quarta-feira, 28 de junho de 2023

Encontros e desencontros: a crítica brasileira à Europa no discurso de Lula em Paris

No último dia 23 de junho, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva proferiu discurso no âmbito da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, evento que ocorreu na França sob a tutela de Emmanuel Macron.

Durante o encontro, as posições do mandatário brasileiro causaram certo ruído em diversos círculos políticos europeus, assim como na mídia, ao demonstrarem a diferença de interpretações entre o Brasil e a Europa sobre alguns dos principais problemas da agenda internacional.

A cúpula, que foi dedicada a discussões sobre a necessidade de reformas nas instituições financeiras globais e sobre o combate à crise climática nos países em desenvolvimento, teve no pronunciamento de Lula um de seus pontos altos.

No início de seu discurso, Lula fez um chamamento à comunidade internacional para participar da reunião da COP-25 no Pará, ao mesmo tempo criticando de forma velada aqueles que falam da Amazônia sem realmente conhecê-la.

Desde tempos, críticas europeias (e sobretudo da própria França) sobre a gestão brasileira da Amazônia, especialmente quando incêndios de grande porte são noticiados na região, suscitam no governo brasileiro certa desconfiança.

Interpreta-se que, por detrás dessas críticas, escondem-se intensões insidiosas de questionar a soberania do Brasil sobre a sua porção do território amazônico e, com isto, justificar uma intervenção externa em assuntos domésticos do país.

Nesse contexto, Lula fez menção de reunir em agosto todos os chefes de Estado da América do Sul e representantes dos países que compõem a região amazônica, no intuito de formularem uma proposta comum para futuras reuniões da COP.

Mais uma vez restou demonstrada a intenção do governo brasileiro de priorizar o multilateralismo em sua política externa, advinda da percepção de que as nações sul-americanas devem atuar em conjunto no cenário internacional a fim de proteger seus interesses, envolvendo inclusive a questão ambiental.

Trata-se de movimento importante. Afinal, no período de expansão do colonialismo europeu na África, Ásia e nas Américas a partir do século XV, uma de suas principais motivações era justamente o desejo pela obtenção de matérias-primas e recursos naturais presentes nessas regiões.

Logo, ao mesmo tempo em que proteger estes biomas torna-se algo fundamental num mundo em que as preocupações climáticas ganharam holofote, resguardar-se quanto a tentativas de se relativizar a soberania dos Estados por parte dos países europeus é tarefa também da mais alta importância.

Outro tema que esteve presente no discurso de Lula foi a questão da desigualdade mundial entre os Estados. A análise de Lula acerca das dificuldades de se enfrentar a concentração da riqueza nas mãos de um pequeno punhado de pessoas no âmbito doméstico dos países acabou ressoando também na posição internacional do Brasil de diminuir o vão que separa os países desenvolvidos dos países em desenvolvimento.

Nesse quesito, Dilma Rousseff, a quem Lula adereçou suas palavras iniciais antes de começar seu discurso, há muito tempo já chamava a atenção para a necessidade de se eliminar "a disparidade entre a crescente importância dos países em desenvolvimento na economia global e sua insuficiente representação e participação nos processos decisórios das instituições financeiras internacionais".

Essa é sem dúvidas uma questão muito cara para os países latino-americanos como o Brasil que tiveram experiências desagradáveis no passado com as instituições de governança global dominadas pelos países europeus, como o Fundo Monetário Internacional.

Sobretudo nos anos 1980, na medida em que suas receitas de exportação diminuíam, grande parte dos Estados na América do Sul viram suas dívidas aumentar para com o FMI, deixando-os numa verdadeira condição de falência financeira.

Tratou-se de um período em que o Brasil precisou utilizar grande parte de seus ganhos com o comércio internacional apenas para pagar os juros de sua dívida, ao invés de usá-los para o seu desenvolvimento econômico e social.

A armadilha da dívida, como essa situação passou a ser conhecida, representou um desastre humanitário para cerca de 700 milhões das pessoas dos países em desenvolvimento em todo o mundo.

Na África, por exemplo, essa condição gerou verdadeira queda na expectativa de vida, diminuição da renda nacional, deterioração nos níveis de investimento e aumento nas taxas de mortalidade no continente.

Foi em vista disso que Lula criticou as instituições de Bretton Woods, por não atenderem mais "às aspirações e nem aos interesses da sociedade", mencionado que o Banco Mundial e o FMI deixam "muito a desejar naquilo que as pessoas esperam" deles.

Parte daí a posição do Brasil pela necessidade da mudança das instituições de governança global sob controle dos países europeus, a fim de evitar uma situação em que, nas palavras do mandatário brasileiro, os países ricos continuem ricos e os países pobres continuem pobres.

Outra das questões trazidas por Lula em seu discurso foi a visão brasileira sobre a obsolescência da atual composição dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que conta com duas potências europeias em seu quadro: Reino Unido e a própria França.

Há não muito tempo atrás, o ministro das Relações Exteriores do Brasil Mauro Vieira também tocou nesse ponto, reafirmando as intenções do Brasil de se tornar um membro permanente do Conselho de Segurança, aspiração política de longa data do país.

No âmbito do BRICS, vale lembrar, o Brasil já conta com os apoios de Rússia e China no que se refere a desempenhar um papel mais ativo na ONU, de forma que a organização se torne mais efetiva e legítima internacionalmente.

Posteriormente, Lula criticou o mundo desenvolvido pelo seu desinteresse em financiar infraestruturas que atendam às necessidades de continentes como a África. Novamente aqui presencia-se a importância do papel do Brasil no âmbito do BRICS, ajudando a fundar o Novo Banco de Desenvolvimento, instituição destinada justamente ao financiamento de projetos de infraestrutura sustentável em países emergentes.

Sem sombra de dúvidas, o banco do BRICS representou também a insatisfação do grupo para com a lentidão das reformas nos organismos de Bretton Woods, nos quais os países europeus estão sobrerepresentados.

Por fim, o presidente brasileiro aludiu ao fato de que os principais fóruns internacionais não podem se transformar apenas numa reunião de um pequeno "grupo de luxo" (em velada alusão talvez ao G7).

Para Lula, estes fóruns devem servir para "atender a pluralidade dos problemas que o mundo tem", e não só os problemas que concernem à América do Norte ou à Europa.

Pensamento similar já fora expressado pelo ministro das Relações Exteriores indiano Subrahmanyam Jaishankar quando disse que os europeus precisam "superar a mentalidade de achar que os problemas da Europa são os problemas do mundo, mas que os problemas do mundo não são os problemas da Europa".

Tudo isso serve para demonstrar que, apesar dos muitos convites que Lula vem recebendo recentemente para participar de fóruns internacionais capitaneados pelos países europeus, diferenças políticas e de interpretação de mundo continuarão existindo entre o Brasil e a Europa.

Bem pudera, afinal não é de hoje que as relações entre o Norte e o Sul Global são marcadas por encontros e desencontros. Pelo visto as relações exteriores da era Lula continuarão seguindo essa mesma tradição.

 

Ø  Era do heroísmo individual acabou, o mundo precisa agir em conjunto, diz premiê chinês

 

O mundo não deve e não pode retornar a um estado de isolamento e afastamento entre os países, afirmou o primeiro-ministro da China, Li Qiang, na cerimônia de abertura da 14ª reunião anual dos novos líderes mundiais do Fórum Econômico Mundial nesta terça-feira (27).

"A globalização econômica é uma tendência histórica e, embora estejamos enfrentando muitos abalos nesse processo, a tendência geral da globalização econômica e seu desenvolvimento nunca mudou, especialmente no atual desenvolvimento acelerado de novas tecnologias, representadas pelas tecnologias digitais e pela inteligência artificial, que criaram condições mais favoráveis à globalização econômica", disse Li Qiang.

Além disso, o premiê chinês ressaltou que "o mundo não deve e não pode retornar a um estado de isolamento e afastamento".

"Devemos seguir as marés dos tempos, construir mais consenso sobre o desenvolvimento e construir de forma constante uma economia mundial aberta. Nós nos opomos fortemente à politização artificial das questões comerciais e econômicas", acrescentou o político.

Entretanto, ele ressaltou a necessidade de "proteger conjuntamente a segurança, a estabilidade e a continuidade das cadeias globais de produção e cadeias de suprimentos, para que os frutos da globalização econômica possam beneficiar diferentes países e diferentes grupos de pessoas de forma mais equitativa".

Assim, o político chinês declarou que a era do heroísmo individual já passou, diante dos inúmeros e sérios desafios globais para a humanidade é necessário agir em conjunto, e observou que nos últimos três anos todos os países do mundo fizeram enormes esforços para enfrentar os desafios da pandemia, demonstrando a poderosa força da solidariedade e da assistência mútua da humanidade.

Ele acrescentou que os destinos das pessoas estão intimamente ligados, por isso é necessário continuar desenvolvendo o conceito de cooperação mutuamente benéfica, trabalhar juntos para resolver os problemas globais e promover o progresso da civilização humana.

"Todo mundo sabe que a época atual não é uma época de luta individual, em certo sentido a época do heroísmo individual já passou, a época atual requer cooperação mútua", enfatizou Li Qiang.

·         Políticos americanos pedem fim de pacto com China: 'EUA devem parar de alimentar própria destruição'

Em requerimento enviado ao Departamento de Estado norte-americano nesta terça-feira (27), parlamentares republicanos solicitam ao governo Biden que um acordo de décadas de cooperação científica entre Estados Unidos e China não seja renovado.

Na carta encaminhada ao secretário de Estado, Antony Blinken, o presidente do comitê seleto da Câmara dos Representantes dos EUA para a China, Mike Gallagher, e outros nove representantes republicanos disseram que o acordo deveria ser descartado uma vez que o governo chinês tentará usá-lo para ajudar seus militares.

"Os Estados Unidos devem parar de alimentar sua própria destruição. Deixar o STA expirar é um bom primeiro passo", diz o texto da carta segundo a Reuters.

O pacto, nomeadamente Acordo de Ciência e Tecnologia (STA, na sigla em inglês), expira em 27 de agosto deste ano e foi assinado quando Pequim e Washington estabeleceram relações diplomáticas em 1979. Renovado a cada cinco anos desde então, resultou em cooperação em áreas desde ciência atmosférica e agrícola até pesquisa básica em física e química.

"A China usa pesquisadores acadêmicos, espionagem industrial, transferências forçadas de tecnologia e outras táticas para obter vantagem em tecnologias críticas, o que, por sua vez, alimenta a modernização do Exército de Libertação Popular [ELP]", diz o texto.

A carta também cita preocupações sobre o trabalho conjunto entre a Administração Meteorológica dos EUA e da China em "balões instrumentados", bem como mais de uma dúzia de projetos do Departamento de Agricultura norte-americano com entidades chinesas que, segundo os parlamentares, incluem tecnologias com "aplicações claras de uso duplo", incluindo técnicas para analisar imagens de satélite e drones para gestão de irrigação.

Segundo a mídia, as autoridades chinesas disseram publicamente que pretendem estender o pacto e que abordaram os EUA no ano passado para discutir a renovação, mas que Washington está conduzindo uma revisão do acordo.

 

Ø  América Latina, após restrições recorde, pode liderar redução das taxas de juros, aponta análise

 

Os principais bancos centrais da América Latina, que efetuaram algumas das mais agressivas restrições monetárias nos últimos dois anos, podem agora estar prontos para liderar a tendência de redução da taxa de juros, em meio a sinais claros de desaceleração da inflação em lugares como o Chile e Brasil, relata a agência britânica Reuters.

O potencial ponto de inflexão aconteceu quando a Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu sinalizam que novos aumentos da taxa de juros podem estar no horizonte, e o Banco da Inglaterra surpreendeu muitos investidores ao subir as taxas de juros meio ponto percentual na semana passada.

A América Latina embarcou no início de 2021 em um dos ciclos de restrição monetária mais acentuados do mundo para conter a inflação desenfreada, alimentada por gargalos nas cadeias produtivas globais, aumento dos preços dos alimentos e os efeitos indiretos das medidas de estímulo fiscal usadas para aliviar os problemas econômicos da pandemia da COVID-19.

Isso significa que as taxas já estão altíssimas – 11,25% no Chile e no México, 13,75% no Brasil - e têm espaço para baixar.

"Esperamos que os bancos centrais latino-americanos sejam os primeiros a cortar as taxas globalmente porque há várias dinâmicas domésticas que beneficiaram a região", disse Joan Domene, economista sênior da Oxford Economics, citando uma atividade econômica melhor do que o esperado e a baixa da inflação.

Alberto Ramos, analista do Goldman Sachs, escreveu em junho que a região estava vendo um progresso "gradual, mas constante" na inflação, incluindo preços dos produtos básicos.

"Os bancos centrais estarão procurando sinais de consolidação da desinflação e reequilíbrio macro antes de começar a reduzir de forma credível o nível de restrição da política monetária", disse ele.

O Uruguai já reduziu as taxas em 25 pontos base em abril. O Chile poderá também flexibilizar a sua política monetária no próximo mês, com o Brasil potencialmente seguindo de perto.

O Banco Central do Chile manteve sua principal taxa de juros em 11,25% na semana passada, mas disse que, se as recentes tendências positivas continuarem, poderá começar a cortar a taxa no curto prazo.

As previsões apontam para um corte das taxas no próximo mês, disse Cesar Guzman, analista macroeconômico do Grupo Securities, com sede em Santiago.

"O mercado já está a contar com um corte de 100 pontos base", disse ele.

No Brasil, o Banco Central manteve as taxas estáveis na última quarta-feira (21) pela sétima vez consecutiva, embora tenha adotado um tom mais apaziguador em relação a passos futuros, excluindo a possibilidade de próximos aumentos das taxas.

Os mercados financeiros brasileiros mostraram que muitos traders estão apostando que o banco iniciará um ciclo de flexibilização monetária em agosto, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu novamente à autoridade monetária que cortasse as taxas para estimular o crescimento.

·         Renda de 80% das famílias no Reino Unido desce em meio à crise dupla de taxas de juro e da inflação

A grande maioria das famílias britânicas cada vez mais não consegue pagar as contas essenciais, com o oposto acontecendo aos domicílios mais ricos, escreve a Bloomberg.

Cerca de 80% das famílias britânicas sofreu uma queda em sua renda disponível em maio, com o aumento do custo de vida continuando a pesar sobre os gastos, informou nesta segunda-feira (26) a agência norte-americana Bloomberg.

A mídia citou o rastreador de renda da cadeia de supermercados Asda como dizendo que 40% das famílias são incapazes de pagar as contas e os itens essenciais, com um déficit médio para essas famílias de £ 42,5 (R$ 268) por semana em maio.

Segundo a Asda, em média, as famílias tinham £ 207 (R$ 1.255) de renda disponível por semana, o segundo valor mais baixo desde outubro. Em contrapartida, referiu, as famílias de renda mais alta viram a renda disponível aumentar em maio, pelo segundo mês consecutivo, para uma média de £ 754 (R$ 4.570) por semana.

Um aumento maior do que o esperado da taxa de juros do Banco da Inglaterra na semana passada provocou ondas de choque na economia e aumentou o custo das hipotecas. Ela está agora em 5%, o nível mais alto desde 2008, e sobe desde dezembro de 2021, quando registrava 0,5%.

A inflação no Reino Unido tem sido das mais altas na Europa, e cai menos que nos outros países europeus. Ela estava em um valor anualizado de 8,7% em maio, o mesmo que em abril. A causa disso é geralmente atribuída à gestão da economia e aos efeitos do Brexit, que restringiu o comércio com a União Europeia.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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