sábado, 29 de abril de 2023

Novas epidemias de chikungunya incapacitam e matam no Brasil, revela estudo

O aumento da incidência e distribuição geográfica de doenças como chikungunya e dengue, transmitidas pelo Aedes aegypti, representa um importante problema de saúde pública na região das Américas. O alerta foi feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A dengue é responsável pelo maior número de casos no continente, com epidemias ocorrendo a cada três a cinco anos. Embora a dengue e a chikungunya sejam endêmicas na maioria dos países da América Central, América do Sul e Caribe, na atual temporada de verão, o aumento da transmissão e a expansão dos casos de chikungunya foram observados além das áreas históricas de transmissão.

De acordo com a OMS, 2023 mostra intensa transmissão de dengue. Além disso, são esperados maiores índices de transmissão nos próximos meses no hemisfério Sul, devido às condições climáticas favoráveis à proliferação dos mosquitos.

Houve 2,8 milhões de casos de dengue relatados nas Américas em 2022, o que representa um aumento de mais de duas vezes quando comparado aos 1,2 milhão de casos relatados em 2021. A mesma tendência crescente foi observada para a chikungunya, com uma alta incidência de inflamação no cérebro (meningoencefalite) possivelmente associada à chikungunya.

No nível regional, a OMS avalia o risco como alto devido à presença generalizada de mosquitos vetores, o risco contínuo de doenças graves e até morte e a expansão fora das áreas históricas de transmissão, onde toda a população, incluindo grupos de risco e profissionais de saúde, podem não estar cientes das manifestações clínicas da doença, incluindo quadros graves.

·         Panorama epidemiológico no Brasil

Um estudo internacional detalha a disseminação do vírus chikungunya (CHIKV) desde sua introdução no país há dez anos. A pesquisa, que conta com a participação da Universidade de São Paulo (USP), faz análise de 253.545 casos confirmados em laboratório entre 2013 e 2022.

Os dados sugerem que a doença se distribuiu pelo território brasileiro de forma heterogênea, sendo que cidades mais afetadas apresentaram alguma proteção a novos surtos, enquanto municípios menos expostos a ondas anteriores permaneceram mais suscetíveis. Os resultados foram publicados no periódico científico The Lancet Microbe.

“O CHIKV é uma grande ameaça à saúde pública global, e o vírus é transmitido principalmente entre humanos por mosquitos da espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, os mesmos vetores da dengue e da Zika. Durante os últimos 20 anos, a chikungunya teve mais de 10 milhões de casos relatados em mais de 125 países e territórios”, afirma o virologista William Marciel de Souza, da University of Texas Medical Branch, dos Estados Unidos, primeiro autor do artigo em comunicado.

A doença é caracterizada por sintomas como febre alta de início repentino e dores intensas nas articulações. Apesar das semelhanças nos sintomas, a principal diferença entre a dengue e a chikungunya é a dor nas articulações, muito mais intensa na chikungunya, afetando principalmente pés e mãos, geralmente nos tornozelos e pulsos.

O diagnóstico deve ser feito por um médico e pode ser confirmado por exames laboratoriais específicos, que podem ser feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Como a doença é transmitida por mosquitos, a medida de prevenção inclui a eliminação dos criadouros nas casas e vizinhança, que consistem basicamente em locais de acúmulo de água parada.

“A chikungunya é uma doença febril tipicamente caracterizada por sinais e sintomas humanos agudos e crônicos, geralmente com artralgia grave [dor nas articulações], muitas vezes crônica e incapacitante, mas também incluindo algumas complicações neurológicas e morte. Atualmente não há vacinas licenciadas ou medicamentos antivirais disponíveis para prevenir ou tratar a infecção”, explica o pesquisador.

Os pesquisadores estimam que 1,3 bilhão de pessoas vivem em áreas de risco para transmissão do vírus chikungunya, e o Brasil é o país com maior ocorrência de casos nas Américas.

“Neste estudo epidemiológico, usamos dados de sequenciamento genômico, informações do vetor do vírus, o Aedes aegypti, e dados clínicos agregados de casos de chikungunya no Brasil, o que representa mais de 250 mil casos confirmados por exames laboratoriais. Em seguida, avaliamos a dinâmica espaço-temporal da chikungunya no Brasil por meio de séries temporais, mapeamento, distribuição de idade e sexo, letalidade e análises genéticas, entre outros fatores”, diz.

Entre março de 2013 e junho de 2022, foram notificados 253.545 casos de chikungunya confirmados em laboratório em 3.316 (59,5%) dos 5.570 municípios, distribuídos principalmente em sete ondas epidêmicas de 2016 a 2022. A pesquisa revela que o Ceará foi o estado mais afetado, com 77.418 casos durante as três maiores ondas epidêmicas, ocorridas em 2016, 2017 e 2022.

“Assim, sequenciamos os genomas do vírus e identificamos que a recorrência de chikungunya em 2022 no Ceará, após um hiato de quatro anos, foi associada a uma nova introdução de uma linhagem leste-centro-sul-africana, provavelmente originária de outros estados brasileiros. O estudo também estima que essa nova linhagem de CHIKV foi introduzida no Estado entre meados e final de 2021”, acrescenta Souza.

“Com base na análise epidemiológica, identificamos que as recorrências de chikungunya no Ceará, Tocantins e Pernambuco foram limitadas a municípios com poucos ou nenhum caso relatado nas ondas epidêmicas anteriores, indicando que a heterogeneidade espacial da disseminação do CHIKV e a imunidade da população pode explicar o padrão de recorrência no país”, aponta o especialista.

No Ceará, estado com o maior número de casos de chikungunya (77.418 casos) registrados no país, o número de mortes pela doença nos últimos dez anos foi superior ao da dengue. De acordo com o estudo foi 1,3 óbito por mil casos diagnosticados (a taxa de mortalidade da dengue é de 1,1 por mil).

De acordo com os pesquisadores, o panorama traçado pelo estudo indica que as subsequentes epidemias de chikungunya não serão encerradas sem intervenções de saúde pública – como evidência, citam o surgimento de uma nova onda este ano, desta vez em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Tocantins.

De acordo com o virologista, os dados sugerem que as populações dos municípios mais afetados pelas ondas epidêmicas de chikungunya apresentaram algum nível de proteção imunológica contra a doença e transmissão que impediu temporariamente a recorrência de surtos explosivos. Em contraste, as populações de municípios menos expostos a ondas anteriores permaneceram mais suscetíveis. O que resulta na heterogeneidade geográfica da dinâmica de chikungunya no Brasil.

“Nosso estudo mostra que as epidemias de chikungunya provavelmente continuarão a ocorrer se nenhuma intervenção for implementada, causando grandes ondas epidêmicas com milhares de casos e mortes devido à heterogeneidade geográfica associada à disseminação ou recorrência do vírus”, alerta Souza. “Por fim, destacamos que esses resultados serão úteis para informar o setor de saúde pública para antecipar e prevenir futuras ondas epidêmicas no país”, completa.

 

Ø  Casos de chikungunya crescem 50% no Brasil em 2023; saiba como prevenir

 

Os casos de chikungunya aumentaram de maneira expressiva no Brasil em 2023. De acordo com dados do Ministério da Saúde, até o dia 20 de abril foram registrados 80.823 casos prováveis de chikungunya no país, em quase 2 mil municípios, com 17 óbitos confirmados e 31 em investigação.

Nos três primeiros meses de 2023, houve um crescimento de 97% nas notificações da doença em comparação com o mesmo período de 2022. Em relação a abril, a alta é de 50% em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o ministério, o número de casos prováveis de chikungunya no Brasil em 2023 ultrapassou o limite máximo esperado, considerando a série histórica.

O informe mais recente do ministério, divulgado na quinta-feira (20), aponta que a região Sudeste apresenta o maior coeficiente de incidência. Os estados com maiores  números de casos são Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.

Em Minas Gerais, por exemplo, foram registrados 48.794 casos prováveis de chikungunya, dos quais 18.494 foram confirmados. Até o momento, foram confirmados 11 óbitos pela doença no estado e outras 13 estão em investigação.

Já em Santa Catarina, o último informe epidemiológico da secretaria de Saúde aponta que foram notificados 299 casos suspeitos de chikungunya no estado. Desses, 18 foram confirmados. Na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram confirmados seis casos de chikungunya no estado, observa-se que em 2023 houve um aumento de 200% de confirmados.

As mortes confirmadas de chikungunya também estão concentrados na região Sudeste. O perfil dos óbitos confirmados é principalmente de homens (58,8%) acima de 69 anos (70,6%).

·         Emergência

Para monitorar o aumento de casos dengue, Zika e chikungunya no país, o Ministério da Saúde instalou, em março, o Centro de Operações de Emergências (COE), com o objetivo de elaborar estratégias de controle e redução de casos graves e óbitos.

“Identificamos crescimento em alguns estados, o que nos deixa alerta. Já estamos enviando equipes de campo para traçar um diagnóstico da situação nessas áreas e vamos reforçar o monitoramento do cenário das arboviroses em todo o país. Nossa prioridade é sensibilizar a população, para que assim possamos controlar o avanço da transmissão dessas doenças”, destacou Alda Maria da Cruz, diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, em comunicado.

Até o dia 20 de abril, foram notificados 799.870 casos prováveis de dengue, em 4.456 municípios. Desse total, 8.144 foram casos graves e com sinais de alarme. O índice representa um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano passado.

A região Norte apresenta o maior coeficiente de incidência de Zika, com destaque para Espírito Santo, Tocantins e Acre. Foram registrados até o momento no país 6.295 casos prováveis de Zika, em 538 municípios, um aumento de 289% em relação a abril de 2022.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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