sexta-feira, 5 de maio de 2023

O IR E VIR DO GENERAL AMARO

Oconvite do presidente Lula para que o general Marcos Antonio Amaro dos Santos assuma a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mostra o grau de corrosão das relações entre o governo e o Exército. Amaro era visto como desleal pelos petistas, mas, na falta de outro nome de confiança, coube a ele a missão. 

Amaro teve uma trajetória devotada à presidente Dilma Rousseff quando chefiou sua segurança, em seus dois governos, por cinco anos. Mas seu bom trânsito na gestão de Jair Bolsonaro chamou a atenção do PT, sobretudo porque o ex-presidente fizera uma limpa rigorosa de nomes ligados aos governos anteriores – em especial aqueles aos quais Bolsonaro se referia como “melancias”, verdes por fora,  numa alusão ao uniforme militar, mas vermelhos  por dentro, por supostamente defenderem a esquerda.  

Amaro não foi um deles. Apesar de ter servido no núcleo de confiança da petista, ascendeu de forma mais expressiva no Exército justamente durante o governo Bolsonaro. Primeiro, continuou no governo de Michel Temer por um breve período após o impeachment. Em 2019, quando estava na secretaria de Economia e Finanças do Exército, foi nomeado para chefiar o Comando Militar do Sudeste no lugar do general Luiz Eduardo Ramos. Depois, assumiu a chefia do Estado- Maior.

Em 2022, cogitou-se seu nome para assumir o comando do Exército. Amaro tinha as credenciais e a idade para tanto. Mas o general Ramos tratou de desgastá-lo internamente, usando justamente o argumento de que ele chefiara a segurança de Dilma; além disso, durante a pandemia, Amaro fizera um discurso que irritou o Planalto, recorrendo a uma frase de Duque de Caxias para dizer que a “espada não tem partido”.  

Bolsonaro não o escolheu para o comando, mas, tão logo o general foi para a reserva, o presidente alocou-o imediatamente num cargo de confiança bem remunerado na Caixa, conforme noticiou a coluna de Lauro Jardim, em O Globo. Amaro foi exonerado do banco justamente após a mudança de governo, por integrar a cota de Bolsonaro na instituição. Seu trabalho na Caixa não consta de sua página no LinkedIn, rede social dedicada a perfis profissionais. Tampouco acrescentou ao site seu tempo como chefe da segurança de Dilma. 

Dilma e Amaro tinham uma relação muito próxima, mas que se esvaiu conforme o general crescia no governo Bolsonaro. Ficaram célebres as pedaladas de Amaro com Dilma nos arredores do Palácio da Alvorada, no auge do impeachment. Quando, em 2013, a petista decidiu sair de moto escondida por Brasília, não comunicou ao chefe de sua segurança por medo de que ele a proibisse. Amaro descobriu e mandou que acompanhassem Dilma na surdina. Em viagens ao exterior, o general estava com ela em compromissos oficiais e também nos extraoficiais, como quando Dilma escapou da agenda maçante de uma visita à Itália, em 2015, para assistir à ópera Othello, no Teatro Scala, em Milão.

A relação entre eles muitas vezes prescindia de palavras. Apenas pelo olhar Amaro percebia o que ocorria –  fosse a necessidade de uma pastilha para a garganta ou a chamada de atenção por algo que ela não gostara. Uma vez, como o general não conseguiu descer no mesmo elevador que Dilma no Palácio do Planalto, por estar muito cheio, ela desceu, pegou o carro e pediu que o motorista desse partida e deixasse o militar para trás sem qualquer constrangimento. 

Tamanha proximidade fez com que Dilma o considerasse um amigo. Quando a família de Amaro foi abatida por uma tragédia, quando um de seus netos sofreu um acidente fatal, Dilma ligou para o general para prestar solidariedade. Quando ele foi para a reserva, em 2022, a petista também o procurou para desejar felicidades. Aproveitou para dizer que iria a Brasília e que gostaria de encontrá-lo. Amaro, que acabara de ganhar um cargo de Bolsonaro na Caixa, não aceitou. Dilma foi consultada pelo governo sobre a convocação do militar para chefiar o GSI. Respondeu que, ao final, confiava nele.

·         Lula dá posse ao general Marcos Amaro como ministro do GSI

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu posse ao general Marcos Amaro como novo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência. A cerimônia reservada ocorreu nesta quinta-feira (4) no Palácio do Planalto.

Amaro assume no lugar do ex-ministro Gonçalves Dias, que deixou o cargo em 19 de abril após a divulgação de imagens que o mostravam no interior do Palácio do Planalto, interagindo com os vândalos, no dia dos atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília. Desde então, o secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli estava como chefe interino do GSI.

Marcos Amaro, de 65 anos, é general da reserva do Exército. Durante sua vida militar, serviu em unidades de artilharia em Jundiaí (SP), no Rio de Janeiro (RJ) e em Olinda (PE) e comandou unidades em Cuiabá (MT) e Santa Maria (RS). Foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras e da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e adido militar na embaixada do Brasil no Suriname.

De 2007 até o início de 2010, foi chefe da Divisão de Inteligência do Centro de Inteligência do Exército. Também foi adjunto do GSI, secretário da segurança presidencial e chefe da Casa Militar da Presidência. Ainda esteve à frente do Comando Militar do Sudeste e foi chefe do Estado-Maior do Exército. O general Amaro entrou para a reserva no ano passado.

Na área acadêmica, fez especialização em excelência gerencial com ênfase em gestão pública pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

Ø  É certo que o Brasil está numa fase sombria, em que qualquer um pode virar ministro…

 

Dois dos mais lendários gaúchos foram Honório Lemes e Flores da Cunha. Um deles, Honório Lemes, era pobre, quase analfabeto, tornou-se general maragato nas lutas entre gaúchos de 1923, 1924 e 1925. Respeitadíssimo como gênio militar, virou objeto de estudo e modelo para muitos mundo afora. Seu grande oponente era Flores da Cunha, rico de berço, culto, grande guerreiro, ótimo administrador, depois político de renome nacional. Muitos o consideram o símbolo real do gaúcho mítico.

Em 1925 Honório Lemes foi finalmente cercado por Flores da Cunha e obrigado a se render. Ficou famoso o diálogo entre eles.

DIÁLOGO DE GENERAIS 

Uma bandeira branca foi erguida na posição maragata e, logo depois, surgia saindo do mato a figura de Honório Lemes com uma tranquilidade ímpar, mesmo com o semblante amargo da derrota. E assim, sozinho, se dirigiu a Flores da Cunha e perguntou:

–  General, finalmente a vitória é sua. Como quer que eu o trate, de doutor ou general?

– Me chame apenas de doutor, já que sou formado em Ciências Jurídicas, respondeu Flores.

– Melhor assim, porque nestes tempos qualquer índio rude como eu pode ser general…

Me lembrei desta história quando vi a comitiva governamental que se deslocou a Roraima para tratar do ataque de desconhecidos (garimpeiros?) a índios ianomâmi, que resultaram em quatro mortes.

MUITO SIMBOLISMO 

Obviamente que a visita revestia-se do simbolismo do apoio governamental aos indígenas, como obrigação constitucional e também como veículo de propaganda petista.

Por que a lembrança? Ora, antigamente ministro era um posto de relevância ímpar, um reconhecimento à capacidade e projeção histórica de um indivíduo, motivo de orgulho e função revestida de responsabilidade ímpar no trato das coisas públicas e da busca de bem governar.

Então, neste caso, a ministra de assuntos indígenas não deveria, em tese, ser suficiente para cuidar… dos assuntos indígenas? Mas não nestes tempos modernos de teatros, verborragias e encenações patéticas. Foram necessários três ministros, mais uma numerosa comitiva, para esta visita de apoio.

QUALQUER UM… 

Como dizia Honório Lemes, ministro atualmente, com raras exceções, qualquer um pode ser, sem demonstrar um passado que justifique o presente e projete o futuro. São meros figurantes, de limitada capacidade pessoal e institucional.

O que fez na visita e o que faz até agora Marina Silva, além das vexatórias e constrangedoras declarações internacionais? Quais ações seu ministério do Meio Ambiente implantou e qual o planejamento e cronograma para as próximas ações? Ou vamos levando, com uma bobagem declaratória aqui, uma visita suntuosa ali, uma cortina de fumaça acolá e assim vão se passando os tempos e as oportunidades.

E o que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, efetivamente acrescentou no auxílio aos ianomâmis, além do já disponibilizado? Não existem ações de envergadura e alcance mais amplo, a requerer a pronta atenção da ministra e ministério, ao invés de fazer figuração em atos pirotécnicos??

SEM EXPECTATIVAS 

Mas o que esperar de um ministério de 37 figurantes? Está mais próximo da comicidade da ópera bufa do que da suntuosidade da ópera tradicional.

A necessidade de se fazer notar em meio a esta multidão ministerial chega a ser cômica, com anúncios disparatados, logo adiante desmentidos por outros ministros sedentos da mesma visibilidade.

Depois achamos estranho quando agricultores desconvidam para a maior feira do setor o… ministro da Agricultura. Logo chegaremos a uma fase em que, ao chamarmos alguém de ministro, seremos ameaçados com processos ou, pelo menos, advertidos: “Me respeite, sou pecuarista, o que você está pensando?”

Afinal, como diria Honório Lemes, “nestes tempos qualquer um pode ser ministro”.

 

Fonte: Revista Piauí/Brasil 247/Tribuna da Internet

 

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