sexta-feira, 5 de maio de 2023

O grande dilema brasileiro: entre a exportação primária e a industrialização

O Brasil tradicionalmente ocupa um espaço bastante determinado no comércio internacional, a saber, como país importador de manufaturados (cerca de ¼ do total das importações brasileiras nos últimos anos foram compostas por máquinas) e fornecedor de commodities para os mercados globais.

A título de exemplo, cerca de 20% de todas as exportações brasileiras são compostas por produtos primários, concentrados principalmente em petróleo e minério de ferro. Todavia, de tempos em tempos esse perfil econômico do país suscitou arrazoada preocupação por parte da liderança brasileira a respeito de sua inserção no mundo.

Afinal, o Brasil tem uma dimensão continental, uma expressiva população e uma economia que o credenciaria a desempenhar papel de maior relevância nos assuntos globais.

Com o passar do tempo, no entanto, a fixação do papel histórico do Brasil como exportador de commodities aos países economicamente mais avançados, seja Estados Unidos, Alemanha, ou mais recentemente a China, acabou vinculando o seu crescimento econômico ao desempenho dos países desenvolvidos, além de desincentivar processos de industrialização no âmbito doméstico.

A relativa bonança em períodos de boom nos preços das commodities no mercado internacional não raro culminaram numa situação de dependência do país quanto à exportação de matérias-primas.

Não obstante, o ocasional desinteresse do Estado (manifestado por sua classe política sobretudo) no desenvolvimento de setores mais dinâmicos – e tecnologicamente mais modernos – da economia, fez com o que o Brasil tivesse dificuldade de reimaginar o seu papel no mundo.

Compete lembrar que o crescimento econômico do Brasil desde o começo dos anos 2000 baseou-se – em razoável medida – no comércio de commodities para a China. Com isto, o país tornou-se não somente suscetível a flutuações nos preços internacionais do petróleo e do minério de ferro (como frequentemente acontece), como também se tornou suscetível à eventual diminuição nas taxas de crescimento da própria China, seu principal parceiro comercial.

Com efeito, este tem sido um dos principais dilemas brasileiros ao longo de sua história, a saber, conciliar sua posição enquanto exportador primário com o desejo pela industrialização do país.

Por certo, este dilema não é algo que toca somente ao Brasil, mas que também afeta diversos outros países do sistema internacional desde a segunda metade do século XIX e princípio do século XX. Foi durante esse período que a nascente divisão internacional do trabalho configurou o mundo entre países industrializados e países agroexportadores.

Na época do Brasil Império (1822-1889), a liderança nacional já se preocupava com o fato de que os acordos e tratados comerciais firmados com o Reino Unido eram de certo modo prejudiciais aos interesses do país, na medida em que dificultavam a proteção e o desenvolvimento de sua indústria.

Tal situação era explicada sobretudo pelas exigências de abertura do mercado brasileiro aos manufaturados britânicos, enquanto o café e o açúcar do Brasil tinham acesso limitado ao mercado britânico.

Já no começo do século XX, o Brasil republicano voltava a se questionar quanto ao seu papel tradicional de nação exportadora de matérias-primas, dessa vez para os Estados Unidos, que despontavam como principal parceiro comercial do país, desbancando a Inglaterra. Enquanto isso, o Brasil consolidava-se como importador dos produtos manufaturados americanos, o que culminou por retardar seu desenvolvimento industrial e sua maior independência econômica.

Já na primeira metade do século XX, o governo de Getúlio Vargas propôs o desenvolvimento econômico do país baseado na industrialização. Com isto, dava-se sinais de que a inserção internacional do Brasil não seria mais unicamente sujeita às vantagens obtidas pelo setor agroexportador no comércio com os Estados avançados.

Interessava, todavia, aos americanos que o Brasil mantivesse seu papel de fornecedor de matérias-primas e importador dos produtos manufaturados dos Estados Unidos, numa relação claramente hierarquizada entre os dois países.

No pós-guerra, por sua vez, o governo de Juscelino Kubitschek aproveitou-se da competição internacional por mercados entre os Estados Unidos, a Europa (já recuperada economicamente) e o Japão para atrair justamente investimentos considerados necessários ao desenvolvimento da indústria nacional, sobretudo automobilística.

A priori, o Brasil forneceria matérias-primas a países como Alemanha e Japão em troca de insumos industriais e bens de capital úteis para o seu projeto de desenvolvimento. Contudo, a principal esperança do Brasil à época era a capitação de recursos americanos para o aceleramento desse processo, o que acabou não acontecendo, tendo em vista o desinteresse dos Estados Unidos pelo desenvolvimento econômico dos países da América Latina.

Não por acaso, nas décadas posteriores da Guerra Fria (envolvendo o período da Ditadura Militar), firmavam-se em definitivo os padrões de relacionamento desigual entre o Norte (desenvolvido) e o Sul Global, composto por países insuficientemente industrializados e caracterizados (muitos deles) como meros exportadores de matérias-primas aos países europeus e norte-americanos.

Seja como for, os países latino-americanos ainda enxergam a industrialização como fator essencial para o ganho de autonomia econômica e política no cenário global. O Brasil, em vista disso, ao longo de sua história tentou por diversas vezes repensar o seu papel no mundo, no intuito de modificar seu perfil comercial primário e tornar-se uma nação economicamente mais dinâmica e avançada.

Diante desse contexto, o Brasil de hoje poderia usar suas relações com a China, que se tornou referência no processo de transferência de tecnologias para o Sul Global, no intuito justamente de desenvolver sua infraestrutura e de dar novo folego a suas indústrias, promovendo uma tão sonhada diversificação de sua economia.

Quem sabe assim o Brasil não consiga resolver seu dilema que já dura décadas, ampliando sua autonomia nas relações internacionais, e tornando-se enfim o "país do presente" e não mais o "país do futuro".

 

       Brasil e Rússia acordam contrato de fornecimento de urânio natural, diz Rosatom

 

A empresa estatal russa Rosatom anunciou a assinatura de um contrato de fornecimento de urânio natural com as Indústrias Nucleares do Brasil.

A Rússia e o Brasil assinaram um novo contrato para o fornecimento de urânio natural, informou nesta quinta-feira (4) a empresa estatal russa Rosatom.

"Continuamos desenvolvendo a cooperação com a empresa brasileira INB [Indústrias Nucleares do Brasil] no fornecimento de produtos de urânio", disse Kirill Komarov, vice-diretor-geral da Unidade de Desenvolvimento e Negócios Internacionais da Rosatom, durante a assinatura do contrato no Rio de Janeiro.

"No ano passado, vencemos uma licitação internacional e assinamos um contrato para o fornecimento de serviços de enriquecimento de urânio", lembrou Komarov.

A Rosatom sublinhou que continuará a cooperação com as INB no fornecimento de produtos de urânio.

Em dezembro de 2022 foi assinado um acordo que prevê a comercialização de urânio russo para usinas brasileiras de 2023 a 2027.

 

       Petrobras anuncia parceria com estatal chinesa para geração de energia renovável no Brasil

 

A intenção de ambas as empresas é desenvolver oportunidades de negócios em parceria para o segundo semestre deste ano. De acordo com o presidente da estatal chinesa, a companhia tem US$ 20 bilhões (R$ 99,5 bilhões) para investir fora da China.

Buscando cumprir as diretrizes propostas pela nova chefia e ampliar investimentos no segmento de energias renováveis, a Petrobras disse nesta quinta-feira (4) que criará um grupo de trabalho com a China Energy International para analisar oportunidades de negócios conjuntas.

O grupo de trabalho entre as companhias será organizado pelo diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, e a composição da euqipe será definida nas próximas semanas.

O foco, além da geração de energia renovável, também será a produção de hidrogênio "verde" para "uma transição energética justa", segundo o comunicado da petrolífera brasileira citado pelo jornal Valor Econômico.

"Queremos nos firmar como a maior empresa de energia integrada do Brasil. Temos preços competitivos, bons parceiros, grandes projetos e estamos olhando novas oportunidades de negócios", disse em nota o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que se reuniu com o presidente da estatal chinesa, Lyu Zexiang, em Brasília.

Na reunião, Lyu Zexiang informou que sua empresa tem um orçamento de US$ 20 bilhões (R$ 99,5 bilhões) para investimentos fora da China, sendo que importante parte deste montante poderá ser destinada ao Brasil, comunicou a Petrobras.

Ainda segundo a mídia, a China Energy International tem buscado explorar áreas como armazenamento de energia, e tem projetos e estudos com hidrogênio e amônia verdes. A chinesa opera também na área de saneamento básico e dessalinização em alguns países.

 

Ø  Brasil deve exigir contrapartidas para EUA realizarem exercícios na Amazônia, diz analista militar

 

O novo chefe do Comando Militar do Norte (CMN) anunciou exercícios militares com os EUA na Amazônia. Para o analista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, as relações militares com os EUA não favorecem o Brasil, que deveria exigir contrapartidas de seu vizinho do norte.

O novo comandante do Exército para a região norte do Brasil quer priorizar a realização de exercícios militares com os EUA na região da Amazônia, gerando polêmica entre especialistas do setor de defesa.

Durante seu discurso de posse, no 2º Batalhão de Infantaria da Selva (2º BIS), na cidade de Belém, o general Luciano Guilherme Cabral Pinheiro destacou que um dos principais projetos da nova gestão será a Operação CORE 23, realizada com o Exército dos Estados Unidos, reportou o portal Toca News.

"Essa operação é uma das que vão ocorrer. Será o coroamento do nosso ano de instrução. É a primeira vez que será realizado na região amazônica", declarou o general Cabral Pinheiro.

Ao assumir o Comando Militar do Norte (CMN), Cabral Pinheiro comandará as tropas do Exército nos estados do Amapá, Maranhão, Pará e parte do Tocantins, em área correspondente a 20% do território brasileiro.

"O Brasil deve exigir contrapartidas porque os EUA têm poucas oportunidades para se adestrar em ambiente de selva como o nosso", disse Farinazzo à Sputnik Brasil. "As relações bilaterais militares precisam ter o mínimo de reciprocidade."

Segundo ele, "as autoridades brasileiras deveriam explicar por que o país permite que os EUA realizem exercícios no nosso território sem pedir nada em troca."

"Tivemos recentemente voos de espionagem realizados pelos EUA com aeronaves Boeing WC-135R [...] sobrevoando o nosso litoral por duas vezes. Que aliado militar é esse que nos espiona?", questionou Farinazzo.

Este tipo de atitude pode ser classificado como hostil, o que deveria exigir "no mínimo uma nota de protesto por parte do Itamaraty", considerou o comandante.

Além disso, o senador norte-americano Ted Cruz, potencial candidato à presidência pelo Partido Republicano dos EUA, ameaçou a imposição de sanções econômicas contra o Brasil, em retaliação à autorização dada a um navio iraniano para atracar no Rio de Janeiro.

"Precisamos também ficar atentos ao artigo publicado pelo ex-comandante militar da OTAN, almirante James Stavridis, que descreveu o Brasil como uma ameaça à segurança climática dos EUA", alertou Farinazzo.

O comandante questionou a inação do Itamaraty perante este tipo de declarações, que "relativizam a soberania nacional".

"Não temos um relacionamento de igualdade [com os EUA]. Temos ameaças chegando de lá", declarou Farinazzo. "Vamos fazer exercícios militares com um país que tem atitudes hostis como essa contra nós?"

Segundo ele, as relações militares entre Brasil e EUA poderiam ser equilibradas, caso o Brasil solicitasse contrapartidas materiais de seu vizinho do norte.

"Os EUA não compram equipamentos militares brasileiros, como os aviões Super Tucano da Embraer", notou Farinazzo. "Poderíamos também solicitar a transferência de tecnologias militares, como a transferência de tecnologia do submarino nuclear à Austrália."

Outra contrapartida de interesse do Brasil seria a compra de sistemas de foguetes Astros, produzidos pela empresa brasileira do setor de defesa Avibrás, cujos funcionários não recebem salário há seis meses, sugeriu o comandante.

"Precisamos abandonar a política do espelhinho. Temos que pedir contrapartidas, como diversos países fazem. Isso faz parte das relações entre os países e o Brasil precisa de muitas coisas na área militar", concluiu Farinazzo.

No dia 24 de abril, o general Luciano Guilherme Cabral Pinheiro tomou posse do Comando Militar do Norte (CMN) do Exército Brasileiro, em cerimônia realizada na cidade de Belém. Durante seu discurso de posse, o general revelou a iminente realização de exercícios militares conjuntos com os EUA em território amazônico.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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