sábado, 29 de abril de 2023

Bahia: Novo Cangaço leva terror ao interior e delegacias estão pela misericórdia

O interior da Bahia está ao Deus dará. Quadrilhas especializadas em sitiar cidades, o chamado “Novo Cangaço”, encontraram um solo fértil nas cidades pequenas pela ausência da força do Estado – há municípios onde sequer existe uma dupla de PMs. Na semana passada, em Maragogipe, bandidos explodiram uma agência bancária durante a madrugada. Restaram aos moradores apenas registrar de suas janelas as sequências dos disparos, pois o policiamento só chegou quando o sol raiou.

·         Misericórdia divina

E a falta de efetivo não é o único problema da segurança pública no interior do estado. É sabido que boa parte das delegacias está de pé pela misericórdia divina. São construções antiquíssimas, que nem deveriam ser reformadas, e sim demolidas para construção de nova unidades. A prova disso é a delegacia de Belmonte que foi alagada na semana passada e teve o atendimento suspenso. Para além da estrutura física, há também falta de equipamentos e até internet – tem delegado bancando do próprio bolso o serviço de wi-fi para trabalhar.

 

Ø  Caso Lucas Terra: "Fecho esse capítulo macabro", desabafa promotor David Gallo

 

Os pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda foram condenados após 22 anos da morte do garoto Lucas Terra, de 14 anos. A pena foi de 21 anos (18 anos pelo crime e 3 pela agravante) de reclusão por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima, que foi queimada viva e morta em março de 2001

Promotor do caso desde a denúncia, David Gallo conversou com a imprensa ao final do júri e disse acreditar que a justiça foi feita no caso. 

"Sensação de justiça feita e dever cumprido. Eu acompanho esse caso, esse drama, essa tragédia, desde o início. Eu fiz o julgamento do primeiro acusado, isso no ano de 2006, há 17 anos. Posteriormente, ele delatou os outros dois e eu iniciei esse processo. Graças a Deus, hoje eu termino e fecho esse capítulo macabro do sofrimento de uma família", contou. 

A pena imposta aos pastores será cumprida inicialmente em regime fechado, no entanto, até o trânsito julgado, os pastores irão responder em liberdade.  

"A juíza aplicou a pena adequada. Dificilmente, eles vão recorrer, a gente não sabe o que vai ocorrer, mas, pela contundência das provas e pelo que foi apresentado no plenário do julgamento, tenho quase certeza. Eu pedi para Deus que ele me inspirasse para buscar essa justiça, que foi feita depois de 22 anos", disse David Gallo. 

·         Mãe e irmãos de Lucas Terra celebram condenações de pastores

A família do adolescente Lucas Terra, morto em 2001, aos 14 anos, celebrou a condenação dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda. Os dois foram condenados a 21 anos de reclusão pelo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima, após júri popular que começou na terça-feira, 25, e terminou nesta quinta-feira, 27. 

Ao final do Júri, a mãe de Lucas, Marion Terra, conversou com a imprensa e emocionada agradeceu pelo apoio recebido ao longo dos últimos 22 anos. 

"Eu estou muito emocionada. Pelo Carlos (pai de Lucas Terra, que faleceu em 2019), pelo meu filhinho. Depois de 22 anos, essa é a justiça que eu esperava. Hoje foi o dia da minha vitória. Quero agradecer a vocês da imprensa que nunca se calaram e sempre foram nossa voz. Essa vitória é de todas as mães da Bahia que perdem os seus filhos, de todos os jornalistas, que se deparam com poderosos economicamente. Prevaleceu a Justiça e eu agradeço a Deus, porque ele vive! Meu senhor Jesus Cristo vive! Tenho certeza que eles vão pagar pelo que fizeram na prisão", disse Marion. 

Os irmãos de Lucas Terra também estavam presentes no Salão do Júri, no Fórum Ruy Barbosa, e celebraram a decisão. "Essa impunidade não era só com a minha família, era com a sociedade de bem. Agradecer em primeiro lugar a Deus, que minha mãe sempre falou para gente confiar. Meu pai sempre falou: ‘eu não quero vingança, eu quero Justiça’", disse Carlos Terra Junior. 

Já Carlos Felipe Terra falou sobre a sensação de prazer de ver os pastores serem condenados. "Hoje pude soltar esse grito pelo meu pai. Ele não está aqui, mas tem uma família. O Lucas também tem uma família e nós estamos aqui para mostrar que eles não são poderosos, a sociedade é poderosa. Foi um prazer imenso apontar o dedo na cara desses assassinos e chamá-los de monstros".

·         Advogado de defesa de pastores diz que vai recorrer

O advogado de defesa dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, condenados a 21 anos de reclusão pela morte de Lucas Terra, em março de 2001, afirmou ao final do tribunal do júri que pretende recorrer da decisão. O julgamento, que começou na última terça-feira, 25, foi concluído na noite de quinta-feira, 27.

"O julgamento aconteceu, o júri popular analisou o que foi trazido. Eles tiveram uma percepção e condenaram os réus. A defesa pretende recorrer e levar a matéria ao tribunal [...] Foram dois crimes apresentados, o crime de ocultação de cadáver estava prescrito. Com relação à denúncia principal, os jurados analisaram e a condenação aconteceu. Agora, cabe à defesa avaliar a decisão e apontar os tópicos para o tribunal", disse o advogado Nestor Távora. 

Fernando e Joel foram condenados por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa da vítima. Lucas Terra foi estuprado, morto e ainda teve o corpo incendiado.

Ainda segundo Nestor, o momento é de avaliação da decisão do júri. "Foram alguns desdobramentos. Não foi apenas com relação ao Tribunal de Justiça, essa matéria também foi aos tribunais superiores. Agora é avaliar realmente a decisão, para poder entender e discutir o que for pertinente ser discutido. Vamos analisar a fundamentação trazida na decisão lida em plenário. Depois da análise, iremos fazer a formulação jurídica pertinente", revelou.

 

Fonte: Correio/A Tarde

 

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