terça-feira, 28 de março de 2023

Sem Lula, acordos bilaterais são adiados e Joesley Batista é tietado na China

Com o cancelamento da viagem do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à China, a assinatura de ao menos 20 acordos bilaterais já negociados entre os dois países ficará adiada por tempo indeterminado.

“Contratempos acontecem, como aconteceu. De qualquer forma, quando o presidente estiver restabelecido, nós ficamos aguardando o governo chinês. Quando o governo chinês tiver preparado e estiver com a agenda disponível, certamente será remarcado e vamos assinar todos os acordos e memorandos”, afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o único do primeiro escalão do Executivo brasileiro a ir ao país asiático.

De acordo com Fávaro, entre os acordos acertados há avanços importantes em novos protocolos sanitários para o agronegócio, a cooperação para o lançamento do satélite de monitoramento territorial Cbers 6 e a criação de um mecanismo bilateral para avançar agendas de meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

O ministro da Agricultura se adiantou à comitiva presidencial porque pretendia negociar a queda do embargo chinês à carne bovina brasileira, ocorrida há quase um mês em decorrência de um caso da doença da vaca louca. O embargo caiu e outros quatro novos frigoríficos brasileiros receberam licença para exportar para a China.

A visita de Lula ao presidente Xi Jinping havia sido anunciada há meses, deveria durar cinco dias e incluir um jantar com o líder chinês, uma visita à Assembleia Popular Nacional da China e um ato cerimonial na Praça da Paz Celestial. Lula seria o primeiro aliado estrangeiro convidado por Xi a visitar o país desde sua recondução a um terceiro mandato, uma deferência da diplomacia chinesa.

Havia ainda a expectativa de que o presidente brasileiros participasse de um fórum de negócios com os cerca de 200 empresários que compunham a comitiva, além de uma visita à sede do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS, em Shangai, a ser presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo o Itamaraty, a visita tinha a pretensão de “refundar” as relações entre os dois países.

Porém, a viagem que ocorreria entre os dias 26 e 31 de março, acabou cancelada depois que o presidente Lula foi diagnosticado com uma broncopneumonia causada por bactérias e pelo vírus da gripe A. Diante do risco de transmissão para outras pessoas e de um agravamento de seu quadro clínico - dada a longa viagem de avião em cabine pressurizada - a equipe médica do Planalto recomendou o cancelamento do compromisso.

Na manhã deste domingo em Pequim, o governo chinês se pronunciou sobre o cancelamento. “A parte chinesa manifesta compreensão e respeito, expressa cumprimentos ao presidente Lula e deseja sua rápida recuperação”, afirmou o porta-voz, sem, no entanto, fazer qualquer menção a uma nova data para o compromisso.

O cancelamento é um desfecho frustrante para uma agenda diplomática cercada por expectativas altas tanto do Brasil quanto da China. Prova disso é que, horas antes do anúncio do cancelamento, o jornal oficial China’s Daily publicou um artigo do chanceler brasileiro Mauro Vieira em que ele prometia que o encontro levaria as duas nações a um novo patamar na sua chamada “parceria estratégica”.

Questionado sobre os prejuízos da ausência de Lula, Fávaro tentou minimizar.

"Todos os acordos que seriam assinados na terça-feira (quando Lula e Xi se encontrariam) serão (firmados) em poucos dias, logo na sequência. Não vejo grandes problemas. Claro que a gente ficaria muito feliz de, antes dos 100 dias (de governo), já estar com tudo isso anunciado, mas vai ser muito em breve. E não vai deixar de ter bons resultados agora”, disse Fávaro.

Segundo ele, as centenas de empresários brasileiros que vieram à China agora serão novamente convidados quando o encontro entre Xi e Lula se concretizar.

Parte do empresariado expressou frustração com a ausência de Lula - mas é muito provável que a maioria deles volte a atravessar o mundo nas próximas semanas, quando uma nova visita for agendada. Isso porque o capitalismo chinês é fortemente dependente do Estado e os negócios com executivos daquele país tendem a ser facilitados quando Pequim chancela politicamente a liderança estrangeira e sua entourage empresarial.

Além disso, no caso do agronegócio, é o Ministério da Agricultura do Brasil quem envia à China uma lista dos frigoríficos cujos negócios cumprem os requisitos técnicos para acessar o mercado consumidor chinês. Segundo Fávaro, a lista é enviada por ordem cronológica de pedidos, mas o governo de Xi pode escolher a quem franquear acesso sem cumprir a ordem.

Neste domingo, um café da manhã promovido por Fávaro contou com a presença desde produtores médios a gigantes do agronegócio nacional, como os irmãos Joesley e Wesley Batista, executivos do grupo J&F, controlador do frigorífico JBS e Marcos Molina, da BRF.

Na ausência de Lula, os irmãos Batista, que, em 2017, delataram ter pago propina a centenas de políticos brasileiros, se tornaram alvo de tietagem dos pares de menor porte, sendo cercados para fotos no hotel.

Sorridentes, atenderam com paciência aos pedidos, mas se recusaram a comentar com a imprensa qualquer detalhe sobre a visita.

A China é atualmente o maior mercado consumidor da J&F. Em rara exposição pública, no fim da tarde, os irmãos Batista caminharam de seu hotel, na zona mais nobre da capital chinesa, até a Embaixada Brasileira em Pequim, para detalhar em reunião ao Embaixador Marcos Galvão seu plano de exportação para o país.

Questionado sobre a reaproximação dos executivos da JBS ao governo após o escândalo de corrupção, o ministro afirmou que era preciso “olhar pra frente”. “É a maior empresa de carnes do mundo. É uma empresa brasileira, que gera muitos empregos. E eles (Wesley e Joesley) cumprindo a legislação brasileira, não tem por que eles não poderem fazer parte da comitiva e buscarem a ampliação de negócios", afirmou o ministro Fávaro, ressaltando que o grupo empresarial dos Batista gera centenas de milhares de empregos.

•        Não é só commodity

Em termos geopolíticos, porém, a China de 2023 espera que o Brasil seja mais do que um exportador de commodities. E isso não deve mudar, a despeito do adiamento.

“A China mudou, é hoje um ator global muito mais ativo e propositivo, e o presidente Lula sabe disso”, afirmou um assessor presidencial brasileiro.

Em 2004, quando Lula foi à China pela primeira vez como presidente do Brasil, acompanhado por mais de 400 empresários e políticos, Pequim via no Brasil um parceiro capaz de ajudar a viabilizar seu plano de desenvolvimento. Naquele momento, o governo chinês pretendia mover 300 milhões de seus habitantes do campo para as cidades até 2020 e se via diante do risco de escassez de alimentos.

“A gente pode prover a comida que a China não puder mais produzir por si mesma”, disse à época o então ministro da Agricultura de Lula, Roberto Rodrigues.

Cinco anos mais tarde, a China passaria a ser o maior parceiro comercial do Brasil graças, em grande parte, à compra de cerca de 80% da produção de soja brasileira, cuja safra mais que dobrou desde então.

Muito mais poderosa economicamente do que em 2023, a China agora se vê mais isolada globalmente do que há duas décadas. “A China precisa dos amigos, está isolada no relacionamento com os grandes. Daí o Brasil ser relevante”, afirmou à BBC News Brasil o ex-embaixador do Brasil na China Marcos Caramuru.

Preocupa aos chineses não só o fortalecimento da posição americana na Europa, com a coesão e a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ocorrida desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, como a expansão de sua influência na Ásia.

Em janeiro, americanos e japoneses expandiram sua cooperação militar para a área espacial. Em fevereiro, o presidente americano Joe Biden O presidente dos EUA Joe Biden anunciou um cronograma acelerado para a Austrália receber seus próprios submarinos movidos a energia nuclear no início da próxima década - apenas a segunda vez na história em que os americanos transferem sua tecnologia atômica. E ainda no mês passado, as Filipinas liberaram os EUA a utilizar quatro de suas bases militares. Todos movimentos para conter possíveis ações militares da China em relação à Taiwan, cuja autonomia os EUA reconhecem.

A China tem reagido a isso tentando exercer com mais assertividade o que tem sido chamado de “diplomacia transacional”: o gigante se move com vistas a interesses pragmáticos, decidindo sua posição caso a caso, sem professar uma cartilha de princípios ou valores.

Na recém lançada Global Civilization Initiative, a China afirma que os países “devem se abster de impor seus próprios valores ou modelos aos demais e de alimentar confrontos ideológicos”. Trata-se de uma crítica direta ao tipo de liderança global exercida pelos Estados Unidos, o principal antagonista da China no cenário global.

Nas últimas semanas, a China deu mostras de que pretende assumir um novo protagonismo no mundo.

O caso mais emblemático foi a mediação de Pequim para o restabelecimento de relações diplomáticas entre Irã e Arábia Saudita, rompidas desde a revolução islâmica do primeiro, em 1979. Os EUA monitoravam com tensão a escalada de hostilidades entre os dois inimigos no Oriente Médio e já havia alertado para o risco de uma corrida armamentista nuclear. Ao levar sauditas e persas de volta à mesa, os chineses desarmaram a bomba - e podem argumentar que sua atuação diplomática tornou o mundo um lugar mais pacífico.

É também em torno da paz que gira o segundo exemplo de ação diplomática chinesa. Em sua primeira viagem internacional após a recondução ao terceiro mandato, Xi Jinping foi à Rússia com a alegada intenção de mediar a paz entre Putin e a Ucrânia.

As iniciativas chinesas são consideradas cinicas pelos EUA, mas se encaixam na multipolaridade e na cooperação sul-sul que o Brasil e, especialmente, o governo Lula defendem.

“Um Brasil mais independente e altivo, autor de suas decisões, é algo importante para a China”, afirma um embaixador brasileiro.

 

       Os laços que unem Brasil e China

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou a viagem à China, por questões de saúde, mas tem a exata noção da importância da relação do Brasil com o país asiático. Há menos de dois meses, o líder brasileiro esteve com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, dentro da estratégia de reforçar o papel do país como ator de relevância internacional. Mas, diante da evidente ascensão chinesa na liderança global, a visita é vital, contudo a determinação é não ferir as suscetibilidades norte-americanas.

China e EUA são os principais parceiros comerciais do Brasil, e a meta é reforçar esses laços como caminho para a tão esperada retomada do crescimento nacional. Em 2022, o comércio do Brasil com os chineses foi de US$ 150,4 bilhões (R$ 790 bilhões), 21 vezes maior que o registrado em 2004, quando o líder brasileiro desembarcou pela primeira vez na nação asiática. Com os Estados Unidos, o movimento comercial, no ano passado, chegou a US$ 88,7 bilhões (R$ 465,4 bilhões).

Ao contrário da rápida viagem aos EUA — que teve como principal pilar o agradecimento do presidente brasileiro ao apoio imediato dos norte-americanos à sua eleição e ao repúdio aos ataques terroristas de 8 de janeiro —, na China, as ambições do Brasil são políticas e econômicas. Lula será o primeiro chefe de Estado a ser recebido pelo presidente chinês, Xi Jinping, depois da sua reeleição para um terceiro mandato.

Quando a delegação presidencial for à China, a perspectiva é de que sejam firmados mais de 20 acordos de cooperação em áreas estratégicas, como aerospacial, economia digital, indústria e meio ambiente, com foco nas mudanças climáticas. Tudo indica que será criado um fundo verde, cujos recursos serão destinados, entre outros, à transição energética.

É quase certo que será anunciada a retomada da produção de automóveis — desta vez, elétricos — na antiga fábrica da Ford, em Camaçari, na Bahia, pela montadora chinesa BYD, além da participação de empreiteiras chinesas na construção de uma ponte ligando Salvador a Itaparica. Também se prevê o acerto para a instalação de uma unidade de produção de semicondutores no Brasil. Lula sabe que tais projetos, se concretizados, serão uma importante demonstração de sua capacidade de articulação para recolocar o país no rol do capital internacional, que vê muitas oportunidades na economia brasileira, apesar das incertezas que tanto vêm sendo alardeadas por agentes financeiros.

No campo político, a principal intenção do presidente Lula é retirar do líder chinês apoio para a proposta do Brasil a um acordo de paz que ponha fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O conflito dura mais de um ano, com consequências pesadas para a economia mundial. Em fevereiro, a China divulgou um plano para um cessar-fogo, mas sem prever a desocupação de territórios ucranianos pelos russos, o que foi visto com enorme ceticismo pelos países ocidentais. O projeto de Lula é que o acordo pela paz seja tratado em um grupo de nações não envolvidas diretamente nos bombardeios.

Para o Brasil, a reaproximação com a China é vital, mas sempre reforçando a tradição de pró-multipolaridade. O país hoje comandado por Lula tem capacidade para exercer sua diplomacia no mais alto nível e, claro, para ampliar os laços comerciais que resultem no incremento da riqueza nacional, por meio de mais investimentos na produção, na geração de emprego e na distribuição de riqueza.

A economia brasileira não dispõe de poupança interna suficiente para tocar projetos de interesse da sociedade, em especial, na área de infraestrutura. Portanto, abrir as portas ao capital estrangeiro é essencial, o que requer, além de bons projetos, um ambiente econômico amigável, estabilidade de regras, segurança jurídica, contas públicas sob controle, juros mais baixos e pacificação na política. Em alguns desses quesitos, o Brasil ainda necessita fazer o dever de casa. Dinheiro, sabe-se muito bem, não aceita desaforos.

 

       Parceria com a China pode estressar relação com os EUA

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou a viagem para a China, com uma comitiva de 200 empresários e uma delegação política da qual faria parte o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na lógica geopolítica do chamado "Sul global", as relações com presidente Xi Jinping são as mais importantes para a diplomacia brasileira, porém, qualquer aproximação que possa ser interpretada como uma aliança principal podem estremecer as relações do Brasil com os Estados Unidos, cujo apoio foi decisivo para respaldar a eleição de Lula, garantir sua posse e frustrar a tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro. O adiamento é uma oportunidade de refletir sobre seus objetivos.

O Brasil está entre dois polos de atração da geopolítica global. A China hoje é o nosso principal parceiro comercial, para o qual exportamos algo em torno de US$ 88 bilhões, enquanto importamos US$ 47 bilhões, com um superávit da balança comercial de US$ 41 bilhões. Em contrapartida, importamos US$ 39 bilhões dos Estados Unidos, para os quais exportamos US$ 31 bilhões, um déficit comercial de US$ 8 bilhões. Ocorre que o valor agregado de nossas exportações para a China é muito baixo, enquanto os produtos chineses estão matando a indústria nacional, que perdeu também seu mercado para os chineses na América do Sul.

É preciso levar em conta o contexto em que isso ocorre. O eixo do comércio mundial se deslocou do Atlântico para o Pacífico. Nossa infraestrutura foi montada originalmente em conexão com a Europa e os Estados Unidos; agora, está sendo lentamente convertida para se integrar ao Pacífico, mas a barreira dos Andes encarece os custos logísticos. Até 2007, o Brasil acompanhou o boom da demanda mundial, na esteira da desvalorização cambial. A partir da crise de 2008, a indústria brasileira sucumbiu à concorrência internacional, aos aumentos de custo de produção em reais (principalmente salários) e à forte apreciação do câmbio nominal e real.

A expansão do PIB observada no pós-2008 foi toda baseada em serviços não sofisticados e na construção civil (quadro típico de doença holandesa). A demanda por bens industriais foi totalmente suprida por importações. Houve enorme perda de complexidade produtiva. A produtividade da economia caiu e continuará caindo, ate que as manufaturas domésticas se recuperem. A desvalorização cambial de 2015 não produziu a reconstrução do setor de bens com maior valor agregado.

A tentativa de adensar as cadeias produtivas, verticalizando-as em vez de integrá-las de forma complementar às cadeias globais de valor, provocou a perda de produtividade e competitividade da nossa indústria. Nos últimos 20 anos, os produtos minerais e agropecuários ultrapassaram em três vezes o valor das exportações de bens de baixa, média e alta complexidades. A principal causa é o comércio com a China, que triplicou o valor de nossas exportações, mas confinou o Brasil à vocação natural de exportador de minérios e produtos agrícolas na nova divisão internacional do trabalho.

•        Guerra fria

A expansão do comércio com a China é global. Seu principal parceiro comercial são os Estados Unidos, que exportaram tecnologia e empregos para a potência asiática, da qual passaram a importar toda sorte de produtos, desde os mais primários aos eletrônicos de última geração e redes sociais. A perda contínua de mercado para os chineses, inclusive no seu próprio mercado interno, provocou a reação política e militar dos Estados Unidos contra a expansão da influência chinesa no mundo.

Esse cenário havia sido previsto por Henry Kissinger, o negociador do restabelecimento das relações entre os dois países durante o governo Nixon, no seu livro Sobre a China (Objetiva), cujo final é muito perturbador. O ex-secretário de Estado norte-americano assinala que o século passado foi pautado por uma disputa pelo controle do comércio no Atlântico entre uma potência continental, a Alemanha, e uma potência marítima, a Inglaterra, que provocou duas guerras mundiais. Segundo ele, com a mudança de eixo do comércio para o Pacífico, essa disputa está se repetindo, neste século, entre os Estados Unidos, uma grande potencia marítima, e a China, a potência continental emergente. Como isso se resolverá?

O mundo unipolar liderado pelos Estados Unidos após a dissolução da União Soviética, cujo auge foi o período entre as guerras da Sérvia (Balcãs) e do Iraque (Oriente Médio), deixou de existir com a emergência da China. Entretanto, o que está surgindo não é um mundo multipolar, como vinha se desenhando, com o fortalecimento da Alemanha e da França na União Europeia e a formação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Com a brutal invasão da Ucrânia pela Rússia, em resposta à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), instalou-se no mundo um novo clima de "guerra fria". A ocupação de parte do território ucraniano se tornou o palco de uma "guerra por procuração" entre a Otan e a Rússia.

Quando Lula propõe a formação de um clube de países não envolvidos na guerra para negociar a paz entre a Rússia e a Ucrânia, para o qual pleiteia o apoio do presidente chinês Xi Jinping, põe em risco suas excelentes relações com o presidente Joe Biden. A Ucrânia não quer um cessar-fogo com os russos ocupando a região de Donbass nem os russos aceitam sair com a Otan na sua fronteira. A Rússia e a China formaram uma aliança euro-asiática, de caráter autoritário, que se contrapõe à hegemonia norte-americana. De dimensões continentais, o Brasil é uma democracia emergente do Ocidente. Em termos geopolíticos, seria um equivoco envolver o Atlântico Sul nessa disputa, não apenas por razões comerciais, porque isso tornaria inevitável a sua militarização pelas potências do Ocidente, numa conjuntura de "guerra fria".

 

       Negociada por Lula, adesão brasileira à nova Rota da Seda chinesa divide opiniões

 

O governo chinês colocou na mesa de negociação para a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pequim — adiada neste sábado (25) devido à condição de saúde do presidente — a adesão formal ao projeto da nova Rota da Seda (Belt and Road), lançado por Xi Jinping em 2013.

A iniciativa chinesa completa dez anos agora. A participação brasileira, ainda em avaliação, divide opiniões na diplomacia e seria um gesto político a favor da China, num momento de rivalidades e tensões exacerbadas com os Estados Unidos — segundo maior parceiro comercial e principal investidor externo no país.

O plano consiste na formação de uma grande rede de infraestrutura, passando por diversos modais de transporte, principalmente, portos, rodovias e ferrovias, conectando os continentes para escoamento de produtos.

O projeto começou integrando países do Leste Europeu e da antiga União Soviética. Vizinhos do Brasil integram a lista de 147 países participantes, como Argentina e Chile.

¬Fontes do governo brasileiro dizem que a adesão do Brasil, um objetivo perseguido pelos chineses, segue em negociação. O comunicado tem cerca de 50 parágrafos.

A pressão chinesa pelo ingresso do Brasil, maior economia da América Latina, é recorrente. Outros 20 da região já fazem parte e recebem investimentos chineses em infraestrutura, para conectar as rotas marítimas e terrestres.

Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com comércio no ano passado de U$ 150 bilhões. Além de diversificar a pauta de produtos, atualmente ancorada nas commodities, o governo quer atrair mais investimentos chineses em setores estratégicos.

O acumulado de investimentos é de cerca de U$ 70 bilhões. Na balança comercial, o saldo é favorável ao Brasil, com US$ 61,8 bilhões.

Integrantes do governo deram declarações conflitantes. Questionado sobre a possível adesão, o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, indicou desinteresse do Brasil em aderir à iniciativa chinesa neste momento.

“Com relação ao Belt and Road (Cinturão e Rota), eu entendo que o Brasil já tem um arcabouço muito sólido que é a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban). Essa parceria, essa estrutura toda, tem permitido alcançar objetivos que são infraestrutura, desenvolvimento de comércio e investimentos. Estão em sintonia com os objetivos da iniciativa Cinturão e Rota. Ela não necessariamente tem um valor agregado nesse momento”, afirmou, ao detalhar os objetivos da visita presidencial a Pequim.

Já o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Lula, afirmou que não haveria problemas na subscrição do governo brasileiro.

Principal influenciador de Lula nas relações internacionais, Amorim disse ao jornal Valor Econômico que “não vê razão” para o Brasil deixar de ingressar na nova roda da seda, nem “dano político” com os norte-americanos.

A declaração é vista por embaixadores mais como um movimento político do ex-chanceler. Os resultados práticos a favor do Brasil e as consequências na relação com Washington, na avaliação de diplomatas especializados em China, são incertos. Para um ex-embaixador brasileiro em Pequim, trata-se de um “gesto político” a favor da China.

 

Fonte: BBC News Brasil/Cirreio Braziliense/CNN Brasil

 

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