China deixa de ser
o país mais populoso do mundo pela 1ª vez em séculos, aponta projeção; Índia
agora é a maior nação
Neste
mês, a Índia está ultrapassando a China em tamanho de população, segundo
projeções da Organização das Nações Unidas (ONU). Com isso, pela primeira vez
em séculos, a China está deixando de ser a nação com mais cidadãos, e a Índia
assume esse posto. A data exata desta mudança no ranking de países mais
populosos não foi informada, mas a ONU confirmou ao g1 que
isso aconteceu em "algum momento" deste mês de abril.
- A Índia tem
1,428 bilhão de habitantes
- A China tem
1,425 bilhão de habitantes
Desde
1950, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a contabilizar os
tamanhos as populações do país do mundo, a China sempre foi a nação mais
populosa do planeta.
A
China provavelmente já era o país mais populoso por centenas de anos antes:
estima-se que em 1750 havia 225 milhões de chineses, o que a tornava a mais
numerosa do globo naquele ano.
·
Por que mudou?
A
China tem uma população envelhecida e com crescimento estagnado. Nos anos 1980,
a China instaurou a política do filho único. Um dos resultados foi a estagnação
do crescimento, mesmo depois do fim da política do filho único. Agora a
população chinesa está prestes a encolher. As projeções apontam que em 2050 a
população chinesa vai ser 8% menor do que a atual.
·
E a Índia?
A
Índia tem uma população muito mais jovem, uma taxa de fertilidade mais alta e
uma queda na mortalidade infantil nas últimas três décadas.
A
Índia tem mais bebês nascidos a cada ano do que em qualquer outro país,
enquanto na China há mais mortes a cada ano do que nascimentos, disse Dudley
Poston, Jr., professor emérito de sociologia na Texas A&M University.
A
população indiana deve continuar crescendo e deve atingir o pico em 2064, com
1,7 bilhão de pessoas — cerca de 50% maior que a população projetada da China.
A
Índia também teve uma política para tentar diminuir o ritmo de crescimento da
população: nos anos 1970, houve programas de esterilização em massa. Durante a
gestão de Indira Ghandi (ela governou em dois momentos, de 1966 a 1977 e de
1980 a 1984, quando foi assassinada), homens eram forçados a fazer vasectomias
(se eles se recusassem, enfrentariam perda de salários ou até de empregos). A
polícia prendia homens pobres nas estações de trem e os forçava a passarem por
uma vasectomia.
A
Índia, no entanto, é uma democracia; Indira Ghandi perdeu a reeleição e, assim,
esse programa acabou. A fertilidade da Índia caiu, mas menos, e mais lentamente
do que a da China.
·
Por que isso é importante?
Na
Índia, a força de trabalho é crescente, e o crescimento populacional estimula a
atividade econômica. Na China, o número de adultos em idade produtiva, capazes
de sustentar uma população, está envelhecendo.
Quando
um país tem um baixo nível de fertilidade, é difícil recuperar o crescimento
populacional, mesmo com mudanças na política do governo para incentivar mais
nascimentos, disse Toshiko Kaneda, diretor técnico de pesquisa demográfica do
Population Reference Bureau, em Washington.
“Psicologicamente,
será difícil para a China, especialmente devido à rivalidade entre os dois
países em outras áreas”, disse Stuart Gietel-Basten, professor da Khalifa
University of Science and Technology, em Abu Dhabi. O professor afirma que esse
é um grande momento da humanidade.
·
De onde tiraram esses números?
A
base dos números são os censos, ou contagens de pessoas, que, na teoria,
acontecem a cada década.
O
último censo da China foi em 2020. Os demógrafos usaram registros de nascimento
e óbito, juntamente com outros dados administrativos, para calcular como a
população cresceu desde então.
O
último censo da Índia foi em 2011. O censo programado para 2021 foi adiado pela
pandemia de Covid-19.
Sem
uma contagem real por mais de uma década, as pesquisas de amostra preencheram
as lacunas para ajudar os demógrafos a entender sua população, disse Alok
Vajpeyi, da ONG Population Foundation of India, de Nova Delhi.
Andrea
Wojnar, representante do Fundo de População da ONU para a Índia, disse que a
agência está confiante nos números da pesquisa “porque usa uma metodologia
muito robusta”.
Ø
Com população da
Índia à frente da chinesa, economia indiana pode crescer no ritmo da China?
Nas
últimas décadas, a China aproveitou o tamanho da sua população para expandir
sua economia: o país se posicionou como um produtor que consegue entregar bens
a baixos preços porque tem baixos custos — os salários chineses eram muito mais
baixos quando a China começou a crescer a taxas muito altas, na década de 1990
e de 2000.
As
projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) previam que até o fim de abril
- portanto, neste fim de semana -, a Índia, um vizinho da China, se tornaria o
país mais populoso do mundo, com 1,428 bilhão de pessoas. A China tem 1,425
bilhão, também segundo as estimativas da ONU.
A
Índia tem potencial para aproveitar a mesma vantagem que a China tem: muita mão
de obra. Isso, em alguma medida, já aconteceu, o PIB foi quadruplicado em uma
geração. O país vai crescer economicamente, e em alguns anos, a taxa será maior
até mesmo que a da China —Sanghamitra Singh, do Instituto de População da Índia,
afirma que, no último ano, a Índia cresceu 7%, e a China, 3% (um dos piores
desempenhos da China em muitos anos).
Mas,
de acordo com analistas, a Índia dificilmente terá um longo período de
crescimento "chinês". De 1990 para cá, a China foi o país que mais
cresceu economicamente na história, de acordo com o "New York Times".
A economia chinesa, hoje, é cerca de cinco vezes maior que a indiana.
Veja
abaixo três diferenças significativas que fazem com que a Índia tenha mais
dificuldade para ter um "boom" econômico semelhante ao que a China
teve:
- Infraestrutura
para indústria.
- Participação
das mulheres na população economicamente ativa.
- Centralização
política.
·
Um setor industrial menos pujante
Nas
últimas décadas, as indústrias que poderiam se instalar na Índia foram
desencorajadas por uma infraestrutura deteriorada e regulamentações antiquadas,
de acordo com o "Financial Times".
A
indústria é 15% do PIB da Índia, uma porcentagem relativamente baixa.
Os
empregos em indústria, tradicionalmente, geram mais renda do que nos outros
setores (agricultura e serviços). Sem um aumento significativo da participação
da indústria no total do PIB, dificilmente a Índia terá um crescimento a taxas
muito elevadas.
O
primeiro-ministro Narendra Modi tem se esforçado para alterar essas condições
porque quer que o país se torne um concorrente da China. O país tem tido algum
sucesso nessa tentativa, por exemplo, em poucos anos, a Índia passou a produzir
7% dos smartphones no mundo, de acordo com o "New York Times".
Sanghamitra
Singh, do Instituto de População da Índia, aponta que a pirâmide etária dos
dois países favorece a Índia: "Tanto a China como a Índia têm uma
população de cerca de 1,4 bilhão de pessoas. A população jovem da China, agora,
está em declínio, e em um prazo médio isso pode ter um impacto na indústria
chinesa, que eles conseguiram instalar a duras penas. Isso vai implicar em
desafios e oportunidades para a Índia".
·
Uma participação pequena das mulheres na força de
trabalho
Sanghamitra
Singh, do Instituto de População da Índia, diz que "dado que as mulheres
são cerca de 50% da população, é necessário investir mais para que as mulheres
entrem na força de trabalho e contribuam para o progresso da nação".
O
motivo pelo qual ele diz isso é que, na Índia, a participação das mulheres na
força de trabalho é muito baixa.
Mulheres
em Bangalore, na Índia, em outubro de 2006 — Foto: Jagadeesh Nv/Reuters
Neste
ano, 24% das mulheres em idade de trabalho (15 anos ou mais) do país de fato
trabalham. Já na China, essa porcentagem é de 61,3%.
Ou
seja, o grande potencial da Índia, que seria o tamanho da população
economicamente ativa, é torpedeado pela baixa participação de mulheres no
mercado de trabalho.
Há
vários motivos que explicam isso, entre eles:
- Não há uma
tradição de indústrias que empregam mais mulheres, como a têxtil.
- O
conservadorismo impede as mulheres de trabalhar.
·
Um governo centralizado
A
Índia e a China têm governos diferentes: o primeiro é uma república
parlamentarista, e o segundo, uma república comunista de um partido só.
Isso
permitiu que os governos da China desde a revolução pudessem consolidar poder e
unificar políticas no país inteiro, e a Índia é mais descentralizada.
Rio
Ganges em Varanasi, em 7 de março de 2023 — Foto: Joseph Campbell/Reuters
A
partir da década de 1970, o foco desse governo chinês mais centralizado foi
crescer economicamente, com foco em exportações. A China fez isso antes. A
Índia abriu mais a economia dela cerca de dez anos mais tarde, e é uma
democracia na qual os conflitos de interesse (por exemplo, de capital versus
classe trabalhadora) não são decididos por um governo não eleito.
Fonte:
g1
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