Pacheco lê
requerimento e cria CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro
O
presidente do Congresso nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leu ONTEM (26),
durante sessão do Congresso Nacional, o requerimento para a abertura da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as invasões e
depredações de prédios públicos ocorridas no dia 8 de janeiro, a chamada CPMI
dos Atos Golpistas.
Na
ocasião, as sedes do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do
Palácio do Planalto foram invadidas por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro,
inconformados com o resultado da eleição presidencial. Falta agora o documento
ser publicado no Diário Oficial da União (DOU).
“O
requerimento requer a criação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito com a
finalidade de investigar os atos de ação e omissão ocorridos no dia último oito
de janeiro ocorridos na sede dos três poderes da República em Brasília”, diz
trecho do requerimento.
O
colegiado será formado por 16 deputados e 16 senadores titulares. Agora, os
líderes devem indicar os integrantes da comissão conforme a proporcionalidade
contida no documento, que será enviado às lideranças das duas casas
legislativas. A duração inicial dos trabalhos da CPMI será de seis meses.
·
Governo
Na
última quinta-feira (20), o ministro da Secretaria de Relações Institucionais,
Alexandre Padilha, disse que o governo apoiará os trabalhos da comissão.
A
decisão do governo ocorreu após a divulgação, pela imprensa, de imagens que
mostraram o general Gonçalves Dias, então ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, e outros
funcionários da pasta, no interior do Palácio do Planalto, interagindo com os
vândalos, no dia da invasão.
O
general Dias pediu demissão do cargo na sequência, que aceita pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Ø
"CPMI
causará desgaste ao governo, mas mais ao bolsonarismo", afirma cientista
política
A
instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará
os atos
golpistas de 8 de janeiro provocará algum desgaste para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas causará dano
ainda maior no bolsonarismo ao expor um vínculo do ex-presidente Jair
Bolsonaro e
seus comandados a uma tentativa de golpe de Estado, na avaliação da cientista
política Argelina Cheibub Figueiredo, professora do Instituto de Estudos
Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
O
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leu nesta quarta-feira (26/04)
o requerimento para a chamada CPMI dos Atos Golpistas, e agora falta apenas a
publicação do ato no Diário Oficial da União. Em seguida, os partidos devem
indicar membros para compor o colegiado, que será formado por deputados e
senadores.
"Já
há provas concretas contra o ex-ministro da Justiça, Anderson
Torres.
Provas que também atingem Bolsonaro como possível mentor dos atos. Essa relação
está consolidada e a versão de que o governo [Lula] sofreu uma tentativa de
golpe não será mudada", afirmou Figueiredo em entrevista à DW.
Ela
ressalta que o Palácio do Planalto também ficará mais vulnerável com a CPMI,
que será utilizada pelos bolsonaristas para difundir a visão da extrema direita
sobre o ocorrido e explorar falhas da atual gestão – como problemas no Gabinete
de Segurança Institucional (GSI) que resultaram na demissão do
ministro Gonçalves Dias, o primeiro a cair no atual governo Lula.
"No
fim das contas, o que nós precisamos pensar é: o desgaste do governo vai ser
maior do que o resultado final da CPMI, corroborando a tese de que o
bolsonarismo tentou um golpe de Estado? Não acredito", diz Figueiredo.
Ela
também avalia que o governo deve priorizar a formação de uma base no colegiado,
mas considera que não é do interesse do atual presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), usar neste momento a CPMI para provocar danos ao governo.
Figueiredo tem
dúvidas de que o colegiado seja capaz de avançar em possíveis punições ao
envolvidos nos atos golpistas para além do que os inquéritos e ações penais já
em trâmite no âmbito do Supremo Tribunal Federal podem alcançar.
"Todo
o aparato de Justiça já está mobilizado e funcionando para punir
individualmente os participantes. Como a CPMI pode aprofundar o que tem sido
feito? Fico na dúvida se isso é possível a partir da atuação no
Congresso."
Doutora
em ciência política pela Universidade de Chicago, Figueiredo é autora de uma
pesquisa que analisou as CPIs instaladas na Câmara dos Deputados de 1946 a 1964
e de 1988 a 2002.
LEIA
A ENTREVISTA:
·
A CPMI pode atingir o bolsonarismo?
Não
acho que seja provável que a comissão vá diminuir a relação dos eventos de 8 de
janeiro com o bolsonarismo, com o ex-presidente Jair Bolsonaro, com os conspiradores
e os financiadores. Já há provas concretas contra o ex-ministro da Justiça,
Anderson Torres. Provas que também atingem Bolsonaro como possível mentor dos
atos. Essa relação está consolidada e a versão de que o governo sofreu uma
tentativa de golpe não será mudada.
A
CPMI vai corroborar a realidade, diante de uma posição que hoje está
concentrada quase que exclusivamente no PL e dispersa em alguns outros
partidos. Não há uma base sólida capaz de mudar a percepção do que foi o 8 de
Janeiro. O que eles querem é apresentar uma versão nova do fato, que foi a
tentativa de golpe. E isso é difícil de se reproduzir.
·
Qual será o impacto disso para a democracia?
O
que uma CPMI faz? Ela produz um relatório final e uma lista de recomendações
para o Ministério Público Federal. Se pensarmos em punição, de qual tipo seria?
Para os bolsonaristas, as investigações já estão acontecendo no Supremo
Tribunal Federal. Prisão para os financiadores? Esses nomes serão revelados em
breve a partir das operações da Polícia Federal. Todo o aparato de Justiça já
está mobilizado e funcionando para punir individualmente os participantes.
Como
a CPMI pode aprofundar o que tem sido feito? Fico na dúvida se isso é possível
a partir da atuação no Congresso. O que pode acontecer, e que é positivo para o
governo, é reforçar a realidade dos fatos, algo que a oposição tem buscado
minimizar. Ainda assim, eles não têm capacidade ou informação para corroborar
essa nova versão que eles querem mostrar. Há temor entre os bolsonaristas,
porque as investigações estão se aprofundando.
·
Qual será a estratégia da oposição durante a CPMI?
A
oposição é barulhenta, desrespeitosa, não tem decoro e argumento. É uma
oposição frágil. As pessoas que estão previstas para ser indicadas... Quando o
[deputado] Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teve um posicionamento condizente com
oposição? Nunca. [Senador] Eduardo Girão (Novo-CE)... São pessoas que vão poder
argumentar muito pouco. A atuação deles na CPI da Covid em defender o governo
era muito ruim, apesar do barulho que fizeram.
·
Quais são os erros que a CPMI não pode cometer?
É
fundamental que o governo controle uma base, para não perder o controle da
CPMI. Ainda assim, neste caso, não acredito que seja uma comissão que vá durar
ou ter a mesma importância da CPI da Covid, por exemplo, porque ali tínhamos
fatos que atingiam fortemente o governo em questão. Só não houve o impeachment
porque o Arthur Lira controlava os votos e o governo entregava o dinheiro do
orçamento que o própria Lira controlava e ia para os deputados. Assim,
Bolsonaro conseguiu se manter no poder.
·
A CPMI pode ter algum impacto negativo para o governo?
Ela
é uma comissão contra o governo. Podemos dizer que ela não é só contra o
governo porque há na opinião pública o combate contra o golpe. O governo não tem
nenhum interesse. Há o problema do GSI, a demissão do Gonçalves Dias, que ele
vai precisar se explicar, e isso o atinge um pouco, mas é superável no decorrer
do tempo.
No
fim das contas, o que nós precisamos pensar é: o desgaste do governo vai ser
maior do que o resultado final da CPMI, corroborando a tese de que o
bolsonarismo tentou um golpe de Estado? Não acredito.
·
Lira poderá forçar o governo a ceder em troca de apoio
na CPMI?
Uma
condição básica para uma CPI funcionar favoravelmente ao governo é a constituição
dessa base. E essa base está nas mãos do Lira. Há uma avaliação de que ele
poderá fazer chantagem na Câmara. Mas não vejo essa ameaça, ainda que de fato o
governo não tenha uma base consolidada. O Lira precisa mostrar serviço,
política pública. Com Bolsonaro, ele só precisava evitar o impeachment, porque
era um governo sem qualquer plano ou projeto para além das pautas de costumes.
Neste
momento, não interessa ao Lira ou ao Pacheco que a CPI se torne um desgaste
muito grande porque se o governo melhorar, a vida deles também será mais fácil.
O governo Lula tem um certo apoio popular, dentro e fora do Congresso. E os
eventos de 8 de janeiro colocam o bolsonarismo em situação difícil. É difícil
imaginar que ele vá querer ir contra esse cenário e atuar contra o governo
dentro da CPMI.
Ø
À
PF, Bolsonaro diz que fez postagem "sob efeito de remédio"
O
ex-presidente Jair
Bolsonaro disse
em depoimento nesta quarta-feira (26/04) na sede da Polícia Federal em Brasília
que publicou "por engano" um vídeo com notícias falsas sobre as urnas
eletrônicas, pois estaria sob o efeito de medicamentos.
O
depoimento, que durou cerca de duas horas, havia sido determinado pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no âmbito das
investigações sobre os atos
golpistas de 8 de janeiro e tendo por base uma postagem feita pelo
ex-presidente em 10 de janeiro.
Na
data, Bolsonaro compartilhou um vídeo com uma declaração de um procurador de
Mato Grosso do Sul que sustenta teses infundadas sobre fraudes nas urnas
eletrônicas, já desmentidas pelas autoridades. A postagem de Bolsonaro ocorreu
apenas dois dias após a invasão das
sedes dos três Poderes em Brasília e foi retirada do ar poucas horas depois.
Na
avaliação de Moraes, o post poderia indicar uma ligação entre o ex-presidente e
os atos golpistas por apoiadores de Bolsonaro insatisfeitos com o resultado das
eleições presidenciais de outubro de 2022.
·
"Mensagem acidental"
Após
o depoimento, o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, disse a repórteres
que a mensagem publicada por Bolsonaro foi acidental.
"Tanto
a postagem foi acidental que ele [Bolsonaro] não fez nenhum comentário em cima
deste post e o apagou logo na sequência. O [ex-] presidente quando saiu de
férias tratou a eleição como página virada. Em momento algum você vai encontrar
alguma declaração dele declinando que a eleição tenha sido fraudada",
disse o advogado.
O
ex-chefe da Secom no governo Bolsonaro e atual assessor do ex-presidente Fabio
Wajngarten, também presente no depoimento, confirmou que Bolsonaro alegou à PF
que estava sobre o efeito de medicamentos e, por isto, fez a publicação sem
querer. "Assim que alertado, apagou o vídeo", acrescentou Wajngarten.
·
Sob efeito de morfina
De
acordo com o portal de notícias G1, Bolsonaro teria dito à PF que queria salvar
o vídeo para visualizá-lo mais tarde, mas acabou compartilhando o conteúdo de
forma não intencional.
A
defesa também alega que, no dia da postagem, Bolsonaro tinha acabado de receber
alta hospitalar devido a uma obstrução intestinal e havia sido medicado com
morfina.
Também
segundo o G1, Wajngarten negou o envolvimento do vereador carioca Carlos
Bolsonaro na postagem. Filho do ex-presidente, Carlos Bolsonaro costumava gerenciar
as redes sociais do pai.
Neste
mês, Bolsonaro já havia comparecido à Polícia Federal para prestar depoimento
em outro caso. No dia 6 de abril, o ex-presidente foi ouvido no inquérito
que apura se ele cometeu crime de peculatoao ficar com os itens de luxo que
recebeu como presente da Arábia Saudita.
Fonte:
Agência Brasil/Deutsche Welle
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