segunda-feira, 1 de maio de 2023

Salário médio recuou 6,9% no Brasil em 2022, mais que a média mundial, diz relatório da Oxfam

O salário médio do trabalhador brasileiro registrou uma queda de 6,9% em 2022, acima do recuo médio de 3,19% registrado em 50 países no mesmo período, revela relatório da Oxfam.

Os dados foram divulgados por ocasião do dia do Trabalhador, comemorado em 1º de maio.

"No Brasil, a recuperação do emprego tem se dado às custas, principalmente, de trabalho informal, mais precário, com menos acesso a direitos e renda média menor", avaliou o coordenador de justiça econômica da Oxfam Brasil, Jefferson Nascimento.

A Oxfam é uma organização independente sem fins lucrativos com atuação no país desde 2014.

Ajustados pela inflação, os números são baseados em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e agências governamentais de estatísticas, informou a entidade.

Segundo a organização, 1 bilhão de trabalhadoras e trabalhadores de 50 países tiveram um corte médio de US$ 685 em seus salários em 2022. A perda coletiva foi de US$ 746 bilhões em salários reais (caso os pagamentos tivessem sido reajustados pela inflação).

·         Dividendos de acionistas

De acordo com o documento, a queda do salário dos trabalhadores contrasta com a evolução dos dividendos de acionistas no Brasil, que receberam, no ano passado, cerca de 24% a mais do que em 2021.

Segundo a Oxfam, os pagamentos feitos aos acionistas, considerados "exorbitantes", beneficiam os mais ricos da sociedade, aumentando os níveis já altos de desigualdade.

"Os dividendos recebidos por acionistas em 2022 foi um recorde de US$ 1,56 trilhão, aumento de 10% em relação a 2021. Acionistas de empresas brasileiras receberam US$ 34 bilhões, quase o mesmo montante do que trabalhadoras e trabalhadores do país tiveram em cortes em seus salários", informou a entidade.

"Enquanto os executivos de grandes empresas lucram com aumentos de seus salários e dividendos de ações, a grande parte da população, que é trabalhadora assalariada, tem seus salários reduzidos e mal conseguem acompanhar o custo de vida em seus países. Essa desigualdade é inaceitável e, infelizmente, nada surpreendente”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

Em janeiro desse ano, durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos (Suíça), a Oxfam recomendou o aumento da taxação dos super-ricos.

·         Trabalho não remunerado

Segundo o estudo da organização, as mulheres de todo o mundo trabalham pelo menos 380 bilhões de horas a cada mês em atividades de cuidado não remuneradas.

"Trabalhadoras frequentemente têm que trabalhar menos tempo ou abandonar seus empregos devido a essas atividades de cuidado não remuneradas. Elas também enfrentam discriminação, assédio e salários menores do que os recebidos pelos homens", informou.

 

Ø  Como é sobreviver sem direitos trabalhistas? Conheça histórias

 

Celebrado em todo o mundo nesta segunda (1º), o Dia do Trabalhador traz reflexões sobre um dos aspectos mais importantes da vida. Mais do que uma fonte de renda, o trabalho está ligado aos sonhos das pessoas e à forma como elas entendem que podem contribuir para o desenvolvimento de si e da sociedade.

No entanto, exercer a prática profissional no Brasil é algo cercado de dificuldades. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em fevereiro deste ano, o país bateu o recorde de empregados sem carteira assinada, com mais de 13 milhões de profissionais na informalidade, sem ter os direitos trabalhistas garantidos.

Neste feriado, o g1 reuniu histórias, rotinas e sonhos de trabalhadores informais que atuam no Recife. Confira abaixo e veja os vídeos:

·         Vendedor de pipoca nos sinais

👨 Nome: Fábio Galdino da Silva.

📍 Onde trabalha: Avenida Agamenon Magalhães, onde também mora.

💲 Renda: aproximadamente R$ 40 por dia.

🎯 O que já conquistou com o trabalho: a própria sobrevivência.

 Maior sonho: morar em uma casa.

💬 "O fator de eu estar aqui é não deixar de dar o alimento para os meus filhos. Meu maior sonho é uma casa. Eu sempre digo a Deus que, um dia, vou morrer e nunca vou ter uma casa. Não queria saber de comida, de nada. Você com uma moradia certa, chegar à noite, cansado, e pensar: 'poxa, vou tomar aquele banho, assistir televisão'. No outro dia, você está novo de novo para estar aqui."

·         Lavador de carros

👨 Nome: Nicolas Santos.

📍 Onde trabalha: lava a jato de rua, no bairro do Rosarinho, na Zona Norte.

💲 Renda: aproximadamente R$ 70 por dia.

🎯 O que já conquistou com o trabalho: se manter.

 Maior sonho: ser dançarino de passinho.

💬 "Comecei lavando pneus e tapetes e comecei a enxugar os carros, fui aprendendo as coisas aos poucos. Agora, sou profissional, e lavo sozinho. É cansativo, mas, para mim, que já estou acostumado, não tanto. Tem gente que não gosta, porque lavar carro suja, mas dá dinheiro. O negócio é não ficar parado. Meu sonho é ser dançarino de passinho. Eu queria ser os dois, lavar carro e fazer passinho. Puxei à minha mãe, que dançava funk e hip hop. Eu ficava imitando e até hoje eu danço."

·         Vendedora em ônibus

👩 Nome: Adriana Cristina.

📍 Onde trabalha: ônibus e na Avenida Conde da Boa Vista, no Centro.

💲 Renda: aproximadamente R$ 40 por dia.

🎯 O que já conquistou com o trabalho: a própria sobrevivência.

Maior sonho: trabalhar com carteira assinada e sair das ruas.

💬 "Eu entro nos ônibus, pela porta de trás. Os motoristas ajudam muito, e os passageiros também. Eu trabalho desde os 11 anos. Em 2015, perdi o emprego, e não tive outra opção a não ser virar ambulante. Meu maior sonho é conseguir novamente um trabalho de carteira assinada, ficar mais estabilizada e sair das ruas, porque é bem cansativo trabalhar como ambulante. Se eu pudesse escolher, trabalharia em escritório, uma coisa mais reservada. Eu trabalho com o público há uns 15 anos e estou bem cansada."

·         Entregador de aplicativo

👨 Nome: Gleison Alves dos Santos.

📍 Onde trabalha: nas ruas do Recife.

💲 Renda: aproximadamente R$ 70 por dia.

🎯 O que já conquistou com o trabalho: pagar a faculdade de logística.

 Maior sonho: se formar e dar uma vida melhor à filha.

💬 "No início, ser entregador era o que tinha para fazer, foi questão de necessidade. Com o tempo, tive a oportunidade de voltar a estudar e, com o dinheiro, também pago a faculdade. Com esse dinheiro, também sustento a família e pago a escola da minha filha. É bastante estressante, porque tem muita gente que se sente no direito de desrespeitar a gente só pelo fato de sermos entregadores. Também não valorizam o trabalho, que é digno, como qualquer outro, e que tem sua importância. Já me senti desrespeitado pela minha cor, também. Aconteceu um problema no aplicativo, e uma cliente e o marido disseram que a culpa era minha e que só podia ser pessoas da minha raça."

·         Vendedora de brigadeiro

👩 Nome: Adrielly Jaqueline Souza.

📍 Onde trabalha: Rua das Calçadas, no Centro do Recife.

💲 Renda: aproximadamente R$ 60 por dia.

🎯 O que já conquistou com o trabalho: uma viagem, um expositor de brigadeiros e um celular moderno para tirar fotos e vídeos dos produtos para as redes sociais.

 Maior sonho: ter a própria loja.

💬 "Comecei a vender brigadeiro gourmet há quatro anos. Antes, era vendedora, mas perdi o emprego porque a loja fechou. Vi alguns vídeos sobre empreender e vi um meio de tirar minha renda. Empreender é o que eu amo fazer, tira meus dias ruins. É minha alegria, e eu faço porque amo. Tem dias [em] que não é fácil, mas, quando vejo as pessoas me elogiando, me apoiando, me incentiva muito. Eu quero conquistar mais clientes, ter um público maior, porque a gente sabe que não é fácil vender na rua. Quero ter minha própria loja."

·         Motorista de aplicativo

👨 Nome: José Alexandre Cavalcante.

📍 Onde trabalha: ruas do Recife.

💲 Renda: aproximadamente R$ 130 por dia.

🎯 O que já conquistou com o trabalho: quitação do financiamento do carro.

 Maior sonho: ver o filho formado, o que já aconteceu.

💬 "Fui demitido na pandemia e passei a fazer corridas. Não é o que eu queria, porque não é rentável e porque tem a insegurança. O trânsito do Recife estressa, o corpo fica tenso, o pescoço trava, dor nas costas. Fui assaltado uma vez, quando desembarcava uma idosa. Dois rapazes me abordaram, botaram a arma em cima de mim, levaram carro, celular, carteira. Me deixaram na rua sem nada. Passei duas semanas com medo de trabalhar. Sempre estou deixando currículos nas empresas, mas estou com 55 anos, e existe muito preconceito de idade."

·         Amolador de alicates

👨 Nome: Marcelo Ramos.

📍 Onde trabalha: Rua das Calçadas, no Centro do Recife.

💲 Renda: aproximadamente R$ 150 por dia.

🎯 O que já conquistou com o trabalho: uma casa, um carro e o sustento das filhas.

 Maior sonho: se aposentar.

💬 "Aprendi a amolar alicates há 30 anos, com meu pai, que aprendeu com um amigo dele. Eu gosto muito do Centro da cidade, porque a gente não tem patrão. Chego e saio quando quero, não tenho hora para nada. É o que eu sei fazer, o conhecimento que aprendi na vida. Eu sonhava em ser militar, mas não gostei. Com o trabalho, eu já comprei casa, já reformei a casa, comprei carro. Também criei minhas filhas, que é o mais importante."

 

Fonte: g1

 

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