quinta-feira, 30 de março de 2023

Seguidores de Bolsonaro estão em pé-de-guerra

Com a esperança de reacender a força da direita, abalada desde os atos terroristas que depredaram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, os radicais apostam todas as fichas no retorno de Jair Bolsonaro ao Brasil. Para os aliados do ex-presidente, a volta ajudará o PL a cumprir o ambicioso plano de conseguir mil prefeituras em 2024, o que daria uma boa plataforma para, nas eleições de 2026, a extrema direita tentar voltar ao Palácio do Planalto. Para o governo Lula, a reaparição de Bolsonaro no país não mudará os ventos do cenário político atual.

Bolsonaro desembarca às 7h10, em Brasília, de um voo comercial. Há três meses nos Estados Unidos, ele aguardou passar o impacto da tentativa de golpe em janeiro e a possibilidade de ser preso no Brasil. Mas, mesmo assim, volta no momento em que um terceiro estojo com bens de alto valor, este presenteado pelos Emirados Árabes, entrou no país e foi incorporado indevidamente ao patrimônio pessoal do ex-presidente.

Ele deve cumprir uma agenda institucional como presidente de honra do PL e viajar o país para conseguir novos cabos eleitorais de olho nas eleições municipais do ano que vem. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, aposta na dobradinha de Jair e Michelle. Mas, nos bastidores, percebem que a ascensão da ex-primeira-dama no partido causa incômodo no clã Bolsonaro.

Costa Neto vem tentando unificar sua base e o discurso dos parlamentares, minimizando o conflito interno entre os bolsonaristas e os moderados do PL. Toda a mobilização é em prol de triplicar o número de prefeituras que a sigla controla, passando de 328 para mais de mil. Na mira, grandes cidades de três dos principais colégios eleitorais do país — São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Ex-ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) é um dos mais entusiasmados com a volta. Ele afirmou que irá ao Aeroporto de Brasília esperar o ex-presidente. Michelle, Valdemar e Walter Braga Neto, ex-vice dele na chapa derrotada à reeleição, em outubro passado, também no desembarque.

“Falei hoje com nosso capitão e já garanti que serei um dos primeiros brasileiros que estará no aeroporto aguardando seu retorno”, garantiu Ciro em publicação nas redes sociais.

Para o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), porém, o ex-presidente não tem mais a mesma força. “Ele está voltando de umas férias longas. Espero que comece a trabalhar em alguma coisa. Sobre as eleições, acho que é uma pessoa que não tem capacidade de organizar campanha em lugar algum”, disse ao Correio.

No Brasil, Bolsonaro também enfrentará as pendências com o Judiciário. Sem mandato, perdeu a prerrogativa de foro e terá de se defender nas instâncias ordinárias da Justiça dos processos contra ele. Há, ainda, a possibilidade do ajuizamento de novas ações. O ex-presidente é investigado em processos sobre a atuação de milícias digitais e disseminação de fake news.

Na avaliação do cientista político André César, Bolsonaro terá de lidar com um país diferente daquele que deixou em dezembro. “A direita está buscando nomes. Se ele não se mostrar digno do comando desse grupo, vai ser escanteado”, previu.

Para o também cientista político Leonardo Barreto, o ex-presidente volta enfraquecido politicamente. “Esse abandono da Presidência, o caso das joias, isso tudo traz o Bolsonaro para um patamar menor. Vai enfrentar uma série de batalhas judiciais, que vão tornar a vida dele muito difícil. Mas continua sendo um player importante”, disse.

O constitucionalista Nauê Bernardo de Azevedo partilha do mesmo entendimento. “É natural que queira fazer barulho no seu retorno ao Brasil, de modo a se colocar como a liderança de oposição que ele poderia estar exercendo desde janeiro. Não o fez por estar afastado do país”, ressaltou.

 

       Bolsonaro é surpreendido por joias 3.0 e não pode adiar volta

 

O jornalista Cesar Calejon avaliou que Jair Bolsonaro (PL) erra o timing de sua volta ao Brasil, programada para amanhã, e encontrará um cenário desfavorável. Quem comete um erro de cálculo político é o Bolsonaro. [O plano do PCC para matar Sergio Moro] Criou um humor ideal para que Bolsonaro entendesse que era o momento de voltar ao Brasil. Alguns dias depois, esse humor já é bem diferente. Moro e Deltan Dallagnol foram acusados de extorsão pelo Tacla Duran com provas bastante contundentes e surge um terceiro estojo de joias que o Bolsonaro recebeu. Há um conjunto de novos fatos que não é favorável a ele. Cesar Calejon, jornalista

Em participação no UOL News nesta terça, Calejon ressaltou que Bolsonaro tem em mente que voltará ao país para liderar a oposição ao governo Lula. Porém, na visão do jornalista, o cenário real aponta para um cerco ao ex-presidente por seu envolvimento em tantos escândalos. Bolsonaro mira um determinado alvo quando acerta a passagem de volta e acertará outro completamente diferente em sua chegada ao Brasil. Temos que sentir a temperatura do que acontece amanhã. Uma série de coisas conta contra ele. A situação de Bolsonaro é extremamente complicada e entenderemos de fato a extensão destes problemas quando ele colocar os pés em solo brasileiro.Cesar Calejon, jornalista

Josias de Souza se indignou com a rotina de ostentação de Gladson Cameli (PP), governador do Acre, que despertou suspeitas da Polícia Federal sobre corrupção. O colunista do UOL lembrou que a família Cameli já havia se envolvido em outro escândalo na década de 90 ao participar da compra de votos na emenda da reeleição no Congresso. Essa projeção resultou em muita prosperidade. Há suspeita de que a fortuna da família tenha sido vitaminada por meio de desvios em contratos fraudulentos. Em qualquer estado brasileiro, uma fortuna como a ostentada pelo governador chamaria a atenção. Em um estado pobre como o Acre, essa fortuna amealhada por um político está próxima do escárnio. O que está na cara não pode ser ocultado a esta altura.Josias de Souza, colunista do UOL

Ao analisar a ida de Flávio Dino à CCJ da Câmara, Josias considerou que o “feitiço virou contra o feiticeiro” para os deputados bolsonaristas. Para o colunista, o ministro da Justiça não apenas soube se livrar da armadilha como virou o jogo ao demonstrar conhecimento técnico e exibir seu senso de humor refinado. Flávio Dino sabe que foi para essa comissão para ser exibido em um covil bolsonarista e o objetivo era muito conhecido: queriam trucidá-lo. Os deputados bolsonaristas caíram dentro do próprio caldeirão. Foi uma cilada que os bolsonaristas armaram para si mesmos. É triste perceber que a atividade legislativa se reduziu a isso. Você chama o ministro para, em tese, cobrar explicações, mas na verdade quer impor a ele pegadinhas para depois jogar nas redes sociais. Josias de Souza, colunista do UOL

 

Ø  Autoridades esperam confusão na volta de Bolsonaro

 

A Secretaria de Segurança do Distrito Federal (SSP), a Polícia Federal (PF), a Inframérica e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República temem que o desembarque do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Aeroporto Internacional de Brasília seja marcado por tumulto e provoque um “nó” na malha aeroviária de todo o país.

A previsão é que Bolsonaro chegue à capital federal por volta das 7h desta quinta-feira (30/3), em voo comercial vindo dos Estados Unidos (EUA).

A coluna apurou que os principais órgãos federais dividem a mesma preocupação e vão agir para tentar evitar que uma possível grande quantidade de apoiadores do ex-presidente no terminal atrapalhe a logística de pousos e decolagens em Brasília, o que pode se transformar em efeito cascata e se refletir em aeroportos de todo o território nacional.

“A chegada está prevista para 7h, justamente o horário de pico no aeroporto”, explicou uma fonte.

A análise dos órgãos leva em consideração o fato de o aeroporto de Brasília ser um HUB — termo usado na aviação comercial para definir um aeroporto que possui uma rede extensa de voos — e ocupar o segundo lugar no ranking dos mais movimentados do país. O terminal do DF chega a registrar movimento de cerca de 10 milhões de passageiros todos os anos.

O anúncio de que Bolsonaro chegaria na quinta mobilizou a Secretaria de Segurança. A pasta fez reuniões com órgãos diversos para elaborar um plano de atuação que deve ser finalizado nesta quarta (29/3).

A possibilidade de uma multidão se aglomerar para receber o ex-chefe do Executivo nacional deixou as corporações do DF de sobreaviso, principalmente parte do contingente da Polícia Militar. Será o primeiro grande teste da corporação após os atentados contra a democracia de 8 de janeiro, quando muitos integrantes da tropa foram acusados de terem sido coniventes com os golpistas que depredaram as sedes dos Três Poderes.

Apesar de ainda não haver qualquer manifestação registrada oficialmente na SSP-DF, parlamentares têm convocado apoiadores para recepcionar o ex-presidente, como os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Mário Frias (PL-SP).

·         Para evitar confusão, Bolsonaro será obrigado pela PF a desembarque discreto

Aliados de Jair Bolsonaro já preveem conflito entre o ex-mandatário e integrantes da Polícia Federal logo no desembarque do ex-presidente no Aeroporto de Brasília, na manhã desta quinta-feira (30/3).

Em reunião na terça-feira (28/3), delegados da PF e membros das forças de segurança do Distrito Federal decidiram que Bolsonaro não poderá sair pelo desembarque principal do aeroporto, mas por uma rota alternativa.

Auxiliares de Bolsonaro dizem, porém, que ele não aceitará de forma alguma a orientação. O ex-presidente, dizem, quer desembarcar “nos braços do povo”. Ou seja, dos apoiadores que o estiverem aguardando no aeroporto.

Por ora, não está previsto discurso de Bolsonaro no local. A ideia, segundo aliados, é que ele siga do aeroporto diretamente para sua nova casa em Brasília, localizada em um condomínio no Jardim Botânico.

·         PF vai buscar Bolsonaro dentro do avião para ele não causar

Assim que o voo da Gol pousar no aeroporto de Brasília amanhã, às 7h10, uma equipe de agentes da PF vai entrar na classe executiva do avião.

Os policiais vão buscar Bolsonaro e direcioná -lo a um carro da PF.

É o procedimento padrão para ex-presidentes, que não saem diretamente no saguão do aeroporto.

O carro da PF trafegará por uma área restrita e levará Bolsonaro até o veículo particular, disponibilizado pelo PL, para levá-lo até sua nova casa, localizada num condomínio, no Jardim Botânico.

E as bagagens de Bolsonaro, que sabe-se lá o que trazem depois de três meses nas cercanias da Disney?

O procedimento padrão nestes casos é: um assessor (e o ex-presidente terá três o acompanhando no voo) leva as bagagens até a alfândega para serem inspecionadas.

 

Ø  DF acaba com o showzinho da reentrada de Bolsonaro

 

Foi com uma cascata de palavrões que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu a informação dos preparativos do governo do Distrito Federal para a sua chegada amanhã no aeroporto de Brasília. O governo do DF decidiu fechar com barreiras a Praça dos Três Poderes e as imediações do aeroporto. Só terá acesso ao local quem for embarcar e apresentar o bilhete de viagem. Aliados do ex-presidente foram informados de que as medidas eram “inegociáveis”.

O que mais irritou Bolsonaro foi a informação de que ele não poderá desembarcar pela saída principal do aeroporto. Pelo plano desenhado pela secretaria de Segurança do Distrito Federal, o ex-presidente terá de deixar a área de embarque por uma via lateral, o que ele considerou uma tentativa de humilhá-lo. Bolsonaro atribui ao ministro da Justiça, Flavio Dino, e ao PT, as iniciativas que, nas palavras de um aliado, se destinam a “tirar o doce” da sua boca. O ex-presidente planejava uma chegada triunfal em Brasília. A ideia era repetir as cenas da campanha de 2018, em que multidões o aguardavam nos aeroportos e o aclamavam aos gritos de “mito”.

Depois de deixar o saguão, o plano do ex-presidente era falar aos seus apoiadores montado na caçamba de uma caminhonete. Bolsonaro crê que o governo do DF adotou as medidas de restrição por pressão de Dino e do PT. A avaliação da secretaria de Segurança do Distrito Federal, com base no monitoramento das redes sociais, era de que entre 5.000 e 10 mil pessoas poderiam comparecer ao aeroporto de Brasilia para receber o ex-capitão.

O governo do Distrito Federal não foi o único a impor restrições a Bolsonaro em sua chegada ao país. Sua mulher, Michelle Bolsonaro, não quer que ele vá para casa assim que desembarcar em solo brasileiro. A ex-primeira-dama diz recear aglomerações e tumultos diante do condomínio em que o casal agora irá morar. Por causa disso, Bolsonaro deve seguir do aeroporto para a sede do PL.

 

Ø  Filho 01 nega que Bolsonaro queria causar confusão na reentrada

 

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), pediu para que o partido não organizasse uma festa para recepcioná-lo nessa quinta-feira (30), em Brasília. Apesar disso, Flávio acredita que apoiadores irão ao aeroporto e, por isso, o PL avisou às autoridades.

Bolsonaro está nos Estados Unidos desde 30 de dezembro e retorna ao país em meio ao escândalo das joias sauditas. Para o filho, os adornos foram recebidos legalmente, e a polêmica não passa de cortina de fumaça.

 “Ele não quer fazer festa, não quer carro de som. Ele quer chegar, dar atenção pro pessoal que vai lá receber. O que o partido fez foi comunicar às autoridades que ele vai chegar e pediu um reforço na segurança. Avisou a todos para que qualquer tumulto que aconteça não dê a conotação de que o Bolsonaro tinha algum intenção”, afirmou Flávio.

O senador informou que o pai deve cumprir agendas com correligionários na sede do PL e conhecer a sala onde irá despachar em Brasília. “A ideia é depois ele ir para o partido, onde ele deve tomar um café com alguns parlamentares que estejam em Brasília e também conhecer a sala onde ele vai dar expediente”, disse o senador.

Flávio chamou a polêmica das joias presenteadas pela Arábia Saudita de cortina de fumaça e sinalizou que o pai não deve se pronunciar sobre o assunto. Ele afirmou que os presentes recebidos pelo pai são pessoais e estão catalogados.

“Os advogados estão falando. A autoridade deu o presente foi para o Jair Bolsonaro, não foi para o Estado. Tudo dentro da lei. Como sempre, tanto é que está catalogado, por isso que a imprensa tem acesso, porque se fosse algo ilegal, estava escondido”, afirmou Flávio.

 

Ø  Michelle pede que Bolsonaro não vá direto do aeroporto para casa

 

Além de medidas restritivas do governo do DF, a volta de Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil teve um pedido da esposa do ex-presidente, Michelle: para que ele não retorne para a casa em que eles passarão a morar. As informações são da colunista Thaís Oyama,

Medo de aglomerações e tumultos motivaram Michelle a pedir que Bolsonaro não se dirija amanhã ao condomínio em que o casal vai residir. Com isso, o agora presidente de honra do PL vai diretamente para a sede do partido.

As exigências do governo na chegada deixaram Bolsonaro aos palavrões, segundo Oyama.

Como será:

  • Barreiras fecharão a Praça dos Três Poderes. A medida protegerá as sedes atacadas no dia 8 de janeiro.
  • Também haverá barreiras nas imediações do aeroporto. Será permitido acesso ao local de embarque só para quem apresentar o bilhete de viagem.
  • Bolsonaro não poderá sair pela saída principal do aeroporto. O governo do DF definiu que ele deixará o local por uma saída lateral — e avisou que a medida é “inegociável”.

O que Bolsonaro queria.

  • Planejava uma chegada triunfal em Brasília, repetindo as cenas da campanha de 2018, em que multidões o aguardavam nos aeroportos.
  • Ex-presidente planejava falar aos apoiadores montado na caçamba de uma caminhonete. Isso ocorreria após sair do saguão principal do aeroporto.
  • Havia expectativa de presença de 5 a 10 mil pessoas. O governo do DF previa a presença de uma multidão para a chegada de Bolsonaro, o que levou às medidas restritivas.

<<< Irritação.

Segundo Oyama, a maior irritação e os palavrões de Bolsonaro foram por ser obrigado a sair pela lateral do aeroporto e ter de desistir dos planos do discurso.

Bolsonaro considerou que foi uma tentativa de humilhá-lo. O ex-presidente atribui a uma suposta pressão do ministro da Justiça, Flavio Dino, e do PT ao governo do DF, para “tirar o doce” de sua boca.

 

Fonte: Correio Braziliense/UOL/O Globo/Metrópoles/Valor Econômico

 

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