Fake
news: Matança de bois na Bahia não tem relação com MST
Conteúdo investigado: Vídeo em que homem mostra bois
mortos em um curral. Ele diz que “a coisa foi feia” e que há cerca de 17
animais abatidos. Em texto, as publicações afirmam que o responsável pelo
esquartejamento é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), “com
apoio do governo Lula”.
Onde foi publicado: Twitter, Rumble e Kwai.
Conclusão do Comprova: É enganosa postagem segundo a
qual o MST teria esquartejado gado em ocupação em área rural. “Bois vivos foram
cortados ao meio por criminosos do MST, apoio do desgoverno Lula”, desinforma
um dos posts, no Twitter.
O vídeo é real, mas não mostra resultado de ação do
MST. Reportagem do programa “Bahia no Ar”, da RecordTV Itapoan, que mostra a
mesma gravação, informa que os bois foram mortos por oito bandidos, segundo a
polícia, em uma fazenda no município de Conde (BA) – e não em Santa Catarina,
como desinformam posts que viralizaram. O crime ocorreu na madrugada de 18 de
abril. A repórter conta que a quadrilha tentou levar a carne para vendê-la no
mercado ilegal, mas teve que abandoná-la porque o caminhão atolou.
Sites locais da Bahia também registraram o assalto
(Esplanada News, Informe Baiano).
Os posts também afirmam que o MST é apoiado pelo
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O chefe do Executivo tem,
de fato, uma relação histórica com o MST, mas a história entre eles também é
cheia de atritos, vindo dos dois lados, como informa a Folha.
Ao Comprova, a assessoria de imprensa do MST disse
se tratar de mais um caso de desinformação contra o grupo, em uma “clara
tentativa de criminalizar e disseminar ódio contra o movimento”.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do
contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra
alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente
da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção
deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os
conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Kwai, posts com o
vídeo enganoso haviam sido visualizados cerca de 2 mil vezes até 25 de maio e,
no Twitter, aproximadamente 600 vezes.
Como verificamos: O primeiro passo foi a busca pelo
contexto da gravação do vídeo e se ele era real, ou seja, não havia sofrido
qualquer adulteração de imagem ou som. Foram feitas pesquisas em sites de busca
por notícias sobre ataques a bois no Brasil em 2023 e se as imagens contidas
nas matérias eram semelhantes ao vídeo verificado.
Foi analisado o áudio existente no vídeo para
identificar alguma fala que pudesse indicar a localização e a data do ocorrido.
Pelo sotaque e vocabulário utilizado pelo homem que narra o vídeo, foi possível
perceber que se tratava de alguém do Nordeste do Brasil.
Essa constatação levou à restrição das pesquisas a
crimes que ocorreram na região. A pesquisa também foi feita nas redes sociais.
Pelo TikTok, foi encontrada uma publicação em que um usuário assiste a uma
reportagem da RecordTV Itapoan sobre um crime de matança de boi em Conde, na
Bahia, com as mesmas imagens do vídeo aqui verificado.
Ao pesquisar sobre o caso de abril de 2023, as
imagens nas notícias eram as mesmas, assim como as falas utilizadas na narração
do vídeo. O Comprova pediu o envio da reportagem completa para a RecordTV
Itapoan, mas não obteve resposta.
Também foi procurada a Polícia Civil da Bahia para
mais detalhes do caso, mas também não houve retorno, e a assessoria de imprensa
do MST.
O que diz o responsável pela publicação: A
reportagem tentou contato com perfis que publicaram o conteúdo, mas não houve
resposta até a publicação deste texto.
O que podemos aprender com esta verificação: Os
posts usam um vídeo verdadeiro, mas tiram as imagens de contexto, uma tática
comum entre os desinformadores. As cenas são chocantes e, ao ver um conteúdo
assim, sendo associado a um grupo social conhecido do Brasil, o MST, desconfie.
Se fosse verdade, veículos da imprensa profissional não teriam noticiado o
caso? O alerta já começaria aí, pois, ao buscar na internet palavras como “MST”
e “bois mortos”, os resultados não mostram nada parecido com o que é mostrado
no vídeo.
Outro ponto de atenção é o final da legenda que
aparece sobre o vídeo. Ela diz “Viralizar é obrigação de todos”.
Desinformadores costumam usar esta técnica para disseminar conteúdos duvidosos.
Então, ao se deparar com publicações com mensagens que pedem compartilhamento
imediato, também desconfie.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos
suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas
públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas
publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir
verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O MST é alvo
frequente de conteúdos de desinformação. Recentemente, por exemplo, o Comprova
verificou ser enganoso post de deputado que associa ocupação em bairro nobre de
São Paulo ao movimento, a Boulos e a Lula. No ano passado, o Projeto
classificou como falso título usado em publicação dizendo: “Agronegócio deve
ser eliminado da terra, diz Lula e MST”.
Fonte: Agencia Estado
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