terça-feira, 30 de maio de 2023

Após quase 8 anos, Maduro visita o Brasil e encontra Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta segunda-feira (29/05) com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto.

É a primeira vez que Maduro vem ao Brasil desde julho de 2015, quando participou de uma cúpula do Mercosul realizada em Brasília, durante o governo Dilma Rousseff. O encontro simboliza a retomada das relações entre os dois países, que haviam sido suspensas durante o governo Jair Bolsonaro.

Maduro chegou ao Brasil no domingo e participa, na terça-feira, de uma cúpula dos presidentes da América do Sul que reunirá 11 dos 13 chefes de Estado da região. A última reunião do tipo ocorreu em 2014, em uma cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

O presidente venezuelano recebeu honras de chefe de Estado do cerimonial do governo brasileiro. Ele subiu a rampa do Palácio do Planalto, participou de uma reunião bilateral com Lula e foi em seguida recebido para um almoço no Itamaraty. Foram assinados dois atos entre os dois países, um memorando de entendimento de matéria agroalimentar e um mecanismo de supervisão da cooperação bilateral.

·         Lula fala em "momento histórico" e Maduro, em "relação virtuosa"

Após a reunião com Maduro, Lula disse que a visita do venezuelano era um "momento histórico" na normalização das relações entre os dois países. "É difícil conceber que tenham passado tantos anos sem que mantivessem diálogos com a autoridade de um país amazônico e vizinho, com quem compartilhamos uma extensa fronteira de 2.200 km", afirmou.

Lula também criticou o não reconhecimento de Maduro como presidente da Venezuela pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) após as contestadas eleições de 2018, nas quais o venezuelano foi reeleito.

"Briguei muito com companheiros social-democratas europeus, com governos, com pessoas dos Estados Unidos. Achava a coisa mais absurda do mundo, para as pessoas que defendem democracia, negarem que você era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo. E o cidadão que foi eleito para ser deputado ser reconhecido como presidente", disse, referindo-se a Juan Guaidó, líder da oposição venezuelana.

Lula disse que teria sido construída uma "narrativa contra a Venezuela" e que Maduro deveria mostrar "a sua narrativa" para mudar a opinião das pessoas sobre seu regime. "Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela. Da antidemocracia, do autoritarismo. Então eu acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer pessoas mudar de opinião. (..) É preciso que você construa a sua narrativa. Eu acho que por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você." 

O presidente brasileiro disse ainda que buscará um acordo para buscar uma "integração plena" entre os dois países, apesar das "dificuldades", como a dívida externa venezuelana e o combate ao narcotráfico.

Maduro, por sua vez, afirmou que a Venezuela está "de portas abertas" para os empresários brasileiros. "Estamos preparados para que retomemos as relações virtuosas com os empresários brasileiros. S Venezuela está de portas abertas, com plenas garantias para todo o empresariado para que voltemos ao trabalho conjunto."

·         Relações retomadas

No início do governo Bolsonaro, Brasília rompeu relações diplomáticas com Caracas, proibiu Maduro de entrar no país e reconheceu Guaidó como presidente da Venezuela.

A proibição foi revogada no final do governo Bolsonaro, em 30 de dezembro de 2022, para permitir que Maduro viesse à posse de Lula – o que acabou não ocorrendo, segundo Caracas, pois a permissão foi concedida com pouca antecedência.

Sob Lula, o governo brasileiro reabriu a sua embaixada em Caracas, e a Venezuela nomeou um embaixador para atuar no Brasil. Em março, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, foi a Caracas e reuniu-se com Maduro e integrantes da oposição.

A reaproximação com a Venezuela interessa ao governo Lula para tratar de assuntos comuns aos dois países e participar das conversas pela estabilidade política do país vizinho, que realizará eleições presidenciais em 2024.

·         Regime autoritário

Maduro governa a Venezuela desde 2013 e impôs um regime autoritário que persegue a oposição e a liberdade de imprensa. Em 2020, uma missão de especialistas encarregada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU o acusou de crimes contra a humanidade.

Ele foi reeleito em 2018 em um pleito marcado por irregularidades e não reconhecido pelos Estados Unidos, pela UE e mais de 50 países.

Após as eleições, a oposição liderada por Guaidó formou um "governo interino", reconhecido por parte de comunidade internacional, mas não conseguiu obter o apoio dos militares e do Judiciário. Em janeiro de 2021, após a oposição perder as eleições legislativas e o controle do Parlamento, a UE deixou de reconhecer Guaidó como "presidente interino" da Venezuela.

O "governo interino" foi encerrado pela própria oposição em dezembro passado. Em abril, Guaidó, que havia sido proibido de deixar a Venezuela, foi até a Colômbia e, de lá, alegando "perseguição" contra si e sua família, pegou um voo para Miami.

Há uma mesa de diálogo entre o governo e a oposição venezuelana que ocorre esporadicamente no México. A expectativa do governo brasileiro, segundo o colunista Jamil Chade, do portal UOL, é que a eleição presidencial de 2024 dê condições legítimas para que diferentes partidos possam concorrer e que o resultado das urnas seja respeitado.

 

Ø  Reunião Lula-Maduro: petista chama Guaidó de 'impostor', critica países e defende Venezuela no BRICS

 

Lula e Maduro tiveram uma reunião reservada e depois com integrantes do governo. Os dois líderes assinaram memorandos de entendimento na área agrícola, além de um mecanismo de supervisão da cooperação bilateral.

Nesta segunda-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu no Palácio do Planalto seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro. O mandatário não visitava o Brasil desde 2015, quando viajou ao Brasil para posse de Dilma Rousseff.

Durante entrevista coletiva, Lula ressaltou a importância de retornar o diálogo com um país que faz "extensa fronteira de 2.200 km com Brasil" e, citando os Estados Unidos, disse que "achava a coisa mais absurda do mundo" para as pessoas que defendem a democracia "negarem que você [Maduro] era presidente da Venezuela".

"É um prazer te receber aqui outra vez. É difícil conceber que tenham passado tantos anos sem que mantivessem diálogos com a autoridade de um país amazônico e vizinho, com quem compartilhamos uma extensa fronteira de 2.200 km […]. Penso que esse novo tempo que estamos marcando agora não vai superar todos os obstáculos que você tem sofrido ao longo desses anos. Briguei muito com companheiros social-democratas europeus, com governos, com pessoas dos Estados Unidos. Achava a coisa mais absurda do mundo, para as pessoas que defendem democracia, negarem que você era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo. E o cidadão que foi eleito para ser deputado ser reconhecido como presidente", disse Lula citado pelo G1.

O "cidadão" citado por Lula é o autointitulado presidente da Venezuela Juan Guaidó, que era reconhecido como presidente por então presidente Jair Bolsonaro, pelos EUA na gestão Donald Trump e por outros líderes de direita no continente.

Lula também citou a reserva de 31 toneladas de ouro venezuelano em Londres, e relembrou que "a reserva em vez de ser colocada sob a guarda do governo da Venezuela, foi colocada sob a guarda do Guaidó".

"Em muitas discussões com meus companheiros europeus eu dizia que não compreendia como é que um continente que conseguiu exercer a democracia tão plena quanto a Europa exerceu quando construiu a União Europeia poderia aceitar a ideia de que o impostor poderia ser presidente da República porque eles não gostavam do presidente eleito. O preconceito contra Venezuela continua", afirmou o presidente brasileiro.

O petista ainda ressaltou que "[...] quantas críticas a gente sofreu aqui durante a campanha por ser amigo da Venezuela. Havia discursos e mais discursos, os adversários diziam: 'Se o Lula ganhar as eleições, o Brasil vai virar uma Venezuela, uma Argentina, uma Cuba', quando o nosso sonho era que o Brasil fosse o Brasil mesmo, melhor", afirmou Lula.

O presidente brasileiro disse saber das "dificuldades" na relação da Venezuela com o Brasil e com o resto do mundo – citou como exemplos a dívida externa e o combate ao narcotráfico –, mas afirmou que o governo buscará uma "integração plena" entre os dois países.

"Esse momento é importante por muitas razões, mas uma delas é porque a América do Sul tem que se convencer que temos que trabalhar como se fosse um bloco. Não dá para ninguém imaginar que, sozinho, um país da América do Sul vai resolver seus problemas que perduram mais de 500 anos", completou Lula.

O petista também afirmou que é pessoalmente favorável à adesão da Venezuela ao BRICS e que pode levar o tema ao grupo, se houver solicitação formal.

Já Maduro agradeceu a hospitalidade de Lula em seu discurso, e também manifestou intenção de aprofundar as relações entre Brasil e Venezuela. O presidente venezuelano disse ainda que o país vizinho está "de portas abertas" e "com plenas garantias" para o empresariado brasileiro.

"Estamos preparados para que retomemos as relações virtuosas com os empresários brasileiros. A Venezuela está de portas abertas, com plenas garantias para todo o empresariado para que voltemos ao trabalho conjunto. Acredito ser muito positivo. Nós amamos a história do povo brasileiro, a força e alegria espiritual. Que nunca mais ninguém feche a porta. Brasil e Venezuela tem que estar unidos, daqui para frente e para sempre", disse.

Maduro está no Brasil para a cúpula de líderes da América do Sul que começa nesta terça-feira (30). Maduro chegou ao Planalto às 10h36 acompanhado de sua esposa, Cilia Flores Maduro, e subiu a rampa do Palácio, onde foi recepcionado por Lula e a primeira-dama, Janja.

 

Ø  Maduro diz que encontro com Lula “constitui fato histórico”

 

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que o encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta 2ª feira (29.mai.2023) “constitui um fato histórico, transcendental e uma vitória da dignidade” da população brasileira e venezuelana.

“O resgate e fortalecimento da união entre Brasil e Venezuela é o caminho correto que nos conduzirá ao desenvolvimento e integração da Pátria Grande”disse Maduro em sua conta no Twitter.

O líder venezuelano chegou ao Brasil às 21h24 de domingo (28.mai). Ele pousou na Base Aérea de Brasília e foi recepcionado pela embaixadora Gisela Maria Figueiredo Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, e pelo embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vicente Vadell Aquino. O líder venezuelano chegou acompanhado da primeira-dama Cilia Flores.

Na manhã desta 2ª feira (29.mai), Lula e Janja receberam Maduro e Cilia Flores no Palácio do Planalto com honras de chefe de Estado.

A viagem é realizada por causa da reunião com os presidentes dos países da América do Sul, marcada para 3ª feira (30.mai). Dos 12 chefes de Estado convidados para o evento, Maduro foi o único a ter encontro bilateral com Lula até o momento.

Esta é a 1ª visita de Maduro ao Brasil desde 2015. Na época, o venezuelano veio ao país para participar da posse da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2019, ele foi proibido de entrar no Brasil pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O próprio Bolsonaro, no entanto, revogou, em 30 de dezembro de 2022, o decreto que impedia a entrada de integrantes da administração de Maduro em território brasileiro.

Durante o dia, Lula terá 3 encontros o venezuelano. Depois da reunião, às 12h30, o presidente e Maduro assinarão acordos bilaterais entre os países. O conteúdo não foi adiantado pela Presidência. Na sequência, o venezuelano será recebido em um almoço no Itamaraty.

Em fala à imprensa, Maduro criticou a “extrema ideologização” das relações internacionais. Depois de se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto, o líder venezuelano afirmou que todas as relações com o Brasil haviam sido cortadas, mas que isso agora “é passado”.

“Fizemos uma revisão de tudo o que diz respeito a essa época de ouro das nossas relações, onde o Brasil e a Venezuela se encontravam cara a cara. Se encontravam a partir de uma vontade em comum. Vontade de construir uma América do Sul em paz, com prosperidade e igualdade. E como isso foi estancado de um dia para o outro porque essa ideologização extrema das relações internacionais é hoje um fenômeno que consiste na aplicação de fórmulas extremistas que vão para a direita e buscam qualificar as relações dividindo-as, subdividindo-as e atropelando-as. E a Venezuela teve a aplicação desse modelo ideológico extremista [que] ainda está sendo aplicado”, declarou Maduro.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil/Poder 360

 

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