Dos indícios de
fraude a buscas na casa de Bolsonaro: veja a cronologia
A
investigação da Polícia Federal sobre um grupo suspeito de fraudar
cartões de vacinação contra a Covid-19 do Ministério da Saúde levou à
prisão de seis pessoas e à apreensão do celular de Jair Bolsonaro (PL). Um dos presos nesta quarta-feira (3) é o
tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, ex-ajudante de ordens do ex-presidente.
De
acordo com as apurações, teriam sido falsificados os certificados de vacinação
de Bolsonaro e de sua filha caçula, hoje com 12 anos. Mauro Cid também teria
obtido o documento irregular para si, sua mulher e sua filha.
A
operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes dentro do
inquérito das "milícias digitais", que já tramita no Supremo Tribunal
Federal.
<<< Veja abaixo a cronologia do caso,
segundo as investigações.
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22 de novembro de 2021
De
acordo com a PF, Mauro Cid pediu ajuda de um sargento para conseguir um
certificado de vacinação falso para a sua esposa.
A
apuração indica que o sargento pediu ajuda a um sobrinho, que é
médico,
que conseguiu um documento forjado da Secretaria de Saúde do município de
Cabeceiras, em Goiás. O certificado apontava que a mulher de Cid teria tomado
duas dozes da vacina da Pfizer, em 17 de agosto e 9 de novembro de 2021.
O
certificado foi emitido, de forma fraudada, e enviado pelo sargento para o
celular de Cid em 22 de novembro de 2021, segundo a investigação. No
entanto, os investigadores descobriram que não há qualquer registro de
aplicação do imunizante na esposa do tenente-coronel nas Unidades Básicas de
Saúde do município.
Também
segundo a investigação, Cid e o sargento se questionaram sobre a fraude ser
descoberta, já que o tenente-coronel e sua família nunca estiveram em
Cabeceiras. Assim, para dissimular o erro, Cid
conversou com Marcello Siciliano, ex-vereador do Rio. Por meio dele,
Cid conseguiu o registro de vacinação em Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense.
Em
troca, Siciliano teria pedido para Cid obter um visto de entrada nos EUA. O
ex-vereador não conseguia tirar o documento devido ao envolvimento no caso da
morte de Marielle Franco, em 2018. Durante o inquérito do assassinato da
ex-vereadora do PSOL, no Centro do Rio, o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira apontou
Siciliano como uma das pessoas que tramaram o crime — ele negou o
envolvimento e disse que foi injustiçado.
Em
julho de 2019, a Justiça do Rio de Janeiro aceitou a
denúncia do Ministério Público fluminense (MPRJ) contra Ferreira. Ele e uma
advogada são suspeitos de integrarem uma organização criminosa que teria
tentado atrapalhar as investigações sobre o assassinato de Marielle. Na época,
o Tribunal de Justiça estadual informou que "o processo corre em segredo
de justiça".
Ao g1, Siciliano disse que "foi
surpreendido" com agentes da Polícia Federal na sua casa na manhã desta
quarta (3) e
confirmou que teve o celular apreendido pelos investigadores. Ele afirmou que
sua defesa não teve acesso aos autos do processo e que está à disposição para
dar esclarecimentos.
O
esquema foi descoberto na investigação após a quebra de sigilo telemático, que
inclui registros de chamadas e mensagens trocadas por aplicativos, dos
envolvidos.
No
fim, o cartão de vacina da esposa de Cid foi emitido por Duque de Caxias.
Segundo a PF, o "ajuste" mudando o certificado de Goiás para o Rio de
Janeiro foi o indício de fraude que levou às investigações. A esposa de Cid
viajou com a família para os Estados Unidos em 21 de dezembro de 2022.
A
defesa de Mauro Cid disse que não teve acesso aos autos para se manifestar.
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21 de dezembro de 2022
Segundo
apurou a TV Globo, os sistemas do Ministério da Saúde indicam que duas doses de
vacinas contra a Covid teriam sido aplicadas em Bolsonaro. Nesta quarta, após a
operação da PF, o ex-presidente disse não haver
"adulteração por minha parte" e reafirmou que nunca foi imunizado
contra o coronavírus.
"Nunca
me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha
parte. Eu não tomei a vacina, ponto final", declarou Bolsonaro.
No
sistema da Rede Nacional de Dados em Saúde, no entanto, constavam duas doses da
Pfizer em nome de Bolsonaro:
- a primeira,
supostamente aplicada no dia 13 de agosto de 2022 no Centro
Municipal de Saúde de Duque de Caxias (RJ);
- a segunda,
supostamente aplicada no dia 14 de outubro, no mesmo estabelecimento
de saúde;
- os dados foram
inseridos no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações no
dia 21 de dezembro pelo secretário municipal de Governo
de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha, preso na operação desta
quarta-feira (3).
Duque
de Caxias foi cenário de diversas denúncias envolvendo problemas com a
vacinação contra a Covid-19. Em março de 2021, o Ministério Público do Estado
(MPRJ) chegou a expedir uma recomendação à Prefeitura para que fosse observado
o Plano Nacional de Vacinação. Saiba mais.
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22 de dezembro de 2022
De
acordo com a investigação da Polícia Federal, o certificado de vacinação foi
emitido na conta de Bolsonaro no ConecteSUS no dia 22 de
dezembro, um dia após João Carlos de Sousa Brecha inserir os dados de Bolsonaro
no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações.
Após
o lançamento no ConecteSUS, é possível gerar um comprovante de imunização.
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27 de dezembro de 2022
Uma
semana depois de constar no sistema do Ministério da Saúde, as informações foram excluídas do
sistema por
Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, sob
alegação de "erro". Procurada pelo g1, ela disse que não vai se manifestar porque a
investigação está sob sigilo.
No
dia 30 de dezembro, penúltimo dia de seu mandato, Bolsonaro embarcou para os EUA com
Michelle e sua filha, Laura. A ex-primeira-dama retornou ao Brasil em 26 de janeiro. Já o
ex-presidente voltou em 30 de março.
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Declarações sobre vacina
Além
de levantar dúvidas sobre a eficácia das vacinas e de disseminar informações
falsas sobre os imunizantes, Bolsonaro declarou várias vezes que
não se vacinaria contra a Covid-19. O ex-presidente nunca mostrou
publicamente a sua carteira de vacinação.
Em 17
de dezembro de 2020, um mês antes de a primeira pessoa no Brasil ser
vacinada, Bolsonaro chamou de
"idiota" quem o via como mau exemplo por não se imunizar. "Alguns
falam que eu tô dando um péssimo exemplo. Ou é imbecil ou o idiota que tá
dizendo que eu dou péssimo exemplo, eu já tive o vírus. Eu já tenho anticorpos.
Pra que tomar vacina de novo?", disse o ex-presidente na época.
No
Brasil, a vacinação teve início em 17 de janeiro de 2021 e foi
escalonada por idade e grupos de risco, além de ter seguido um calendário
próprio em cada unidade federativa. Bolsonaro tinha 66 anos na época do início
da vacinação no país.
Em 12
de outubro de 2021, em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro afirmou que decidiu
não se vacinar contra a Covid, novamente argumentando que tinha anticorpos por
ter contraído a doença. A vacina é recomendada para todos, inclusive para quem
teve a doença, já que produz uma imunização mais duradoura do que a resultante
de infecção natural.
"Para
que eu vou tomar uma vacina? Seria a mesma coisa que você jogar na loteria R$
10 para ganhar R$ 2. Não tem cabimento isso daí”, disse o ex-presidente.
Ø
Certificados
falsos de vacinação de Bolsonaro e da filha Laura foram emitidos com dez
minutos de diferença, aponta PF
Os
certificados de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e da filha Laura, de
12 anos de idade, foram emitidos pelo aplicativo ConecteSUS no dia 27 de
dezembro de 2022, com um intervalo de 10 minutos de diferença, aponta
investigação da Polícia Federal.
Ambos
os certificados são falsos, segundo a PF. Isso porque informavam que Bolsonaro
e Laura tomaram doses dos imunizantes em Duque de Caxias sem que haja qualquer indício
de que as imunizações tenham de fato ocorrido.
O
próprio ex-presidente reafirmou nesta quarta-feira (3) que
ele e a filha não se vacinaram contra a doença.
- 27 de dezembro
de 2022, 14h09: usuário associado a Laura Bolsonaro usa a
ferramenta ConecteSUS para emitir certificado de vacinação
- 27 de dezembro
de 2022, 14h19: usuário associado a Jair Bolsonaro emite
certificado de vacinação, também via ConecteSUS
De
acordo com a PF, o acesso ao ConecteSUS para emissão do certificado do
ex-presidente foi feito por computador cadastrado no Palácio do Planalto.
A
Polícia Federal fez buscas na manhã desta quarta-feira
(3) na
casa de Jair Bolsonaro, em Brasília, e prendeu o ex-ajudante de ordens do
ex-presidente,
tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, além de outros cinco suspeitos. A PF investiga o grupo que seria suspeito
de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério
da Saúde.
Em
ofício enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a
PF mostra que no dia 21 de dezembro de 2022, o então secretário municipal de
Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, João Carlos de Souza Brecha, inseriu dados
das supostas doses contra a Covid-19 que Jair e sua filha teriam tomado. Os
dados foram incluídos no sistema SI-PNI, do Ministério da Saúde.
No
sistema, Brecha inseriu as seguintes informações:
- que Jair
Bolsonaro teria tomado a 1ª dose da vacina no dia 13 de agosto de 2022 no
Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias
- que o
ex-presidente teria tomado a 2ª dose no mesmo lugar no dia 14 de outubro
de 2022
- que a filha do
ex-presidente, Laura, teria recebido a primeira dose no dia 24 de julho de
2022 também no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias
- já a segunda
dose de Laura teria sido administrada no mesmo dia que a primeira dose de
Bolsonaro, no dia 13 de agosto de 2022, no mesmo local
Todos
esses dados foram posteriormente excluídos no dia 27 de dezembro, às 20h59, com
segundos de intervalo, pela funcionária Claudia Helena Acosta Rodrigues da
Silva, sob alegação de “erro”.
De
acordo com a investigação da PF, horas antes, no mesmo dia 27 de dezembro, o
usuário associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro emitiu, pelo aplicativo
ConecteSUS, o certificado de vacinação.
A
emissão, segundo a PF, ocorreu às 14h19. Dez minutos antes, às 14h09, o usuário
associado à Laura Bolsonaro também usou o aplicativo ConecteSUS para emitir o
certificado de vacinação.
“Um
detalhe que chama a atenção é o fato de o certificado de vacinação [de Laura]
ter sido gerado na língua inglesa”, afirma a Polícia Federal, que aponta ainda
para a coincidência de, no dia seguinte, 28 de dezembro, Laura ter embarcado em
um voo da Gol que saiu de Brasília com destino a Miami, nos Estados Unidos.
Segundo
a PF, não há evidências de que o acesso do usuário associado à Laura Bolsonaro
tenha sido feito por terceiros não autorizados.
“Obviamente
Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro têm plena ciência de que os dados de
vacinação em nome de sua filha menor de idade são ideologicamente falsos. Ainda
assim, o certificado digital de vacinação contra a Covid-19 foi emitido no dia
27/12/2022, em língua inglesa, na véspera da viagem da adolescente para os Estados
Unidos”, diz a PF.
A
PF solicitou os “dados cadastrais e metadados disponíveis relacionados ao
acesso ao sistema ConecteSUS para emissão de certificados de vacinação”
realizados pelo CPF de Jair Bolsonaro. Assim, verificou que não houve qualquer
anormalidade nos acessos.
Além
da emissão no dia 27 de dezembro, a Polícia Federal verificou que o usuário
associado ao ex-presidente emitiu o certificado de vacinação com dados falsos
também nos dias 22 de dezembro e 30 de dezembro. No dia 30 de dezembro, Bolsonaro
viajou para os Estados Unidos.
<<<
O que dizem os citados?
Jair
Bolsonaro: o
ex-presidente da República afirmou que não tomou vacina e que não houve
adulteração nos registros de saúde dele e da filha. "Nunca me foi pedido
cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha parte. Eu não
tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso", disse.
Claudia
Helena Acosta Rodrigues da Silva: disse que não vai se manifestar porque a
investigação está sob sigilo.
João
Carlos Brecha, secretário de Governo de Duque de Caxias: a TV Globo entrou
em contato com a prefeitura da cidade, mas não teve retorno.
Ø Bolsonaro fez três viagens aos EUA no período de investigação sobre
suspeita de fraude em carteira de vacinação
Entre
novembro de 2021 e dezembro de 2022, período referente à investigação da Polícia Federal sobre fraude do cartão de
vacinação, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez duas
viagens oficiais e uma pessoal para os Estados Unidos.
<<< Veja quais foram as três viagens de
Bolsonaro:
- 9 de junho de 2022 – como chefe de estado e a convite do
governo dos EUA, Bolsonaro viajou para uma reunião bilateral com Biden, na
9ª Cúpula das Américas. Ele foi para Los Angeles e depois para Orlando.
- 19 de setembro de 2022 – Bolsonaro participou da
Assembleia Geral da ONU, em Nova York, também como chefe de estado.
- 30 de dezembro de 2022 – A última viagem, pessoal, para os
Estados Unidos. Ele viajou às vésperas do fim do mandato, mas ainda era o
presidente da República.
A TV Globo apurou que a fraude nos
cartões de vacinação do Bolsonaro e da filha de 12 anos aconteceu em 21 de
dezembro passado, pouco antes de viajarem para os EUA (no penúltimo dia de
mandato). Após ser lançado no ConecteSUS, é possível gerar um comprovante de
imunização. Os dados foram retirados do sistema em 27 do mesmo mês.
Essa
suposta falsificação teria o objetivo de garantir a entrada de Bolsonaro,
familiares e auxiliares próximos nos Estados Unidos, burlando a regra de
vacinação obrigatória.
Os
sistemas do Ministério da Saúde indicam que duas doses de vacinas contra Covid
teriam sido aplicadas em Jair Bolsonaro. Nesta quarta, após a operação da PF, o
próprio ex-presidente negou que ele e a filha tenham se imunizado.
No
sistema da Rede Nacional de Dados em Saúde, no entanto, constam duas doses da Pfizer:
- a primeira,
supostamente aplicada em 13 de agosto de 2022 no Centro Municipal de Saúde
de Duque de Caxias (RJ);
- a segunda,
supostamente aplicada no dia 14 de outubro, no mesmo estabelecimento de
saúde.
Os
dados, segundo os investigadores, foram inseridos no Sistema de Informações do
Programa Nacional de Imunizações apenas em 21 de dezembro, pelo secretário
municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha.
Uma
semana depois, no dia 27 de dezembro do ano passado, as informações foram
excluídas do sistema por Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, sob alegação
de "erro".
Fonte:
g1
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