Bolsonaro pede para
si benefício que negou a Lula
Desde
que passou a ser alvo de uma ação que pode torná-lo inelegível, o ex-presidente
Jair Bolsonaro deu uma série de declarações sobre o assunto, passando pela
descrença sobre ter seus direitos políticos cassados, por reclamações sobre
estar sendo injustiçado e, mais recentemente, flertando com a aceitação de um
possível desfecho negativo aos seus planos de concorrer ao cargo novamente em
2026.
O
TSE volta a se reunir nesta quinta-feira para julgar o processo que pode
determinar a inelegibilidade do ex-presidente. O colegiado vai analisar uma
ação movida pelo PDT por questionamentos feitos pelo ex-mandatário ao processo
eleitoral, sem apresentar provas, em uma reunião com embaixadores realizada em
julho de 2022.
Confira
as principais falas de Bolsonaro sobre a possibilidade de ficar inelegível:
• 14 de março
Ainda
nos Estados Unidos, ele reconheceu a possibilidade de ficar fora de eleições
por oito anos:
—Infelizmente,
em alguns casos no Brasil você não precisa ter culpa para ser condenado. Então
existe essa possibilidade de inelegibilidade, sim. A questão de prisão, só se
for uma arbitrariedade.
• 30 de março
Em
entrevista à Jovem Pan, disse que não considerava a hipótese de avanço do
processo:
—O
advogado do partido está tratando desse assunto. Eu não vejo materialidade em
nada. A ação mais forte contra mim é uma reunião com embaixadores em meados do
ano passado. Por quê? A política para tratar com embaixadores é prerrogativa
minha. Não vejo motivo para me julgar inelegível por isso.
• 14 de junho
Às
vésperas do julgamento, Bolsonaro disse estar preparado para “aconteça o que
acontecer”. Na ocasião, ele participou do evento de filiação do ex-ministro da
Saúde Marcelo Queiroga ao PL.
—A
gente sabe como é a política brasileira, e já sabemos também como é a Justiça
aqui no Brasil. Então a gente se prepara para que aconteça o que acontecer, a
gente se prepara para buscar alternativas. Acredito em Deus, acredito neste
país.
• 21 de junho
Na
véspera do julgamento, o ex-presidente expressou um tom de desânimo e
reconheceu que as chances de ser condenado são grandes.
—Hoje
em dia, é quase uma unanimidade que vou perder a ação. Essa é uma verdade—
disse à CNN Brasil.
• 22 de junho
No
dia seguinte, chamou de “afronta” a possibilidade de ficar inelegível:
—Na
minha idade, eu gostaria de continuar 100% ativo na política. Tirando os seus
direitos políticos, que, ao meu ver, é uma afronta, você perde um pouquinho
desse gás— afirmou à Folha de S. Paulo.
• 23 de junho
Na
sexta-feira, em Porto Alegre, Bolsonaro afirmou que não quer perder os direitos
políticos e levantou a hipótese de se candidatar novamente:
—Lógico
que eu não quero perder meus direitos políticos. Até eu falei outro dia, né:
estou pensando em ser candidato a vereador no Rio de Janeiro. Qual o problema?
Não há demérito nenhum. Até vou me sentir jovem, porque geralmente a vereança é
para a garotada, para os mais jovens, é o primeiro degrau da política. Em 2026,
se estiver vivo até lá, e também elegível, se essa for a vontade do povo, a
gente vai. Disputo novamente a presidência.
• 25 de junho
No
domingo, Bolsonaro chamou o julgamento de “politiqueiro”, mas ponderou que um
possível resultado negativo “não será o fim do mundo
—É
um julgamento politiqueiro, não era nem para ter sido recepcionada a ação. Por
ter me reunido com embaixadores. É brincadeira. E tem uma jurisprudência de
2017, julgamento da chapa Dilma-Temer, que simplesmente deixou de existir agora
para esse julgamento meu. Então, a gente vai ver o que acontece, eu não vou
adiantar o resultado aqui, mas não será o fim do mundo — afirmou à Rádio
Bandeirantes.
• 26 de junho
Na
segunda-feira, o ex-presidente afirmou ser “injusto” alegar que ele atacou a
democracia ao reunir embaixadores em Brasília para deslegitimar o processo
eleitoral brasileiro.
—
É justo cassar os direitos políticos de alguém que se reuniu com embaixadores?
Não é justo falar “atacou a democracia”. Ninguém é insubstituível. O que
acontece no momento é que tem muita gente aqui, muito mais competente do que
eu, mas não tem o conhecimento nacional que eu tenho. E eu consegui o carinho
de uma parte considerável da população — disse.
Bolsonaro diz que ser presidente
facilitaria dar golpe
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu que a tendência é se tornar
inelegível no julgamento que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma nesta
quinta-feira. O colegiado volta a analisar uma ação movida pelo PDT por
questionamentos feitos pelo ex-mandatário ao processo eleitoral, sem apresentar
provas, em uma reunião com embaixadores realizada em julho de 2022.
Em
entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Bolsonaro diz nunca ter atacado o
sistema de votação do país. Segundo ele, adversários querem puni-lo “pelo
conjunto da obra”.
—
A tendência, o que todo o mundo diz, é que eu vou me tornar inelegível. Eu não
vou me desesperar. O que que eu posso fazer? Eu sou imbrochável até que se
prove o contrário. Vou continuar fazendo a minha parte — disse.
Na
entrevista, Bolsonaro considerou “absurdo” a inclusão, na ação do TSE, dos
acontecimentos de 8 de janeiro, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as
sedes dos Três Poderes, em Brasília, e negou ter incentivado um golpe de Estado
para continuar no poder.
—
Se fala em golpe no Brasil desde 1964. Não é de agora. Sempre alguém fala que
tem que ter medida de força, tem que ter não sei o que lá. Mas, quando acabaram
as eleições, eu mergulhei. Se alguém acreditou [que seria dado um golpe]…
Porque qualquer medida de força, você tem que pensar no “after day” [no dia
seguinte ao golpe]. A coisa mais fácil é tomar alguma coisa [o poder] estando
no governo. Mas e o “after day”? — disse o ex-presidente.
Na
entrevista, Bolsonaro chamou de “imbecil” o trio acusado de planejar um
atentado com explosivo perto do aeroporto de Brasília e disse nunca ter apoiado
a depredação do patrimônio público na capital federal. A despeito das
conclusões da Procuradoria-Geral da República, que denunciou 1.390
bolsonaristas pelo 8 de janeiro, ex-presidente atribuiu os atos de vandalismo a
apoiadores do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
—
Tem certos absurdos. Botaram na ação do TSE até o 8 de janeiro, que ainda está
em investigação, inclusive em uma CPI. Agora na Rússia teve um levante, do
grupo Wagner. Foram dezenas de milhares de homens armados para um lado e para o
outro, com tanques nas ruas. No Brasil o golpe foi de senhorinhas com uma
Bíblia debaixo do braço. De senhorzinhos com a bandeira do Brasil nas costas —
destacou Bolsonaro.
Questionado
sobre a reportagem do Financial Times sobre uma atuação do governo americano,
nos bastidores, em defesa da democracia do Brasil, Bolsonaro disse que nunca
recebeu recado e que falava em voto impresso desde 2010. O ex-presidente negou
que a reunião com os embaixadores, pela qual agora é alvo da ação no TSE,
tivesse como objetivo apontar a possibilidade de fraude na eleição.
—
Quando me reuni com os embaixadores, falei que deveríamos manter um sistema
[eleitoral] transparente. Porque a pior coisa que pode acontecer é acabar uma
eleição e existir uma suspeita. Ninguém falava em fraude — pountou o
ex-presidente, que voltou a lançar dúvidas sobre a atuação de ministros da
Corte eleitoral durante o pleito. — Agora, qual foi o comportamento do Tribunal
Superior Eleitoral durante as eleições?
Na
entrevista, Bolsonaro disse que o ministro Alexandre de Moraes “teria já
enquadrado todo mundo para não pedir vista” da ação do TSE.
Ao
ser perguntado se ainda achava que teria ganhado as eleições do ano passado,
Bolsonaro disse que o caso é “página virada”. Ao jornal, o ex-presidente disse
que “não vai se desesperar” com o resultado do julgamento no TSE e que será
possível reverter um eventual condenação.
—
Olha, eu conheço a composição das cortes superiores. Que é possível, é. Agora,
quando a gente fica sabendo que uma autoridade importante —usando um pleonasmo
abusivo aí—bate no peito e fala: “Salvamos a democracia ano passado”… se salvou
foi com interferência.
Bolsonaro
disse à “Folha de S. Paulo” que pode deixar o país após o julgamento do TSE.
—
Eu tenho um convite para trabalhar nos Estados Unidos. Lá vivem, eu calculo,
1.4 milhões de brasileiros. Não sei o número exato. Fui convidado para ser
garoto propaganda lá. De venda de imóveis — contou Bolsonaro, que relatou ter
movimentado estabelecimentos comerciais de Orlando, na Flórida, quando lá
esteve, em janeiro. — Fui numa hamburgueria e encheu de gente. Eu enchi a pança
e não paguei nada. [risos]. O meu cachê foi comer de graça.
No
entanto, ele disse que pretende continuar na vida pública, diante do que viu,
em março, durante o Conservative Political Action Conference (CPAC), evento que
reúne lideranças da direta global.
—
Eram mais de mil pessoas, o Trump estava. Quem ficou na frente inclusive pagou
US$ 5.000. Eu não paguei porra nenhuma [risos]. Falei de improviso. Daí um
macho lá gritou: “Eu te amo”. Na terceira vez que ele gritou, eu falei: “Eu sou
o ex mais amado do Brasil, sabe” [risos].
Durante
a entrevista, Bolsonaro diz que a mulher, Michelle Bolsonaro, tem feito “um
trabalho fantástico” e “aprendeu” a discursar em eventos políticos.
—
Eu não conhecia esse lado dela. Na convenção do PL no ano passado [Michelle
discursou], todo mundo se assustou. Ela não foi treinada, nada — afirmou o
ex-presidente, que comentou a possibilidade de Michelle ser candidata. — Se ela
quiser, ela pode sair candidata. Mas o que eu converso com a Michelle é que ela
não tem experiência. Para ser prefeito de cidade pequena já não é fácil. Lidar
com 594 parlamentares [entre deputados e senadores] não é fácil também. Eu
acredito que ela não tem experiência para isso. Mas é excelente cabo eleitoral.
Bolsonaro
também comentou o processo sobre as despesas de Michelle, que eram pagas pelo
coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência. Ele disse que a mulher
sacava dinheiro da conta pessoal dele e rebateu por que não fazia os pagamentos
diretamente.
—
É manicure, é não sei o quê, umas frescuradas todas. Então era para não entrar
meu nome lá e não ficar toda hora usando o meu cartão. Daqui a pouco eu tô
pagando algo para um cara que tem problema. Se eu boto Pix para um cara que
cuida de cachorro, por exemplo, mas está também na boca de fumo? — disse.
Questionado
sobre a possibilidade de candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos),
Bolsonaro disse que o ex-ministro é “excelente gestor”, mas evitou firmar apoio
a ele.
—
Pode ser. Teria que conversar com ele — destacou. — Por enquanto… Eu tenho a
bala de prata, mas não vou te dizer, para você não ficar perturbando, no bom
sentido. Eu tenho a bala de prata, mas não vou revelar.
Bolsonaro diz que reuniu embaixadores
para “aperfeiçoar” eleições
Um
dia antes da sessão do Tribunal Superior Eleitoral que pode decidir seu futuro
político, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, esperar um “julgamento
justo” da Corte, que pode torná-lo inelegível por oito anos. Ele também negou
que, em 18 de julho do ano passado, tenha reunido embaixadores no Palácio do
Planalto para atacar o sistema eleitoral, as urnas, o TSE e a democracia —
razão da ação julgada pelo tribunal. Segundo ele, o objetivo do evento com os
representantes diplomáticos era para o “aperfeiçoamento” de todo o processo.
“É
justo cassar os direitos políticos de alguém que reuniu embaixadores? Não é
justo falar em atacar a democracia. Aperfeiçoamento, buscar colocar camadas de
proteção, é bom para a democracia. Não podemos aceitar passivamente no Brasil
que possíveis críticas ou sugestões de aperfeiçoamento do sistema eleitoral
seja tido como ataque à democracia”, disse, após o encontro com deputados
federais e estaduais do PL. Da reunião na Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo (Alesp), para fechar a estratégia do partido nas eleições municipais
de 2024, também participou o presidente do partido, Valdemar Costa Neto.
Bolsonaro
cobrou que o TSE dê a ele uma decisão na linha daquela que, seis anos atrás,
julgou a impugnação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. “Esperamos que sigam
a jurisprudência de 2017, onde não se aceitou agregar mais nenhuma prova sobre
a original. Espero que isso aconteça”, afirmou, referindo-se à minuta golpista
encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, agregada ao
processo.
Na
semana passada, o ex-presidente havia afirmado esperar que o ministro Raul
Araújo peça vista da ação, ou seja, mais tempo para analisar o processo. Se
isso acontecer, os autos devem ser devolvidos em até 60 dias. Caso esse prazo
seja ultrapassado, a ação deve ser julgada automaticamente, de acordo com as
regras do tribunal.
O
TSE começa, nesta terça-feira, a votar a ação que acusa Bolsonaro de abuso
político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação do governo. Na
última quinta-feira, foi lido o relatório do ministro Benedito Gonçalves, além
de ter havido a manifestação dos advogados de acusação e defesa.
O
Ministério Público Eleitoral (MPE) se posicionou pela condenação do
ex-presidente, apontando que “estão estampados” elementos que justificam
afastar Bolsonaro das eleições, como desvio de finalidade, busca de vantagem na
disputa eleitoral de 2022, além da gravidade da conduta. O processo é movido
pelo PDT.
A
sessão está prevista para começar às 19h. Depois da votação de Benedito
Gonçalves, votam os ministros Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques, André
Ramos Tavares, Cármen Lúcia, Nunes Marques e, por último, o presidente do TSE,
Alexandre de Moraes.
Para
a advogada Paula Bernardelli, especialista em direito eleitoral, a situação de
Bolsonaro é delicada por conta das falas do ex-presidente na reunião com os
embaixadores. “As manifestações já eram questionáveis do ponto de vista legal,
considerando que o ex-presidente utilizava espaços e recursos públicos, bem
como sua função como chefe de Estado para disseminar a ideia de descredibilidade
do sistema. Além de inflamar seus apoiadores contra um eventual resultado
desfavorável nas urnas”, analisou.
Já
a advogada eleitoral Izabelle Paes considera claro o uso indevido da máquina
pública, na reunião com os embaixadores, para a promoção política. “Logicamente
que, em termos práticos, a disputa nunca será igualitária em absoluto. Contudo,
o uso da estrutura de governo em favor de um candidato não pode ser admitida.
Daí a importância das ações voltadas a coibir o abuso de poder”, ressaltou.
Fonte:
O Globo/Metrópoles
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