domingo, 30 de abril de 2023

Tava doidão? Relembre cinco vezes em que Bolsonaro atacou o sistema eleitoral

A defesa de Jair Bolsonaro (PL) afirmou à Polícia Federal, na última quarta-feira (26), que o ex-presidente estava sob efeito de medicamentos quando publicou um vídeo em seu perfil no Facebook questionando o resultado das eleições de 2022, que consagraram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como chefe do Executivo nacional. A publicação foi feita dois dias depois dos atos terroristas de 8 de janeiro.

A postagem fez com que Bolsonaro se tornasse alvo no inquérito que apura os responsáveis pelos atos terroristas de 8 de janeiro, relatado por Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro disse aos investigadores da Polícia Federal que sua intenção era compartilhar o vídeo com alguns contatos no Whatsapp, mas que confundiu os aplicativos e acabou compartilhando no Facebook. O vídeo foi apagado duas horas depois, após alimentar as redes bolsonaristas com a tese de fraude nas eleições.

Equívoco ou não, o vídeo de 10 de janeiro não é uma exceção na trajetória de Bolsonaro. O ex-presidente questionou com frequência o sistema eleitoral ou Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante seu mandato à frente do Palácio do Planalto.

>>>> Relembre ataques do ex-presidente ao sistema eleitoral

No dia 6 de janeiro de 2021, respondendo para um seguidor no chamado "cercadinho", Bolsonaro levantou dúvidas sobre o processo eleitoral de 2018, quando enfrentou, e venceu, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

"A minha [eleição] foi fraudada, tenho indício de fraude na minha eleição. Era para eu ter ganhado no 1º turno. Ninguém reclamou que foi votar 13 e a maquininha não respondia, mas o contrário – quem ia votar 17 – ou não respondiam ou apertava o '1' e já aparecia o '13'", afirmou Bolsonaro à sua claque.

No mesmo ano, mas em 14 de maio, Bolsonaro passou a especular argumentos para uma possível derrota para Lula. Na ocasião, o ex-presidente afirmou que o petista só venceria se houvesse fraude.

"O bandido foi posto em liberdade, foi tornado elegível, no meu entender para presidente, na fraude. Ele só ganha na fraude ano que vem. E eu tenho falado: se o Congresso votar e promulgar o voto impresso, teremos voto impresso ano que vem", disse o ex-presidente.

Em 10 de junho de 2020, Bolsonaro usou a eleição peruana, vencida pelo progressista Pedro Castillo, para fazer ilações sobre os sistemas dos dois países. "Ouso dizer, depois de 7 mandatos, temos melhorado sim o Parlamento brasileiro. Tenho certeza, ano que vem ficará melhor ainda. Se Deus quiser, com voto auditável. Estamos acompanhando a eleição no Peru. Não pode. Uma coisa esquisita. Em alguns países na América do Sul, a eleição é decidida no Photochart (equipamento de cronometragem de corridas usado para decidir sobre resultados muito próximos). Esquisito."

Em 12 de julho de 2022, o Bolsonaro afirmou a eleição de 2018 no primeiro turno. "Vamos mostrar 2014, eleição de 2018, onde eu ganhei no primeiro turno. Eu falo isso não dá boca para fora, tenho como provar". O ex-presidente, no entanto, nunca apresentou tais evidências.

Quinze dias após a derrota para Lula, em novembro de 2022, a candidatura de Bolsonaro, capitaneada pelo PL, seu partido, entrou no TSE com um pedido de verificação extraordinária do resultado do processo eleitoral.

 

       Investigação comprova que PRF traçou operações do 2º turno em reunião e tentou cobrir rastros

 

Com o desenvolvimento das investigações, descobriu-se que as operações nas rodovias no dia do segundo turno foram um plano arquitetado com data, hora e encobrimento de informações que poderiam deixar pistas da ação articulada pela PRF e pelo Ministério da Justiça.

Anteriormente já havia sido ventilado que as operações da Polícia Rodoviária Federal durante o segundo turno das eleições, as quais dificultaram o acesso de eleitores aos locais para votação, não teriam ocorrido por justificativas dadas na época.

Mas agora sabe-se que a discussão foi realizada na sessão extraordinária do Conselho Superior da PRF, no dia 19 de outubro, e cercada pelo esforço da cúpula da corporação naquele momento para eliminar rastros de seu conteúdo, de acordo com o jornal O Globo.

O plano da "Operação Eleições 2022" foi repassado pelo diretor-geral Silvinei Vasques a todos os superintendentes da PRF na reunião do colegiado. Até mesmo a ata do encontro, que não consta na agenda de Vasques, foi manipulada para que não houvesse registro oficial da operação prevista para o segundo turno, segundo a mídia.

O documento indica a participação de 44 dos 49 integrantes do colegiado, entre diretores e superintendentes da PRF nos estados, e informa apenas a discussão de temas triviais, como o treinamento físico institucional da PRF e o cálculo das escalas de serviço em situações excepcionais, entretanto, o principal objetivo do encontro — planejar as blitzs que impuseram obstáculos em redutos de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — não consta do documento.

Outro ponto que chamou atenção é que a convocatória dos diretores e superintendentes foi presencial, quando a discussão de temas gerais da corporação acontecem virtualmente.

Ao mesmo tempo, na entrada do auditório da sede nacional da PRF, os participantes precisaram entregar celulares e relógios a dois agentes do setor de inteligência da polícia para evitar que a discussão fosse gravada, relata o jornal.

O Globo afirma que ouviu cinco polícias rodoviários e que três deles disseram que, durante a reunião, Vasques disse que havia chegado a hora da PRF tomar lado na disputa eleitoral.

Sendo assim, o então diretor-geral pediu o engajamento dos presentes nas operações de 30 de outubro, especialmente no Nordeste. Enfatizou, ainda, que um segundo mandato de Bolsonaro traria benefícios a todos ali e à corporação, que teve suas prerrogativas expandidas durante o mandato do então presidente.

Ao final do encontro, nove participantes da reunião não assinaram a ata. Dos 44 participantes citados no documento, 37 registraram ter estado no encontro do dia 19.

As informações que subsidiaram a ordem de serviço oficializada pela PRF partiram do próprio Ministério da Justiça.

Anteriormente, no último dia 19, a ex-diretora de inteligência da pasta Marília Alencar, que é próxima de Anderson Torres, confirmou à Polícia Federal ter elaborado um mapeamento das cidades em que Lula teve desempenho superior ao de Bolsonaro no primeiro turno, conforme noticiado.

Vale também lembrar que, na noite anterior à votação, 29 de outubro, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a PRF e a PF de realizarem qualquer força-tarefa visando o transporte público de eleitores até a conclusão da votação.

Na véspera da votação, Vasques suas redes sociais para se manifestar sobre as eleições. "Vote 22. Bolsonaro presidente", escreveu o então diretor-geral da PRF. Logo depois, o Ministério Públio pediu o afastamento de Vasques da corporação e em seguida a PRF o aposentou, com o ex-diretor tendo apenas 47 anos.

•        Operação de blitze no 2º turno das eleições contratou mais PRF de folga em estados de eleitores de Lula

Em mais uma evidência nas investigações contra o ex-ministro Anderson Torres e a atuação do governo de Jair Bolsonaro contra as eleições 2022, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) contratou mais agentes que estavam de folga nos estados que Lula teve as maiores votações para trabalhar na blitze do segundo turno.

A informação consta em relatório interno da PRF. Os investigadores apuram os responsáveis e envolvidos na tentativa de impedir eleitores de Lula de chegarem nos locais de votação.

•        O que foi o caso das blitze

À época, o caso das blitze que prejudicou eleitores foi amplamente divulgado e a alegação do então diretor da PRF, Silvinei Vasques, era que os agentes foram mobilizados para atuar em supostos crimes eleitorais, como a compra de votos. Vasques já é investigado no caso e atualmente é réu por improbidade administrativa.

Além dele, o então ministro da Justiça, Anderson Torres, que continua preso, também é investigado de tentar obstruir as eleições 2022. O ex-ministro de Jair Bolsonaro foi à Bahia, dias antes do segundo turno das eleições, para atuar na logística de operações da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

•        Viagem de Torres à Bahia

Um boletim de inteligência produzido pelo Ministério da Justiça, então comandado por ele, trazia detalhes dos locais em que Lula tinha recebido a maior quantidade de votos no primeiro turno das eleições.

De posse desse documento, dias depois, Torres viajou à Bahia, um dos principais redutos eleitorais de Lula, fora de sua agenda oficial, para tratar das operações de blitze. A PRF gastou, ao menos, R$ 1,3 milhão nessas operações.

•        Mais agentes em estados de Lula

Agora, novas informações da PRF dão conta que o órgão usou a maior quantidade e efetivo extra, ou seja, contratou mais policiais e agentes que estavam de folga para trabalhar no dia do segundo turno em estados das regiões Norte e Nordeste do país, onde Lula detinha as votações mais expressivas.

Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e Minas Gerais tiveram essa contratação extra de agentes da PRF.

 

       Em reunião sigilosa sobre operações no 2º turno, diretor-geral da PRF teria dito que reeleição de Bolsonaro traria benefícios à corporação

 

A cúpula da corporação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) teria feito uma reunião secreta, no dia 19 de outubro, na sede da corporação, em Brasília, para tratar das operações durante o segundo turno das eleições de 2022.

Segundo três policiais que estiveram no tal encontro, o plano que tinha o objetivo de dificultar o trânsito de eleitores nos redutos favoráveis ao então candidato Lula (PT). As ordens foram repassadas pelo então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, a todos os superintendentes presentes na reunião.

Na ocasião, Vasques teria dito que havia chegado a hora da PRF tomar lado na disputa, uma vez que um segundo mandato de Jair Bolsonaro (PL) traria benefícios à corporação. Ele, então, pediu o engajamento dos presentes nas operações de 30 de outubro, especialmente no Nordeste.

Além disso, após a discussão durante uma sessão extraordinária do Conselho Superior da PRF, houve uma tentativa da Cúpula da corporação para cobrir os rastros da reunião, segundo informações de Malu Gaspar, no O Globo.

Para omitir o conteúdo do encontro – que teria trado exclusivamente das operações no segundo turno – uma ata sobre a reunião teria sido manipulada.

O documento chegou a ser obtido por meio da Lei de Acesso à Informação (LDI), em dezembro, mas indica apenas a discussão de temas triviais, sem mencionar o principal objetivo da reunião.

 

       Fachin critica anistia a quem mentiu sobre Justiça Eleitoral

 

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou hoje (28) o que chamou de “tentativa ignóbil” de anistiar fraudes à representação feminina na política e também de perdoar pessoas que tenham abertamente mentido sobre a Justiça Eleitoral.

Ele atribuiu a grupos sectários “ações que, ora abertamente, ora sub-repticiamente, atentam contra igualdade e a responsabilidade, especialmente agora, quando isso se vê na tentativa ignóbil de anistiar quem agiu contra a representação de mulheres ou contra quem mentiu sobre a Justiça Eleitoral”.

O ministro discursou na abertura de palestra no Supremo, organizada por seu gabinete, com o tema O futuro da democracia constitucional no Brasil, proferida pelo professor Oscar Vilhena, fundador e diretor da faculdade de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A fala de Fachin ocorre no momento em que um grupo de deputados tenta aprovar uma anistia de multas e outras punições para partidos que tenham fraudado a cota de gênero nas eleições gerais de 2022. Medida similar já foi promulgada no ano passado, em relação a pleitos anteriores, e agora os parlamentares querem postergar o perdão para abarcar também o processo eleitoral do ano passado.

Proposta de Emenda Constitucional (PEC) com 184 assinaturas foi protocolada no fim de março na Câmara. Assinam o projeto deputados de Avante, PDT, Podemos, PT, PL, Republicanos, PSDB, PSB e PSD. Entre os signatários estão os líderes da oposição, Carlos Jordy (PL-RJ), e do governo, José Guimarães (PT-CE).

Em paralelo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está prestes a julgar, nas próximas semanas, ação aberta pelo PDT que pede a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, sob o argumento de que ele teria mentido conscientemente sobre as urnas eletrônicas e o processo eleitoral em reunião com embaixadores, quando ainda ocupava o cargo.

Fachin disse ter alertado, mais de uma vez, antes dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, sobre os sinais de desrespeito à igualdade e à divergência política, que resultou nos ataques. "Tais sinais já vinham sendo dados como uma tragédia, em que os personagens sabem de seu destino, mas pouco podem”, afirmou o ministro.

 

Fonte: Brasil de Fato/Sputnik Brasil/Jornal GGN/FolhaPress

 

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