Bolsonaro terá muito problema na Justiça, diz vice-líder do governo na Câmara
O
deputado federal e vice-líder na Câmara dos Deputados, Rubens Pereira Jr.
(PT-MA), disse, em entrevista à CNN neste
sábado (1º), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá “muito problema com a
Justiça”.
“Ele
foi tão processado que hoje tem aproximadamente 160 processos, entre processos
criminais, representações, inquéritos, então ele vai ter muito problema com a
Justiça”, disse o petista.
Ele
também disse acreditar que Bolsonaro não vá liderar pessoalmente a oposição ao
governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para o parlamentar, o ex-mandatário
prefere fazer campanha.
“Ele
próprio já disse que não quer ser o líder da oposição. Liderar a oposição dá
muito trabalho, você tem que fazer um acompanhamento do governo, tem que estar
preparado eventualmente para judicializar muitas questões. O Bolsonaro prefere
fazer campanha. Ele já fazia isso quando ele era o presidente, quando ele era o
gestor, imagina agora como oposição. Então não acredito que ele vá liderar
pessoalmente a oposição no Brasil”, avaliou.
Depois
de 89 dias nos Estados Unidos, Bolsonaro retornou ao Brasil na última
quinta-feira (30).
“A
gente tem que analisar a chegada [de Bolsonaro ao Brasil]. Ele tinha uma
expectativa de 20 mil pessoas, falaram isso inclusive na CCJ [Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania]”, afirmou. “Deu pouquíssima gente. Foi feito
todo um aparato de segurança, mas a população lá não apareceu. Então o primeiro
sintoma que nós devemos prestar atenção é que já não foram movimentações com
muito apoio popular como ele fazia enquanto ele estava à frente do mandato”,
acrescentou.
Na
avaliação de Pereira Jr., a apresentação da nova regra fiscal foi o assunto
principal na última quinta-feira (30) – e não a volta do ex-presidente ao
Brasil.
“Do
ponto de vista da comunicação, acho que a chegada dele foi absolutamente
abafada pelo ato do governo que lançou o novo arcabouço fiscal. Nas principais
redes de comunicação, na internet, nas redes sociais, o assunto mais comentado
do dia não foi a volta do Jair Bolsonaro, foi o novo teto de gastos, até porque
essa pauta é muito mais importante para o Brasil”, ponderou.
“A
gente tem que ter menos discussões políticas e tem que ter mais políticas
públicas. Tem que ter de fato debate daquilo que é verdadeiro”, acrescentou.
Logo
após desembarcar no país, o ex-mandatário se reuniu com aliados e parlamentares
do PL na sede do partido, em Brasília. “Bolsonaro ao voltar vai até o seu
partido, partido que lembremos, ele se filiou perto da eleição, que ele não tem
identidade. Tanto é assim que uma parte considerável do partido do Jair
Bolsonaro votou pela PEC da Transição e vai votar seguramente nas matérias do
governo no Congresso Nacional”, disse.
Sobre
uma possível alteração na agenda do país após o retorno de Bolsonaro, o
deputado disse que não vê grandes mudanças no horizonte: “Muda, mas muito
pouco”
Ainda
assim, ele não descarta a importância da volta do ex-presidente. “Mesmo ele não
liderando formalmente a oposição no Brasil, nós temos que reconhecer que a
oposição está minimamente organizada no parlamento, por mais que seja uma
organização restrita, como se estivesse dentro de um cercadinho”, disse.
Ele
ainda acrescentou: “Eles falam para dentro. Eles falam para a bolha deles. E
foi por isso que eles perderam a eleição. Porque eles acharam que apenas fake
news, apenas oba-oba venceria eleição. Não, o debate principal da eleição não
foram as mentiras apresentadas. O debate principal foi desemprego, foi
economia, foi o combate à Covid”.
“Então,
enquanto eles estiverem dentro desse cercadinho, acredito que eles cometem um
erro, e o governo tem que focar na pauta do mundo real: Minha Casa Minha Vida,
Mais Médicos, aumento do Bolsa Família, novo arcabouço fiscal, reforma
tributária”, enumerou.
·
Problemas na Justiça
O
vice-líder na Câmara ainda falou sobre o depoimento que Bolsonaro deve dar à
polícia na próxima semana, entre outras possíveis ações judiciais. “O
ex-presidente Bolsonaro enfrentará três tipos de problema na Justiça. E aí é
menos política, e mais Direito, digamos assim”, disse.
“A
primeira ordem do problema é do ponto de vista criminal. Diversas ações penais
que ele responde e responderá, desde a questão de compra de vacina, da questão
do não combate à Covid, interferência na Polícia Federal, a questão das joias,
inquérito das fake news, e também os atos antidemocráticos. E esse é um assunto
de polícia. Esse é um assunto da Justiça”, disse.
No
entanto, ele acredita que o ex-mandatário não seria condenado criminalmente
antes das próximas eleições. “Se tu me perguntares se eu acho que ele será
condenado e preso por esses processos, daqui até a próxima eleição, penso que
não dá tempo, até porque nós somos daqueles que defendemos que a prisão só após
o trânsito em julgado, mas ele também tem problemas do ponto de vista
eleitoral”, continuou.
O
que poderia tornar Bolsonaro inelegível, na avaliação do parlamentar, são os
processos eleitorais. “Ele responde a muitas ações do Tribunal Superior
Eleitoral [TSE], e a duração desses processos é bem mais curta, então esses
processos seguramente serão julgados antes da eleição que vem, o que pode
acarretar a inegibilidade por até oito anos, o que deixaria Bolsonaro fora das
duas próximas eleições presidenciais”, disse.
“Aí
ele responde por abuso de poder político, econômico, e de comunicação. Desde
reunião com embaixadores, com o uso da TV Brasil, além das fake news. E ele foi
tão processado que hoje tem aproximadamente 160 processos, entre processos
criminais, representações, inquéritos, então ele vai ter muito problema com a
Justiça. Se tu me perguntares entre processo criminal e o eleitoral, o que será
julgado primeiro, são as ações eleitorais”, comentou.
O
deputado ainda disse que “a polarização é ruim para o Brasil”. “Nós queremos
mais debate. Naturalmente, quem vai ter a agenda do debate: o presidente Lula,
afinal de contas ele é o presidente, ele dirige o país. Quando ele dá uma
opinião sobre o Banco Central, toda a sociedade debate”, exemplificou.
Para
Pereira Jr., alguns grupos contrários a Lula também não desejam a candidatura
de Bolsonaro. “Pelo lado do Bolsonaro, da direita, o Bolsonaro de alguma forma,
enquanto ele está no jogo, ele impede o surgimento de novas lideranças. Então
parte dos liberais, parte dos conservadores, parte da direita do Brasil não
quer a candidatura do Bolsonaro, porque sabe que ele limita, e ele tem as suas
próprias limitações”, disse.
“Então,
além disso, a gente sabe que ele não repetiria as alianças. Bolsonaro vai para
um caminho de se isolar cada vez mais, deve ficar única e exclusivamente com o
PL, e o PL ainda dividido, e vai ter um governo para confrontar. O debate
principal é das ações do governo. O presidente Lula lidera essa pauta”,
completou.
“Tanto
é assim, Bolsonaro se preocupou mais com a campanha, foi o primeiro presidente
a não ser reeleito na história do Brasil”, finalizou.
Ø
Bolsonaro
é um problema da Justiça. Por Moisés Medes
Bolsonaro
só continuará sendo uma figura da política, com alguma possibilidade de
ressurreição, se ainda for tratado com leniência pelo sistema de Justiça.
A
política já fez, com os meios da democracia, o que deveria ter sido feito.
Bolsonaro e seu projeto de perpetuação do fascismo foram derrotados no ano
passado.
A
eleição de Lula tirou Bolsonaro do jogo no curto prazo. No médio e no longo,
tudo depende do sistema de Justiça.
O
retornado de Orlando só continuará sobrevivendo como ameaça à democracia se for
tratado pelo Ministério Público e pelo Judiciário com a cordialidade que
mereceu em quatro anos de governo.
Bolsonaro
e a extrema direita toda foram tratados com fineza e condescendência e
escaparam sempre.
Sim,
houve exceções com a marca da bravura de Alexandre de Moraes e de
representantes do Ministério Público. Mas exceções não dão conta do que
acontece em área alguma, muito menos em tempos de guerra.
MP
e Judiciário terão de dizer se agora enfrentarão de fato Bolsonaro e todos os
que estiveram no seu entorno cometendo crimes graves.
É
o sistema de Justiça que irá nos dizer se Bolsonaro pode continuar sendo uma
ameaça política permanente ao próprio Supremo e ao TSE.
Se
vai continuar ameaçando mulheres de estupro. Se vai continuar desejando
crianças de 14 anos.
Se
vai continuar lavando impunemente dinheiro de caixa dois na compra de imóveis
da família.
Se
pode voltar ao poder, sem nenhuma punição, e exercer o mesmo papel de líder
genocida do negacionismo.
Bolsonaro
poderá voltar a governar e liderar a negação criminosa da vacina? Pode voltar a
destruir a universidade pública e o SUS? Comandar a matança de yanomamis com a
invasão da Amazônia por grileiros e garimpeiros?
Bolsonaro
pode ser uma ameaça concreta à democracia, com a chance real de voltar a
anunciar que seus adversários devem ser mortos na ponta da praia?
Poderá
usar de novo o cartão corporativo como se fosse o cartão da família? Voltar a
chefiar o contrabando de joias? Voltar a defender o armamentismo? A comandar o
orçamento secreto gerido por Arthur Lira?
A
democracia abalou o fascismo e o rejeitou na eleição do ano passado. A política
e os eleitores colocaram Bolsonaro a correr.
Mesmo
que eles continuem com uma bancada de peso no Congresso, o líder está
moribundo. E volta ao Brasil, derrotado, como uma afronta à Justiça, mais do
que a qualquer outra instituição.
Assim
como os manezões impunes também são uma afronta ao MP e ao Judiciário. São uma
afronta coletiva todos os que vêm sendo investigados desde 2019 pelo Supremo,
como integrantes do gabinete do ódio e das milícias digitais.
Afrontam
o sistema de Justiça os 79 listados no relatório da CPI do Genocídio,
encaminhado ao Ministério Público com pedidos de indiciamentos. Todos cometerem
crimes graves e estão impunes.
Mas
a prioridade agora é Bolsonaro. E a primeira manifestação, a mais esperada, é a
da Justiça Eleitoral.
O
TSE terá de julgar e condenar Bolsonaro à inelegibilidade. E logo. O resto, e
que resto, na área criminal, fica para depois.
Bolsonaro
é hoje uma urgência do sistema de Justiça, muito mais do que da política.
Assumam essa bronca sem mais postergações.
Ø
Joias:
ex-assessor de Albuquerque diz ter pago 'excesso de bagagem'
Em
depoimento à Polícia Federal ,
o ex-assessor
do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, Marcos André dos Santos
Soeiro, disse
que precisou pagar excesso de bagagem para trazer "tantos
presentes" ofertados pelo governo da Arábia Saudita ao Estado brasileiro
Ele
foi flagrado em outubro de 2021 pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos,
em São Paulo, carregando um estojo de joias avaliadas em cerca de R$ 16,5 milhões. Os itens
foram retidos porque não haviam sido declarados.
O
ocorrido envolveu, então, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na
alfândega, Bento
Albuquerque teria
dito que as joias dadas ao governo brasileiro pertenciam
à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O
ex-titular do Palácio do Planalto fez diversas investidas para tentar reaver os
bens, mas não teve sucesso.
Depois,
ainda foi descoberto que Bolsonaro já
havia tomado posse de outros dois conjuntos de joias e armas, tudo recebido em
viagens oficiais. A Polícia Federal instaurou um inquérito
para investigar o ocorrido e, por
determinação do Tribunal de Contas da União, todos os itens devem ser
devolvidos .
Marcos
André dos Santos Soeiro fez parte de uma comitiva liderada pelo então ministro
de Minas Energia que representou Bolsonaro em uma viagem à Arábia Saudita .
Ao
retornar ao Brasil, o militar disse que o seu carrinho de bagagens tinha
"tantas malas e caixas que ficava acima da sua cabeça, o que nunca tinha
acontecido". De acordo com ele, além das joias, também havia outros itens,
como "caixas grandes com muitas frutas, cafés e óleos" — alguns
deles foram retidos Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
À PF , o ex-assessor de Albuquerque
disse que o ex-ministro participou de um jantar restrito oferecido pala família
real saudita no último dia da missão oficial, em 25 de outubro de 2021. O
evento teria se estendido até tarde e, às 23h, Soeiro afirmou ter ligado para o
então ministro, já que o retorno ao Brasil estava programado para ocorrer em
poucas horas.
Naquele
momento, o militar relembrou que Albuquerque disse "que o príncipe
regente saudita falou
que enviaria ainda um outro presente para o hotel, porém, o ministro disse não
saber o que era".
Em
depoimento, o ex-assessor afirmou que um emissário do príncipe foi até o local onde a
comitiva brasileira estava hospedada por volta de meia-noite, carregando duas
caixas embrulhadas em papel especial com brasão da família real . Na ocasião, ele afirmou que os presentes
deveriam ser entregues ao então ministro de Minas e Energia.
Soeiro,
então, ligou novamente para Albuquerque — que ainda estava no jantar oficial —
para informara que as caixas haviam chegado e "estavam lacradas". Ele
ainda avisou que não tinha mais espaço na mala, diante da quantidade de
presentes.
Publicidade
O
então ministro decidiu que levaria um pacote e que o assessor transportaria o
outro. Ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, somente o
ajudante foi barrado pela Receita
Federal .
Soeiro,
que é militar da Marinha, relatou que, ao passar pela alfândega no Brasil,
foi selecionado para inspeção por um servidor da Receita. Albuquerque seguiu
normalmente.
Ele
disse que, ao passar pelo Raio-X, um auditor brincou que uma escultura de um
cavalo dourado que ele levava estava "manca", já que faltava uma das
patas do animal.
Em
seguida, o servidor avisou que abriria as caixas, "pois aparentava ter
joias". Bento Albuquerque — que já não estava mais no local — decidiu
voltar e afirmou que os itens se tratavam de um presente para Michelle. As
peças, porém, foram retidas.
Fonte:
CNN Brasil/Brasil 247/iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário