Alvaro Caldas:
Apologia à tortura e ao estupro, os crimes do capitão perante a História
São
incontáveis e de tipificação variada os crimes atribuídos ao capitão reformado
do Exército e ex-presidente Jair Bolsonaro, que começam a ser julgados pelo
Tribunal Superior Eleitoral. Da morte de indígenas e destruição de florestas ao
genocídio da negação da vacina, racismo e o contrabando. Há um Dossiê
circulando na internet, realizado pelo projeto Capivara, com a classificação e
a descrição de cada uma das condutas potencialmente criminosas do líder da
extrema-direita.
Excedeu
todos os limites. Dezenas de crimes, de natureza eleitoral ou criminal,
catalogados nas áreas de pandemia, de corrupção e de ódio. Uma característica
comum a todos é o emprego da mentira, da virulência, do desprezo, da crueldade,
da vilania, da traição, do abuso de poder e da falsificação de dados. Defensor
de uma ditadura militar, implantou o obscurantismo e o desprezo pela democracia
como práticas de governo. Derrotado nas urnas, mobilizou militares para tentar
um tosco golpe de estado.
O
alarmante e deprimente espetáculo do fracasso da intentona de 8 de janeiro
serviu também para revelar outro atributo de sua personalidade: a covardia.
Depois de incentivar e conduzir seus cúmplices e aliados, abandonou-os na hora
em que as investigações estavam avançando para comprovar sua participação.
No
celular de seu ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, a PF encontrou
provas do complô tramado com oficiais do alto comando do Exército. No de seu
ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, uma minuta do andamento golpista.
Pelo
festival de ilegalidades e contravenções cometidas publicamente, sua situação
tornou-se indefensável, e os juízes deverão condená-lo. Ficará inelegível por
oito anos. No processo em curso no TSE reuniu embaixadores de mais de 40
países, usando o aparato oficial da presidência, para atacar o sistema
eleitoral brasileiro e defender o voto em papel. Deu ao mundo o recado de que
não aceitaria o resultado das eleições.
Condenado
por abuso de poder ficará inelegível, mas o bolsonarismo permanecerá ativo no cenário
político, livre para ações de sabotagem e oposição ao governo Lula, em manobras
com seus aliados das milícias e do Centrão. Contidos com os fuzis do golpe nas
mãos, os militares continuarão uma incógnita. Precisam ser exemplarmente
punidos pelo 8 de janeiro, para que se limitem a cumprir o que manda a
Constituição.
No
decorrer das investigações e com o andamento dos processos, o destino de
Bolsonaro poderá mudar. Seu grande pavor é ser mandado para a cadeia e vestir o
uniforme de presidiário. Nem seu amigo Trump o visitará. O julgamento de suas
ações criminosas segue na pauta do Judiciário e deverá se prolongar pelos
próximos anos.
Num
mundo em que a inteligência artificial e novas tecnologias ameaçam o domínio do
homem no planeta, um capitão da reserva do Exército brasileiro pode ser
condenado por ter feito, em sua gestão na presidência da República, a apologia
de duas aberrações medievais, a tortura e o estupro.
Bolsonaro
defendeu com plena convicção e em várias situações o uso da tortura no interrogatório
de presos políticos, prática institucionalizada pelo Estado militar terrorista.
Com o mesmo vigor defendeu estupradores que violentam as mulheres.
Na
noite do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, usou o microfone do
plenário da Câmara para gritar que dava seu voto em memória do coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra, o major Tibiriçá, torturador de Dilma e o mais notório
dentre os militares que assassinaram prisioneiros durante a ditadura. O
conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu processo contra o deputado, que
foi denunciado à ONU.
Bolsonaro
protegeu e abraçou Ustra e sua família, que respondem por outros dois crimes. O
Superior Tribunal de Justiça tem na pauta recurso de processo em que ele foi
condenado pelo assassinato do jornalista Luiz Eduardo Merlino, em julho de
1971, nas dependências do Doicoidi de São Paulo, então comandado pelo major
Tibiriçá.
Em
2008 tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido como torturador pela
Justiça brasileira, numa ação declaratória impetrada pela família Teles, que o
acusa do sequestro e tortura de César Teles, Maria Amélia (Amelinha) e Criméia,
junto com duas crianças, Janaina e Edson, de 4 e 5 anos. Ustra é o modelo e
herói de Bolsonaro, um torturador nato, que também se dedica a fazer o elogio
do estupro.
O
STF acaba de enviar à primeira instância o segundo processo contra ele por
incitação ao crime de estupro. Em dezembro de 2014, numa discussão com a
deputada Maria do Rosário, do PT, no plenário da Câmara dos Deputados, usou de
toda a virulência de seu ódio para berrar que ‘só não a estupraria porque ela
não merecia.” Declaração repetida no dia seguinte ao jornal Zero Hora.
Foi
processado pelo Ministério Público e pela deputada. Ao deixar a presidência, os
processos foram enviados à Justiça do Distrito Federal. O que o torna também
réu por incitação ao estupro, prática abjeta combinada com a tortura nos
calabouços da ditadura.
No radar, mais uma condenação para
Bolsonaro
Bolsonaro
não se conforma com a inelegibilidade, pena de oito anos que lhe será imposta
pelo Tribunal Superior Eleitoral na próxima semana, ou o mais tardar em agosto.
Quem mandou abusar do poder político, atacar a democracia e tramar um golpe?
O
partido dele, o PL de Valdemar Costa Neto, esse, sim, parece conformado com a
punição. Se lhe paga salário gordo, aluguel de mansão em Brasília e contratou
Michelle como garota propaganda, espera uma contrapartida. Natural. E ela está
à mesa.
O
casal mais poderoso do país nos últimos quatro anos servirá doravante como cabo
eleitoral do partido. Um bom ativo para o PL. Só não será melhor do que foi em
2022, quando o PL saiu das urnas como dono da maior bancada de deputados
federais.
É
para boi dormir a história de que o Supremo Tribunal Federal poderá revogar o
que decidirá seu irmão mais moço, o Tribunal Superior Eleitoral. Só o faria
caso ocorresse uma escandalosa violação de artigos da Constituição. Não vai
ocorrer.
Dos
sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral que julgam Bolsonaro, três são
também ministros do Supremo. Conhecem as leis em profundidade, de resto como
seus demais colegas de tribunal. A sorte de Bolsonaro é prego batido, ponta
virada.
“Se
essa injustiça [a cassação de Bolsonaro] acontecer, vai se alastrar um
sentimento de revolta muito grande. Isso será traduzido em votos aos candidatos
ligados a ele”, diz acreditar Costa Neto, lambendo os beiços e transpirando
felicidade.
Passará
muita água debaixo da ponte até outubro de 2024, mês das eleições municipais. E
mais água até outubro de 2026, mês das eleições gerais, incluindo a de
presidente da República. Um líder sem expectativa de poder costuma ser um cabo
eleitoral fraco.
No
mais, Bolsonaro será julgado por outros crimes. Avolumam-se processos contra
ele no Tribunal Superior Eleitoral e no Supremo. Pelo menos mais um deverá ser
julgado antes do final deste ano. E são grandes as chances de Bolsonaro ser
outra vez condenado.
Em
silêncio, a chamada direita civilizada comemora por antecipação a desgraça de
Bolsonaro. Quer fazer de conta que nada teve a ver com ele.
Bolsonaro alega que “enxertaram”
acusações para “dar credibilidade” ao processo no TSE
O
ex-presidente Jair Bolsonaro disse, neste sábado, que “enxertaram” outras
acusações no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode deixá-lo
inelegível por oito anos para “pode dar alguma credibilidade e materialidade à
ação”. “Não tem credibilidade nenhuma”, afirmou ele, em entrevista à CNN
Brasil.
Bolsonaro
comparou o processo que é movido contra ele pelo PDT com a ação da chapa
Dilma-Temer há cinco anos. “Lá, tentaram enxertar outras acusações. O TSE tirou
fora. Agora, tentam fazer a mesma coisa comigo”, disse, referindo-se à minuta
golpista.
A
minuta golpista encontrada em janeiro na casa do ex-ministro da Justiça
Anderson Torres se tornou central no julgamento no TSE. Na primeira sessão do
julgamento, nesta quinta-feira, dia22, os pronunciamentos dos advogados do PDT,
autor da ação, e do ex-presidente giraram em torno da inclusão do documento
como prova no julgamento.
A
defesa pediu que o TSE não permita que acusações não relacionadas à reunião com
embaixadores componham a ação judicial.
“Não
tem materialidade nenhuma”, disse Bolsonaro. “Espero pelo TSE me julgue de
acordo com o que aconteceu em 2017, e não podemos ter outro resultado a não ser
o arquivamento desta ação”, afirmou.
O
ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou, ainda, que as “possíveis críticas e
observações” ao sistema eleitoral feitas por ele em reunião com embaixadores
estrangeiros não foram ataques, mas uma resposta ao ministro Edson Fachin.
Em
entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro disse que convidou os embaixadores para um
encontro em julho de 2022 porque Fachin, então ministro do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), também havia se reunido no dia 7 de junho com 65 diplomatas
estrangeiros para falar sobre eleições e o sistema eleitoral.
O
TSE iniciou nesta quinta-feira, 22, o julgamento que pode definir o futuro
político do ex-presidente. O processo é movido pelo PDT e alega suposto abuso
de poder e uso indevido dos meios de comunicação oficiais durante o período
pré-eleitoral de 2022.
Presidente da CPI do 8 de janeiro pede
que STF rejeite pedido de Mauro Cid para não depor
O
presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos
Antidemocráticos, deputado federal Arthur Maia (União Brasil-BA), pediu que o
Supremo Tribunal Federal (STF) rejeite o pedido do tenente-coronel Mauro Cid
para não depor sobre o 8 de janeiro. Em postagem no Twitter, Maia afirmou que
Cid deverá comparecer “como investigado, referente aos fatos em que exista
acusação contra ele e como testemunha nos demais”.
A
convocação do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi
aprovada em 13 de junho. Três dias depois, a defesa de Cid pediu ao STF que ele
não precise prestar depoimento ou que possa permanecer em silêncio caso tenha
que comparecer diante do colegiado. Os advogados do tenente-coronel alegam que
ele “sob risco concreto de ser constrangido a depor perante 32 parlamentares” e
que ainda não tiveram total acesso aos achados da Polícia Federal (PF) sobre o
aliado do ex-presidente. Nessa linha, a banca sustenta que a presença do
militar na CPMI “violaria os princípios do contraditório e da ampla defesa”.
A
ministra do STF Cármen Lúcia, então, pediu que Arthur Maia esclarecesse em qual
condição Cid seria convocado a depor. Isso porque caso seja chamado como
testemunha, o militar tem a obrigação de ir e prestar esclarecimentos; se
convidado como investigado, ele poderia escolher ficar em silêncio, para
preservar o direito de não se incriminar. Em resposta ao STF, a Advocacia do
Senado explicou que Cid foi convocado na condição de testemunha por três
requerimentos; outros três pediram que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
comparecesse como investigado. Em outras seis solicitações essa condição não
fica discriminada.
“Na
condição de testemunha, a regra é que o depoente está obrigado a prestar o
compromisso de dizer a verdade e a responder todas as questões”, informou a
Advocacia do Senado. “Contudo, quanto aos fatos que o envolvam direta ou
indiretamente, admite-se a invocação do direito ao silêncio ou o afastamento do
dever de dizer a verdade. Nesse caso, o direito à não-autoincriminação será
garantido pela possibilidade do seu silêncio, não havendo jamais a
possibilidade de falta”.
A
resposta da CPI ao STF acrescenta ainda que a investigação da Comissão é
independente da instalada pela PF. “Tratam-se de esferas distintas e
independentes, com objetivos também distintos, já que a CPI instaura um
procedimento de caráter político, que não assume natureza preparatória de ações
judiciais”, afirma o documento. Os advogados do Senado finalizam a resposta
reafirmando a obrigatoriedade do comparecimento de Cid e o dever de o militar
dizer a verdade em relação a fatos que não o incriminem.
A
Polícia Federal (PF) informou na semana passada ter encontrado no celular do
tenente-coronel um “roteiro” em oito passos para a aplicação de um golpe de
Estado. Anteriormente, as investigações no aparelho do ex-ajudante de Bolsonaro
já haviam achado o rascunho de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e
mensagens que articulavam uma investida antidemocrática.
No
dia 15 de junho, o ministro Alexandre de Moraes havia autorizado Cid a sair da
prisão para prestar depoimento. Ele está preso desde 3 de maio no Batalhão de
Polícia do Exército, investigado por falsificar cartões de vacina da covid-19,
incluindo documentos da própria família de Bolsonaro.
Fonte:
Jornal do Brasil/Agencia Estado/Metrópoles/IstoÉ
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