quarta-feira, 31 de maio de 2023

Adhemar S. Mineiro: O cartel está de volta e disposto a evitar queda no preço do petróleo

Em artigo publicado originalmente no Correio Braziliense e no Blog Terapia Política, e que será republicado na 26ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), tratei da questão do retorno do cartel do petróleo. Abaixo, uma síntese do artigo.

O anúncio pela Arábia Saudita, no começo de abril, de que ela e os países da Opep reduziriam a oferta mundial de petróleo em cerca de 1 milhão de barris por dia impactou diretamente os preços internacionais de petróleo e derivados. A medida foi seguida da reafirmação pela Rússia de que manteria seu corte de março, de 500 mil barris por dia, até o fim do ano. A iniciativa saudita não é uma novidade e, combinada com o anúncio russo, sinaliza claramente: o cartel está de volta e disposto a evitar a queda dos preços. Tais dinâmicas colocam para o Brasil o desafio de construir uma nova estratégia de inserção no mercado global de óleo e gás, para não ser um mero receptor das turbulências de preços do mercado global.

O anúncio saudita se seguiu a flutuações dos preços ocorridas no mês anterior. Primeiro, os mercados registraram uma queda nos preços de referência por avaliações negativas sobre o cenário internacional. A subida das taxas de juros, o agravamento da situação financeira  e instabilidades no sistema bancário ampliaram os temores de uma crise mais aguda e voltaram os fantasmas da crise de 2007/2008. A essas avaliações, se seguiu a intervenção dos bancos centrais sinalizando que buscariam evitar o acirramento da crise, o que começou a tranquilizar e mudar os humores dos mercados. O anúncio de que a China interromperia sua política de lockdowns sinalizou positivamente a respeito do futuro econômico. Essas avaliações sobre o cenário econômico impactaram os mercados internacionais de petróleo e derivados, e os preços recuperaram uma trajetória ascendente.

•        Fatores geopolíticos

O que a reação do cartel no começo de abril apontou é que os principais países produtores não estão dispostos a serem personagens sem protagonismo, deixando os preços guiados pela demanda. Cumpririam seu papel de tentar influir e determinar os preços. A combinação com a Rússia, que não é membro da Opep, também foi um sinal importante, já que o isolamento russo é uma política dos EUA neste momento.

Outro fato geopolítico importante foi a distensão entre Irã e Arábia Saudita, sob o patrocínio da diplomacia chinesa. A Arábia Saudita tem sido um histórico pilar dos interesses estadunidenses em todo Oriente Médio, e a redução da tensão de suas relações com o Irã sinaliza uma possibilidade de mudança de ventos diplomáticos e políticos na região.

Segundo o Oil Market Report, de 13 de abril, a Arábia Saudita lidera a produção de petróleo entre os países da Opep com uma produção de cerca de 10,5 milhões de barris por dia. Entre os países de fora da organização, a Rússia se aproxima de 10 milhões de barris por dia. A produção brasileira, em fevereiro, foi de 3,3 milhões. Nos mercados de derivados (produtos refinados), os EUA lideram, mas a China vem crescendo rapidamente sua capacidade de refino. O Brasil é citado pela produção de etanol (biocombustível). Temos assim a produção de petróleo bruto e de refinados claramente cartelizadas, com grandes países representando parcelas expressivas da produção internacional.

•        E o Brasil com isto?

Bem, os movimentos recentes mostram que os principais produtores e consumidores vão tensionar e buscar influenciar os patamares dos preços do petróleo e seus derivados. O Brasil é um importante produtor, mas com uma participação pequena, embora crescente, no mercado global, e que não tem condições de influenciar os preços internacionais. Os movimentos, entretanto, mostram o caráter estratégico do petróleo e dinâmicas geopolíticas globais, mesmo com o avanço no desenvolvimento de fontes renováveis. Sem dúvida, as disputas sobre o preço continuarão no centro da agenda.

Além disso,  o Brasil, hoje, tem uma política de preços internos para os derivados bastante passiva, que expõe os consumidores nacionais às flutuações no mercado internacional. Revisar essa política é necessário e urgente. Outro elemento central nesse debate é a política de longo prazo do país para o seu parque de refino. Haverá expansão da capacidade de refino ou não? Vale lembrar que os investimentos nesse segmento são de longa maturação, o que reforça, mais uma vez, a urgência de uma política estratégica assertiva para enfrentar a atual grande dependência brasileira de importação de alguns derivados, apesar de sua auto-suficiência na produção.

Os movimentos do mercado internacional de petróleo e derivados nos alertam, mais uma vez, que está mais do que na hora de tomar a política de preços e produção neste setor como uma variável estratégica para o desenvolvimento nacional, o abastecimento interno e a segurança energética brasileira no curto, médio e longo prazos. É preciso fortalecer uma política setorial que pense para além dos movimentos de curto prazo e que associe a política de preços, abastecimento, exportação (de petróleo) e importação (de derivados) à agenda da transição energética. Afinal, quem não tem uma estratégia é parte da estratégia de alguém.

 

       JEAN PAUL PRATES DIZ QUE PETROBRÁS NÃO VENDERÁ A REFAP E PROMETE NOVOS INVESTIMENTOS NA UNIDADE

 

O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, anunciou que a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), localizada no Rio Grande do Sul, não será mais vendida. A unidade, como se sabe, estava dentro do programa de desinvestimentos da petroleira, como parte de um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica. O anúncio de que a Petrobrás manterá o ativo em seu portfólio foi feito durante o final de semana, durante um evento em homenagem aos 55 anos da Refap. “Essa refinaria não será objeto de desinvestimento. Isso é uma palavra absurda”, disse Prates durante a cerimônia. “Acabou essa história de desinvestimento”, enfatizou.

Ainda durante sua passagem pelo Rio Grande do Sul, Prates esteve em reunião com empresários gaúchos na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. Durante o encontro, ele ressaltou que a Refap receberá novos investimentos da Petrobrás para produção de diesel com menos enxofre e de diesel com conteúdo renovável.

O presidente da estatal também falou de projetos futuros para a indústria local, sobretudo para o setor naval, que tem um braço forte no estado, na cidade de Rio Grande. “Nós certamente saberemos conduzir uma nova fase da indústria naval, que permita que tenhamos serviços e trabalhos importantes sendo realizados no Brasil. Estamos em fase ainda de levantamento das capacidades e, dentro da Petrobrás, estamos vendo o que nós podemos demandar e direcionar para os estaleiros brasileiros e para a indústria em geral”, declarou Prates aos empresários.

A Petrobrás também inaugurou neste final de semana o sistema de tratamento para os gases de combustão da unidade de craqueamento catalítico da refinaria, que representa significativos ganhos ambientais. É feito por equipamento chamado precipitador eletrostático, que captura material particulado presente no gás pela aplicação de um forte campo elétrico. Posteriormente, o material captado é coletado e transportado.

O preciptador eletrostático exigiu investimentos de R$ 88 milhões. Com esse processo, a concentração de particulados no gás emitido reduzirá significativamente. “Isso aprimora mais ainda a nossa capacidade de manter os parâmetros de emissão atmosférica da companhia. A conclusão da obra se dará no início de junho e os procedimentos operacionais de partida ocorrem até o fim do mês”, explicou o gerente geral da Refap, Gerson Cesar Souza.

REFINARIA RIOGRANDENSE VAI TESTAR TECNOLOGIA DE BIORREFINO DA PETROBRÁS

A Petrobrás anunciou também que a Refinaria de Petróleo Riograndense (RPR), localizada na cidade de Rio Grande (RS), será palco de testes industriais de uma tecnologia da Petrobrás para a geração de produtos petroquímicos e combustíveis de origem inteiramente renovável. O primeiro teste industrial está previsto para o próximo mês de novembro, devendo durar até cinco dias. O segundo, será realizado em junho de 2024.

De acordo com a Petrobrás, caso os testes sejam bem-sucedidos, já estão negociados o contrato de licenciamento da tecnologia. O valor do investimento que será realizado pela Petrobrás na RPR é em torno de R$ 45 milhões.

“A partir de uma tecnologia desenvolvida pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras, a unidade de FCC (craqueamento catalítico fluido) da RPR será preparada, no primeiro teste, com inovações de processo e sistema catalítico, gerando insumos integralmente renováveis”, explicou a Petrobrás. “O teste posterior será por meio do coprocessamento de carga fóssil com bio-óleo, gerando propeno, gasolina e diesel, todos com conteúdo renovável a partir de matéria-prima avançada de biomassa não alimentar”, detalhou. A Refinaria de Petróleo Riograndense iniciou suas operações em 1937 e hoje tem como acionistas a Petrobrás, a Braskem e a Ultrapar.

 

Ø  Ibama reavalia o pedido da Petrobras para exploração de petróleo na foz do Amazonas

 

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que vai reanalisar o pedido da Petrobras para exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas. A reapresentação foi feita pela Petrobras na última quinta-feira (25), após o Ibama ter rejeitado dar a licença por entender que o pedido não continha garantias para atendimentos à fauna em possíveis acidentes com o derramamento de óleo.

“O Ibama informa que recebeu nesta quinta-feira (25/05) a reapresentação de Pedido de Expedição de licença ambiental para atividade de perfuração marítima no Bloco FZA-M-59, na Margem Equatorial Brasileira, pela Petrobras”, diz o Ibama em nota divulgada na sexta-feira (26).

“O Instituto vai analisar novamente a proposta e discutir tecnicamente as alterações apresentadas no novo pedido”, completa a nota.

Nas últimas semanas, o Ibama negou autorização para a Petrobras perfurar um poço de petróleo no litoral do Amapá, na bacia da foz do Amazonas. A estatal aguardava esse aval para fazer uma perfuração de teste a cerca de 175 quilômetros da costa.

O documento técnico apontou que o plano da Petrobras para a área não apresenta garantias para atendimentos à fauna em possíveis acidentes com o derramamento de óleo, além de lacunas quanto à previsão de impactos da atividade em três terras indígenas em Oiapoque.

A decisão do Ibama gerou atritos não somente dentro do governo, mas também e entre parlamentares da região amazônica e de outras regiões.

O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (AP), foi um dos que protestaram contra a recusa da licença para perfuração. Em protesto, o parlamentar anunciou sua saída do partido Rede Sustentabilidade – fundado pela atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A disputa sobre a exploração de petróleo na região é apontada com um dos fatores para o desgaste.

 

Fonte: RBA/Petronoticias

 

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