quinta-feira, 29 de junho de 2023

Grandes municípios vivem movimento inédito de perda de população para entorno, revela Censo

Grandes municípios brasileiros estão vivendo um movimento inédito de perda de população para municípios do entorno, ou uma moderação maior no ritmo de crescimento populacional, movimento limitado até então a pequenas cidades. Os dados são do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta quarta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 “No contexto de crescimento populacional cada vez mais baixo vivido pelo País, um fato a ser destacado é que o fenômeno da redução da população, antes bastante presente entre os municípios pequenos, passa também a ser cada vez mais observado entre os municípios maiores”, apontou a publicação dos primeiros resultados do Censo 2022.

No ano passado, cerca de 29,0% da população brasileira vivia nos 41 municípios com mais de 500 mil habitantes, que representam apenas 0,74% do universo de 5.570 municípios existentes do País. No entanto, entre os dez municípios mais populosos, cinco perderam população em relação ao Censo de 2010: Rio de Janeiro (-1,7%), Fortaleza (-1,0%), Salvador (-9,6%), Belo Horizonte (-2,5%), Recife (-3,2%).

“Esse é o fato novo dessa divulgação desse Censo sim: os municípios núcleos das concentrações urbanas, especialmente daquelas metropolitanas, perdendo dinâmica, ou crescendo muito pouquinho, ou mesmo diminuindo população. No Brasil isso é um fato novo, apesar de não ser um fato novo em concentrações metropolitanas mundo afora. Mas agora essa é uma novidade desse Censo”, ressaltou o diretor de Geociências do IBGE, Claudio Stenner.

Entre os 319 maiores municípios do Brasil, que superam a marca de 100 mil habitantes, 39 deles apresentaram diminuição populacional entre os Censos de 2010 e 2022, incluindo algumas capitais, “algo inédito dentro dos censos demográficos recentes”, frisou o IBGE.

“A gente não tem evidente no momento a explicação do por quê disso, mas parte é o próprio esgotamento territorial mesmo do município, que já está completamente ocupado em muitos deles. Então essa expansão da população se dá nos municípios vizinhos e não mais, ou muito menos, no município núcleo da concentração urbana”, avaliou Stenner.

Na direção oposta, entre os 20 municípios com mais de 100 mil habitantes que apresentaram maior crescimento populacional, o destaque foi Boa Vista (RR), a única capital de Estado e único município que supera os 300 mil habitantes nesse grupo, “crescimento influenciado pela presença de imigrantes venezuelanos”, justificou o instituto.

Cerca de 44,8% dos municípios brasileiros tinham até 10 mil habitantes, mas reuniam apenas 6,3% da população do País, o equivalente a 12,8 milhões de pessoas vivendo em cidades desse porte.

Já as concentrações urbanas, arranjos populacionais acima de 100 mil habitantes com forte integração da população, abrigavam 124,1 milhões de pessoas em 2022, 61,1% dos habitantes do País.

·         5% das cidades brasileiras concentram 56% da população

Pouco mais de 5% das cidades brasileiras concentram mais da metade da população do país, segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quarta-feira (28). Ao todo, 115,6 milhões de pessoas, ou 56,95% da população, vivem em apenas 319 cidades.

O Censo do IBGE aponta que o Brasil tem 203.062.512 habitantes, o que representa um crescimento de 6,43% da população, em comparação com 2010. Os números representam uma fotografia do país em agosto de 2022.

Atualmente, o Brasil tem mais de 5,5 mil municípios, sendo que 41 deles têm mais de 500 mil habitantes. Essa faixa concentra 58,8 milhões de pessoas. Outras 278 cidades têm entre 100 mil e 500 mil moradores. Somadas, elas possuem uma população de 56,7 milhões de pessoas.

Por outro lado, mais de dois terços das cidades brasileiras (69%) têm até 20 mil habitantes. Esses municípios concentram pouco mais de 15% da população (32 milhões de pessoas). 

·         Comparação com 2010

Em comparação com o Censo de 2010, a concentração populacional em cidades de maior porte se manteve praticamente estável, com leve queda entre os municípios com mais de 500 mil habitantes.

Cidades com entre 100 mil e 500 mil habitantes passaram a concentrar mais moradores. Em 2010, tinham 25,4% da população. Já em 2022, concentravam 27,96% do total. Essa foi a única faixa que ganhou espaço, segundo o IBGE.

A faixa que mais perdeu espaço foi a das cidades com entre 10 mil e 20 mil habitantes. Esses municípios representavam 10,31% da população, em 2010. Agora, concentram 9,47% do total.

·          taxa de crescimento anual da população brasileira atinge menor nível da história

A taxa média de crescimento anual da população brasileira atingiu, entre os anos de 2010 e 2022, o menor nível da série histórica iniciada há 150 anos. É o que mostram dados do Censo 2022, divulgados nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o levantamento, o avanço no número de habitantes no país foi de apenas 0,52% por ano ao longo dos últimos 12 anos. Até então, o menor crescimento anual havia sido registrado entre os anos 2000 e 2010, quando o índice ficou em 1,17%.

Os dados do Censo 2022 também mostram como a taxa média de crescimento anual da população brasileira vem diminuindo ao longo das últimas décadas. Isso significa que a população brasileira tem aumentado, mas em ritmo cada vez mais lento.

Desde o levantamento realizado pelo IBGE entre os anos de 1950 e 1960, já foram seis quedas seguidas no índice. Em 2022, também foi a primeira vez que a taxa de crescimento populacional ao ano foi inferior a 1% (veja no gráfico abaixo).

Pelo menos a partir da década de 1990, a desaceleração desse indicador vem ocorrendo em todas as regiões do país. Proporcionalmente, as que mais diminuíram seus ritmos de crescimento populacional nesse período foram o Norte e o Sudeste.

Em 2022, a menor taxa média de crescimento anual da população foi registrada no Nordeste do Brasil, com avanço de 0,24% no indicador, seguido pelo Sudeste, que avançou 0,45%.

Perguntado pelo g1 sobre os possíveis motivos para essa desaceleração no crescimento populacional, o IBGE disse que "os dados dessa divulgação se resumem apenas à população dos municípios".

Afirmou ainda que, quando forem divulgadas "outras variáveis do Censo 2022, como os dados de migração, idade e sexo, renda e aglomerados subnormais", o instituto terá "mais condições de explicar as variações populacionais".

Sobre possíveis mudanças na estimativa do IBGE para o crescimento da população brasileira nos próximos anos, a instituição disse que essa projeção será divulgada após análise feita com base nos dados do próprio Censo 2022. A última divulgação do instituto prevê 228.286.347 pessoas até 2060.

Em números absolutos, o Brasil tem, atualmente, 203.062.512 habitantes — uma alta de 12,3 milhões em relação aos 190.755.799 registrados em 2010.

 

Ø  Fuga da crise e força do agro: o que explica a migração interna

 

Os números do Censo Demográfico 2022 surpreenderam: o Brasil tem cerca de 203 milhões de habitantes, um número bem menor do que as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontavam. O país também registrou a sua menor taxa de crescimento populacional da história, com um aumento de 0,52% por ano, em média, desde 2010.

O detalhe que mais chama a atenção de economistas ouvidos pelo g1, no entanto, é que essa taxa de crescimento caiu muito mais em algumas regiões do que outras. Enquanto a taxa anual do Nordeste recuou de 1,07% em 2010 para 0,24% em 2022, por exemplo, o Centro-Oeste (região que mais cresceu) teve uma queda menos expressiva, passando de 1,90% para 1,23%.

A mesma dinâmica aconteceu com estados dentro de uma mesma região. Foi o caso do Rio Grande do Sul, que cresceu apenas 1,74% em 12 anos, enquanto a população de Santa Catarina disparou 21,78%.

O próprio IBGE ainda deve processar mais dados coletados pelo Censo para explicar com propriedade o que justifica a dinâmica da população nos últimos 12 anos. Mas, segundo os especialistas, a principal razão de migração interna é a busca de melhores condições econômicas. Mas deve-se dar destaque para dois pontos específicos:

  1. os estados com os menores crescimentos ou até quedas na população são, também, os que mais têm passado por dificuldades financeiras; e
  2. os estados e regiões com crescimentos mais expressivos têm uma forte ligação com o agronegócio.

<<< Fuga de crises financeiras

De acordo com Alexandre Pires, professor de economia do Ibmec, os estados com os percentuais mais baixos de crescimento populacional são justamente aqueles que, na última década, vêm passando por problemas econômicos.

"Há uma relação muito direta entre os locais com os maiores desafios econômicos e a estagnação populacional, o que mostra que as crises econômicas estão levando a uma realocação das pessoas em território nacional, na busca por melhores condições de trabalho e de vida", comenta Pires.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, compartilha do mesmo ponto de vista e destaca os exemplos do Sul e Sudeste. Embora essas tenham sido as regiões que puxaram, em números absolutos, o crescimento populacional do Brasil, as altas foram bem mais expressivas em alguns estados do que outros.

No Sudeste, Carla destaca o exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro: "embora São Paulo já seja um estado extremamente populoso, continuou ganhando habitantes, enquanto o Rio de Janeiro teve uma estagnação."

Em São Paulo, a população cresceu 7,65%, em mais de 3 milhões de pessoas, enquanto no Rio o aumento foi de 0,40%, com menos de 65 mil novos habitantes.

A economista explica que isso pode estar relacionado a uma manutenção da economia de São Paulo como a principal do país, enquanto o Rio de Janeiro passou por sérios problemas financeiros nos últimos anos, mostrando uma insustentabilidade das contas públicas.

Essa é a mesma situação, segundo Carla, de Santa Catarina (21,78%), que tem mostrado uma "economia pujante", e Rio Grande do Sul (1,78%), que passou por problemas semelhantes aos do Rio. A mesma tendência ocorreu em todo o Nordeste.

Neste contexto, a economista pontua que as pessoas passam a buscar novos locais para viverem, com custos de vida mais baixos e melhores oportunidades de receber bons salários.

·         A força do agronegócio

Ao mesmo tempo em que há uma estagnação em alguns estados e regiões, outros registram um crescimento mais expressivo e o grande destaque é o Centro-Oeste, sob forte influência do agronegócio.

As populações de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul cresceram 20,55%, 14,55% e 12,56%, respectivamente, todas entre as 10 maiores altas do país. Ao todo, a região cresceu 15,86%.

Pires, do Ibmec, destaca que o agronegócio é uma grande força econômica brasileira e relembra que, no primeiro trimestre deste ano, o setor disparou 21,6%, puxando todo o resultado do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) do período.

"Ainda falta olhar para os próximos dados do Censo que serão divulgados, mas já dá para dizer sim que, nos últimos anos, houve uma forte migração para o Centro-Oeste em busca dessas oportunidades com o agronegócio", afirma.

O professor ainda pontua que "o agro se tornou muito dinâmico" e, além do próprio Centro-Oeste, estados de outras regiões conseguiram se beneficiar dessa influência. "Quando falamos de agro, esquecemos que ele também envolve toda uma cadeia industrial, de processamento, e as exportações".

Nesse sentido, Pires considera que São Paulo consegue se manter bastante relevante em toda a cadeia econômica — e, consequentemente, atraindo habitantes — porque o estado é "um grande corredor para o agronegócio" e é um espaço com grande conectividade internacional. Santa Catarina vive situação semelhante.

·         Baixo crescimento populacional e impactos para a previdência no futuro

O IBGE ainda não divulgou os dados do Censo referentes à pirâmide etária da população brasileira, mas Carla, da CM, afirma que já é possível perceber no país uma desaceleração da taxa de natalidade.

De acordo com a economista, isso pode estar ligado, também, aos períodos de crise econômica que o Brasil atravessou, que levam muitas pessoas a optarem por ter menos filhos e adaptarem seus estilos de vidas, mas o principal motivo é a mudança geracional, que trouxe novas perspectivas de arranjos familiares, levando a essa redução da natalidade em todo o mundo.

O maior problema disso, explica, está relacionado à manutenção da previdência social. No modelo atual, as pessoas em idade produtiva trabalham e pagam por quem já se aposentou. Mas, com a queda da natalidade, logo pode haver uma incompatibilidade entre o número de trabalhadores e o número de aposentados.

"Os dados escancaram que o movimento populacional está mudando e acendem um alerta para a sustentabilidade do atual esquema de previdência que temos, já abrem precedentes para uma nova reforma", comenta.

 

Fonte: IstoÉ/IBGE/FolhaPress/g1

 

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