Putin saiu vitorioso em todas as frentes.

Entre outras façanhas, ele expôs a um ridículo absoluto e intergaláctico toda a mídia convencional do Coletivo Ocidental – mais uma vez.

Ele convocou virtualmente todos os russos a porem fim mais rapidamente à Operação Militar Especial (OME) – ou a "quase guerra" (segundo alguns círculos empresariais).

Ele – e a FSB – coletaram uma formidável lista de traidores e de 5ª e 6ª colunistas, que receberão o tratamento devido.

E ele agora conta com liberdade ilimitada para usar poderes de Lei Marcial em uma Operação Antiterrorismo (OAT). 

Tanto quanto Putin ajudou o perene Lukashenko em agosto de 2020, evitando uma mudança de regime em Belarus, o bom e velho Luka evitou que a Rússia descambasse para uma guerra civil em junho de 2023.

Uma complexa e ampla operação de antiterrorismo está agora em vigor e Moscou e mais além, enquanto espécimes subzoológicos ocidentais se veem atordoados, ofuscados e confusos: não era para Putin ter ido encontrar o Czar Nicolau II?

Uma primeira olhada no tabuleiro nos mostra que todas as peças parecem estar se posicionando nos seus lugares corretos.

Prigozhin conseguiu um paraquedas dourado em Belarus. Shoigu talvez esteja em vias de ser despedido, e talvez Gerasimov também (sim, há camadas profundamente disfuncionais no interior do Ministério da Defesa). Os músicos da Wagner serão incorporados como um corpo regular do Exército russo. Talvez eles continuem a atuar na África: a demanda é enorme.

Então, o que realmente aconteceu após o Dia Mais Longo? Gigantescas verbas da CIA talvez tenham mudado de mãos. Mas, no final das contas, o "golpe" pode acabar sendo a Maior Trolagem do Ocidente pelos Russos de todos os tempos.

A Mãe de Todas as Maskirovkas - Mais uma vez, os fatos no terreno provam que Putin é o incontestável paladino da Rússia. Após manter-se em um silêncio estratégico por algumas horas, sua intervenção reuniu o pleno apoio da população civil, da FSB, dos chechenos, do Exército, dos comunistas, de todo mundo.

Os termos exatos do acordo entre  Luka e Prigozhin, com o auxílio do governador da região de Tula,  Alexey Dyumin, ainda não estão claros.

Prigozhin disse que os termos o satisfaziam. Peskov confirmou oficialmente que o processo penal contra Prigozhin será suspenso. Uma exigência importante de Prigozhin era a dupla renúncia do Ministro da Defesa Shoigu e do Comandante do Estado-Maior Gerasimov. O que talvez venha – ou não – acontecer no futuro imediato.

O que nos leva à ainda fascinante possibilidade de essa ter sido a Mãe de todas as Maskirovkas. Prigozhin monta todo esse circo só para conseguir um encontro com Shoigu e Gerasimov em Moscou.

Pensem em alguém armando-se até os dentes só para ir a um encontro.

O cenário da Mãe de Todas as Maskirovkas implica também uma jogada digna de xadrez 5D.

No sábado, o Wagner estava a 200 quilômetros de Moscou. 

Mas, no domingo, o Wagner estava a 100 quilômetros de Kiev.

Alguém topa subir de nível no jogo da Arte da Guerra de Sun Tzu?

Entre a soberania e a traição - Alexander Dugin está certo ao apontar que esse foi também um exercício de Soberania: "Apenas o Lukashenko soberano, juntamente ao próprio Putin soberano confrontaram-se com [Prigozhin]…Vimos que muitos podem tramar contra o Presidente e o povo, agindo nas sombras e aparentemente em seu nome, mas salvar a Pátria em uma situação crítica não é especialidade dessas pessoas".

O corolário é que a Rússia precisa de "uma elite soberana, do contrário tudo irá se repetir". 

Quanto ao atordoado e confuso Coletivo Ocidental, em especial a junta OTAN-Kiev, que de uma hora para a outra deixaram de taxar o Wagner de "terroristas" para vê-los como "combatentes pela liberdade", atolar-se em seu próprio charco é uma arte que eles dominam à perfeição.

A mídia convencional urdiu a narrativa de que as proverbiais "autoridades ocidentais" haviam sido "tomadas de surpresa" pelo motim. Isso depende da quantia do dinheiro que mudou de mãos, e em qual direção, durante os preparativos.

A OME, agora OAT, continua de vento em popa. O Exército Russo prossegue lutando, imperturbável. A "contraofensiva"  ainda tropeça à beira do abismo, pronta para ir beijar a escuridão do vazio.

Putin vencendo em todas as frentes implica a totalidade da população civil – e os militares – engajados em preservar a ele e às instituições russas, bem como no aperfeiçoamento dessas instituições. Em absolutamente nenhuma nação de todo o Coletivo Ocidental é possível encontrar esse nível de apoio dos cidadãos.

A política russa é um tipo especial de animal. Ela funciona no nível mais alto e também na base – diferentemente do Ocidente, onde a norma é um profundo ódio entre as elites e o povo.

É claro que deve ser ressaltado que são sempre os menos patrióticos dos oligarcas russos que fogem quando algo parecido com o Dia Mais Longo acontece.

Por algumas horas, o Ocidente apostou pesadamente no desmembramento da Rússia. Isso não vai acontecer agora. Nem em um futuro previsível.

A sucessão já vem sendo preparada pela Equipe Putin e por alguns oligarcas patrióticos escolhidos a dedo. Entre os candidatos, há um nome secreto que deixará a todos estarrecidos quando for revelado. Ele ainda é invisível em termos de opinião pública, e trabalha nas sombras. Seu nome deve permanecer em segredo por enquanto.

Nas atuais circunstâncias, o importante é que a Rússia emergiu ainda mais forte do Dia Mais Longo. O homem e a mulher do povo, mais uma vez, mostraram ser verdadeiros patriotas, prontos para defender a Pátria custe o que custar.

Não houve confronto entre aqueles que são a favor das instituições russas e aqueles que são a favor do Wagner. A verdade é que as pessoas apoiam a ambos. Elas viam o Wagner como os "bem-educados homens verdes" que ajudaram a retomar pacificamente a Crimeia em 2014. Nenhum policial ou militar os enfrentou.

Putin, portanto, está mais forte do que nunca. Mas as pessoas devem sempre ter em mente que há uma coisa que ele não consegue perdoar: a traição.

 

Fonte: Brasil 247

 

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